quarta-feira, outubro 12, 2022

Depressão

A maior dor é a reconhecida falta de forças onde elas seriam necessárias.
Arthur Schopenhauer

Meu objetivo aqui não é discutir os números crescente, as políticas públicas... Analisar o problema social e expor as soluções! Os números estão aí... Ao nosso redor, mas velados. As políticas públicas inexistentes criam no máximo campanhas coloridas para uma realidade em cor. A depressão e suas doenças correlatas chegam sem avisar criando ao Ser Humano um excesso de vazio sem precedentes na nossa vida. É como perder o paladar e não saber mais o gosto que tem a comida porque descobrimos que no passado também não estávamos sentindo o gosto correto das coisas... E pior, sem perspectivas se vamos conseguir comer novamente com algum paladar.

Tive um evento de depressão num momento de grandes transformações da minha vida, ainda bem que foi um episódio curto, ondem nem ao certo foi diagnosticado depressão, Burnout, síndrome do pânico e etc, porém posso garantir ....foi o pior momento da minha vida! Sentia vazio em tudo! Nós meus valores, na minha vida, no meu potencial... Me faltavam forças, amigos, alma .. me faltava a energia para romper com tudo e essa falta de energia me deixava na cama, olhando para dentro de mim e não vendo nada lá dentro!

O passado e o que gerou esse vazio

Hoje, na distância do que aconteceu consigo tirar algumas conclusões do que desencadeou o tal episódio... Vinha num ritmo acelerado não só nas últimas semanas ou meses, até viajar e passear me gerava um estresse de não aproveitar os passeios para seguir com o planejamentos, era o super homem da família , todos podiam quebrar menos eu! No trabalho entrada todo o dia pelo escritório com postura de líder, sem tempo para respirar e resolvendo todos os problemas com um sorriso no rosto, era uma nova função de gerente e não poderia decepcionar o meu time formado por colegas que depositaram em mim suas carreiras, os rumos dos negócios, as expectativas dos clientes. A família estava crescendo, e um problema de saúde no meu filho que estava nascendo fez a família ficar apreensiva... Eu também fiquei, mas guardei comigo toda a ansiedade para fazer o que deveria ser feito enquanto a família estava partida ao meio. Eu mesmo fiquei doente sem uma razão qualquer e sem qualquer diagnóstico, melhorei e segurei todas as reações adversas que surgiam pela vida ..Segurei .... Segurei ... Mantive as aparências e num belo dia, quebrei ! 
Um olhar mais atento vai perceber o quão doente ou me adoentado eu estava ao longo dos anos, vivia uma fortaleza sem as estruturas fortes de base isso se constrói na infância, mas toda a vez que vamos reformar a tal fortaleza temos que reforçar as estruturas de base e , ao longo do tempo, eu não fiz isso na minha adolescência e no início da minha vida adulta!

Como resolvi a questão 

O primeiro passo para resolver qualquer problema e reconhecer que ele existe, e até entender o que estava acontecendo eu demorei um pouco... Pois não é igual aquela vontade de ficar na cama e não ir pro trabalho numa segunda feira de manhã, nesse caso é não saber que dia da semana estamos e não saber há quantos dias já não vamos ao trabalho! A depressão nos faz perder a noção do tempo, a noção da vida, perdemos referências e dentre essas perdas ganhamos algo.... Nós mesmos e o que realmente importa! Quando nos vemos sozinhos e isolados, lembramos que temos família e eles sempre estiveram ali do lado, temos amigos ... Poucos mas valiosos! Temos Deus, nem sempre  religiões! Foi me apoiando nessas coisas que voltei a tona. 
Desconectei de tudo ... Não podia ver um noticiário falando que queimaram uma árvore na Amazônia que desativa a chorar pela árvore, pela crueldade do mundo e pelo rumo que as coisas estavam tomando. Resolvi largar tudo de mão e me concentrar em mim e a minha família, isso era o básico para reconquistar minha auto confiança. Ligava a TV no máximo pra ver um jogo de futebol ou uma resenha esportiva, algo que distraí se ao invés de deprimir e a vida em geral nos deprime! Comecei a fazer escolhas do que assistir, consumir, comer, escutar , percebi que nem sempre as redes sociais terão algo que me alimente! Abandonei as ! 
Procurei ajuda, essa atitude de humildade me fez ter empatia com quem estava me ajudando a partir daí comecei a cultivar gratidão por elas e fui vendo um outro mundo que foge do corre corre da vida, passei a Observar o livre movimento da vida sob outras perspectivas, fiz acupuntura, massagem, terapia... Cuidei de mim, me coloquei em primeiro lugar, olhei minha saúde pois percebi que não poderia dar aos outros algo que eu não tinha, não poderia amar aos outros se não estava me amando primeiro.

