Como toda expressão cultural, o poder vigente se apossa do meio cultural para ganhar respaldo popular. No início do século XX, assim como no Brasil, a Itália tinha seu carnevale baseado nos entrudos e corsos, onde havia muita balbúrdia e participação popular. Nada melhor que isso para um líder se tornar popular, ainda mais um líder certinho, militar a fascista. Foi aí que Benito Mussolini subiu ao poder, chegou logo dando um carater ordeiro e de parada militar ao seu carnaval, influenciado pelas avassaladoras passeatas hitleristas. Quem copiou ambos ? Getulio Vargas!
Já existiam desfiles de escola de samba, mas estilo de disputa, com um a organização e formato aos moldes de hoje, só depois do carnavalesco Vargas !
Basta ver que se o carnaval fosse objeto alienador da cultura nacional, não teria entrado como instrumento de manobra da população, controlar o carnaval nesse ponto era importante para o stablishment, vejam os primeiros campeões do carnaval (fonte Wikipédia) e o controle orquestrado no período do Estado Novo.
Ano
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Escola
campeã
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Enredo
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Carnavalesco
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1932
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Mangueira
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Sorrindo
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1933
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Mangueira
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Uma Segunda-feira no Bonfim da Bahia
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1934
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Mangueira[1]
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República
da Orgia[2]
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1935
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Vai Como
Pode
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O samba dominando o mundo
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Antônio
Caetano
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1936
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Unidos da
Tijuca
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Sonhos
delirantes
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1937
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Vizinha
Faladeira
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A Origem
do Samba
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1939
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Portela
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Teste ao
Samba
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Paulo da
Portela
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1940
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Mangueira
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Prantos,
Pretos e Poetas
|
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1941
|
Portela
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Dez Anos
de Glória
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Paulo da Portela e Lino Manoel dos Reis
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1942
|
Portela
|
A Vida do
Samba
|
Lino
Manoel dos Reis
|
1943
|
Portela
|
Brasil,
Terra da Liberdade.
|
Liga da
Defesa Nacional
|
1944
|
Portela
|
Motivos
Patrióticos
|
Liga da
Defesa Nacional
|
1945
|
Portela
|
Brasil
Glorioso
|
Liga da
Defesa Nacional
|
1946
|
Portela
|
Alvorada
do Novo Mundo
|
Lino
Manoel dos Reis
|
1947
|
Portela
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Honra ao
Mérito
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Euzébio e Lino Manoel dos Reis
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1948
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Império
Serrano
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Antônio
Castro Alves
|
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1949
|
Império
Serrano
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Exaltação
à Tiradentes
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1950
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Império
Serrano
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Batalha
Naval do Riachuelo
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Samba Enredo 1979 - O Descobrimento do Brasil
Mocidade Independente de Padre Miguel
A musa do poetaE a lira do compositor
Estão aqui de novo
Convocando o povo
Para entoar um poema de amor
Brasil, Brasil, avante meu Brasil
Vem participar do festival
Que a Mocidade Independente
Apresenta neste Carnaval
De peito aberto é que eu falo
Ao mundo inteiro
Eu me orgulho de ser brasileiro
Partiu de Portugal com destino às Índias
Cabral comandando as caravelas
Ia fazer a transação
Com o cravo e a canela
Mas de repente o mar
Transformou-se em calmaria
Mas deus Netuno apareceu
Dando aquele toque de magia
E uma nova terra Cabral descobria
Vera Cruz, Santa Cruz
Aquele navegante descobriu(descobriu)
E depois se transformou
Nesse gigante que hoje se chama Brasil
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Ainda na ditadura o recado não é tão alinhado com o milagre brasileiro.
Samba Enredo 1980 – Sonho de um sonho
Unidos de
Vila Isabel
Sonhei
Que estava sonhando um sonho sonhado
O sonho de um sonho
Magnetizado
As mentes abertas
Sem bicos calados
Juventude alerta
Os seres alados
Sonho meu
Eu sonhava que sonhava
Sonhei
Que eu era o rei que reinava como um ser comum
Era um por milhares, milhares por um
Como livres raios riscando os espaços
Transando o universo
Limpando os mormaços
Ai de mim
Ai de mim que mal sonhava
Na limpidez do espelho só vi coisas limpas
Como uma lua redonda brilhando nas grimpas
Um sorriso sem fúria, entre o réu e o juiz
A clemência e ternura por amor da clausura
A prisão sem tortura, inocência feliz
Ai meu Deus
Falso sonho que eu sonhava
Ai de mim
Eu sonhei que não sonhava
Mas sonhei
Não se resume o carnaval brasileiro aos encantos das Escola de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, existem outras escolas, existem outras manifestações, existem blocos politizados satíricos e que usam a galhofa para dar o seu recado. Existe muito de um carnaval de rua para se acabar com a idéia torpe de que o Brasil vive de circo, apesar de boa parcela da população realmente passar essa idéia. Hoje o samba bem comportado e patrocinado das escolas, ou o samba de abadá são manifestações famosas, mas não são as única e mais expressivas vertentes de um carnaval que é muitas vezes crítico e politizado.
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