quinta-feira, dezembro 05, 2019

Particularidades dos holocaustos

Estamos acostumados a ver as cenas do holocausto judeu com aquelas cenas horríveis de cadáveres jogados em covas rasas, filas imensas entrando nos crematórios, números de judeus mortos sendo contados aos milhares, fotos de centenas de sapatos espalhados pelos campos de concentração. O gigantismo para contar uma história dentro da nossa história de humanidade, o aparato grandioso da guerra, muitas vezes esconde as pequenas milhões de estórias ceifadas de cada Humano que passou por essa experiência. Não são 6 milhões de judeus mortos na história, mas 6 milhões de histórias destruídas nas particularidades da guerra. Contos de famílias felizes que perderam tudo e que simplesmente deixaram de existir para a humanidade.

O caso mais famoso é o de Anne Frank, existem outros tantos, existem relatos de superação, de coragem, de covardia, de medo, de dor, de perda .. muitos poucos de esperança. A ótica que retratou a guerra durante muitos anos foi a de movimentos grandiosos de guerra, aos poucos foram aparecendo as pequenas histórias da particularidade de cada família, de cada pessoa, casos como o de Anne Frank, Lili Jaffe, Adolpho Block, Miriam Ziegler, Sam Piviniki e outros tantos mostram famílias despedaçadas, parentes brutalmente separados e um enorme buraco que deixou milhares de humanos, sem pátria, sem chão e sem sentido de vida. Muitos dos relatos dos sobreviventes nos levam a um sentido mínimo de Humanidade e dignidade que se não lhes dava esperança ... minimamente os faziam sobreviver mesmo que instintivamente e daí encontravam forças para reagir a morte.

Existiam centenas de campos de concentração, alguns deles também eram de extermínio, Auschwitz era o maior deles, mas olhar a História só por essa visão bem particular é fechar os olhos pelo que acontecia em Sobibor, Treblinka, Lwow ... a forma de olhar a História pode mudar em muito o nosso sentimento pelas coisas que aconteceram, nos colocar em sintonia pelo que uma pessoa passou naqueles momentos pode nos dar a real condição de vida e sobrevivência. Transformar nosso conhecimento em sentimento e daí a importância de não se fazer esquecer para não repetir. 

Da mesma forma que o termo holocausto nos faz pensar só em extermínio de judeus na segunda guerra é bom deixar claro que até nesse termo acabamos escondendo particularidades que semântica nos dá .. se pensarmos que o termo HOLOCAUSTO vem do grego para representar a queimar todos e exterminar podemos traçar paralelos, não em números, mas em sofrimento com outros momentos da história, nem é preciso recorrer à Roma antiga, Gengis Kan, Inquisição, os Incas, as Guerras Guaraníticas, a Primeira Guerra Mundial, o Extermínio de Pol Pot, o genocídio Armênio, os expurgos Stalinistas, Mianmar, o Estado Islâmico, a Bósnia, o Sudão do Sul ou os Pogroms. Existem genocídios bem perto de nós, na nossa história recente como a Guerra da Tríplice Aliança dizimando o Paraguai, o extermínio em massa de Canudos, o Contestado, o hospício de Barbacena, as prisões do Estado Novo. 

Matar, torturar, exterminar sistematicamente pessoas tendo como motivação eliminar as diferenças de nacionalidade, raça, religião e etnia são coisas prometemos nunca mais ver, depois de vermos o holocausto nazista, mas que continuam por aí como se ninguém olhasse para a particularidade deles e o ódio que os cria.

quarta-feira, outubro 09, 2019

Coringa um filme necessário para dizer que o Ser humano não é tão perfeito quanto a sociedade impõe ...

Uma desnorteante dessincronização da sonoplastia, cenas exuberantes e memoráveis, tomadas sombrias de um filme denso, interpretado no seu papel principal por Joaquin Phoenix, um conturbado e brilhante ator que teve um megalomaníaco personagem escolhido a dedo para ele.

Bem ... o personagem é pop mas nasceu bem antes dos quadrinhos da Marvel, numa inspiração melodramática de Vitor Hugo (O Homem que Ri). A partir de origens diversas o vilão desse filme tem uma história sofrida, quase que comovendo o público a torcer pelo vilão. Apesar do personagem nos fazer imaginar uma comédia com seus atos, a trama psicológica é triste, sua risada insana... nada tem de engraçada mas é um distúrbio patológico muito mais associado a depressão após um trauma físico.  No transtorno da expressão emocional involuntária, as crises de choro e/ou riso, além de serem incontroláveis, tendem a ser desproporcionais ao estímulo recebido, podendo estar completamente dissociada do estado de humor do paciente ou mesmo ser contraditória ao contexto no qual o estímulo está inserido. Tipo quando o público faz, quando um anão tenta sair da cena de um crime brutal do filme com o sangue respingado pelo cenário. Se o público acha graça em algum momento do filme ... por uma piada infeliz, uma risada contagiante, mesmo que desesperadora, é porque precisa apontar o dedo para si e questionar como somos capazes de não conseguir controlar nosso sistema sensível diante de uma narrativa tão perturbadora.

Um homem adulto que vive a cuidar da mãe nos parece uma boa pessoa, mas não é! Num tempo em que vivemos de falar de propósitos de vida, o dele é " trazer risos e alegria ao mundo" .... mas não é bem assim que a trama ocorre! Porque as oportunidades da vida nem sempre são as que persistimos em seguir obcecadamente. Não é porque a sociedade nos tenta enfiar, goela abaixo o positivismo, a alta performance e o bem estar constante das redes sociais que seremos assim. É impossível ser feliz sempre, ter consciência de que o Ser Humano é falho e que por isso somos igualmente falhos nos dá um conforto ao errar e um ânimo a mais para consertar. A tristeza é algo que o mundo tenta sufocar para manter uma felicidade difícil de se sustentar na eloquência das horas vividas entre no nosso ego e as nossas almas.

