quarta-feira, março 13, 2024

A morada do silêncio

O silêncio vive atrás dos muros, onde àqueles que querem falar vivem na angústia do calar eterno. 
É um silêncio pálido e profundo... Abafado pela escuridão, revolto por terra sagrada. Frio e sem vida.
Não há um último apelo, não há o último lamúrio
Somente silêncio repentino e eterno, não houve mensagem de despedida nem pedido de socorro nada pode impedir aquele silencio.
Que ao mesmo tempo que nós é imposto por força maior, é democrático... Igual para todos.
Do louco moribundo, ao gênio... Do miserável assassino, ao artista de tv
O silêncio atrai comentários sobre o que foi dito e que não vale mais...
Com silêncio maior que o tempo na beira da rua da saudade, o silêncio tem endereço apesar de não andar mais.
É um silêncio largado na sarjeta imune a tudo que venha depois....  Imutável estado que não muda mais. 

quinta-feira, maio 25, 2023

As ruas da cidade

Houve um tempo em que as ruas da cidade testemunharam nossas vidas e, que se soubéssemos teríamos aproveitado muito mais. Tento lembrar das dificuldades do dia a dia, do engarrafamento que me chateou, mas só lembro dos sorrisos.... Das conversas que rolavam enquanto íamos em direção a qualquer bar pra um almoço... E não importava a comida, mas o garçom amigo que nós atendia. O que fica do tempo que não para os momentos bons ou ruins são nossas ,emorias e o que fizemos dele, o soberano tempo... Ah e se pudessemos voltar no tempo, provavelmente não teria saído mais cedo de casa para não ficar no engarrafamento mas sim teria dado mais um abraço e se ele fizesse eu me atrasar mais ... Dane se o engarrafamento!

Pessoas apoiando outras , vida fluindo ... nossa história sendo criada dentro do nosso tempo. Tudo isso para que, num dia como hoje, pudéssemos olhar para trás respirar com mais candura as coisas que vivemos da vida, todo amor que deixamos pelo caminho.
Época em que problemas afloravam, angústias apareciam, mas o trabalho era o local de lazer ... De espairecer e de viver tudo aquilo que queríamos construir. Tudo passou e nossas vidas se transformaram no que pudemos fazer, muitos dos nossos sonhos tiveram que ser enlatados, e não há problema algum nisso... Porque a vida é leve e temos que saber viver o que ela nos propõe, tirar o que melhor pudermos dela. Para viver a vida, é preciso ter coragem de seguir em frente mesmo olhando pra trás ... Temos que tomar decisões, virar páginas esquecer mágoas , secar lágrimas e seguir por caminhos que desviam do coração, sempre haverão momentos de reencontros e um tempo para olhar com orgulho tudo o que ficou para trás. Isso nos dá mais força para seguirmos outros caminhos fazendo fazer valer a pena as escolhas que fizemos. E no fim tudo se ajeita ! 
Que a brevidade das coisas perdure em nossa memória com o senso de gratidão que as coisas que moram no coração merecem ter. Que a vida seja longa, leve e cheia de candura para realizarmos nosso planos e vencermos nosso desafios. As ruas do centro da cidade continuarão como sempre estiveram, testemunhando vidas, lágrimas, sorrisos e a fluidez da vida que deixa rastros mas não os que se espalham pelo chão ... Hasta siempre!

terça-feira, abril 04, 2023

O muito que eu vi da vida

Acho que vi muito, em tempos tão conturbados, onde o muito, nesse caso tem significado mais relacionado com  intensidade do que longevidade.

Eu vi os anos 70... também vi os anos 80, a virada de um milênio... sem esquecer da década perdida dos anos 90! Vi os anos 2000 e a apática década de 2010, mas nesse período assisti da janela de casa uma Copa do mundo, uma olimpíada, encontros pra celebrar o mundo , pensar na natureza e não trazer nenhum resultado concreto para o mundo.

Eu vi o final de uma ditadura, a redemocratização do país ... minha primeira lembrança de um feito televisivo foi o golpe dos aiatolas no Irã! Eu vi a guerra das Malvinas, eu vi o bombardeio americano na Líbia Vivi no mesmo tempo que Pelé, Zico, Platini,Zidane, Sócrates, Júnior, Éder, Maradona, Messi, Cristiano Ronaldo, Romário, Ronaldinho, Ronaldinho Gaúcho, comemorei títulos, vi o samba se transformar em maior espetáculo da terra, vivi no mesmo tempo de Darcy Ribeiro, Humberto Eco, Domenico do Mazi, de Fidel Castro, de Brizola,  de Margaret Teacher, de Mitterand, de Tancredo, Covas, Obama, Reagan, de Mikhail Gorbachev pontuando seu conceito de Perestroika. Vivi um tempo e que não haviam mais Beatles como banda mas como músicos independentes , vi Tom Jobim tocar, Elis cantar, vi o Rock in Rio 1, ídolos morreram... Ayrton Sena, Michael Jackson, Paulo Gustavo, Lennon, Vangelis...

Eu vi a guerra do Irã contra o Iraque, e as duas guerras do Iraque, eu vi o vulcão krakatoa explodir, o cometa Harley passar, o novo século com novas esperanças, o impeachment de presidentes, um casamento de uma princesa inglesa e depois o divórcio da mesma, mais tarde ainda vi essa mesma princesa morrer e vi uma rainha longeva morrer. Não é comum em séculos ver um papa sofrer um atentado, um outro abdicar. 