E o futuro?

Os problemas psicológicos não parecem ter uma cura, vivemos de altos e baixos mentais e o que parece é que tentamos eternamente domar esse cão raivoso (ou um cão tristonho) que habita dentro da gente. Para sempre eu vou conviver com isso, e e por conta disso tenho que sempre ter atenção aos sinais que não percebi dessa primeira vez. Quando me vejo tristonho e sem energias de vez em quando, silenciosamente respiro, pego um fôlego, reflito sobre os problemas que consigo ou não resolver, percebi ao longo do tempo que não tenho a capacidade de resolver tudo, de ser perfeito em tudo, posso ser muito bom... Mas não perfeito! Posso dar o meu melhor e as vezes isso é insuficiente para resolver uma questão e se isso acontecer tudo bem. Passei a colocar os problemas dentro da vida e não a vida dentro dos problemas. Passei a conviver melhor com tudo que não era capaz de mudar, há tempos eu acharia isso um fracasso ... Hoje acho isso libertador !

segunda-feira, outubro 10, 2022

O amor começa num chute

  Não sou mãe ...pela ótica de pai não sei ao certo quando começa o amor pelos filhos, não sei se é no sonho de menino de um dia tê-los, não sei se é no momento em que o sonho se realiza em ouvir que o exame deu positivo, obviamente isso vai variar de pessoa para pessoa. Comigo o momento forte não foi quando eu sonhei, quando eu realizei .. mas foi quando eu concretizei! E não foi quando eu vi ali aquele meninão saindo da barriga da mãe. As preocupações foram tantas que, quando eu soube pelo telefone que o tal exame tinha dado positivo, tive um misto de alegria, amor mas o meu caráter planejador sabia que minha vida viraria de cabeça pra baixo e que a responsabilidade da vida tinha batido em minha porta. Aí vieram os nove meses de transformação, no corpo e na alma da mãe... e no meu espírito, sabia que o legado que eu estava preparando teria enfim um herdeiro a se inspirar nos meus passos. Acompanhar ressonâncias, sentir ele chutando a barriga da mãe (sim, esse é o chute que me referia no título), ou ver o parto não fizeram a minha ficha cair. Eu sempre precisei ficar sozinho para me encontrar em mim mesmo e digerir as emoções, os pensamentos e concretizar as minhas conquistas internamente. Lembro bem do dia ... 24 de abril de 2006, madrugada.. ele dormia calmamente num carrinho do berçario de número 007 eu olhava abobalhado aquela criancinha tão perfeitinha e tão frágil em seus primeiros momentos de vida (afinal quando a vida começa?!?!?), olhei o sol nascendo, sim ... como aquele menino o sol nascia como todos os dias, mas naquele dia nascia pela primeira vez pra ele, ia formando uma cor deslumbrante no céu, a mãe dormia cansada... e ali estava eu, sozinho... eu e ele! Quem fazia companhia para a minha solidão era o fruto de um momento de amor por outra pessoa. Peguei eles nos braços, uma lágrima escorreu dos meus olhos, em silencio, levei ele pela janela e o apresentei para a vida! Veja o seu mundo ! Sussurrei no seu ouvido .... estava começando ali um outro ato de amor.

