quinta-feira, dezembro 05, 2019

Particularidades dos holocaustos

Estamos acostumados a ver as cenas do holocausto judeu com aquelas cenas horríveis de cadáveres jogados em covas rasas, filas imensas entrando nos crematórios, números de judeus mortos sendo contados aos milhares, fotos de centenas de sapatos espalhados pelos campos de concentração. O gigantismo para contar uma história dentro da nossa história de humanidade, o aparato grandioso da guerra, muitas vezes esconde as pequenas milhões de estórias ceifadas de cada Humano que passou por essa experiência. Não são 6 milhões de judeus mortos na história, mas 6 milhões de histórias destruídas nas particularidades da guerra. Contos de famílias felizes que perderam tudo e que simplesmente deixaram de existir para a humanidade.

O caso mais famoso é o de Anne Frank, existem outros tantos, existem relatos de superação, de coragem, de covardia, de medo, de dor, de perda .. muitos poucos de esperança. A ótica que retratou a guerra durante muitos anos foi a de movimentos grandiosos de guerra, aos poucos foram aparecendo as pequenas histórias da particularidade de cada família, de cada pessoa, casos como o de Anne Frank, Lili Jaffe, Adolpho Block, Miriam Ziegler, Sam Piviniki e outros tantos mostram famílias despedaçadas, parentes brutalmente separados e um enorme buraco que deixou milhares de humanos, sem pátria, sem chão e sem sentido de vida. Muitos dos relatos dos sobreviventes nos levam a um sentido mínimo de Humanidade e dignidade que se não lhes dava esperança ... minimamente os faziam sobreviver mesmo que instintivamente e daí encontravam forças para reagir a morte.

Existiam centenas de campos de concentração, alguns deles também eram de extermínio, Auschwitz era o maior deles, mas olhar a História só por essa visão bem particular é fechar os olhos pelo que acontecia em Sobibor, Treblinka, Lwow ... a forma de olhar a História pode mudar em muito o nosso sentimento pelas coisas que aconteceram, nos colocar em sintonia pelo que uma pessoa passou naqueles momentos pode nos dar a real condição de vida e sobrevivência. Transformar nosso conhecimento em sentimento e daí a importância de não se fazer esquecer para não repetir. 

Da mesma forma que o termo holocausto nos faz pensar só em extermínio de judeus na segunda guerra é bom deixar claro que até nesse termo acabamos escondendo particularidades que semântica nos dá .. se pensarmos que o termo HOLOCAUSTO vem do grego para representar a queimar todos e exterminar podemos traçar paralelos, não em números, mas em sofrimento com outros momentos da história, nem é preciso recorrer à Roma antiga, Gengis Kan, Inquisição, os Incas, as Guerras Guaraníticas, a Primeira Guerra Mundial, o Extermínio de Pol Pot, o genocídio Armênio, os expurgos Stalinistas, Mianmar, o Estado Islâmico, a Bósnia, o Sudão do Sul ou os Pogroms. Existem genocídios bem perto de nós, na nossa história recente como a Guerra da Tríplice Aliança dizimando o Paraguai, o extermínio em massa de Canudos, o Contestado, o hospício de Barbacena, as prisões do Estado Novo. 

Matar, torturar, exterminar sistematicamente pessoas tendo como motivação eliminar as diferenças de nacionalidade, raça, religião e etnia são coisas prometemos nunca mais ver, depois de vermos o holocausto nazista, mas que continuam por aí como se ninguém olhasse para a particularidade deles e o ódio que os cria.