quinta-feira, julho 25, 2019

A história do fim da ideologia

Até o final dos anos 80 o mundo assistia brigas ideológicas de alto nível, não se resumia a uma guerra fria ideológica entre comunistas e capitalistas, se olharmos com detalhe havia um arco iris de tendências  espectros dentro de cada vertente ideológica. Existiam os Trabalhistas (tanto de direita quanto de esquerda), os Sociais Democratas, os Verdes, Comunistas tradicionais russos, que não se batiam muito com os chineses, existia toda uma vertente ideológica liberal britânica que tinha um feitio diferente dos democratas americanos, que lutavam contra os comunistas cubanos que tinham o seu ditador, mas que sua vez lutavam contra os ditadores militares latino americanos. E esses mesmos ditadores tinham suas diferenças, os argentinos eram mais brutais que os brasileiros, o chileno voltava sua economia para o liberalismo enquanto aqui no Brasil o movimento era estatizante.

O final da década de 80 foi chegando e a vida foi perdendo a cor no mundo inteiro. Um impacto direto da derrocada comunista sem essencialmente haver uma vitória real do capitalismo, as ditaduras latinas cederam o poder para governos democráticos imersos em problemas sócio econômicos sérios enquanto uma dezenas de países europeus estavam reconstruindo suas economias e tentando se encontrar ideologicamente. Cazuza retratou bem esse momento de frustração geral no seu álbum Ideologia, onde a capa mostrava uma miríade de símbolos antagônicos entre si.



Em meio a isso um sujeito chamado Lula que representava um partido trabalhista essencialmente sindical se lançava candidato a presidência do Brasil. Uma década se passou e seu discurso foi ficando vazio mas sua persistência o fez aparar a barba, atenuar a fala, melhorar o terno, alinha seu discurso com os dos seus inimigos e .... substituir o furor do idealismo político pelo estratégico marketing eleitoral. Quando ganhou sua eleição, já estava distante daquele líder sindical de outrora. 

Começou então a andar com quem não devia, fazer o que não lhe condizia, renegar a sua ideologia, aos poucos foi se perpetuando no poder, somente para governar... era o poder pelo poder. Emplacou releição, criou artificialmente uma candidata substitua a ele e viu seu poder ruir sem uma ideologia para lhe sustentar. Os desejos dos partidos seguiam a política do toma lá, dá cá criada pela política dos governadores há 100 ano atrás e alimentada pelos mensalinhos da política nacional. 

Surgiu então a direita, alimentando-se de uma ideologia de fake news, simplificando o debate político numa briga de Fla X Flu e alimentando a fúria bélica dos certos contra os errados, os vermelhos comunistas contra os brasileiros nacionalistas. Discursos viraram tweets, bom senso virou  ... virou ... não, o bom senso se perdeu! Fomos criando uma dificuldade de lidar com quem pensa diferente, perdemos a autocrítica e o debate de alto nível de outrora foi trocado pelos Memes de internet. 

Nesse caminho perigoso de radicalismos extremos de parte a parte, professores não se dão o respeito, alunos os gravam em sala de aula para intimidar, caçamos bruxas como no Macarthismo, abrimos caminho para uma Revolução Cultural ao estilo chines e a uma Jihad evangélica. As instituições vão entrando em colapso, esvaziamos a autoridade de quem as tem ... no meio dessa bipolaridade social doutrinamos sem ideologia e sem idéias, sem construção mas baseadas no fato de ser contrários aos outros, perdemos nossa identidade, e com isso vamos perdendo por quem lutar como se perde o orgulho de uma vitória ou o sabor do aprendizado de uma derrota, como lágrimas que se perdem no meio da chuva. Vida humana no meio do nada....


sexta-feira, julho 19, 2019

A verdade vos fará livres!

A verdade vos fará livre .... mas onde está a verdade? Em tempos de relacionamentos rasos, pouca profundidade dos fatos, fake news, diálogos rápidos, ideologias trocadas por marketing político, discursos substituidos por memes. Onde estará a verdade de tudo ? Parece difícil encontrar a verdade das coisas, escolher alguém para crer num mundo construído de mentiras e frases vazias. Pode ser que procurar alguma verdade num mundo externo ao nosso nariz seja como procurar agulha num palheiro, então que tal começar a procurar uma verdade dentro de nós mesmos.

O autoconhecimento nos leva a encontrar onde está nossa própria verdade, e apesar de estarmos tão próximos da nossa essência, muitas vezes não olhamos para nós mesmos, já que vivemos  uma vida para os outros. São filhos que seguem a profissão escolhida pelos pais, compromissos que temos que assumir para seguir a agenda dos clientes. Discursos que não são nossos mas que seguimos por uma paixão irracional. Amores carnavalescos que não tocam a nossa essência. 