Não são poucos os que tem transtornos mentais, menos ainda são aqueles que por um momento da vida passaram por momentos de descompressão emocional, dramas psicológicos que sufocam os sentimento e acabam por sufocar a si mesmos, como um homem que quer conter o riso quando só pensa em chorar. Em certo momento do filme existe uma citação bastante reflexiva: " A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que vocês se comporte como se não tivesse", isso é a demonstração de como não estamos preparados para conviver em sociedade com pessoas com esses transtornos, por séculos colocávamos esses doentes em reclusão, em condições físicas cruéis e pouco humanitárias. O Brasil tem a casa de genocídio de Barbacena, Os Estados Unidos o Athem Lunatic Asylum, a Austrália a Inglaterra tem os seus. Sempre tentando proteger a sociedade de transtornos mentais, mas também dos veteranos de guerra, dos homossexuais, das prostitutas, dos infiéis matrimoniais, dos pecadores da Igreja e etc.

Num tempo em que uma das maiores causas de afastamento profissional sejam fatores psicológicos, num tempo de Prozac e Fluoxicitina curando bullying, a sociedade ainda cobra o sorriso, a alegria de um almoço de domingo, a heterossexualidade, a crença religiosa, a saúde física, a aceitação o tempo todo, a magreza, o vestido da moda, a certificação profissional ... Nos levam a ser cada vez mais o que exigem e cada vez menos em nossa essência. Na imaginosa Gotham City isso leva ao caos dos oprimidos diante da crise higiênica e dos serviços públicos, daí para a onde de violência é um passo, como animais encarcerados matam-se os semelhantes e o líder de todo o movimento é sem querer,o Coringa. Mesmo vilão, gera empatia por, como os demais, ser desassistido por uma sociedade corrupta, hipócrita e delirante. Que sofrem a violência da maldade explícita mas também aquele sutil, escondida em pequenos atos, palavras e julgamentos.

Existem várias maneiras de sair desse cinema ... simplesmente frios diante de um filme de ficção, assombrado, exitado com os atos de violência, pensando nas reações de um agredido diante de seus agressores ou com uma necessidade de olhar o mundo e a si mesmo com mais sensibilidade, compaixão e pensando na frase do Coringa: 

"Sou eu ou o mundo que está ficando mais louco?"


Alguns números do terror:

60.000 mortos no manicômio de Barbacena (entre mulheres adúlteras, presos políticos, infiéis religiosos).
3.000 castrados no Topeka State Hospital do Kansas (entre epiléticos, "bobos", crimonosos leves).
2.600 paciente no Danvers State Hospital que comportava 600.
9.000 mortos no Beechwort Lunatc Asylum (sem diagnóstico de loucura).
800 infectados propositalmente com Hepatite B no Willowbrook State Hospital.
2.400 pacientes no Trans-Allegheny Lunac Asylum que comportava 250 pacientes.
3.393 afastamentos do trabalho no Brasil em 2016 por depressão

Todos tem histórico de abusos sexuais, maus tratos e tortura!

.... e a velha tia segue feliz para a missa de domingo depois de ter sossego por internar o sobrinho homossexual numa casa de cuidados mentais do governo...



segunda-feira, setembro 09, 2019

O Despreparo da geração mais preparada

 Podem rotular como quiser ... geração X, Y, Millennials, alfa .... mas existe uma geração de jovens, que há pouco tornaram-se adultos que são a geração mais preparada em termos de escolaridade, acesso a informação, conhecimento tecnológico, visão , cultura e convívio com o conforto. Serão nossos futuros líderes, foram preparados para assumir o mundo, falam três idiomas, usam computadores, tem facilidade com a internet, experiencia internacional e fazem coisas que nem precisam mais fazer como cozinhar e dirigir. Suas habilidades saltam aos olhos e a princípio serão eles os responsáveis por uma das maiores transformações que a humanidade vai dar, um salto nas relações de trabalho, de consumo com o uso da tecnologia. Além disso, eles assumem sem problemas essa responsabilidade de conduzir as grandes corporações, inovar em pequenas empresas, em fazer lucro e em pensar numa sociedade mais igualitária e inclusiva. 


A crença de que a felicidade é um direito e a falta de preparo para lidar com as frustrações pode botar tudo a perder, se precisarmos de um indício de que isso já ocorre é só olhar o aumento das taxas de suicídios, depressões, vendas de Prozac e problemas psicológicos que o mundo espera para os próximos anos, uma tendência que será amenizada com os movimentos globais de liberalização da maconha (não estou expondo aqui minha opinião sobre se é certo ou errado, mas o movimento global já iniciou e pelo visto não terá volta!). Essa geração despreza o esforço sem resultados e foi a minha geração (seus pais) que incutiu a cultura do menor esforço na cabeça deles. E mesmo que tenha esforço sem resultado, fomos acostumando a dar uma premiação. Fomos premiando tudo , dando tudo ... oferecendo muito mais "sins" do que "nãos". 

A nova geração conhece o mundo em viagens protegidas, é despreparada para o sentir e o saber pensar, desconhece a fragilidade da matéria da vida e aí quando se apercebe vai sofrendo, e sofrendo muito quando nota que nasceu com a felicidade e que ela não nos acompanha a vida inteira, pensam que já nasceram prontos . E não foi ensinada a criar a partir da dor, que cresceu com a ilusão de que a vida é fácil, que nasceram já com uma genialidade embutida e que falta apenas ao mundo reconhecer essa genialidade. Aí eles chegam no mercado de trabalho achando que estão em suas casa, fazendo as coisas nas horas que lhes cabe, tendo chefes complacentes e esperando premiações que os estimule como num jogo de vídeo game. Como os prêmios nem sempre vem .... se deprimem, desistem ... até se darem conta que a vida é para os insistentes, que precisam se reerguer das derrotas.

