sexta-feira, setembro 29, 2017

Heterosexualidade em colapso

Em meio a um debate de proporções acaloradas sobre sexualidade no Brasil morre Hugh Hefner, o fundador da revista Playboy. Um cara de vislumbrou muito além do seu tempo quando resolveu ganhar dinheiro no mercado de sexualidade em 1953 arrematando algumas fotos de uma desconhecida Marilyn Monroe nua. O dinheiro só dava para uma edição da revista e mesmo assim o espírito empreendedor arriscou tudo... a revista estourou!
Mais que um editor de uma revista masculina, Hugh foi o reflexo de uma época, num período que o mundo passou por grandes transformações. Ele por si só foi o marco de uma época, o exemplo de um playboy capitalista durante a guerra fria, um exemplo de liberalização sexual quando o mundo clamava por isso, quando divórcios e relações fora do casamento se tornavam comuns. Ele refletiu a história, incentivou costumes, massificou pensamentos, sugeriu um padrão de sofisticação contemporizando drinks, livros, carros, jazz e ... mulheres. Vendeu as mulheres como um produto, mas de certa forma as valorizou nesse aspecto. Causou impacto por entrevistas e mudou costumes e cultura no mundo inteiro. Por fim sucumbiu diante do empodeiramento das mulheres que subiram outros patamares de valorização pelo que pensam e atuam, envelheceu diante da massificação da pornografia gratuita e digital, na vida pessoal se tornou cafona mas entra na imortalidade de um tempo pelas marcas que deixou.

quinta-feira, setembro 28, 2017

Um grande conflito armado em curso

Não estou falando da briga dos gordinhos americano e norte coreano na insanidade do mundo gerido por fanfarrões. Nossa luta armada ocorre aqui no Brasil, bem diante de nossos olhos... o ápice foi na maior favela do mundo, a Rocinha, mas poderia ser em qualquer lugar do Brasil.
Muitos pensam que o conflito da Rocinha é um fenômeno de violência entre traficantes do Rio ou algo bem particular de uma comunidade que aprendeu a conviver com o tráfego de drogas, uma briga de dois traficantes e uma mulher no meio de narco-egos e traição. A análise é muito mais profunda... tem a ver com algo que não se investiga no Brasil, o tráfico internacional de armas, obviamente associado ao tráfico de drogas. Tem a ver com o vácuo no poder e na desarticulação de um cartel criminoso internacional.

Tudo começa bem longe daqui.. do Rio e até do Brasil.... mais especificamente nas florestas da Colômbia. As FARC desistiram de sua luta política, seu poderio econômico se tornou pouco relevante diante das décadas de combate massivo ao tráfico internacional de drogas que financiava essa braço político a partir dos cartéis de Meddelin e Cali. Novos players desse mercado entraram em concorrência aberta, são novos produtores, no deserto do México, no Caribe e na África, são mercados que descriminalizaram o uso e a produção da maconha como o Uruguai e novas drogas sintéticas. Tudo isso tornou o mercado dos grandes cartéis se diluir e se mostrar irrelevante, a luta política por sua vez também ficou pra trás. Ainda existe a produção mas não cabe mais um combate ostensivo. Ou seja, os colombianos depuseram suas armas e permanecem no silêncio da mata sem perturbar ninguém, restringindo seu território que já foi de 30% da Colômbia a pequenas vilas na floresta amazônica colombiana, peruana e .... brasileira. Nesse cenário de vácuo estamos nós,  os pobres cariocas reféns do tráfico! Há um espólio em jogo, há um desmando no poder do crime, um Estado fraco e muita coisa em jogo.

Há tempos nota se que os traficantes do Rio não entram em São Paulo e vice versa, nessa geopolítica do crime PCC não mexe com ADA e nem com CV. Mercados distintos e um acordo no poder do crime, algo possivelmente alinhavado na Vieira Souto, em Brasília ou em luxuosas mansões de São Paulo,  endereços dos verdadeiros senhores das drogas. Desde a inércia do poder político brasileiro o que se vê é uma instabilidade nesse status quo. Traficantes decretaram guerra nos presídios da Amazônia e do Nordeste. Facções entraram em conflito. O espólio de armas depostas pelas FARC entrou no jogo. A corrida pelo filão do tráfico internacional fez com que traficantes do Rio e de São Paulo influenciassem uns aos outros. Os confrontos no morro carioca se dão pela disputa de espaço entre a ADA (Amigos dos Amigos) e o Comando Vermelho (CV). A ADA, chefiada por Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, tinha o controle local. O traficante comanda suas operações de Rondônia, onde cumpre pena de prisão. A região, porém, virou-se para o CV com o fortalecimento de Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, antigo aliado e substituto de Nem na favela da Rocinha. Desde janeiro, a ADA vem recebendo fuzis enviados pelo Primeiro Comando da Capital, o PCC que opera em São Paulo, Nordeste e Norte tem tanta força que há tempos demanda esforços da polícia federal e da ABIN. Suspeita-se que o grande poderio econômico do PCC inclua além de empresas de fachada, grandes corporações do mercado tradicional que além de lavar dinheiro, financiam políticos, subornam advogados, policiais e juízes. Um verdadeiro esquema armado aos moldes dos esquemas de corrupção investigados pela Lava-Jato.
Mais de uma vez esse ano foi identificada a entrada de armas pesadas no Brasil, vindas do espólio das FARC, para as principais facções criminosas. Os chefes do crime estão se armando.... O CV carioca e o PCC paulista disputam espaço para que se tornem grupos de tráfico internacionais. O conflito no Rio de Janeiro não é apenas carioca. É parte de uma guerra que está em curso em todo o território nacional e que tem por objetivo controlar a produção e a distribuição de drogas no continente. A escalada da violência no Rio nos últimos meses se deu para financiar essa luta armada num território sem comando do estado e com uma população amedrontada.

O Exército anunciou que faria um cerco completo à Rocinha horas antes de efetivar a operação — uma tática já usada noutros momentos. Dá tempo aos traficantes em guerra deixarem o local, evitando um confronto com armas pesadas que, inevitavelmente, mataria muitos. Uma forma de evitar um conflito abertamente, algo que exporia a deficiência das nossas forças de segurança. No meio disso tudo gritos de ordem saem dos palcos do Rock in Rio, numa dissonância entre os camarins e a nuvem deixada pelo público que fuma um, mas que não aguenta mais violência.