Quando vamos ver, nossa vida passou e temos muita dificuldade em encontrar nossa própria agenda, nossa marca nas conquistas, nossa força de vontade por encontrar um espaço próprio na história. Aí nos damos conta que não possuímos nem a nossa própria verdade. Para começar a procurar uma verdade pra chamar de sua, não procure nos livros de auto ajuda, nas palavras mal escritas de um blog qualquer, não procure olhando o horizonte de pessoas que passam pela nossa vida, não procure nas crenças e nem nas religiões que dependem de uma fé cega para mostrar a verdade. Procure em você mesmo, procure nas reflexões que faça, nas aspirações e inspirações que surgem longe do nosso sentimentalismo barato. Procure em tu mesmo e encontrará a verdade pois ela está na abundância de tudo que é essencial para a nossa vida, desde as ideias até o ar que respiramos... procure no amor próprio e no amor ao próximo, aquele amor que nos infla o peito de nos dá uma sensação de gratidão.

É o amor irrestrito que nos torna livres da intolerância, do preconceito, é ele que nos liberta dos dogmas, do traiçoeiro pensamento que nos sabota e nos derrota. É amando ao próximo e a nós mesmos que podemos falar com sinceridade, olhar com profundidade os olhos dos outros, é com esse amor que construímos a vida e encontramos a nossa paz.

segunda-feira, julho 08, 2019

João Gilberto

A impressão é que 10 em cada 10 músicos que viveram os anos 50 no Brasil falavam de um cara que tinha um jeito descompassado de tocar violão, uma voz que ficava longe de um crooner mas que, com esse estilo diferente de tudo que já tinha sido ouvido, influenciou suas carreiras. Esse cara se chamava João Gilberto e com ele se foi a memória de um Brasil que despontava para ditar cultura pelo mundo afora, junto com a conquista de uma copa do mundo em 58, a arquitetura, a música e o cinema mostravam ao mundo um país cosmopolita que se emancipou da semana de arte moderna de 22 com um nível de sofisticação nunca antes vistas num país que aos poucos deixava de ser rural e que em breve iria ter uma nova capital. O mundo nos descobriu como nação intelectualmente independente quando descobriu João Gilberto.

João se foi e com ele uma horda de boas lembranças de Nara Leão, Vinícius de Moraes, Miúcha, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Baden Powell, Leny Andrade, Tom Jobim, Pixinguinha, Cartola, Elis Regina, Tim Maia ... não que estivessem totalmente relacionados entre si mas que simbolizavam uma face bem brasileira de fazer a música de forma diferente, à exaltando como arte. E se ainda existem: Chico, Toquinho, Gil, Caetano, Ivan Lins, Roberto Carlos, Guilherme Arantes, João Bosco, Hermeto Pascoal, Zé Ramalho, Erasmo Carlos ... renegados a um ostracismos gigante, talvez até porque não conseguiram passar o bastão para uma nova geração de artistas, como João Gilberto fez influenciando tanta gente. Ah! ainda figuram nessa lista de influenciados Frank Sinatra, Bono Vox, Sting, Al Jarreau, Doris Day, Diana Krall.

Um músico obcecado pelo silêncio que apareceu num vácuo de vibratos de vozeirões como Cauby Peixoto, Orlando Silva e Francisco Alves. Num país de grandes violonistas, foi João que colocou o instrumento sob as luzes indo além do Samba Canção e do Jazz, incorporando um sentimento a instrumentação. Algo difícil de ser explicado porque é muito bem sentido nos compassos entre som e silêncio que ecoam arrebatadores nos nossos corações. Não é a toa que um disco tipicamente de Bossa Nova, mesmo cantandos em português seja um dos mais celebrados da história do Jazz. O LP Getz/ Gilberto é tão arrebatador quanto ouvir Chega de Saudade sem nenhuma referência anterior a Bossa Nova. Ou o show de João Gilberto no Carnigie Hall. 