Como educar nossa próxima geração a poder conviver com as derrotas? Será que é dando mais proteção, afago quando o "NÃO" é forte demais para eles, ou lhes dando maconha para fugir da realidade? A solução pode estar em, desde cedo, mostrar que a vida é uma construção que felicidade não é um direito mas uma conquista, que para chegar à ela temos muitos deveres, esforços e derrotas pela frente, que a vida é uma evolução muito maior que o diploma, o trabalho e a informação. Temos que mostrar que boa parte da felicidade não se compra, que filhos não devem ser dívidas que os seus pais tem que pagar e se frustrar quando atrasam alguma parcela. Temos que educar para que as crianças pensem, sintam o que aprendem e não se frustrem com suas decepções, pois daí pode vir o ânimo para começar de novo. Frustração não é fracasso!

A sociedade parece vangloriar mais o cara genial que não estudou mas passou para medicina do que a menina que se esforçou e passou raspando, o conceito de esforço parece que é valorizada só por pobre. A médica que estudou nos melhores colégios e tem um carro é bem sucedida, o cara que se esforçou para mudar de classe social sem ter equidade e que precisa pegar o ônibus todo o dia pra sustentar a família é um derrotado. Ambos tiveram suas conquistas, existem méritos e mercados para ambos mas o grau de percepção às derrotas de ambos será completamente diferente.

As redes sociais não dão espaço para as tristezas, a vida pré moldada e os almoços de domingo também não, o desabafo passou a ser encarado como derrota, os problemas como fracassos e o mundo belo que pintamos nas redes não é assim. Felicidade é um imperativo! Então como se abrir expondo aos nosso pais as nossas angústias? Vivemos num mundo onde os problemas são sufocados e não resolvidos, onde as doenças psicossomáticas partem do princípio de que é importante parar de chorar e seguir em frente. Ouvir isso num momento de fraqueza oprime, deprime...

As relações familiares foram construídas blindando-se filhos dos problemas, dos esforços e eles só participam das conquistas. Quando se tocam que a vida não é assim, decretam a falência do projeto familiar veem que foram moldados num mundo de ilusão e a solução mais fácil é procurar um médico e começar com os antidepressivos.

Quando um projeto de vida vira fumaça, ficar sem chão é a próxima etapa, sentir a fragilidade humana nos espanta e daí para a depressão é um pulo ! O que fazer para cortar esses ciclos ? Deixar consumir todo o processo depressivo, cortar esse ciclo no meio? Identificar o que poderiam ser os impulsos para mudar ou acelerar o processo natural ? É muito difícil ter a resposta certa quando um ciclo de decepção inicia. Muitos, como numa cartasse vivem todos os seus momentos, de ira, silêncio, desorientação, esperança e reconstrução. Outros procuram fugas paliativas. Cada um tem uma forma de lidar com o seu drama e partem de algum ponto do seu autoconhecimento, quanto melhor se conhecer, mais apto estará para lidar com os problemas. Se tiver um norte, um propósito de vida, mais rápido voltará para o rumo dele, então educar nossas crianças a se entender na sua individualidade, tanto para aprender a pensar e lidar consigo mesmo, quanto para resolver seus próprios problemas pode ser uma chave para que tenham mais confiança na vida adulta.

Deixar nossos filhos viverem com algumas dúvidas e fazer as próprias escolhas não é o fim do mundo, vai cultivar neles a responsabilidade de lidar com causas e consequências. Isso é tão importante quanto uma boa escola, um curso de inglês ... um celular. Eles devem saber que podem sempre contar com os pais mas que eles mesmos devem se virar para enfrentar a vida.

segunda-feira, agosto 12, 2019

No nosso longo caminhar

Eu te amo 
Sem mais nem menos
No tempo ideal, na medida mais certa
No sol e na chuva, com roupa e sem ela
Te amo como todas as pétalas amam a rosa
Como todos os frutos amam a terra
Como as estrelas amam ao céu
E como as ondas amam o mar
Esse amor é parte da vida presente
Vida completada por você 
Amor incondicional, mas que se pode guardar
Na palavra incontida, no olhar apaixonado
Na simplicidade dos fatos 
No entrelaçar de dedos diante dos atos
No nosso longo caminhar.

quinta-feira, julho 25, 2019

A história do fim da ideologia

Até o final dos anos 80 o mundo assistia brigas ideológicas de alto nível, não se resumia a uma guerra fria ideológica entre comunistas e capitalistas, se olharmos com detalhe havia um arco iris de tendências  espectros dentro de cada vertente ideológica. Existiam os Trabalhistas (tanto de direita quanto de esquerda), os Sociais Democratas, os Verdes, Comunistas tradicionais russos, que não se batiam muito com os chineses, existia toda uma vertente ideológica liberal britânica que tinha um feitio diferente dos democratas americanos, que lutavam contra os comunistas cubanos que tinham o seu ditador, mas que sua vez lutavam contra os ditadores militares latino americanos. E esses mesmos ditadores tinham suas diferenças, os argentinos eram mais brutais que os brasileiros, o chileno voltava sua economia para o liberalismo enquanto aqui no Brasil o movimento era estatizante.

O final da década de 80 foi chegando e a vida foi perdendo a cor no mundo inteiro. Um impacto direto da derrocada comunista sem essencialmente haver uma vitória real do capitalismo, as ditaduras latinas cederam o poder para governos democráticos imersos em problemas sócio econômicos sérios enquanto uma dezenas de países europeus estavam reconstruindo suas economias e tentando se encontrar ideologicamente. Cazuza retratou bem esse momento de frustração geral no seu álbum Ideologia, onde a capa mostrava uma miríade de símbolos antagônicos entre si.



Em meio a isso um sujeito chamado Lula que representava um partido trabalhista essencialmente sindical se lançava candidato a presidência do Brasil. Uma década se passou e seu discurso foi ficando vazio mas sua persistência o fez aparar a barba, atenuar a fala, melhorar o terno, alinha seu discurso com os dos seus inimigos e .... substituir o furor do idealismo político pelo estratégico marketing eleitoral. Quando ganhou sua eleição, já estava distante daquele líder sindical de outrora. 

