segunda-feira, setembro 09, 2019

O Despreparo da geração mais preparada

 Podem rotular como quiser ... geração X, Y, Millennials, alfa .... mas existe uma geração de jovens, que há pouco tornaram-se adultos que são a geração mais preparada em termos de escolaridade, acesso a informação, conhecimento tecnológico, visão , cultura e convívio com o conforto. Serão nossos futuros líderes, foram preparados para assumir o mundo, falam três idiomas, usam computadores, tem facilidade com a internet, experiencia internacional e fazem coisas que nem precisam mais fazer como cozinhar e dirigir. Suas habilidades saltam aos olhos e a princípio serão eles os responsáveis por uma das maiores transformações que a humanidade vai dar, um salto nas relações de trabalho, de consumo com o uso da tecnologia. Além disso, eles assumem sem problemas essa responsabilidade de conduzir as grandes corporações, inovar em pequenas empresas, em fazer lucro e em pensar numa sociedade mais igualitária e inclusiva. 


A crença de que a felicidade é um direito e a falta de preparo para lidar com as frustrações pode botar tudo a perder, se precisarmos de um indício de que isso já ocorre é só olhar o aumento das taxas de suicídios, depressões, vendas de Prozac e problemas psicológicos que o mundo espera para os próximos anos, uma tendência que será amenizada com os movimentos globais de liberalização da maconha (não estou expondo aqui minha opinião sobre se é certo ou errado, mas o movimento global já iniciou e pelo visto não terá volta!). Essa geração despreza o esforço sem resultados e foi a minha geração (seus pais) que incutiu a cultura do menor esforço na cabeça deles. E mesmo que tenha esforço sem resultado, fomos acostumando a dar uma premiação. Fomos premiando tudo , dando tudo ... oferecendo muito mais "sins" do que "nãos". 

A nova geração conhece o mundo em viagens protegidas, é despreparada para o sentir e o saber pensar, desconhece a fragilidade da matéria da vida e aí quando se apercebe vai sofrendo, e sofrendo muito quando nota que nasceu com a felicidade e que ela não nos acompanha a vida inteira, pensam que já nasceram prontos . E não foi ensinada a criar a partir da dor, que cresceu com a ilusão de que a vida é fácil, que nasceram já com uma genialidade embutida e que falta apenas ao mundo reconhecer essa genialidade. Aí eles chegam no mercado de trabalho achando que estão em suas casa, fazendo as coisas nas horas que lhes cabe, tendo chefes complacentes e esperando premiações que os estimule como num jogo de vídeo game. Como os prêmios nem sempre vem .... se deprimem, desistem ... até se darem conta que a vida é para os insistentes, que precisam se reerguer das derrotas.

Como educar nossa próxima geração a poder conviver com as derrotas? Será que é dando mais proteção, afago quando o "NÃO" é forte demais para eles, ou lhes dando maconha para fugir da realidade? A solução pode estar em, desde cedo, mostrar que a vida é uma construção que felicidade não é um direito mas uma conquista, que para chegar à ela temos muitos deveres, esforços e derrotas pela frente, que a vida é uma evolução muito maior que o diploma, o trabalho e a informação. Temos que mostrar que boa parte da felicidade não se compra, que filhos não devem ser dívidas que os seus pais tem que pagar e se frustrar quando atrasam alguma parcela. Temos que educar para que as crianças pensem, sintam o que aprendem e não se frustrem com suas decepções, pois daí pode vir o ânimo para começar de novo. Frustração não é fracasso!

A sociedade parece vangloriar mais o cara genial que não estudou mas passou para medicina do que a menina que se esforçou e passou raspando, o conceito de esforço parece que é valorizada só por pobre. A médica que estudou nos melhores colégios e tem um carro é bem sucedida, o cara que se esforçou para mudar de classe social sem ter equidade e que precisa pegar o ônibus todo o dia pra sustentar a família é um derrotado. Ambos tiveram suas conquistas, existem méritos e mercados para ambos mas o grau de percepção às derrotas de ambos será completamente diferente.

As redes sociais não dão espaço para as tristezas, a vida pré moldada e os almoços de domingo também não, o desabafo passou a ser encarado como derrota, os problemas como fracassos e o mundo belo que pintamos nas redes não é assim. Felicidade é um imperativo! Então como se abrir expondo aos nosso pais as nossas angústias? Vivemos num mundo onde os problemas são sufocados e não resolvidos, onde as doenças psicossomáticas partem do princípio de que é importante parar de chorar e seguir em frente. Ouvir isso num momento de fraqueza oprime, deprime...

As relações familiares foram construídas blindando-se filhos dos problemas, dos esforços e eles só participam das conquistas. Quando se tocam que a vida não é assim, decretam a falência do projeto familiar veem que foram moldados num mundo de ilusão e a solução mais fácil é procurar um médico e começar com os antidepressivos.

Quando um projeto de vida vira fumaça, ficar sem chão é a próxima etapa, sentir a fragilidade humana nos espanta e daí para a depressão é um pulo ! O que fazer para cortar esses ciclos ? Deixar consumir todo o processo depressivo, cortar esse ciclo no meio? Identificar o que poderiam ser os impulsos para mudar ou acelerar o processo natural ? É muito difícil ter a resposta certa quando um ciclo de decepção inicia. Muitos, como numa cartasse vivem todos os seus momentos, de ira, silêncio, desorientação, esperança e reconstrução. Outros procuram fugas paliativas. Cada um tem uma forma de lidar com o seu drama e partem de algum ponto do seu autoconhecimento, quanto melhor se conhecer, mais apto estará para lidar com os problemas. Se tiver um norte, um propósito de vida, mais rápido voltará para o rumo dele, então educar nossas crianças a se entender na sua individualidade, tanto para aprender a pensar e lidar consigo mesmo, quanto para resolver seus próprios problemas pode ser uma chave para que tenham mais confiança na vida adulta.

Deixar nossos filhos viverem com algumas dúvidas e fazer as próprias escolhas não é o fim do mundo, vai cultivar neles a responsabilidade de lidar com causas e consequências. Isso é tão importante quanto uma boa escola, um curso de inglês ... um celular. Eles devem saber que podem sempre contar com os pais mas que eles mesmos devem se virar para enfrentar a vida.