Vi o 11 de setembro, uma guerra insana contra o terror, mais atos e atos terroristas.... Vi a espoliação do povo, o massacre contra culturas , o avanço tecnológico diante da pobreza de espírito do mundo vigente. Convivi com a falta de liberdade e com o grito sufocado dessa mesma liberdade que corria pelos cantos da China, numa primavera árabe , num cybercafe no Líbano ou em Israel. Mas ao mesmo tempo era um período onde muito pouco se usou a palavra perdão !

Eu vivi uma época de prosperidade com boa parte do mundo ainda passando fome. Eu vivi a revolução da tecnologia e da informação, convivendo ainda com taxas de analfabetismo. Vivi o ápice da longevidade humana Graças aos avanços da pesquisa na área de saúde numa mesma época em que uma pandemia assolou o mundo. Além dos tempos da aids, do ebola da dengue e da febre amarela. Acompanhei de perto uma crise do petróleo, crises da bolsa, epopeia da China que saiu da idade média para ser a maior potência mundial, acompanhei os tigres asiáticos, a derrocada do socialismo com a queda do muro de Berlim, vivi tempos de guerra fria, o final de países e a criação de outros, uma completa mudança no cenário geopolítico mundial.  O final da cortina de ferro o desmembramento de países com o final da União soviética. 

 Vi o futuro ser construído, o passado ser resgatado mas muito do nosso presente ser apagado com as atitudes rasas das pessoas que vêem tudo passar pela sua frente de forma passiva e sem se dar conta que isso é a história que vai ficar do nosso tempo. Me dá até um certo cansaço lembrar disso tudo, me sinto velho mas um típico espectador ativo dos novos tempos pois não paro de refletir sobre os efeitos causais das coisas que ainda estão por vir, porque o tempo não é só um trem que passa diante dos nossos olhos na estação , muitas vezes podemos adentrar nesse trem e viver a experiência dessa viagem.

terça-feira, março 14, 2023

Cidadãos sem cidadania

Cidadãos sem cidade 

Não tem transporte 

Lhe falta asfalto... 

Não tem bit, não tem byte

As calorias? São vazias! 

A fome ... lhe dá um vazio por dentro 

A cultura é rasa!

No frio ... mal se aquece

No calor ... padece!

Não tem documento

Não tem identidade

Tem um voto 

Mas lhe faltam com a verdade

Sua vida é um tormento

Não tem saúde 

Não tem educação 

Vive sem alento

De escassos planos

É só um sofrimento 

De viver sem sonhos 

Sobrevive

Sub-vive

Desejo se vão

Esperanças afogam em lágrimas

Sem lenço pra secar

A margem de tudo

Dos registros do governo

Da lista de endereços

Nas sombras do sistema

Irreconhecíveis 

Até entre os pagadores de impostos

Transparentes aos bancos

Despreparados aos empregos 

Nem os gatonets lhes querem 

Porque não tem como pagar.

Não tem morada

Não tem CEP e nem CIEP

Não tem Vida 

Não tem nada



segunda-feira, março 13, 2023

O que falta numa favela?

 O Brasil é tão imenso e tão diverso que não consegue se conhecer e as realidades, dos brasileiros que convivem nas praias, ruas, meios de transporte, casas são completamente ignoradas, dentro de um contexto um pouco diferente, mas abrangendo esse ponto também em 1978, os geniais Aldir Blanc e Maurício Tapajós criaram Querellas do Brasil, ou seria Quer Ellas?? Ficou famosa na voz da também genial Elis Regina.

O Brazil não conhece o Brasil 

O Brasil nunca foi ao Brazil

Óbvio que verso traça um paralelo entre classes, dentro de um contexto cultural social mas a verdade é que para muitos, não existe fome, preconceito racial é algo que acabou em 1888, que favelado mora ali porque quere para muitos outros, o povo que vive no asfalto não trabalha, não produz e não estão preocupados com o sofrimento alheio, ganham tudo porque tem dinheiro e não passam dificuldades na vida. Os abismos vão se abrindo e fica mais difícil as realidades se descobrirem. Para uns, o transporte coletivo é no máximo um avião ou um trem na Europa e nem se dão conta das mazelas e benefícios dos nosso próprio transporte porque aqui ... eles não se misturam! Se para muitos, e eu me incluo nessa... pensar nas disparidades e dar uma cesta básica, ou uma roupa velha aqui e ali é a forma de ser solidário, outros ignoram completamente realidades alheias. Quando as pessoas passam a operar por si mesmas, não tendo uma noção de pertencimento a um grupo fica cada vez mais difícil reaproximar diferentes lados ... mesmo que não sejam completamente opostos.

Então para você que nunca pisou numa favela, e não tem noção do que se encontra por lá pode se pensar que falta tudo, dinheiro, água, saneamento, escola, atendimento de saúde, segurança, ordem e organização ... opa! peraí. Em muitos lugares até que se organizam muito bem para vencer as mazelas do dia a dia, nem sempre tem força para ir além das periferias e favelas, mas fazem um bom trabalho. Se você pensa que existe miséria completa, sim existe mas ... pobreza e vida simples não se torna uma miséria quando se tem dignidade e mas se pudéssemos resumir em uma palavra tudo o que falta numa favela, essa palavra seria ... DIGNIDADE. Dignidade para poder exigir, para poder lutar por seus direitos básicos, dignidade para coexistir em igualdade de condições com pessoas menos capazes, dignidade para ser um cidadão de fato, dignidade para comer, estudar, sonhar... morar!

