domingo, março 17, 2013

O carnaval de Ali Babá

Tá bom todos sabem que o carnaval não é uma cultura tipicamente brasileira, que suas origens são as festas da carne romanas, que depois com o cristianismo eram as festas que se antecipavam à quaresma e bla bla bla. Na idade média existia o costume de ser uma festa popular com o povão invertendo o papel que tinha na sociedade, se fantasiando de elite (às vezes mascarados para não identificarem sua crítica em meio a galhofa que a festa pregava). Daí surgiu o Rei Momo e outros personagens, a própria burguesia também entrava na festa de forma surpreendentemente democrática, mas que variava de aldeia para aldeia, por conta do nível de liberalidade que se tinha.
Eis que o Brasil passou a ter seu  carnaval em forma de entrudo, guerras de água, confete e serpentinas, algazarra, balbúrdia, e nesse ponto de parada da vida cotidiana é possível dizer que era uma completa alienação sim. Curiosamente existia nessa época os limões de cheiro (bolas de cera com água perfumada que eram jogadas na festa), daí se originou o lança perfume e do cheirinho da loló que a playboyzada usa! De início, o entrudo de família que ocorria nos salões de alta sociedade eram bastante elitistas e o ritmo corria solto com polkas, mas tudo restrito aos salões. Do lado de fora era a festa do povo, os entrudos populares eram movidos ao ritmo dos Congos africanos e aí o teor de bagunça se avolumava, com guerras de pó, empurrões e um quase baile funk!  
O ponto de ruptura foi quando a elite saiu dos salões pra participar da festa dos pobres, como as patricinhas fazem hoje nos bailes funk. Aí a festa pobre ganhou estilo, organização visibilidade e contornos mais elitistas , mas nem por isso deixou de ser festa pobre (no funk viraram os bailes da Furacão 2000). Nos salões, os agora bailes de carnaval, continuavam rolando solto, bem ao estilo Ilha Porchat Club com desfile de fantasia e um mundo mágico e ilusório que se festejava ao som dos choros (já com clara influência de brasilidade). Nas ruas os ranchos tomaram lugar dos entrudos, sendo os primeiros inclusive reprimidos pelo império, ao som da marcha-rancho e chorões a festa era mais organizada, com fantasias de reis e rainhas, com estandarte (que poderia ser roubado por um rancho rival) com um mestre sala para proteger a porta bandeira desse roubo humilhante entre os grupos rivais. Existiam os clóvis para guerrear entre os ranchos e tudo isso já contava com a participação da burguesia que, escondida ou não, caia na folia junto com os populares.
Em vários lugares os rachos tiveram carater elitista, em outros manteve-se o aspecto de entrudo (que são bonecos grandes que desfilavam pelas ruas, como no carnaval de Recife até hoje!). Aos poucos o carnaval foi rompendo cada vez mais com as regras formando uma miscigenação cultural tipicamente brasileira. As nuances culturais ainda hoje mudam de lugar para lugar. Ostentação de reis feita por um bando de pobres ladrões, como num conto de fadas.

Continua amanhã .... 

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