segunda-feira, março 18, 2013

O Samba Marcha




Como toda expressão cultural, o poder vigente se apossa  do meio cultural para ganhar respaldo popular. No início do século XX, assim como no Brasil, a Itália tinha seu carnevale baseado nos entrudos e corsos, onde havia muita balbúrdia e participação popular. Nada melhor que isso para um líder se tornar popular, ainda mais um líder certinho, militar a fascista. Foi aí que Benito Mussolini subiu ao poder, chegou logo dando um carater ordeiro e de parada militar ao seu carnaval, influenciado pelas avassaladoras passeatas hitleristas. Quem copiou ambos ? Getulio Vargas!
Já existiam desfiles de escola de samba, mas estilo de disputa, com um a organização e formato aos moldes de hoje, só depois do carnavalesco Vargas !
Basta ver que se o carnaval fosse objeto alienador da cultura nacional, não teria entrado como instrumento de manobra da população, controlar o carnaval nesse ponto era importante para o stablishment, vejam os primeiros campeões do carnaval (fonte Wikipédia) e o controle orquestrado no período do Estado Novo.

Ano
Escola campeã
Enredo
Carnavalesco
1932
Mangueira
Sorrindo

1933
Mangueira
Uma Segunda-feira no Bonfim da Bahia

1934
Mangueira[1]
República da Orgia[2]

1935
Vai Como Pode
O samba dominando o mundo
Antônio Caetano
1936
Unidos da Tijuca
Sonhos delirantes

1937
Vizinha Faladeira
A Origem do Samba

1939
Portela
Teste ao Samba
Paulo da Portela
1940
Mangueira
Prantos, Pretos e Poetas

1941
Portela
Dez Anos de Glória
Paulo da Portela e Lino Manoel dos Reis
1942
Portela
A Vida do Samba
Lino Manoel dos Reis
1943
Portela
Brasil, Terra da Liberdade.
Liga da Defesa Nacional
1944
Portela
Motivos Patrióticos
Liga da Defesa Nacional
1945
Portela
Brasil Glorioso
Liga da Defesa Nacional
1946
Portela
Alvorada do Novo Mundo
Lino Manoel dos Reis
1947
Portela
Honra ao Mérito
Euzébio e Lino Manoel dos Reis
1948
Império Serrano
Antônio Castro Alves

1949
Império Serrano
Exaltação à Tiradentes

1950
Império Serrano
Batalha Naval do Riachuelo

No auge da ditadura o samba campeão tinha a seguinte letra:

Samba Enredo 1979 - O Descobrimento do Brasil

Mocidade Independente de Padre Miguel

A musa do poeta
E a lira do compositor
Estão aqui de novo
Convocando o povo
Para entoar um poema de amor
Brasil, Brasil, avante meu Brasil
Vem participar do festival
Que a Mocidade Independente
Apresenta neste Carnaval

De peito aberto é que eu falo
Ao mundo inteiro
Eu me orgulho de ser brasileiro

Partiu de Portugal com destino às Índias
Cabral comandando as caravelas
Ia fazer a transação
Com o cravo e a canela
Mas de repente o mar
Transformou-se em calmaria
Mas deus Netuno apareceu
Dando aquele toque de magia
E uma nova terra Cabral descobria

Vera Cruz, Santa Cruz
Aquele navegante descobriu(descobriu)
E depois se transformou
Nesse gigante que hoje se chama Brasil

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Ainda na ditadura o recado não é tão alinhado com o milagre brasileiro.

Samba Enredo 1980 – Sonho de um sonho


Unidos de Vila Isabel

Sonhei
Que estava sonhando um sonho sonhado
O sonho de um sonho
Magnetizado
As mentes abertas
Sem bicos calados
Juventude alerta
Os seres alados

Sonho meu
Eu sonhava que sonhava

Sonhei
Que eu era o rei que reinava como um ser comum
Era um por milhares, milhares por um
Como livres raios riscando os espaços
Transando o universo
Limpando os mormaços

Ai de mim
Ai de mim que mal sonhava

Na limpidez do espelho só vi coisas limpas
Como uma lua redonda brilhando nas grimpas
Um sorriso sem fúria, entre o réu e o juiz
A clemência e ternura por amor da clausura
A prisão sem tortura, inocência feliz
Ai meu Deus
Falso sonho que eu sonhava
Ai de mim
Eu sonhei que não sonhava
Mas sonhei 

Não se resume o carnaval brasileiro aos encantos das Escola de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, existem outras escolas, existem outras manifestações, existem blocos politizados satíricos e que usam a galhofa para dar o seu recado. Existe muito de um carnaval de rua para se acabar com a idéia torpe de que o Brasil vive de circo, apesar de boa parcela da população realmente passar essa idéia. Hoje o samba bem comportado e patrocinado das escolas, ou o samba de abadá são manifestações famosas, mas não são as única e mais expressivas vertentes de um carnaval que é muitas vezes crítico e politizado.

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