Ter uma casa própria deveria ser uma meta atingível para todo cidadão, muitos nunca vão conseguir isso, outros tantos não vão conseguir nem tentar e outros nunca nem sonharão com isso! Porém toda pessoa tem que morar em algum lugar, para ... viver, chegar do trabalho. Enquanto muitos ainda moram nas ruas, outros até tem uma casinha, nem sempre essa moradia tem condições aceitáveis face a sua precariedade, em outros casos melhores é uma casa para se viver com certa dignidade, mas ... a pessoa não tem, endereço! Pessoas sem CEP são 36,2 milhões no Brasil e isso também é uma forma de não dar a devida dignidade a uma parcela bastante relevante da população.

Uma pessoa sem CEP, não tem acesso a sistemas regulares da saúde, se passar mal não tem acesso a bombeiro, ou ambulância... e o detalhe, muitas vezes essa pessoa paga por isso com os seus impostos incorridos em todo o tipo de serviço e produto, muitas vezes não mora num endereço reconhecido e as empresas de entregas não chegam lá onde ele mora, outras vezes tem que dar endereço de parentes ou amigos ou mesmo pagar taxas extras em associações de moradores para receber entregas de compras de internet, mas não tem provedor forma de internet, ou de luz e esse tipo de situação abre um mercado para milicias que controlam áreas inteiras de uma cidade. 

Uma pessoa sem CEP perde em situações tão corriqueiras onde é preciso dar um comprovante de endereço e isso vai desde conseguir um emprego formal até arrumar um provedor de internet ou ter um plano de celular pós-pago! Nesse último caso um plano pré pago com preços caríssimos é a saída para se conectar ao mundo e hoje em dia quando falamos de alguém prejudicado pela falta de internet, podemos interpretar como exclusão social!

Novas soluções estão sendo criadas para o endereçamento virtual em áreas de risco e excluídas do mapa das cidades, as associações de moradores tem ajudado muito nisso, tecnologias novas de criação de CEP por geolocalização também, criação de um ecossistema logístico operado pelas grandes empresas de comércio virtual, poder público, empresas de tecnologia e com os próprios moradores para fazer entregas nessas áreas, mas tudo isso incorre em custos mais altos para quem muitas vezes não tem condições. No vácuo desse transtorno o crime organizado também começa a operar, ou atrapalhar quem queira atuar de forma honesta nesse mercado crescente, e mais uma vez a dignidades das pessoas cai na lama de um país que não olha pra si mesmo e que não se reconhece quando se vê rico e próspero ou quando se vê miserável com records de lucro e arrecadação do poder público, de bancos e grandes empresas.


domingo, março 12, 2023

O Globo não mostra

 Um amigo acredita que toda pessoa pobre esteja influenciada pelo jornal O Globo do Rio de Janeiro, um jornal classes A e B que ele acha que custa pouco para uma realidade brasileira, pois bem além do custo de um jornal de papel ser completamente impensável numa realidade econômica, uma leitura virtual poderia estar acessível para qualquer um, pois todo mundo tem celular hoje em dia, mesmo não concordando muito com essa realidade de que todos tem um celular, para ler um artigo é preciso geralmente uma assinatura virtual, um valor tão irrisório pra ele, que possivelmente esqueceu que existe, mas aí tem o pacote de dados... algo que para ele também é irrisório, mesmo o Brasil sendo o país com o custo de internet mais caro do mundo (considerando-se equipamentos de acesso, sem considerar isso somos o 71º em 114 países pesquisados). Se um morador pobre de periferia no Brasil, conseguisse romper essa barreira econômica, ainda vem um outro ponto mais básico... ele precisa saber ler! Temos 16 milhões de brasileiros completamente iletrados, e 33 milhões que não conseguiriam compreender mais que 3 ou 4 palavras de um artigo do Globo.

Se a influência fosse em relação a televisão que é um veículo passivo de informação que não preconiza a reflexão imediata, aí eu poderia concordar, se a discussão fosse em relação aos mandos e desmandos das organizações Globo que busca os interesses próprios manipulando e distorcendo fatos há décadas ... tudo bem! Mas seu poder de influência só de um dos jornais da organização sobre só uma parcela da sociedade aí é muito pouco e demonstra um total desconhecimento de uma fração ínfima da nossa sociedade perante a imensa maioria desse país. É o Brazil que não conhece o Brasil!

sábado, março 11, 2023

País partido

Que vivemos num país partido todos já sabem, que nossas divisões socioeconômicas
 são imensas, chegamos a estudar nas escolas sem nunca conseguir ao menos reduzir nossos abismos, também sabemos. Mas atualmente existe uma nuance desse abismo social que tem crescido, a falta de empatia e intolerância de parte a parte tem trazido para a política um vies de pais. 

Campanhas publicitárias, políticas públicas, oportunismos de mercado até tentam aproximar minorias da maioria, como nos casos de negros, mulheres, homossexuais, trans, e toda uma sopa de letrinhas que nos fazem nos perder nas palavras e ações conjuntas para criar um país de todos, isso já virou slogan de governo! Mas algo que ainda não consegue ser rompido é o Gap social entre ricos e pobres. As disparidades são grandes e animosidades crescem a ponto de uns não conhecerem a realidade dos outros. O Brasil não conhece nem o seu padrão de consumo, e se aquela persona que você criou para impulsionar o seu negócio é um branco 35 anos, bem-sucedido, com formação acadêmica, carro na garagem e se matando pra pagar a prestação do apartamento e manter as dívidas controlas esqueça ... Nossa realidade é muito pior! 