Começou então a andar com quem não devia, fazer o que não lhe condizia, renegar a sua ideologia, aos poucos foi se perpetuando no poder, somente para governar... era o poder pelo poder. Emplacou releição, criou artificialmente uma candidata substitua a ele e viu seu poder ruir sem uma ideologia para lhe sustentar. Os desejos dos partidos seguiam a política do toma lá, dá cá criada pela política dos governadores há 100 ano atrás e alimentada pelos mensalinhos da política nacional. 

Surgiu então a direita, alimentando-se de uma ideologia de fake news, simplificando o debate político numa briga de Fla X Flu e alimentando a fúria bélica dos certos contra os errados, os vermelhos comunistas contra os brasileiros nacionalistas. Discursos viraram tweets, bom senso virou  ... virou ... não, o bom senso se perdeu! Fomos criando uma dificuldade de lidar com quem pensa diferente, perdemos a autocrítica e o debate de alto nível de outrora foi trocado pelos Memes de internet. 

Nesse caminho perigoso de radicalismos extremos de parte a parte, professores não se dão o respeito, alunos os gravam em sala de aula para intimidar, caçamos bruxas como no Macarthismo, abrimos caminho para uma Revolução Cultural ao estilo chines e a uma Jihad evangélica. As instituições vão entrando em colapso, esvaziamos a autoridade de quem as tem ... no meio dessa bipolaridade social doutrinamos sem ideologia e sem idéias, sem construção mas baseadas no fato de ser contrários aos outros, perdemos nossa identidade, e com isso vamos perdendo por quem lutar como se perde o orgulho de uma vitória ou o sabor do aprendizado de uma derrota, como lágrimas que se perdem no meio da chuva. Vida humana no meio do nada....


sexta-feira, julho 19, 2019

A verdade vos fará livres!

A verdade vos fará livre .... mas onde está a verdade? Em tempos de relacionamentos rasos, pouca profundidade dos fatos, fake news, diálogos rápidos, ideologias trocadas por marketing político, discursos substituidos por memes. Onde estará a verdade de tudo ? Parece difícil encontrar a verdade das coisas, escolher alguém para crer num mundo construído de mentiras e frases vazias. Pode ser que procurar alguma verdade num mundo externo ao nosso nariz seja como procurar agulha num palheiro, então que tal começar a procurar uma verdade dentro de nós mesmos.

O autoconhecimento nos leva a encontrar onde está nossa própria verdade, e apesar de estarmos tão próximos da nossa essência, muitas vezes não olhamos para nós mesmos, já que vivemos  uma vida para os outros. São filhos que seguem a profissão escolhida pelos pais, compromissos que temos que assumir para seguir a agenda dos clientes. Discursos que não são nossos mas que seguimos por uma paixão irracional. Amores carnavalescos que não tocam a nossa essência. 

Quando vamos ver, nossa vida passou e temos muita dificuldade em encontrar nossa própria agenda, nossa marca nas conquistas, nossa força de vontade por encontrar um espaço próprio na história. Aí nos damos conta que não possuímos nem a nossa própria verdade. Para começar a procurar uma verdade pra chamar de sua, não procure nos livros de auto ajuda, nas palavras mal escritas de um blog qualquer, não procure olhando o horizonte de pessoas que passam pela nossa vida, não procure nas crenças e nem nas religiões que dependem de uma fé cega para mostrar a verdade. Procure em você mesmo, procure nas reflexões que faça, nas aspirações e inspirações que surgem longe do nosso sentimentalismo barato. Procure em tu mesmo e encontrará a verdade pois ela está na abundância de tudo que é essencial para a nossa vida, desde as ideias até o ar que respiramos... procure no amor próprio e no amor ao próximo, aquele amor que nos infla o peito de nos dá uma sensação de gratidão.

É o amor irrestrito que nos torna livres da intolerância, do preconceito, é ele que nos liberta dos dogmas, do traiçoeiro pensamento que nos sabota e nos derrota. É amando ao próximo e a nós mesmos que podemos falar com sinceridade, olhar com profundidade os olhos dos outros, é com esse amor que construímos a vida e encontramos a nossa paz.

segunda-feira, julho 08, 2019

João Gilberto

A impressão é que 10 em cada 10 músicos que viveram os anos 50 no Brasil falavam de um cara que tinha um jeito descompassado de tocar violão, uma voz que ficava longe de um crooner mas que, com esse estilo diferente de tudo que já tinha sido ouvido, influenciou suas carreiras. Esse cara se chamava João Gilberto e com ele se foi a memória de um Brasil que despontava para ditar cultura pelo mundo afora, junto com a conquista de uma copa do mundo em 58, a arquitetura, a música e o cinema mostravam ao mundo um país cosmopolita que se emancipou da semana de arte moderna de 22 com um nível de sofisticação nunca antes vistas num país que aos poucos deixava de ser rural e que em breve iria ter uma nova capital. O mundo nos descobriu como nação intelectualmente independente quando descobriu João Gilberto.

João se foi e com ele uma horda de boas lembranças de Nara Leão, Vinícius de Moraes, Miúcha, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Baden Powell, Leny Andrade, Tom Jobim, Pixinguinha, Cartola, Elis Regina, Tim Maia ... não que estivessem totalmente relacionados entre si mas que simbolizavam uma face bem brasileira de fazer a música de forma diferente, à exaltando como arte. E se ainda existem: Chico, Toquinho, Gil, Caetano, Ivan Lins, Roberto Carlos, Guilherme Arantes, João Bosco, Hermeto Pascoal, Zé Ramalho, Erasmo Carlos ... renegados a um ostracismos gigante, talvez até porque não conseguiram passar o bastão para uma nova geração de artistas, como João Gilberto fez influenciando tanta gente. Ah! ainda figuram nessa lista de influenciados Frank Sinatra, Bono Vox, Sting, Al Jarreau, Doris Day, Diana Krall.

