sábado, julho 18, 2020

Presunção humana

Achando que somos eternos, nos preocupamos pouco com as coisas realmente relevantes nessa nossa passagem por aqui e os grandes problemas da humanidade seguem os mesmos através dos anos. Temos fé subjugando o conhecimento, vamos ao espaço ver de longe nossa pequenez mas limpamos o coco da mesma forma tosca por séculos ... derrubamos árvores (que achamos que não são vidas) para fazer .... papel! (aquele mesmo que limpa o coco). Nos falta oxigênio ... sentimos falta daqueles árvores que matamos, gastamos milhões plantando outras e as derrubamos também.

Não pensamos mais em filosofia como os gregos imaginaram há séculos, agora a cadeira de filosofia é só aquela matéria que o governo acha inoperante e deficitária nas faculdades. Eis que aí nos conhecemos muito pouco .... sem saber o que nós somos, não entendemos o que precisamos e cometemos os mesmo erros do passado por achar que a história não é feita de repetição (e nesse caso também acharam o tema deficitário). Sim vamos crer num mundo melhor mas seria melhor arregaçar as mangas e fazer esse mundo melhor, nós temos capacidade pra isso ! Afinal inventamos a tal nave no espaço.

Uma nave no espaço serve para nos mostrar o quão evoluídos nós somos e o tão pouco evoluídos somos até agora. Uma nave no espaço eterno nos mostra que nesse grão de areia onde vivemos num equilíbrio frágil vimos passar no espectro da história todo grande populista, todo ditador sanguinário, todos os nossos amores, toda a nossa perdição, nossa vida inteira ... toda a vida do mundo que num raio de sol mais forte ou num cometa desgovernado, pode se desfazer em segundos. Vemos de longe que somos no espaço um nada mas que num equilíbrio cósmico temos aqui nesse nosso cantinho do universo uma condição ímpar de vida ... e não aproveitamos bem esse milagre. Seguimos tocando a vida ... e sendo muito pouco tocados por ela, graças à fragilidade que nos infligimos.

Não sabemos porque estamos aqui, como chegamos a esse estágio da história, não sabemos nos curar de um vírus que morre em minutos com álcool gel, não conseguimos dar, água limpa para todos, investimos milhões para curarmos de doenças raras e que matam pouco enquanto milhões morrem porque não tem saneamento básico, olhando as redes sociais vejo os experts do mundo debatendo sobre a vida pessoal do artista ou do jogador de futebol. As maiores cabeças pensantes do mundo usam a sua genialidade para que um site ganhe mais likes enquanto o mundo clama por soluções. Na crise recorremos a médicos, quando deveríamos ter sanitaristas evitando as crises e esquecemos que todos os médicos, cientistas, políticos... eram pedras brutas antes de passar pelas mãos de um professor, mal remunerado e descontente com sua vida.

A vida é breve companheiro e vale a pena cada sorriso que se de, cada bem que se faça ... cada angustia que se viva, porque viver é muito mais que nascer, crescer, envelhecer e morrer. Nossa vida vai além da batida inconsciente de um coração, nossa vida pode ser o legado que deixamos para outras vidas, nossa existência tem um tempo que se eleva ao corre corre do dia. Mas entre guerras, doenças, futilidades, problemas pra se resolver, presumimos que isso tudo que nos ocupa é mais importante do que a transformação que podemos gerar usando um pouco mais dos 10% que conhecemos da nossa capacidade mental.

quinta-feira, abril 30, 2020

Achados de uma pandemia

Então o Brasil acaba por "descobrir" milhões de desassistidos, pessoas que não aparecem nas listas de CPFs, no SUS, no Bolsa Família, em nenhum programa de assistência do Estado, não são batizados, não são registrados, não são civilizados. Mendigos, indigentes, desocupados, vagabundos ... na verdade são indigestos, restos de uma sociedade que teima em não os ver. Pessoas que não conhecemos, que estão bem abaixo da linha da miséria, que vagam por aí sem que nós os vejamos como seres humanos. Eles não estão escondidos, estão nos sinais, nas esquinas... nós é que não temos olhos para eles! E é estranho não ver uma parcela de pessoas na Era do Big Data, da onipresença dos meios digitais, numa éopca da evolução humana onde ser criam personas virtuais e que não guardamos compaixão com as pessoas reais.