Somos cerca de 210 milhões desses, 118 milhões são negros, 108 milhões são mulheres e 165 milhões moram na periferia, então se você ainda não entendeu por que as propagandas estão mudando o seu foco e porque nas novelas existe sempre o núcleo da periferia ... não é lacração, é o Brasil tentando se encontrar depois de um período longo de embriaguez. Se você ainda se assusta com uma passeata gay com 2 milhões de pessoas batendo qualquer comício eleitoral e com ampla divulgação da TV, entenda, são 15 milhões de homossexuais no Brasil e continuamos matando-os por preconceito. Obrigatoriedade de PCDs nas empresas? Imagine deixar 12 milhões de brasileiros a margem do mercado de trabalho, porém a meritocracia impõe que eles atuem melhor que outras pessoas sem problema algum, dentro do padrão não igualitário do Brasil isso é impossível e acaba que o paternalismo artificial acaba por incentivar as empresas a financiar a formação de jovens PCDs. 

Dois terços dos trabalhadores brasileiros conhecem alguém que já sofreu algum tipo de preconceito, discriminação ou humilhação no seu ambiente de trabalho, dentre as maiores causas estão discriminações de raça e orientação sexual, e parte significativa da população ainda acredita que existe muito mimimi por aí, são completamente contrárias às políticas de incentivo e reparação, sejam elas a partir de cotas ou espaços que passaram a ser abertos na mídia. 79% dos brasileiros acham que muitas marcas se aproveitam do combate ao preconceito apesar para fazer propaganda, mas que não tem ações concretas de mudança de realidade. E quando uma população se revolta contra a instituição policial numa favela o termo pejorativo de cambada de favelados bomba nas redes sociais, mas a instituição com maior percepção de discriminação racial no Brasil é a polícia, há de se defender policiais corretos e separar o joio do trigo, porém existe a contrapartida de ver que numa favela não existem só bandidos e que excessos são cometidos de parte a parte, mas a polícia como sendo parte do estado de direito não pode cometer tais excessos, ela deve reprimi-los. 

Se você tiver que repensar sua estratégia de atingir os consumidores no Brasil, entenda que mulheres, negros das classes CDE concentram 80% da intenção de compra do país, se você não atinge essa parte da população você vive para um nicho de mercado e a minoria é você! E preste bem atenção que a concentração não é puramente de consumo, mas de INTENÇÃO de consumo porque nessas classes o dinheiro é contado e é quase impossível consumir de uma forma que não seja por impulso, traçar planejamento financeiro para uma compra mais vultuosa é um esforço em vão pois ao primeiro aperto as economias se vão e essa forma de se consumir também difere o país entre as classes sociais. Classes AB planejam o consumo, praticam consulta de preços, tem acesso a preços e condições melhores de crédito, acessam produtos diferenciados e conseguem de alguma forma praticar um planejamento financeiro, classes CDE não tem acesso a crédito, não sabem o dia de amanhã e consomem o necessário hoje, pagam preços maiores por isso ...e mais abismos se abrem! A verdade é que só 33% da população brasileira tem um "padrão internacional de consumo aceitável" esse índice ainda é baixo e faz com que investimentos no Brasil não sejam viáveis para empresas internacionais e que não consiga alavancar crescimento de empresas nacionais. Daí o esforço para manter uma parcela da população pelo menos perto da margem de consumo optando por políticas públicas de remessa de dinheiro, não é só um assistencialismo barato, é uma forma de impulsionar a economia.
O consumo no Brasil em 2020 foi da ordem de R$4.9 trilhões, nossas disparidades nos levam para R$2 trilhões serem feitos por mulheres, só R$ 1.6 trilhões pela classe CDE, R$2 Trilhões por negros. Podemos dizer que somos um retrato do mundo onde dos US$ 42 trilhões gerados de riqueza entre dezembro de 2019 e dezembro de 2021, US$26 trilhões (63%) ficou na mão de .... 1% da população! Os US$16 trilhões restantes (37%) ficou para todo o resto do mundo junto. Significa dizer que para cada dólar ganha por uma pessoa dentre as mais pobres do mundo, um bilionário ganhou US$1,7 milhão, as disparidades globais não param por aí ... Elon Musk ... o bambambam do dinheiro, pagou uma taxa de imposto real de 3,27% entre 2014 e 2018, uma vendedora de farinha em Uganda, ganha US$80 por mês mas paga uma taxa de imposto de 40%. Se o imposto taxado para bilionários como o Elon Musk fosse de 5% a economia seria impulsionada em US$ 1,7 trilhão por ano e tiraria da miséria 2 bilhões de pessoas. 

Pesquisa e números : Oxfam, Locomotiva, CUFA, PNAD e IBGE.
 


quinta-feira, fevereiro 23, 2023

A Inteligencia Artificial e o ChatGPT

 Serão cada vez mais comuns sistemas de inteligência artificial, na verdade já são muito mais comuns do que a grande maioria da população pensa. Por questões profissionais eu tive que estudar o tema desde muito novo, acabei não me interessando muito por sentir que o mundo não estava preparado para isso há 3 décadas atrás, hoje com o volume de dados disponível e com a capacidade de processamento maior posso dizer que tecnicamente o mundo está mais preparado. Porém sob o ponto de vista de aplicabilidade e pensando sob a ótica social será que estamos preparados para esse salto de evolução ?  Mesmo que não estejamos, é um fato irreversível e vamos ter que nos adaptar. 