Um músico obcecado pelo silêncio que apareceu num vácuo de vibratos de vozeirões como Cauby Peixoto, Orlando Silva e Francisco Alves. Num país de grandes violonistas, foi João que colocou o instrumento sob as luzes indo além do Samba Canção e do Jazz, incorporando um sentimento a instrumentação. Algo difícil de ser explicado porque é muito bem sentido nos compassos entre som e silêncio que ecoam arrebatadores nos nossos corações. Não é a toa que um disco tipicamente de Bossa Nova, mesmo cantandos em português seja um dos mais celebrados da história do Jazz. O LP Getz/ Gilberto é tão arrebatador quanto ouvir Chega de Saudade sem nenhuma referência anterior a Bossa Nova. Ou o show de João Gilberto no Carnigie Hall. 

João Gilberto é um convite ao ouvir, é um convite ao perfeccionismo e a atenção. Coisas tão difíceis num tempo de ímpeto comercial, talvez por isso ele tenha sido tão recluso, tão incompreendido, tão chato! O cara que sempre esteve a frente do seu tempo, ficou preso no passado, onde o glamour era só um banquinho e um violão.

quarta-feira, julho 03, 2019

Não aprendi dizer adeus

Não aprendi dizer adeus;
Mas certas coisas no mundo não se aprendem... se encontram e foi exatamente por encontros que estamos aqui chorando por dentro para nos separar. 
Veja que foi muito melhor que um desencontro, onde não teríamos nem a oportunidade de chorar.
Nunca dizemos adeus de verdade porque quando as almas se encontram ficam marcadas para sempre umas nas outras.
Essa marca é criada quando se tem um relacionamento forte o suficiente para mudar de alguma forma nosso jeito de pensar, nossos valores, nossos corações.
Todos os humanos são irmãos e por não compreender isso desperdiçamos as oportunidades da vida, desperdiçamos a própria vida.
Temos toda a nossa existência para travar esses encontros então siga bem devargar com a vida porque temos pressa, não perca tempo pensando que não tem tempo! Busque o seu próprio tempo e viva com intensidade tudo que possa um dia virar a despedida de um encontro.
A pressa é a negação do tempo, e se o tempo é vida ... ter pressa é não sentir o pulso da vida. Tempo que se vai é vida que se perde. Não perca ele ... mas vá ... bem devagar! Encontrando o que tem de vida por aí.
Nosso futuro depende  do que fazemos hoje e por isso temos sempre que buscar fazer o melhor e isso inclui: nossas escolhas, nossas atitudes ... e nossos encontros (e despedidas). Quando for dizer adeus pense nos tantos encontros que não aconteceram e seja grato pelos que teve.
Quanto mais gratidão experimente o homem pelo passado, quanto mais gratidão guarde pelas horas felizes vividas nele assim como pelas lutas e pela dor que sempre são instrutivas.. tanto mais se abrirá a sua vida a novas e maiores perspectivas de realização.
E onde quer que você vá ... vá para brilhar! Vá, para mesmo que de longe, eu possa te enxergar, leva o coração feliz ! Fiel com si mesmo e com seus propósitos. São eles me ligam a você, não podemos perder isso! O que nos separa não pode destruir o que nos une.
As coisas se transformam: num dia um oi ... num outro um adeus! Que nos transformemos então, um Ser renovado a cada dia ... que não precisa dar adeus para aquele Ser que você foi ontem, guardando, dentro de si, encontros e despedidas sem perder os laços, os elos. 
E muitas vezes não conseguimos dar atenção ao que é básico e necessário nessa vida, muitos se perderam pelo caminho simplesmente porque estiveram envolvidos com os seus problemas.
Problemas se resolvem e damos adeus a eles ! A vida nunca deve ser colocada dentro dos problemas, mas os problemas sim devem entrar na nossa vida, para podermos tirá-los ... 
Vai ... vai logo com Fé no que se faz ! Fé no que se é .... Fé no que queremos ser ! Fé não é simplesmente acreditar no que queremos para nós, é tornar esse querer uma obstinação, um movimento que mova tudo a sua volta para conquistar.  Fé é sentimento aliado a atitude então vamos em frente porque chegou a hora de nos separar ... até breve ... até sempre ....

Porque precisamos da sociologia

Somos 7,7 bilhões de pessoas no mundo, 4 bilhões estão conectados a internet de alguma forma, nunca a população cresceu de forma tão rápida, nunca a conectividade cresceu de forma tão rápida... em algum ponto entre 2020 e 2021 seremos 5 bilhões de pessoas convivendo no mundo digital, gerando uma renda de consumo em torno do trilhão. Como será isso com os atuais níveis e padrões de consumo? Como enfrentaremos as fake news ? Como as redes sociais impactarão a vida do homem ? Existirão novos padrões de ética proporcionados pelas religiões que causarão algum efeito na democracia? Assuntos bem atuais não? Diferentemente do que "pensam" nossos governantes, a sociologia não está ultrapassada, é ela que responde todas essas questões! Quando falamos num sociólogo no século XXI, ele não tem nada a ver com um acendedor de velas que perdeu seu emprego com o advento da lâmpada. Como as empresas vão prover produtos melhores para atender esse bilhão de conectado? A Google, criou um grupo de estudos (NBU - Next Billion Users) para pensar nisso, são engenheiros, gestores, filósofos, e sociólogos que constroem tecnologia a partir de necessidades que aprendem sobre essa nova gente e o Brasil , junto com a India, a Indonésia e a Nigéria está no primeiro foco desse time, porque somos um país que cresce, em costumes, em população... são desses países que virão a maior parte desse novo bilhão de conectados, segundo os geógrafos.

A partir de estudos sociológicos podemos prever a sociedade do futuro, priorizar investimentos, fazer pesquisas, definir padrões. Não são estudos simples relacionados só com números, não se trata de um conjunto uniforme de pessoas, dentre eles estão jovens urbanos que querem um celular mas que não querem mais comprar um carro, mulheres que não querem mais casar, homossexuais que são ameaçados pela violência. Como podemos ampliar a rede 5G para atender o rapaz ao mesmo tempo em que pensamos quem processar quando o carro autônomo atropelar uma pessoa? Ou mesmo quem vai seguir com o processo uma vez que as tecnologias cognitivas fazem os advogados perderem seus empregos... 

