quarta-feira, junho 21, 2017

Afogados, saturados, submersos


A nova era da informação nos levou a um ponto onde a produção de conteúdos extrapola nossa capacidade de absorver, centenas de canais de televisão, livros na prateleira da biblioteca concorrendo com revistas de uma banca de jornal. Este blog ou outro qualquer. Redes sociais, marketing de rede, debates estéreis do grupo de Whatsapp, emails de piadas mais sérias do que comporta um Tweet. Uma concorrência por atenção  que acaba por nos cansar ... nos saturar! Estamos repletos de estímulos, que por serem excessivos, já não nos dizem mais nada. Um bom exemplo são as fotos artísticas, ou de um precioso álbum de família que ficam esquecidas num celular qualquer.

Brigar por atenção é coisa feita pelos youtubers da vida, que disputam cliques como quem disputa uma curtida de um facebook que se retém pouco dentro da nossa vida volátil. Poucos nos levam à reflexão que é muito mais que alguns segundos de atenção. Diante disso existem os que preferem sair de um grau de saturação ofuscante se trancar no seu mundo preto e branco com o charme que esse mundo lhe traz.

Pensávamos que só estávamos afogados em emails não lidos, submersos numa agenda lotada de reuniões que não eram necessariamente importantes. Nosso grau de saturação tinha muito a ver com a poluição sonora num engarrafamento onde o ronco dos motores e as buzinas nos tiravam do sério. E aí vieram os assistentes virtuais informando sobre o engarrafamento num lugar para onde não vamos, a vendedora do telemarketing que nos quer vender o que não queremos, a música ruim nos shoppings e mercados, a pregação religiosa no ambiente de trabalho. Os vídeos que mal conseguimos ver e que "em apenas um minuto" vai mudar a sua vida. O curso de um assunto que se arrasta com tudo o que você precisa saber de algo que nunca pensava em conhecer antes da aparição desse curso.


A antiga passividade diante da TV deu lugar a um telejornal de bom dia com uma enxurrada de más notícias, não ficamos mais passivos, diante disso ficamos melancólicos, aversos a excessos, desmotivados para a vida. Diante da Era do Parecer ainda existem os cinismos, mentiras e manipulação midiática. Um período pós-verdade que nos contamina a alma e que não instiga a reflexão. 
Dessa forma ficamos mais informados, menos crédulos, menos vivos... menos humanos.


terça-feira, junho 20, 2017

Arde Portugal

Corpos reduzidos a fragmentos
Murmúrias de povoados
Resoando num lamento

Desorientados sobreviventes
De uma mesa posta para o jantar
Histórias queimadas
Na floresta ... a luz do luar

Terra carbonizada
E uma estrada da morte
Saídas fechadas
De um terror que arde

Está Mário a lamentar
Sozinho entre as oliveiras chamuscadas
Outros choram pelo mesmo
Enquanto a terra ainda queima no quintal

Está Maria a remoer seus mortos
Vinhedos sem vida
Familiares sem carne

Joaquim teve a sorte de seguir com o carro
Pela via que ardia... enfim..
A saída do destino é o recomeço só

Miguel tem o medo na face
Depois do fogo, as lágrimas é que ardem
Uma última flor é um esplendor da vida
Ao lado de uma sepultura
Um coração ... uma ferida

De tristes recomeços
Vive Portugal
Luz das chamas
Deus faz o seu farol




sexta-feira, junho 16, 2017

Resiliência a palavra da moda

Uma nova roupagem para uma palavra velha passou a ser muito usada nos últimos meses, juro que eu pouco havia ouvido alguém falar disso, mas atualmente a resiliência é uma palavra dita em 10 a cada 10 palestras motivacionais, livros de auto ajuda, conferências de vendas, feiras de empreendedorismo. Mas porque de uma hora pra outra ela ficou famosa? Porque tanta gente fala e tantas outras querem ouvir ? 

Para entender o fenômeno dessa moda gramatical é preciso entender o significado da palavra e de todo o ambiente que nos conduz a ela. O significado ... é a capacidade de se recuperar de situações de crise e aprender com ela. É ter a mente flexível e o pensamento otimista, com metas claras e a certeza de que tudo passa. O ambiente: Tempos de crise! Vamos falar o que para quem precisa produzir num ambiente tão hostil? Falar o que para aqueles que não conseguem vislumbrar esperança pela frente? Para os 14 milhões de desempregados desse Brasil, ou para os outros 9 milhões que trabalham na informalidade? Vamos dizer o que para os 144 milhões que não sabem votar (ou que não tem em quem votar)? Resiliência é uma moda necessária no contexto sócio-político-econômico do Brasil no início do século XXI.