Sou da época em que vi centenas de digitadores serem demitidos porque eu criei um sistema que eliminava a interface humana, digitando textos que já estavam em outro sistema, criei o que chamamos de interface entre sistemas e no exato dia em que meu sistema foi pro ar, vi as pessoas serem demitidas, de início fiquei triste, aos poucos fui percebendo que era inevitável isso, alguns tiveram um acompanhamento da empresa para mudar de rumos e por anos eles já tinham sido avisados que deveriam mudar de profissão que eram os novos datilógrafos, ou como os acendedores de lampião das ruas, em pouco tempo ficariam obsoletos. Para todas essas profissões o impacto da tecnologia foi setorial, para a IA não ... o efeito seria irreversível mudando o rumo de várias profissões ao mesmo tempo e extinguindo várias. Imagine de uma vez só juízes advogados, desembargadores e etc sem trabalho a fazer porque um sistema de IA seria capaz de rever e tratar de todos os processos jurídicos parados há décadas? Imagine diagnósticos médicos feitos por um computador... ou previsão do tempo sem meteorologistas, programadores de computadores em sistemas no-code etc etc ... porém existe o outro lado da moeda que é bem menos cruel. O uso da tecnologia só como ferramenta para aumentar nossa eficiência, jornalistas escrevendo mais rápido, do email do trabalho ou daquela mensagem de aniversário num dia sem inspiração, muita coisa pode ser facilitada com o uso da IA. Estão disponíveis para as funções desde um estudante até a alta gerência, para uma grande empresa ou um freelancer, porém o protagonismo sempre é o do ser humano! Existem nuances do nosso humor, complexidades sutis da criatividade humana, culturas regionais, identidade e outras coisas que nunca serão respondidas por respostas genéricas. A inteligência artificial nunca substituirá profissionais, mas profissionais que usam IA, com certeza vão substituir os que não a usam. 

Se pensarmos no ser humano com um ser meramente intelectual podemos estar chegando num limite importante, porém se formos pensar que um ser humano tem todo um lado sensível e psico-espiritual aí o caminho é mais longo e tortuoso para a tecnologia. Acontece que muitos seres humanos são meramente isso ... um ser intelectual!  Não se trata da tecnologia alcançando o homem mas o homem se rebaixando ao lugar de uma máquina. Cada vez mais se faz necessário desenvolver habilidades como a de se fazer perguntas, ter uma habilidade de comunicar com empatia, ter criatividade, conhecimento amplo de várias matérias, comunicação assertiva, pensamento crítico e analítico e  um tanto de indignação que nos faz mover pra ser mais que uma mera máquina. Enquanto não houver essa clareza, a IA vai seguir aumentando as desigualdades entre as pessoas.

quarta-feira, fevereiro 08, 2023

A vida fala

Na natureza tudo tem uma linguagem, tudo fala. Até uma criança muda consegue se expressar nem que seja pelo simples olhar, ali ela está falando se comunicando. Às vezes o pleno silêncio também nos diz muita coisa, a silenciosa brisa que refresca nossa face e nos traz paz. É a grandiosidade da natureza falando conosco, o silenciosos apreciar de uma paisagem, as flores que crescem avisando que estão abertas para reprodução e chamando os insetos pra se aproximar.
Tudo fala conosco, as vezes aos berros mesmo numa forma silenciosa de se expressar, porém a ideia do silêncio pode estar muito mais na nossa capacidade de ouvir esses clamores do que da natureza silenciar-se. O que é fruto divino não se silencia nunca enquanto vivo !

quarta-feira, outubro 12, 2022

Depressão

A maior dor é a reconhecida falta de forças onde elas seriam necessárias.
Arthur Schopenhauer

Meu objetivo aqui não é discutir os números crescente, as políticas públicas... Analisar o problema social e expor as soluções! Os números estão aí... Ao nosso redor, mas velados. As políticas públicas inexistentes criam no máximo campanhas coloridas para uma realidade em cor. A depressão e suas doenças correlatas chegam sem avisar criando ao Ser Humano um excesso de vazio sem precedentes na nossa vida. É como perder o paladar e não saber mais o gosto que tem a comida porque descobrimos que no passado também não estávamos sentindo o gosto correto das coisas... E pior, sem perspectivas se vamos conseguir comer novamente com algum paladar.

Tive um evento de depressão num momento de grandes transformações da minha vida, ainda bem que foi um episódio curto, ondem nem ao certo foi diagnosticado depressão, Burnout, síndrome do pânico e etc, porém posso garantir ....foi o pior momento da minha vida! Sentia vazio em tudo! Nós meus valores, na minha vida, no meu potencial... Me faltavam forças, amigos, alma .. me faltava a energia para romper com tudo e essa falta de energia me deixava na cama, olhando para dentro de mim e não vendo nada lá dentro!

O passado e o que gerou esse vazio

Hoje, na distância do que aconteceu consigo tirar algumas conclusões do que desencadeou o tal episódio... Vinha num ritmo acelerado não só nas últimas semanas ou meses, até viajar e passear me gerava um estresse de não aproveitar os passeios para seguir com o planejamentos, era o super homem da família , todos podiam quebrar menos eu! No trabalho entrada todo o dia pelo escritório com postura de líder, sem tempo para respirar e resolvendo todos os problemas com um sorriso no rosto, era uma nova função de gerente e não poderia decepcionar o meu time formado por colegas que depositaram em mim suas carreiras, os rumos dos negócios, as expectativas dos clientes. A família estava crescendo, e um problema de saúde no meu filho que estava nascendo fez a família ficar apreensiva... Eu também fiquei, mas guardei comigo toda a ansiedade para fazer o que deveria ser feito enquanto a família estava partida ao meio. Eu mesmo fiquei doente sem uma razão qualquer e sem qualquer diagnóstico, melhorei e segurei todas as reações adversas que surgiam pela vida ..Segurei .... Segurei ... Mantive as aparências e num belo dia, quebrei ! 
Um olhar mais atento vai perceber o quão doente ou me adoentado eu estava ao longo dos anos, vivia uma fortaleza sem as estruturas fortes de base isso se constrói na infância, mas toda a vez que vamos reformar a tal fortaleza temos que reforçar as estruturas de base e , ao longo do tempo, eu não fiz isso na minha adolescência e no início da minha vida adulta!