Para questões simples não precisamos de pessoas que pensem, para questões complexas não basta o conhecimento de uma universidade que nos ensinem a cumprir tarefas, vamos cada vez mais precisar de experiências que nos façam verdadeiramente a pensar. A sociologia é o estudo da sociedade, é a busca pelo conhecimento dos fenômenos sociais, do comportamento, das instituições das relações de convivências dos seres humanos. Quando não priorizarmos isso, não vamos priorizar  o próprio pensamento humano e é preciso ter muita atenção a movimentos que por ignorância ou interesse tentem romper com isso.


terça-feira, julho 02, 2019

Porque existe direita e esquerda na política ?


Nenhuma outra forma de governar incorpora a discordância, e o debate, como o sistema democrático. A democracia é, por sua natureza, uma abstração intelectual. A direita e a esquerda também.... A percepção geral de que há uma direita e há uma esquerda ajuda na compreensão da democracia pois dá legitimidade à discordância. Essa divisão se deu nos anos pós revolução francesa quando Girondinos e Jacobinos fizeram uma assembléia numa quadra de tenis .... alguns mais radicais, queriam taxar os mais ricos e o clero, tinham idéias republicanas e sentavam no lado esquerdo da quandra, enquanto os outros ficaram ao lado do imperador e também no lado direito dessa mesma quadra. Com o passar o tempo, o posicionamento de ambas as partes foi mudando, com a explosão do comunismo no século XX, o conceito de direita e esquerda saiu da França e ganhou o mundo com uma contaminação de socialistas nesse lado.


Algumas posições evoluiram com o tempo, uma tese defendida por uma esquerda, passou a ser bandeira também da direita, novas divergências se criaram, fatores regionais deram um tempero todo especial a essa briga de paixões. Na década de 90 muitos defendiam que essa diferença tinha morrido com a guerra fria, outros não se identificavam nem com um lado nem com outro recorrendo então a uma terceira via. Além disso houveram muitos véus e muito lobo vestido em pele de cordeiro, o viéis economico fez parecer que os que propoem uma economia liberal são de direita, já os que são estatistas são de esquerda... não é bem assim ! Apesar da direita em geral apoiar a Igreja Católica, existem tantos padres ligados a esquerda que a divisão ocorre até na Santa Sé.

Os militares no Brasil sempre estiveram ligados a esquerda, o Golpe Militar de 64 foi feito por uma elite militar com idéias de ... direita! Houveram radicalismos de ambas as partes, erros de qualquer lado. A incompetencia não escolhe lado, o totalitarismo também. A igualdade ou desigualdade entre os cidadãos parece ser medida entre grupos políticos diferentes para se posicionar entre seres semelhantes, mas o que é igualdade: duas crianças que nascem iguais e uma se torna um rico comerciante e outro um mendigo. Ou ambos que nascem ricos ou pobres e morrem com a mesma idade ficando debaixo da terra remoendo suas diferenças históricas e teóricas....


Padrões pré determinados não deveriam valer para um Homem que pensa: A esquerda busca igualdade e, a direita, liberdade. A esquerda busca mudança e, a direita, estabilidade. A esquerda é o Estado e a direita o Capital. A Esqueda comunista e a direita capitalista, um regime autoritário com economia sem o Estado é a direita, porém se o mesmo regime autoritário é compartilhado com uma economina Estatal forte já passamos a ter uma esquerda. 

Essa dualidade move paixões, mobiliza nosso imaginário, junta pessoas na rua, une ... mas separa. A partir do momento que não conseguirmos compreender porque o outro pensa diferente de nós, não conseguiremos enxergar pontos que nos unem. Não conseguimos criar mecanismos que nos deixem entender que o bem que queremos para o mundo seja algo igual para todos.... Não conseguiremos colocar o cidadão de bem se colocar diante das diferenças para buscar o bem comum pensando que não existem realmente grandes diferenças assim mas que o pouco que há servem como forma de desagregar e impor uma dominação.

segunda-feira, junho 10, 2019

A troco de que?

Nas ruas barulhentas
Pessoas em movimento caótico
Perdidas no tempo e numa inutilidade sem fim
Vazias, em seus problemas sem tamanho
Donos de tudo que sobra além do essencial
A areia escorre pelas suas mãos
Ampulheta escoando a vida aos poucos
Preocupados com os pecados alheios
Equilibrados com uma hamornia tensa
Não existe a saudade, existe a ausencia
Perdidos numa tela de celular
Conectados com tudo
Perdidos da vida entre o nascer, o crescer e o morrer
Sem entender ao menos um sentido pra vida
Se ocupando do ir e vir das coisas
Inconsciente de tudo
Buscando ... mas só um minuto de paz!

quinta-feira, maio 09, 2019

Porque precisamos de filósofos

Precisamos formar pessoas que pensem! Apesar dos ideólogos sem diploma, dos enquadrados da caserna, dos ricos astros do entretenimento, da necessidade de qualificação bitolante do trabalho, da televisão, dos influenciadores digitais, das provas de múltipla escolha, do governo e do patrão ! Cabe ao Homem um papel muito maior que levar sua existência ao ciclo de crescer, trabalhar, casar, reproduzir, envelhecer e morrer. 

