quarta-feira, outubro 09, 2019

Coringa um filme necessário para dizer que o Ser humano não é tão perfeito quanto a sociedade impõe ...

Uma desnorteante dessincronização da sonoplastia, cenas exuberantes e memoráveis, tomadas sombrias de um filme denso, interpretado no seu papel principal por Joaquin Phoenix, um conturbado e brilhante ator que teve um megalomaníaco personagem escolhido a dedo para ele.

Bem ... o personagem é pop mas nasceu bem antes dos quadrinhos da Marvel, numa inspiração melodramática de Vitor Hugo (O Homem que Ri). A partir de origens diversas o vilão desse filme tem uma história sofrida, quase que comovendo o público a torcer pelo vilão. Apesar do personagem nos fazer imaginar uma comédia com seus atos, a trama psicológica é triste, sua risada insana... nada tem de engraçada mas é um distúrbio patológico muito mais associado a depressão após um trauma físico.  No transtorno da expressão emocional involuntária, as crises de choro e/ou riso, além de serem incontroláveis, tendem a ser desproporcionais ao estímulo recebido, podendo estar completamente dissociada do estado de humor do paciente ou mesmo ser contraditória ao contexto no qual o estímulo está inserido. Tipo quando o público faz, quando um anão tenta sair da cena de um crime brutal do filme com o sangue respingado pelo cenário. Se o público acha graça em algum momento do filme ... por uma piada infeliz, uma risada contagiante, mesmo que desesperadora, é porque precisa apontar o dedo para si e questionar como somos capazes de não conseguir controlar nosso sistema sensível diante de uma narrativa tão perturbadora.

Um homem adulto que vive a cuidar da mãe nos parece uma boa pessoa, mas não é! Num tempo em que vivemos de falar de propósitos de vida, o dele é " trazer risos e alegria ao mundo" .... mas não é bem assim que a trama ocorre! Porque as oportunidades da vida nem sempre são as que persistimos em seguir obcecadamente. Não é porque a sociedade nos tenta enfiar, goela abaixo o positivismo, a alta performance e o bem estar constante das redes sociais que seremos assim. É impossível ser feliz sempre, ter consciência de que o Ser Humano é falho e que por isso somos igualmente falhos nos dá um conforto ao errar e um ânimo a mais para consertar. A tristeza é algo que o mundo tenta sufocar para manter uma felicidade difícil de se sustentar na eloquência das horas vividas entre no nosso ego e as nossas almas.

Não são poucos os que tem transtornos mentais, menos ainda são aqueles que por um momento da vida passaram por momentos de descompressão emocional, dramas psicológicos que sufocam os sentimento e acabam por sufocar a si mesmos, como um homem que quer conter o riso quando só pensa em chorar. Em certo momento do filme existe uma citação bastante reflexiva: " A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que vocês se comporte como se não tivesse", isso é a demonstração de como não estamos preparados para conviver em sociedade com pessoas com esses transtornos, por séculos colocávamos esses doentes em reclusão, em condições físicas cruéis e pouco humanitárias. O Brasil tem a casa de genocídio de Barbacena, Os Estados Unidos o Athem Lunatic Asylum, a Austrália a Inglaterra tem os seus. Sempre tentando proteger a sociedade de transtornos mentais, mas também dos veteranos de guerra, dos homossexuais, das prostitutas, dos infiéis matrimoniais, dos pecadores da Igreja e etc.

Num tempo em que uma das maiores causas de afastamento profissional sejam fatores psicológicos, num tempo de Prozac e Fluoxicitina curando bullying, a sociedade ainda cobra o sorriso, a alegria de um almoço de domingo, a heterossexualidade, a crença religiosa, a saúde física, a aceitação o tempo todo, a magreza, o vestido da moda, a certificação profissional ... Nos levam a ser cada vez mais o que exigem e cada vez menos em nossa essência. Na imaginosa Gotham City isso leva ao caos dos oprimidos diante da crise higiênica e dos serviços públicos, daí para a onde de violência é um passo, como animais encarcerados matam-se os semelhantes e o líder de todo o movimento é sem querer,o Coringa. Mesmo vilão, gera empatia por, como os demais, ser desassistido por uma sociedade corrupta, hipócrita e delirante. Que sofrem a violência da maldade explícita mas também aquele sutil, escondida em pequenos atos, palavras e julgamentos.

Existem várias maneiras de sair desse cinema ... simplesmente frios diante de um filme de ficção, assombrado, exitado com os atos de violência, pensando nas reações de um agredido diante de seus agressores ou com uma necessidade de olhar o mundo e a si mesmo com mais sensibilidade, compaixão e pensando na frase do Coringa: 

"Sou eu ou o mundo que está ficando mais louco?"


Alguns números do terror:

60.000 mortos no manicômio de Barbacena (entre mulheres adúlteras, presos políticos, infiéis religiosos).
3.000 castrados no Topeka State Hospital do Kansas (entre epiléticos, "bobos", crimonosos leves).
2.600 paciente no Danvers State Hospital que comportava 600.
9.000 mortos no Beechwort Lunatc Asylum (sem diagnóstico de loucura).
800 infectados propositalmente com Hepatite B no Willowbrook State Hospital.
2.400 pacientes no Trans-Allegheny Lunac Asylum que comportava 250 pacientes.
3.393 afastamentos do trabalho no Brasil em 2016 por depressão

Todos tem histórico de abusos sexuais, maus tratos e tortura!

.... e a velha tia segue feliz para a missa de domingo depois de ter sossego por internar o sobrinho homossexual numa casa de cuidados mentais do governo...