Resiliência está muito mais para uma atitude e um estado de espírito do que para um sentimento. É algo muito mais complexo para se explicar do que a raiva por exemplo, a raiva nos toma ... é um sentimento e daí explodimos em uma reação natural ao ser humano, a resiliência não ... é algo que temos que conquistar e reforçar a cada minuto, deriva aí sim de sentimentos nobres e difíceis de conquistar como a humildade, o caráter e a fé. Para se ter resiliência é preciso uma enorme capacidade mental, tanto para se blindar das coisas ruins a nossa volta, quanto para nos motivar, e nos fazer ter foco nos nossos objetivos (que muitas vezes ficam pálidos e encobertos diante dos nossos próprios olhos).

Muitos comparam a resiliência com a capacidade de uma árvore se curvar diante da ventania, mas é preciso mais do que simplesmente resistir, é preciso fincar as raízes firmemente no solo, agir conforme o vento e depois voltar ao mesmo estado de plenitude de antes dessa luta contra o vento, mas que a faz ir a favor dele diante da sua força. Um ser humano normalmente sai com algumas cicatrizes diante de uma luta essas cicatrizes de alguma forma devem reforçar nossas convicções para permitir seguir sempre em frente mesmo diante das dificuldades... vamos a luta!!

sábado, junho 10, 2017

Nosso Supremo Tribunal !

Nunca concordei com os motivos do impeachment de Dilma e achei que foi golpe sim aquela história de pedalada fiscal. No entanto, sempre acreditei que o governo mascarou números, usou horário gratuito de televisão para ludibriar os brasileiros menos esclarecidos e usou dinheiro ilícito na campanha política (isso eu ainda suspeitava em tempo de campanha quando via uma empreiteira ou um banco doar milhões a todos os candidatos). Oficialmente foram gastos R$ 5,1 bilhões... é muito interesse pra pouco candidato e isso é um duro golpe à democracia.

A meu ver Dilma deveria ter saído pela porta dos fundos do palácio ontem (e nem vou comentar o fato da morosidade judiciária julgar um crime eleitoral depois de mais de 50% do mandato!). Rui Barbosa dizia uma frase muito pertinente nesse caso: "Justiça tardia é injustiça institucionalizada". O mundo deu voltas e quem entrou com a acusação, o PSDB derrotado nas eleições nem queria ganhar essa disputa enquanto o PMDB e o PT, réus, não queriam perder. Diante disso configurava-se uma imensa pizza em Brasília.

Nem precisávamos da delação premiada da Odebrecht e nem dos depoimentos dos marqueteiros João Santana e Monica Moura para constatar que houve abuso do poder econômico. Mas para a representação máxima do nosso judiciário pouco importa se houve uso de caixa dois, eles fecharam os olhos pra isso e só julgaram o que foi oficial, ou seja, fecharam os olhos para o que é crime!

Se o resultado do julgamento em si já deixa qualquer um indignado, ouvir as argumentações mais estapafúrdias era um constrangimento tão grande que nobres juízes gaguejavam diante do total constrangimento que passavam para justificar o injustificável. O placar de 4 X 3 hoje é mais doloroso que o 7 X 1 da Alemanha. Brincam com a nossa inteligência, desrespeitam instituições centenárias e fazem chacota com o povo.

Vamos entender um pouco das incoerências e dos motivos desse placar... em abril o plenário do TSE decidiu interromper o julgamento por considerar que era preciso os marqueteiros da campanha, e agora desconsiderou-os. Na época o planalto estava preocupado com o voto de dois ministros que estavam com o mandato por terminar, essa pausa no processo permitiu a substituição por dois novos ministros (Admar Gonzaga e Tarcísio Neto) escolhidos pelo réu-presidente Michel Temer. Admar inclusive foi o advogado da chapa no início do processo.

Outro ministro do TSE, Napoleão Maia, foi citado por um executivo da JBS por sua interferência a favor da empresa numa ação. Gilmar Mendes por sua vez, é aquele mesmo fica de conversinha com políticos que julga em seminários ao redor do mundo. E dessa forma coerente votaram nossos ministros juízes:

Absolvição:
Admar Gonzaga
Gilmar Mendes
Napoleão Maia
Tarcísio Neto

Condenação:
Luis Fux
Herman Benjamin
Rosa Weber

Historicamente essa corte suprema foi a mesma que pouco fez diante da impunidade nacional como os processos dos Anões do Orçamento, Castelo de Areia, Satiagarra, Mensalão, é a mesma que liberou Eike Batista. Então tolo é quem imaginava que seria diferente dessa vez. Tolo é quem pensa que no judiciário não existem canalhas como existem no legislativo e no executivo!