João Gilberto é um convite ao ouvir, é um convite ao perfeccionismo e a atenção. Coisas tão difíceis num tempo de ímpeto comercial, talvez por isso ele tenha sido tão recluso, tão incompreendido, tão chato! O cara que sempre esteve a frente do seu tempo, ficou preso no passado, onde o glamour era só um banquinho e um violão.

quarta-feira, julho 03, 2019

Não aprendi dizer adeus

Não aprendi dizer adeus;
Mas certas coisas no mundo não se aprendem... se encontram e foi exatamente por encontros que estamos aqui chorando por dentro para nos separar. 
Veja que foi muito melhor que um desencontro, onde não teríamos nem a oportunidade de chorar.
Nunca dizemos adeus de verdade porque quando as almas se encontram ficam marcadas para sempre umas nas outras.
Essa marca é criada quando se tem um relacionamento forte o suficiente para mudar de alguma forma nosso jeito de pensar, nossos valores, nossos corações.
Todos os humanos são irmãos e por não compreender isso desperdiçamos as oportunidades da vida, desperdiçamos a própria vida.
Temos toda a nossa existência para travar esses encontros então siga bem devargar com a vida porque temos pressa, não perca tempo pensando que não tem tempo! Busque o seu próprio tempo e viva com intensidade tudo que possa um dia virar a despedida de um encontro.
A pressa é a negação do tempo, e se o tempo é vida ... ter pressa é não sentir o pulso da vida. Tempo que se vai é vida que se perde. Não perca ele ... mas vá ... bem devagar! Encontrando o que tem de vida por aí.
Nosso futuro depende  do que fazemos hoje e por isso temos sempre que buscar fazer o melhor e isso inclui: nossas escolhas, nossas atitudes ... e nossos encontros (e despedidas). Quando for dizer adeus pense nos tantos encontros que não aconteceram e seja grato pelos que teve.
Quanto mais gratidão experimente o homem pelo passado, quanto mais gratidão guarde pelas horas felizes vividas nele assim como pelas lutas e pela dor que sempre são instrutivas.. tanto mais se abrirá a sua vida a novas e maiores perspectivas de realização.
E onde quer que você vá ... vá para brilhar! Vá, para mesmo que de longe, eu possa te enxergar, leva o coração feliz ! Fiel com si mesmo e com seus propósitos. São eles me ligam a você, não podemos perder isso! O que nos separa não pode destruir o que nos une.
As coisas se transformam: num dia um oi ... num outro um adeus! Que nos transformemos então, um Ser renovado a cada dia ... que não precisa dar adeus para aquele Ser que você foi ontem, guardando, dentro de si, encontros e despedidas sem perder os laços, os elos. 
E muitas vezes não conseguimos dar atenção ao que é básico e necessário nessa vida, muitos se perderam pelo caminho simplesmente porque estiveram envolvidos com os seus problemas.
Problemas se resolvem e damos adeus a eles ! A vida nunca deve ser colocada dentro dos problemas, mas os problemas sim devem entrar na nossa vida, para podermos tirá-los ... 
Vai ... vai logo com Fé no que se faz ! Fé no que se é .... Fé no que queremos ser ! Fé não é simplesmente acreditar no que queremos para nós, é tornar esse querer uma obstinação, um movimento que mova tudo a sua volta para conquistar.  Fé é sentimento aliado a atitude então vamos em frente porque chegou a hora de nos separar ... até breve ... até sempre ....

Porque precisamos da sociologia

Somos 7,7 bilhões de pessoas no mundo, 4 bilhões estão conectados a internet de alguma forma, nunca a população cresceu de forma tão rápida, nunca a conectividade cresceu de forma tão rápida... em algum ponto entre 2020 e 2021 seremos 5 bilhões de pessoas convivendo no mundo digital, gerando uma renda de consumo em torno do trilhão. Como será isso com os atuais níveis e padrões de consumo? Como enfrentaremos as fake news ? Como as redes sociais impactarão a vida do homem ? Existirão novos padrões de ética proporcionados pelas religiões que causarão algum efeito na democracia? Assuntos bem atuais não? Diferentemente do que "pensam" nossos governantes, a sociologia não está ultrapassada, é ela que responde todas essas questões! Quando falamos num sociólogo no século XXI, ele não tem nada a ver com um acendedor de velas que perdeu seu emprego com o advento da lâmpada. Como as empresas vão prover produtos melhores para atender esse bilhão de conectado? A Google, criou um grupo de estudos (NBU - Next Billion Users) para pensar nisso, são engenheiros, gestores, filósofos, e sociólogos que constroem tecnologia a partir de necessidades que aprendem sobre essa nova gente e o Brasil , junto com a India, a Indonésia e a Nigéria está no primeiro foco desse time, porque somos um país que cresce, em costumes, em população... são desses países que virão a maior parte desse novo bilhão de conectados, segundo os geógrafos.