Na avalanche de intolerância que nos encontramos só penso num jeito de melhorar, através do pensar. Para melhorar o mundo começamos com as pessoas, a medida que vamos melhorando as pessoas melhoramos a sociedade. O único meio que temos para nos conhecer melhor e propor nossa melhoria (interna e externa) é através do conhecimento e dois instrumentos importantes que temos para aprimorar esse tipo de conhecimento e melhoria são a filosofia e a sociologia. São exatamente as áreas de conhecimento renegadas pelo nosso presidente, ele quer uma universidade produtiva, que nos dê resultados. Fazer o que? O papel de uma universidade não é bem esse pensamento simplista de executar tarefas, vai muito além.... fazer o que ? Tem gente que não consegue captar as coisas num plano maior ... mais abrangente, fazer o que ? É claro que não estou defendendo aqui as bizarrices que vemos nas nossas universidades, que muitas vezes tem má gestão de dinheiro público. Nosso dinheiro vai para o ralo no aluno que prefere o jogo de sueca, na turma que anda pelada, no trote banal, mas também desce pelo ralo quando o pensamento é raso, quando o curso é ruim, quando a zona de conforto se inicia aos 20 anos, quando não pensamos. Pensar no que queremos para o futuro, imaginar aperfeiçoamentos do homem e da sociedade, sem essa referencia não saímos do lugar, ah pode até ter interesse que queira que não saiamos mesmo !!

A Filosofia permite ao ser humano compreender melhor a si mesmo, a sociedade e o mundo que o cerca, estimulando uma maior autonomia do pensar, agir e definir formas de comportamento. A partir dela, e ao longo de séculos, foram e são fundamentados projetos, pesquisas, produções científicas, artísticas e culturais. Dela, nasceu da necessidade de orientar-se e encontrar um princípio norteador, das reflexões que proporciona estimula-se o espírito crítico que constrói as melhorias que queremos para nós e para o mundo. Muito bonito, mas o importante disso tudo é a força que tem o "nós!" na frase fazendo nossas próprias indagações somos levados a pensar e buscar nossas próprias melhorias, de forma livre e independente de ideologismos baratos. Eis porque tanta polêmica quanto a tal da filosofia,  ela é capaz de delimitar limites e, ainda assim, proporcionar liberdade e muito mais ...."penso logo existo!".

quarta-feira, abril 03, 2019

Sobre a História

Alguns podem até achar que olhar para o passado nos impede de ver o futuro, interpretar os fatos históricos dependem da interpretação (e dos interesses) de quem os contam mas existe muito mais além de minimizar os fatos. A história demonstra que as coisas se repetem, que sempre existem movimentos cíclicos de desenvolvimento, de flutuação de poder. Definir se uma tomada de poder foi um golpe ou revolução não é simples semântica mas caracteriza muito o que está por trás do feito, seus interesses e ... porque não os interesses daqueles que deturpam a história no tempo presente.

Discutir história não é como discutir um lance de futebol com o advento do VAR onde cada um interpreta os fatos de acordo com sua preferencia mas no final nada muda.... o fato histórico sempre vem dentro de um contexto de mudança da sociedade. Analisando a histórica podemos ver o desenvolvimento do Homem dentro do seu contexto. Escravismo em tempos romanos quando dominavam uma aldeia e levavam prisioneiros como escravos podia ser normal e aceitável durante o império romano, isso virou parte do comércio europeu no século XIV na costa africana, hoje em dia é inaceitável ! 

Como não entender que a falácia de dizer que o Brasil é um país pacato que não entra em guerras  está completamente dissociada com a História de um povo marcado por revoltas, revoluções, guerras e índices altos de homicídios urbanos, como não temer uma liberalização de armas de fogo para um povo que nunca teve um sistema penal coerente e tem essa violência contra seus semelhantes banalizada desde os índios pré Cabral (o descobridor... não o governador do Rio) ? Como não traçar um paralelo entre Rasputin e Olavo de Carvalho? A vida se repete .... a atenção ao contexto histórico podem nos fazer ver indícios de impeachment aqui maior que no Chile por exemplo, afinal temos um histórico recente de contextos como falta de apoio do legislativo, crise econômica, falta de politização da população que vira e mexe nos levam a isso. 

Como acreditar nas instituições se  elas tem um histórico de desvinculação com os desejos do povo, como não pensar que um governo executivo possa ter dificuldade em governar se desde 1951 só 3 presidentes eleitos passaram a faixa presidencial para presidentes eleitos(Lula para Dilma, FHC para Lula, JK para Jânio). Tivemos 21 governos só 3 foram democraticamente eleitos, isso não é só história, são indícios. Demonstram falta de amadurecimento democrático, instituições em conflito, partidos políticos fracos, poderes fortes mas não em suficiente sincronia para manter uma estabilidade administrativa, uma tranquilidade fiscal, um caráter positivo para investimentos e desenvolvimento social. 

Em tempo, era uma vez um presidente que se elegeu com promessas de acabar com a corrupção, se elegeu com enorme apoio popular, governava na base do recadinho informal, preterindo a imprensa e os meios oficiais de comunicação e dessa forma não conseguiu apoio do congresso, não governou, ficou paralisado até que seus níveis de popularidade caíram .... pode achar tudo contemporâneo mas é o presente copiando o passado de Jânio Quadros em 1961 ... a princípio o Golpe (ou revolução democrática) de 1964 se repetido hoje seria caracterizado como crime inafiançável e imprescritível de atentado contra a ordem constitucional e o Estado Democrático previsto no artigo 5o , inciso XLIV, da constituição.

Falam de reescrever a história do Brasil, é preciso fazer uma releitura sim, mas olhar pra frente nos embasarmos na história para não cometermos os mesmos erros sempre.

terça-feira, março 26, 2019

Banalização da violência

Entre as dezenas de vídeos chocantes, memes, mensagens de bom dia, eis que chega pelo Whatsapp uma gravação de um cara ao telefone pedindo para trocar um sanduíche que foi entregue errado. Diante do pouco caso da atendente para o problema do cara, acabo  me identificando com ele, acho um absurdo o que se passa e de certa forma concordo com a ira do cara. O que se segue me causa espanto e .... risos! A banalidade vira assunto de jornal nacional ... o tal cara vai na lanchonete espancar a atendente que não cumpriu bem o seu papel, o cara, usando de sua disposição de policial resolve surtar e levou a vias de fato transbordando toda a ira que carrega no seu pobre emprego. 