‘De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude. A rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto’.” 

― Rui Barbosa

E dessa forma fica difícil confiar nas nossas instituições!


quarta-feira, junho 07, 2017

Kombuchá


Dentre as milhares de coisas que eu fiz depois que fiquei desempregado, uma me trouxe mais consciência do que eu faço para a minha saúde, a prática do Kombuchá. Além de manter minha mente com um foco e manter uma certa rotina que fazia a minha cabeça trabalhando sem pensar em coisas derrotistas, o kombuchá me trouxe muito mais do que um simples alimento.

Afinal o que é kombuchá?  Evoluiu aparentemente de organismos do gênero das plantas a 2.5 bilhões de anos atrás. O primeiro relato de produção e consumo de kombucha vem da China, em 221 a.C., durante a Dinastia Tsing. O Kombucha vem sendo cultivado por milhares de anos por várias culturas, tendo menções na Bíblia, uma tradição bem popular entre povos Mesopotâmios e na Índia. A partir da década de 70 se popularizou nos Estados Unidos a partir de um ressurgimento da bebida  gerado pela cultura Hippie. Na década de 90 passou até a ser industrializado, porém o seu manejo artesanal ainda é majoritariamente praticado.

Kombucha é um alimento probiótico, microbiológico. Ajuda a regenerar a flora intestinal e é excelente para a saúde como um todo. Ele é feito a partir da fermentação do chá preto ou verde (na verdade pode ser qualquer infusão que não seja um antibiótico natural, senão os microrganismos morrem!). Kombucha é uma colônia ou uma levedura composta de microrganismos aglomerados em uma massa de celulose parecida com uma panqueca. Quando a “panqueca” (ou scooby) é colocada numa vasilha contendo uma mistura do chá e do açúcar, transforma o líquido em uma bebida refrescante levemente borbulhante, doce e azeda com uma fragrância frugal muito saborosa que fornece diversos ácidos e nutrientes, excelentes para a saúde. A cultura de Kombucha se alimenta do açúcar e, na troca, produz outras substâncias valiosas que se formam na bebida: o ácido glucurônico, ácido glucônico, ácido láctico, vitaminas, aminoácidos, substâncias antibióticas. Dentre outras substâncias, o álcool de 0.5% a 1% também é produzido, mas não caracteriza bebida alcoólica.

Mais que a bebida em si, a produção do Kombuchá nos remete a um pleno estado de paz, cuidar do seu scooby de celulose nos leva a um estado de atenção e carinho para com aqueles microrganismos que nos fazem tão bem. A partir desse afeto cultivamos também um pouco da gratidão aos nossos antepassados por manterem tão longeva cultura. Gratidão essa que se expande a natureza tão bela, complexa e harmoniosa. 

A partir do Kombuchá comecei a perceber quantos alimentos nos são ofertados a partir de processos bioquímicos tão interessantes, (e nem vou comentar sobre o crescimento das plantas, dos animais e da fotossíntese...) mas se pararmos para pensar da fermentação de alimentos pela ação de microrganismos surgem o vinho, o pão, o iogurte, o queijo e a cerveja. E pouco somos gratos a esses seres microscópicos que nos fazem tão bem ....




sexta-feira, junho 02, 2017

A mãe de todas as reformas - a política

Muitos podem pensar que considero essa uma reforma vital para o Brasil pelo simples fato de observar a qualidade dos nossos políticos, ledo engano, acredito que a qualidade dos políticos tem muito mais a ver com os valores que preconizamos em nossa sociedade e a necessidade de uma reforma política tem mais a ver com a incompetência das nossas instituições m lidar com com o jogo político de um país democrático e consequentemente com os momentos de crise institucional como vivemos nas instabilidades dos governos da moderna república brasileira (entenda-se moderna o período depois de 30).

Uma importante ressalva a ser feita é observar que o Brasil tem o mais longo período democrático de sua história, pífios 27 anos de uma recém democracia , onde instituições amadureceram, porém onde temos demonstrações de associações políticas pouco convencionais para gerar a estabilidade do poder central, muito pouco mudou nas divisões do congresso entre governistas, oposicionistas e o Centrão da época de Collor e FHC, ou o Baixo Clero da era Lula, essa terceira parcela do congresso literalmente vendia seu apoio em troca de benefícios que pouco tem a ver com a agenda política do país e que, muitas vezes tem interesses escusos. E é bom reparar a distinção dos governantes que tiveram o mesmo obstáculo: Collor que era um audaz líder que ganhou poderes ditatoriais pelo seu apoio popular no primeiro ano de governo, FHC era um político habilidoso, catedrático, um intelectual político respeitável e Lula, que era um líder popular poderoso. Todos nos últimos 30 anos ficaram reféns do PMDB e de um emaranhado de pequenos partidos sem expressão.