A partir de estudos sociológicos podemos prever a sociedade do futuro, priorizar investimentos, fazer pesquisas, definir padrões. Não são estudos simples relacionados só com números, não se trata de um conjunto uniforme de pessoas, dentre eles estão jovens urbanos que querem um celular mas que não querem mais comprar um carro, mulheres que não querem mais casar, homossexuais que são ameaçados pela violência. Como podemos ampliar a rede 5G para atender o rapaz ao mesmo tempo em que pensamos quem processar quando o carro autônomo atropelar uma pessoa? Ou mesmo quem vai seguir com o processo uma vez que as tecnologias cognitivas fazem os advogados perderem seus empregos... 

Para questões simples não precisamos de pessoas que pensem, para questões complexas não basta o conhecimento de uma universidade que nos ensinem a cumprir tarefas, vamos cada vez mais precisar de experiências que nos façam verdadeiramente a pensar. A sociologia é o estudo da sociedade, é a busca pelo conhecimento dos fenômenos sociais, do comportamento, das instituições das relações de convivências dos seres humanos. Quando não priorizarmos isso, não vamos priorizar  o próprio pensamento humano e é preciso ter muita atenção a movimentos que por ignorância ou interesse tentem romper com isso.


terça-feira, julho 02, 2019

Porque existe direita e esquerda na política ?


Nenhuma outra forma de governar incorpora a discordância, e o debate, como o sistema democrático. A democracia é, por sua natureza, uma abstração intelectual. A direita e a esquerda também.... A percepção geral de que há uma direita e há uma esquerda ajuda na compreensão da democracia pois dá legitimidade à discordância. Essa divisão se deu nos anos pós revolução francesa quando Girondinos e Jacobinos fizeram uma assembléia numa quadra de tenis .... alguns mais radicais, queriam taxar os mais ricos e o clero, tinham idéias republicanas e sentavam no lado esquerdo da quandra, enquanto os outros ficaram ao lado do imperador e também no lado direito dessa mesma quadra. Com o passar o tempo, o posicionamento de ambas as partes foi mudando, com a explosão do comunismo no século XX, o conceito de direita e esquerda saiu da França e ganhou o mundo com uma contaminação de socialistas nesse lado.


Algumas posições evoluiram com o tempo, uma tese defendida por uma esquerda, passou a ser bandeira também da direita, novas divergências se criaram, fatores regionais deram um tempero todo especial a essa briga de paixões. Na década de 90 muitos defendiam que essa diferença tinha morrido com a guerra fria, outros não se identificavam nem com um lado nem com outro recorrendo então a uma terceira via. Além disso houveram muitos véus e muito lobo vestido em pele de cordeiro, o viéis economico fez parecer que os que propoem uma economia liberal são de direita, já os que são estatistas são de esquerda... não é bem assim ! Apesar da direita em geral apoiar a Igreja Católica, existem tantos padres ligados a esquerda que a divisão ocorre até na Santa Sé.

Os militares no Brasil sempre estiveram ligados a esquerda, o Golpe Militar de 64 foi feito por uma elite militar com idéias de ... direita! Houveram radicalismos de ambas as partes, erros de qualquer lado. A incompetencia não escolhe lado, o totalitarismo também. A igualdade ou desigualdade entre os cidadãos parece ser medida entre grupos políticos diferentes para se posicionar entre seres semelhantes, mas o que é igualdade: duas crianças que nascem iguais e uma se torna um rico comerciante e outro um mendigo. Ou ambos que nascem ricos ou pobres e morrem com a mesma idade ficando debaixo da terra remoendo suas diferenças históricas e teóricas....


Padrões pré determinados não deveriam valer para um Homem que pensa: A esquerda busca igualdade e, a direita, liberdade. A esquerda busca mudança e, a direita, estabilidade. A esquerda é o Estado e a direita o Capital. A Esqueda comunista e a direita capitalista, um regime autoritário com economia sem o Estado é a direita, porém se o mesmo regime autoritário é compartilhado com uma economina Estatal forte já passamos a ter uma esquerda. 

Essa dualidade move paixões, mobiliza nosso imaginário, junta pessoas na rua, une ... mas separa. A partir do momento que não conseguirmos compreender porque o outro pensa diferente de nós, não conseguiremos enxergar pontos que nos unem. Não conseguimos criar mecanismos que nos deixem entender que o bem que queremos para o mundo seja algo igual para todos.... Não conseguiremos colocar o cidadão de bem se colocar diante das diferenças para buscar o bem comum pensando que não existem realmente grandes diferenças assim mas que o pouco que há servem como forma de desagregar e impor uma dominação.