Como resolvi a questão 

O primeiro passo para resolver qualquer problema e reconhecer que ele existe, e até entender o que estava acontecendo eu demorei um pouco... Pois não é igual aquela vontade de ficar na cama e não ir pro trabalho numa segunda feira de manhã, nesse caso é não saber que dia da semana estamos e não saber há quantos dias já não vamos ao trabalho! A depressão nos faz perder a noção do tempo, a noção da vida, perdemos referências e dentre essas perdas ganhamos algo.... Nós mesmos e o que realmente importa! Quando nos vemos sozinhos e isolados, lembramos que temos família e eles sempre estiveram ali do lado, temos amigos ... Poucos mas valiosos! Temos Deus, nem sempre  religiões! Foi me apoiando nessas coisas que voltei a tona. 
Desconectei de tudo ... Não podia ver um noticiário falando que queimaram uma árvore na Amazônia que desativa a chorar pela árvore, pela crueldade do mundo e pelo rumo que as coisas estavam tomando. Resolvi largar tudo de mão e me concentrar em mim e a minha família, isso era o básico para reconquistar minha auto confiança. Ligava a TV no máximo pra ver um jogo de futebol ou uma resenha esportiva, algo que distraí se ao invés de deprimir e a vida em geral nos deprime! Comecei a fazer escolhas do que assistir, consumir, comer, escutar , percebi que nem sempre as redes sociais terão algo que me alimente! Abandonei as ! 
Procurei ajuda, essa atitude de humildade me fez ter empatia com quem estava me ajudando a partir daí comecei a cultivar gratidão por elas e fui vendo um outro mundo que foge do corre corre da vida, passei a Observar o livre movimento da vida sob outras perspectivas, fiz acupuntura, massagem, terapia... Cuidei de mim, me coloquei em primeiro lugar, olhei minha saúde pois percebi que não poderia dar aos outros algo que eu não tinha, não poderia amar aos outros se não estava me amando primeiro.

E o futuro?

Os problemas psicológicos não parecem ter uma cura, vivemos de altos e baixos mentais e o que parece é que tentamos eternamente domar esse cão raivoso (ou um cão tristonho) que habita dentro da gente. Para sempre eu vou conviver com isso, e e por conta disso tenho que sempre ter atenção aos sinais que não percebi dessa primeira vez. Quando me vejo tristonho e sem energias de vez em quando, silenciosamente respiro, pego um fôlego, reflito sobre os problemas que consigo ou não resolver, percebi ao longo do tempo que não tenho a capacidade de resolver tudo, de ser perfeito em tudo, posso ser muito bom... Mas não perfeito! Posso dar o meu melhor e as vezes isso é insuficiente para resolver uma questão e se isso acontecer tudo bem. Passei a colocar os problemas dentro da vida e não a vida dentro dos problemas. Passei a conviver melhor com tudo que não era capaz de mudar, há tempos eu acharia isso um fracasso ... Hoje acho isso libertador !

segunda-feira, outubro 10, 2022

O amor começa num chute

  Não sou mãe ...pela ótica de pai não sei ao certo quando começa o amor pelos filhos, não sei se é no sonho de menino de um dia tê-los, não sei se é no momento em que o sonho se realiza em ouvir que o exame deu positivo, obviamente isso vai variar de pessoa para pessoa. Comigo o momento forte não foi quando eu sonhei, quando eu realizei .. mas foi quando eu concretizei! E não foi quando eu vi ali aquele meninão saindo da barriga da mãe. As preocupações foram tantas que, quando eu soube pelo telefone que o tal exame tinha dado positivo, tive um misto de alegria, amor mas o meu caráter planejador sabia que minha vida viraria de cabeça pra baixo e que a responsabilidade da vida tinha batido em minha porta. Aí vieram os nove meses de transformação, no corpo e na alma da mãe... e no meu espírito, sabia que o legado que eu estava preparando teria enfim um herdeiro a se inspirar nos meus passos. Acompanhar ressonâncias, sentir ele chutando a barriga da mãe (sim, esse é o chute que me referia no título), ou ver o parto não fizeram a minha ficha cair. Eu sempre precisei ficar sozinho para me encontrar em mim mesmo e digerir as emoções, os pensamentos e concretizar as minhas conquistas internamente. Lembro bem do dia ... 24 de abril de 2006, madrugada.. ele dormia calmamente num carrinho do berçario de número 007 eu olhava abobalhado aquela criancinha tão perfeitinha e tão frágil em seus primeiros momentos de vida (afinal quando a vida começa?!?!?), olhei o sol nascendo, sim ... como aquele menino o sol nascia como todos os dias, mas naquele dia nascia pela primeira vez pra ele, ia formando uma cor deslumbrante no céu, a mãe dormia cansada... e ali estava eu, sozinho... eu e ele! Quem fazia companhia para a minha solidão era o fruto de um momento de amor por outra pessoa. Peguei eles nos braços, uma lágrima escorreu dos meus olhos, em silencio, levei ele pela janela e o apresentei para a vida! Veja o seu mundo ! Sussurrei no seu ouvido .... estava começando ali um outro ato de amor.