Pessoas que não moram, que acreditam que viver numa favela é algo vetado para eles, pois não tem renda, não tem meios de sobrevivência, não tem credo ou religião, que estão na subvivência e que aceitam isso. Dalits brasileiros, excluídos da sociedade, sem nome na certidão, sem identidade pessoas sem uma vida de verdade. Pois o entendimento do que seria vida passa pelo entendimento do que viemos fazer aqui, se for simplesmente nascer, morrer, procriar e crescer sim .... são seres vivos, porém se ampliarmos um pouco esse baixíssimo espectro e elevarmos ele para minimamente se desenvolver, não damos condições nenhumas para que essas pessoas possam viver. Criamos, diantes de nossos olhos uma horda de zumbis! Sem lar, sem ler, sem saúde ou orgulho só tem um destino e uma certeza ... terminarão em cova rasa sem nunca terem existido. São o resto... 

Entender o que devemos fazer por essas pessoas passa pelo entendimento que tenhamos pela vida e pela humanidade, o que se esperar delas. Que as vidas sejam vazias a ponto de trocarmos os cuidados a seres humanos iguais a nós por um gagget ou pet qualquer ?

Pessoas que carregam no estomago seus objetivos de um dia, da vida inteira, que tem a fome na frente da moral, uma poluíção social que não aparecem nas fotos, são escondidos das festas e dos paraísos de cartão postal. Sem dignidade sem teto pra morar nem por isso deixam de ser Humanos e brasileiros tão fortes e resistentes quanto nós. As ONGs pouco fazem pois não são organizados, são dispersos, pingados. Eis que se abre agora uma oportunidade de descobrí-losem meio a uma tempestada pandêmica, como um furacão que revolve a areia da praia, que tira a espuma do mar bonito para que encontremos tesouros perdidos na praia. Sim, eles são tesouros, uma forma de redenção ... não a deles, a nossa! Temos que exterminá-los, mas não os matando... os incluindo! Elevando suas perspectivas, fazendo seu pesadelo acabar e que continuem sendo erráticos mas nunca os esquecidos na multidão. 

Podemos pensar que são filhos da miséria e cujo castigo é viver ... mas miséria de quem ? Numa sociedade que só pensa no dinheiro é simples deduzir que a miséria é deles porém se elevarmos noss pensamento para a miséria humana podemos também concluir sob outro ponto de vista que existe muita miséria humana e nesse caso a miséria é nossa e não de quem não tem perspectivas para sair do lugar. Uma vez que eles precisam de tudo e não lhes damos nada e isso inclui muito mais que dinheiro ou meios de sobrevivencia. Não lhes damos nem um olhar, não lhes estendemos um braço, um afeto, uma chance. Se já nascem fracassados, não foram eles que fracassaram, não são batizados, não são vacinados ... vão morrer e ninguém vai se importar, uns vão ter um alívio de um problema resolvido.

Ledo engano o problema real vive dentro de nós ! Mais um problema que deve ser descoberto dentro de uma pandemia.





quinta-feira, abril 23, 2020

Quarentena

As ruas estão vazias.
Um silêncio tamanho, nos lembra a morte.
O movimento da rua é um carro ao longe.
O tudo, parece virar um nada.
Não se ouve alma viva...
Não há grito de gol no espaço...
A respiração ofegante é abafada por uma máscara
Parece fábula.
Mas é a vida ... histérica se tornando dramática

Seguimos uma vida cheia de vazios 
Trancados dentro de casa
Não há briga
Não há comemoração 
Só incertezas no ar ... e um vírus que nos quer calar.

Abafados ..
Diante de tão pouco, vemos o quanto somos nada.
A mercê de algo que não vemos, uma nova semana começa 
Com as velhas rotinas, egoísmos, 
A luxúria do mundo e ...
Os desvalidos.

Não há tempo para tão pouco 
É preciso abrir os braços sem dar abraços
Falar sem cair nas discussões terrenas
Precisamos ver o mundo com outros olhos
Ver que pequenos problemas podem ser desesperadores 
Quando na abundância do ar, não podemos respirar 
O mundo nos sufoca 
A miséria nos torna ausentes
Carentes ... de uma forma de humanidade
Sem que ninguém se altere 
Esperanças brotam do nada
Um braço estendido no meio da rua 
Pede comida.... pede sabão
Pede um olhar 
Mas tudo é em vão 
Novas vidas são perdidas
Velhos sonhos são descartados 
Não temos respostas
Temos uma vida inteira que repousa 
Silêncios preenchendo sonhos 
Mentiras corrompendo a vida 
Que carece fugir da realidade.