São pontos claros, você vai ver alguns detalhes aqui :


  1. Voto distrital.
  2. Definir e garantir bem os papéis e suas responsabilidades para os poderes e instituições.
  3. Sistema parlamentarista.
  4. Aumentar o mandato para 5 anos.
  5. Acabar com a reeleição e a eleição pós mandato.
  6. Acabar com o programa eleitoral gratuito.
  7. Redução drástica no financiamento político.
  8. Acabar com o suplente no senado, acabar com a presidência em exercício e com a figura dos vices.
  9. Limitação da criação de partidos político a partir da representação eleitoral deles

Discutir a reforma política agora é estratégico não por conta dos escândalos de corrupção que vitimizam o país mas é um momento propício porque não temos nenhum líder popular com discursos mais fortes entorpecendo a reflexão do povo. As instituições ficam, os políticos se vão ... (graças a Deus!).

quinta-feira, junho 01, 2017

Pontos sobre a reforma política


O Brasil vem de um sistema de governo copiado do americano, apesar deles derivarem de um sistema de confederações e nós de um império centralizador. O pacto federativo brasileiro não se entende nem numa reforma fiscal e dessa forma temos que romper com grandes obstáculos que não estamos acostumados a enfrentar. Há uma tendência mundial de dar mais poder as municipalidades e aos governos federados em detrimento aos governos centrais, afinal são nas cidades que as pessoas vivem, romper com essa ideia de centralismo do poder é reequilibrar as forças políticas de acordo e deve ser a base de um sistema representativo brasileiro feito via voto distrital.

É preciso definir e garantir bem os papéis e suas responsabilidades para os poderes e instituições ...  a distribuição harmônica dos poderes executivo, judiciário e legislativo como a procuradoria da república atuando como uma espécie de poder moderador, mas subordinada ao executivo, como a polícia federal no ministério da justiça e as forças armadas a parte mas também sob o manto do executivo. Porém o legislativo e o judiciário não podem estar em desacordo com as agendas de desenvolvimento propostas pelo poder executivo (nesse caso desacordo não é concordância mas alinhamento com as estratégias da nação). Mas esses papéis não se limitam aos poderes, por exemplo: mídia, políticos e funcionalismo público tem o dever de dar luz aos atos incompatíveis do governo, e com isso dar transparência ao trato público e romper com a espiral de silêncio que deixa um terreno fértil para a impunidade e a corrupção. Uma definição clara dos papeis de cada ente social (sindicatos, OAB, centros de pesquisas eleitorais e etc) visam minimizar o poder dos arranjos institucionais que de forma pouco responsável corroem o meio político.

Um sistema parlamentarista pode até ser repensado e rediscutido como opção ao falido presidencialismo de coalizão, porém o mais importante seria efetivar em eleição única o governo com seus legisladores e assim seria mais fácil embarcar num projeto político único, onde não se precisa barganhar apoio. Numa eleição junta para o legislativo e executivo seria possível votar num plano que seria renovado daqui a 5 anos (ah sim outra mudança ... quatro anos de governo é pouco se pensarmos no próximo ponto) seria mais justo aumentar o mandato para 5 anos (tanto no legislativo quanto no executivo. E dessa forma o que não poderia coincidir seria a eleição nos estados e municípios.... ou seja num ano tem eleição para presidentes, senadores e deputados federais, no outro governadores e deputados estaduais e no outro vereadores e prefeitos.

Acabar com a reeleição e a eleição pós mandato, isso tem um histórico de habilitar o segundo mandato para se perpetuar no poder roubando e inibe a chegada de novas idéias. Quando um político terminasse seu mandato obrigatoriamente teria que dar lugar a outras idéias, isso evitaria a campanha política durante os mandatos. 

Para acabar com o marketing político-eleitoral de televisão que consome rios de dinheiro ilícito, bastava acabar com o programa eleitoral gratuito. Essa medida junto com uma redução drástica no financiamento político, poderia ressuscitar o idealismo político que se perdeu frente ao marketing.




Acabar com o suplente no senado, acabar com a presidência em exercício e com a figura dos vices. Vivemos no século XXI onde é possível exercer o poder, por uso da tecnologia , a partir de qualquer lugar. Não é preciso que um vice assuma dentro de território nacional na ausência do ocupante do cargo, não é preciso , substituir senadores (aliás pra que o senado ???).

Limitação da criação de partidos político a partir da representação eleitoral deles. Isso acabaria com coligação proporcional e com as centenas de pequenos partidos pulverizados sem sustentação ideológica. Por consequência o comércio tempo de televisão.