O segundo filho veio em momento atribulado da minha vida, a ficha com ele deve ter demorado alguns meses mais a cair, quando eu percebi já estava amando aquela criancinha barulhenta de uma forma que transbordava a alma, não me recordava do exato momento em que esse amor veio e depois fui percebendo que era um amor bem mais suave e maduro, não brotou de uma vez só, era um amor que já existia mas que me fez acordar da letargia quando a mãe possivelmente fez brotar o amor dela por ele. Ali eu percebi que os homens só nascem de verdade para a vida quando tornam-se pais, e renascem quando vem os outros filhos. Sempre fui pai .. desde criança os filhos já estavam presentes na minha vida, nos meus sonhos, no meu destino, faltava concretizar. Se mães são como eu e precisam estar sozinhas e sentir a concretização daquilo que está acontecendo com a vida dela, essa concretização vem num chute que dão dentro da sua barriga  (e eu não faço ideia da sensação que pode ter isso !!) Ali pela primeira vez a mãe sente a força do que carrega dentro de seu ventre, ali deve brotar o amor que vai carregar até os últimos dias da sua vida. 

Eu posso estar sendo machista ou falando de um assunto que desconheço que  não me compete, porém é algo que sinto no peito que eu pude sentir sendo pai. Um sentimento que pode até ser imperfeito mas o que é uma imperfeição ... se a perfeição da vida está em entender as imperfeições dela ?

Humanidade encurralada nos sonhos dos mortos




 Vivemos num mundo vazio, tomado por informações irrelevantes, por formadores de opinião auto denominando-se influenciadores digitais que determinam o pensamento moderno, os costumes, as atitudes, o consumo. Vivemos numa humanidade à mercê do pouco uso que se faz com o que nos difere do resto das espécies, a inteligência. Mas mesmo assim ainda avançamos como civilização, tendo avanços nas ciências, medicina, criando novas formas de artes, novas formas de interação, de comunicação, indo além dos horizontes já conquistados !

E onde mais poderíamos avançar ? Que novos campos poderiam ser desenvolvidos como a tecnologia dos computadores e celulares? Se tecnicamente a humanidade avançou muito, ainda vemos a brutalidade nas relações humanas, não sabemos lidar com nossa psique, com nosso espírito, temos conceitos distorcidos de tempo, de criação, de existência. Vivemos o que aparentamos, olhamos assustados para o que somos por dentro, não cuidamos do nosso planeta, não protegemos outras espécies, não entendemos os relacionamentos  de leis universais e naturais que regem a vida. Não sabemos conviver civilizadamente... O conceito de civilização começou com uma perna quebrada, ali naquele primeiro momento onde os arqueólogos descobriram uma ossada com um osso de fêmur calcificado inicia-se o conceito de civilização e de vida em sociedade. É simples explicar, num período dos homens das cavernas sair para caçar era extremamente arriscado, conseguir uma caça por si só difícil e durante muito tempo os hominídeos viviam cada um por si, uma fratura de perna significaria a inoperância para caçar, o abandono à própria sorte e ... por fim, a morte ! Mas um indivíduo que chegou a vida adulta, com uma fratura calcificada significa que ficou curado e que coube a algum semelhante cuidar dele enquanto ficava curado, esse alguém que teve pela primeira vez a empatia com seu semelhante, reforçou os laços humanos e possivelmente ali naquele esqueleto calcificado brotou pela primeira vez a gratidão! Difícil saber se foram de fato os primeiros fenômenos mas  com certeza foram os primeiros que puderam ser registrados, num tempo onde a comunicação como a de hoje nos impedia de registrar a vida da civilização. Mesmo aquele esqueleto calcificando sendo tão igual a nós... nos parece tão distante, mas o DNA é fundamentalmente o mesmo, o que nos difere é o conhecimento!

O vazio é existencial, quando os valores humanos não preenchem nossa existência, a solidez da vida acaba ao menor ato de desespero onde busca-se acabar com ela. A devoção pelo que é belo deu lugar ao que vende e tem apelo comercial, não se busca mais fazer o melhor mas o que pode ser consumido rápido. Com isso não se produz arte, não come-se bem, não há conhecimento e sim informação em demasia, se mortos tem sonhos são almas penadas vagando no vazio mas o vazio é estreito porque nem ele prolifera num terreno tão infrutífero quanto o que vemos agora, gerações perdidas e sem certezas em relação ao futuro, sem construir um futuro, sem esperanças no presente, sem sonhos, sem planos e com muita religião ... muita crença e pouca fé!  


domingo, abril 17, 2022

Brasil e a Educação parte 1

Educação é a única solução para o Brasil... educação é o assunto mais relegado do Brasil. É um problema histórico e que tende a ficar mais evidente a medida que impacta diretamente a qualificação educacional e consequentemente as taxas de desemprego histórico que temos atualmente no país. A educação deveria ser a área primordial de um país em desenvolvimento. A busca de novas saídas econômicas, fomentação de inovação, pesquisa de aumento de produtividade, localização de produção que gere uma soberania nacional e independência da nação, esse são só alguns dos potenciais benefícios que justifiquem o investimento em educação, mas por décadas é um assunto velado de que não há interesse político em se investir em educação, pois um povo que pensa não se ajoelha aos pés dos tiranos. 