O segundo filho veio em momento atribulado da minha vida, a ficha com ele deve ter demorado alguns meses mais a cair, quando eu percebi já estava amando aquela criancinha barulhenta de uma forma que transbordava a alma, não me recordava do exato momento em que esse amor veio e depois fui percebendo que era um amor bem mais suave e maduro, não brotou de uma vez só, era um amor que já existia mas que me fez acordar da letargia quando a mãe possivelmente fez brotar o amor dela por ele. Ali eu percebi que os homens só nascem de verdade para a vida quando tornam-se pais, e renascem quando vem os outros filhos. Sempre fui pai .. desde criança os filhos já estavam presentes na minha vida, nos meus sonhos, no meu destino, faltava concretizar. Se mães são como eu e precisam estar sozinhas e sentir a concretização daquilo que está acontecendo com a vida dela, essa concretização vem num chute que dão dentro da sua barriga  (e eu não faço ideia da sensação que pode ter isso !!) Ali pela primeira vez a mãe sente a força do que carrega dentro de seu ventre, ali deve brotar o amor que vai carregar até os últimos dias da sua vida. 

Eu posso estar sendo machista ou falando de um assunto que desconheço que  não me compete, porém é algo que sinto no peito que eu pude sentir sendo pai. Um sentimento que pode até ser imperfeito mas o que é uma imperfeição ... se a perfeição da vida está em entender as imperfeições dela ?

Humanidade encurralada nos sonhos dos mortos




 Vivemos num mundo vazio, tomado por informações irrelevantes, por formadores de opinião auto denominando-se influenciadores digitais que determinam o pensamento moderno, os costumes, as atitudes, o consumo. Vivemos numa humanidade à mercê do pouco uso que se faz com o que nos difere do resto das espécies, a inteligência. Mas mesmo assim ainda avançamos como civilização, tendo avanços nas ciências, medicina, criando novas formas de artes, novas formas de interação, de comunicação, indo além dos horizontes já conquistados !

E onde mais poderíamos avançar ? Que novos campos poderiam ser desenvolvidos como a tecnologia dos computadores e celulares? Se tecnicamente a humanidade avançou muito, ainda vemos a brutalidade nas relações humanas, não sabemos lidar com nossa psique, com nosso espírito, temos conceitos distorcidos de tempo, de criação, de existência. Vivemos o que aparentamos, olhamos assustados para o que somos por dentro, não cuidamos do nosso planeta, não protegemos outras espécies, não entendemos os relacionamentos  de leis universais e naturais que regem a vida. Não sabemos conviver civilizadamente... O conceito de civilização começou com uma perna quebrada, ali naquele primeiro momento onde os arqueólogos descobriram uma ossada com um osso de fêmur calcificado inicia-se o conceito de civilização e de vida em sociedade. É simples explicar, num período dos homens das cavernas sair para caçar era extremamente arriscado, conseguir uma caça por si só difícil e durante muito tempo os hominídeos viviam cada um por si, uma fratura de perna significaria a inoperância para caçar, o abandono à própria sorte e ... por fim, a morte ! Mas um indivíduo que chegou a vida adulta, com uma fratura calcificada significa que ficou curado e que coube a algum semelhante cuidar dele enquanto ficava curado, esse alguém que teve pela primeira vez a empatia com seu semelhante, reforçou os laços humanos e possivelmente ali naquele esqueleto calcificado brotou pela primeira vez a gratidão! Difícil saber se foram de fato os primeiros fenômenos mas  com certeza foram os primeiros que puderam ser registrados, num tempo onde a comunicação como a de hoje nos impedia de registrar a vida da civilização. Mesmo aquele esqueleto calcificando sendo tão igual a nós... nos parece tão distante, mas o DNA é fundamentalmente o mesmo, o que nos difere é o conhecimento!

O vazio é existencial, quando os valores humanos não preenchem nossa existência, a solidez da vida acaba ao menor ato de desespero onde busca-se acabar com ela. A devoção pelo que é belo deu lugar ao que vende e tem apelo comercial, não se busca mais fazer o melhor mas o que pode ser consumido rápido. Com isso não se produz arte, não come-se bem, não há conhecimento e sim informação em demasia, se mortos tem sonhos são almas penadas vagando no vazio mas o vazio é estreito porque nem ele prolifera num terreno tão infrutífero quanto o que vemos agora, gerações perdidas e sem certezas em relação ao futuro, sem construir um futuro, sem esperanças no presente, sem sonhos, sem planos e com muita religião ... muita crença e pouca fé!