Confesso que errei por rir da situação, mas o riso não foi pelo fato dele bater na mulher, mas as consequências que uma coisa tão banal teve. A circunstância patética que a vida as vezes tem, é que me faz observar o fato com distanciamento. Não se pode rotular o cara de monstro (apesar de que tem que ser punido, ainda com mais rigor por ser treinado a conviver em situações de stress). O fato dele ter perdido a linha é algo que infelizmente é compreensível (de forma alguma justificável!) ... quantas vezes não estouramos por motivos completamente banais, chega a ser patético numa sociedade tragicômica como a nossa onde a violência é banalizada e mortes são apenas números amontoando-se dentro de um estilo de vida raso, inconsequente e egoísta. 

O Estado é responsável direto nessa formação cultural brasileira, aqui negros foram escravizados até a morte e achamos essa vergonha apenas um fato histórico que já passou! Aqui marinheiros eram espancados, adversários ideológicos eram torturados, lavradores expulsos de terras na base do tiro. Revoltas se tornaram extermínio em massa, heróis que fizeram chacina vivem livres por aí ... cidades que carregam no nome as gotas de sangue dos seus antepassados mortos (veja o caso de Florianópolis), aqui jovens entram em escolas atirando nos amigos mas a sociedade americana é que está corroída. Existem as violências brutais que levam as vias de fato, como um homem que espanca uma mulher, existem as violências que se cometem privando uma criança da merenda escolar, ou não punindo exemplarmente aquele que cometeu um ato de violência, são violências morais, mentais ... abusos que vão de contra a nossa Humanidade. 

Se o Estado patrocina nossa violência diária, cada indivíduo se torna frio e indiferente às violências que vê ... tudo é um circo de likes enquanto não muda em si próprio, e não dá para mudar o mundo se não começarmos a mudar a nós mesmos. A impressão é que só não somos piores porque falta poder de fogo! (mas em breve o Estado vai resolver esse problema!). Do garoto bem educado no aconchegante seio familiar e na melhor escola da cidade que se transforma num boçal bruto dentro do Maracanã espancando um idoso, até o pai de família que para o carro para o pedestre atravessar a rua do condomínio de luxo, mas que ao sair dali  vira um monstro no transito. Todos parecem ter um instinto violento dentro de si, alguns controlam ... outros não. Conhecer a si mesmo é uma forma de melhorar sempre e conter essa ira, mas o Homem vem cada vez mais se distanciando do seu interno, tem sido avesso as reflexões, tem terceirizado seus pensamentos a vendedores de fé e de perdão. Coisas banais que resultam em indiferença e riso diante da maior tragédia humana ... a falta da consciência de que somos parte de uma unidade humana e que o opositor é mais semelhante que imaginamos ... é a falta da tal humanidade que acreditamos pertencer.

quarta-feira, janeiro 02, 2019

O conto da montanha que ganhou o mundo

Era só uma montanha, nem era tão alta e bonita como outras a seu redor, não tinha a beleza dos montes alpinos, não tinha neve para que pessoas a pudessem esquiar, era pedregosa e feia, pela dureza de suas pedras nem árvores tinha que sustentar em seu dorso. Como não havia a sombra dos bosques não era visitada ou explorada, não tinha rios ou cachoeiras, não se renovava e não tinha vida aparente. 

Certo dia ouviu dizer que uma montanha do outro lado do mundo explodiu em ira, ganhou brilho e luz passando a ser chamada de vulcão. Buscou no seu interno algum calor que pudesse expelir se tornando atrativa, mas nada só achou pedras duras e frias, mas viu um certo brilho e não ligou. Séculos se passaram e a montanha via a vida passar .... gerações atrás de gerações, resistente ao vento e ao tempo ela seguia forte mas triste. Até que um dia um homem movido pela sua inteligência chegou com alguns aparelhos, primeiro a montanha se assustou pois o homem começou a quebrá-la! Mais homens e mais picaretas chegaram ... acharam uma montanha de minério de ferro.

Entre o desespero da montanha que estava se despedaçando e a avidez dos homens a quebrá-la ela encontrou a sua serenidade pois estava a milênios parada no mesmo lugar e os homens com suas picaretas iriam demorar outros tantos séculos para conseguir quebrá-la por inteiro. A montanha começou a se espalhar em pequenos pedregulhos. Em uma das rachaduras feitas pelos homens a água da chuva começou a penetrar, formou-se um rio e em seguida um pequeno lago, a poeira da quebradeira trouxe um pouco de terra, uma semente trazida pelo vento começou a germinar numa frondosa árvore, e ali a sombra dela os homens descansavam após o trabalho árduo. Naquele canto da pedregosa montanha começou a haver vida, novas sementes vieram, novas árvores surgiram mais sombra surgiu num belo recanto que virou um parque na cidade que crescia a seu redor. 

A montanha, de forma onipresente acompanhava cada pedrinha que os homens quebravam, umas viraram casas, escadas e assim a montanha passou a viver perto das pessoas, outras sofreram muito pelo calor mas a partir delas puderam forjar lindos artefatos de ferro, facas, garfos, colheres, parafusos, porcas, vigas que sustentavam cada vez edifícios maiores. o mundo foi crescendo a partir das pedrinhas daquela montanha. Delas, o homem forjava, o que a inteligencia dele precisava, a montanha ficou feliz, um dia fizeram até um carro com o seu ferro. Dali a montanha passou a ver o mundo, de seu ferro fizeram uma torre belíssima no centro de uma cidade bem famosa chamada Paris. Enfim a montanha ficou bem no alto, lá de cima da torre ela podia ver a Cidade Luz. 

Então lá naquele recanto da montanha que virou parque plantaram uma roseira, belas rosas nasceram de igual beleza às demais, um  jovem porém colheu uma rosa e presenteou a sua namorada, naquele momento a rosa passou a ter outro valor, das suas pétalas passou a sair um outro perfume, o afeto fez daquela rosa uma expressão da união entre o sentimento humano e a natureza, nossos olhos só veem nela uma imagem, para a menina que ganhou, já não é mais uma rosa, é um símbolo, em breve será uma recordação. Ela vai sorrir e a montanha, que acompanhou tudo vai ver um amor surgir.