A partir de quando podemos analisar os problemas da educação no Brasil? Podíamos traçar uma linha desde o Brasil colônia, ou tomando por largada os primeiros anos do império, ou da república ... pouco faz de diferença .. os governos Vargas incluíram sim milhões de brasileiros na escola, mas ainda assim deixou uma horda de igual tamanho sem educação, houveram bons programas nos governos JK e Jango mas era apenas pequenos lampejos sem programas de governos estruturados com base na educação, colocando esse ponto como a linha mestra de um governo. Tirando muito pouca coisa de útil em toda a primeira metade do século XX o Brasil chegou aos governos militares nos anos 70 com programas de educação em massa que não buscavam mais que qualificação em educação básica, e uma baixa no analfabetismo funcional. Nada que pudesse animar um país que não podia nem ter conhecimento político, nem exercer sua cidadania plena, programas como o Mobral tinha como meta acabar com o analfabetismo em 5 anos, mas a realidade é que apenas 15% dos que entravam no programa saiam dele, os números de 11 milhões de pessoas atendidas não reflete uma baixa significativa no número de iletrados, falam de uma redução na taxa de analfabetismo na população adulta de 24% para 15% mais um número contestado que melhorias nas condições de professores para ensinar outras matérias, o pais seguiu burro, dominado e subserviente.  Vieram os períodos de redemocratização e os lampejos seguiram-se poucos, programas como os CIEPs e CIACs, um pouco mais de organização na gestão do ministério da educação no governo FHC e uma redução lenta, porém constante de uma taxa de 16% nas taxas de analfabetismo em 1992 para 11% em 2002, pouquíssimos 5 pontos percentuais em uma década. Mas partir desse período já podemos buscar algumas referências de ações que possam ajudar a pensar o futuro ... aí vieram os governos do PT.

O primeiro governo Lula foi marcado por pouca prioridade com o tema, uma nova fase de redução da taxa de analfabetismo, se mostrou lenta e nem as referências internacionais de programas na Venezuela, Colômbia, Coréia do Sul, Japão, Holanda ficaram mais claras a um modelo que o Brasil poderia seguir, derrapamos mais uma vez. Quando, em 2006, Cristóvão Buarque se candidatou para presidente tendo como pauta uma proposta concreta para mudar a nação e promover a inclusão social a partir de uma revolução pela educação recebeu míseros 2,5 milhões de votos (2,6% da população). Ali ficou claro que os governos e políticos só seguiam a prioridade que o povo dava para o tema, povo que não pensa não pode ver o seu futuro...  Os governos do PT privilegiaram até com certo sucesso, o acesso as universidades mas os índices de desistência se mostraram altíssimos ficando claro que temos problemas na formação da base educacional e no ensino médio, em 2010 a taxa de desistência já era alta 11,4%, em 2014 o percentual de desistências foi de 49%.

Existem raízes históricas e sociais com uma visão pouco otimista em relação ao dados que sugerem queda gradativa nos índices, a condições políticas, econômicas e sociais acabam por determinar as condições em que vai ocorrer a oferta de escolarização, quem terá acesso a ela, qual sua possibilidade de progresso, o nível que poderá ser alcançado. A visão histórica nos coloca diante de parâmetros de uma situação sobre a qual não nos é possível interferir, no entanto nos dá uma clara visão dos fatores que são determinantes para o sucesso de um programa nacional de educação, sem cuidar desses fatores, qualquer investimento em educação será mais uma tentativa temporária e frustrada de erradicar com o analfabetismo, dar qualidade ao sistema, melhorar o desempenho da mão de obra do país e propor uma nova visão de futuro para o Brasil.

Com o uso de novas tecnologias para acesso a educação podemos pensar em sistemas híbridos de ensino, onde aulas presenciais podem tratar de temas que necessitem uma maior interação e de forma virtual seja possível ter temáticas que possam fundir recursos áudio visuais com reflexão. O amplo debate de um modelo de ensino a ser seguindo de forma nacional acaba interrompendo a criação de modelos regionais, as diretrizes devem ser criadas para gestões descentralizadas com fluxos de financiamento educacional sendo geridos por gestores administrativos com formação em educação ou educadores que conheçam as entranhas do sistema burocrático. O tema é complexo e deve ser tratado como prioridade de Estado e não lampejo de um governo. Seja qual for o modelo ele deve ficar a margem de politização, porém as brigas políticas geram uma instabilidade política dentro dos próprios períodos governamentais. Sem nem entrar nas esferas estaduais ou municipais que são um verdadeiro caos, se observarmos a organização federal, que deveria manter o projeto de transformação do país pela educação, vemos um verdadeiro bater de cabeça. 

O governo federal em pouco mais de 3 anos já trocou 4 ministros da educação (Milton Ribeiro, Ricardo Velez, Abraham Weintraub, Carlos Decotelli). Nenhum deles com apetite para ver a educação como política pública de Estado. A grande maioria dos ministros foram escolhidos não pelas experiências que puderam ter nas esferas estaduais ou municipais, não por terem em mente um plano educacional para o país e muito menos por entender do asunto. o Mote de se virar ministro da educação no Brasil é ter um viés ideológico parecido com o proposto pelo presidente. O papel de um ministro da educação no Brasil atualmente é conservador e buscar uma guerra ideológica contras as universidade onde florescem 90% da pesquisa no país. Os cortes de financiamento por contingenciamento mostrou que a educação seguia o modelo petista de ser delegada a segundo plano. Os temas eram saber se os universitários fumavam maconha ou liam Marx, se os prefeitos iam pagar propina para construção de escolas e se iam distribuir bíblias aos pastores indicados pelo presidente.

O Brasil perdeu uma pandemia inteira para de estruturar , fez uma olimpíada  e um copa do mundo mas ainda segue com 80% dos municípios não tendo mais que 4 escolas, não tem estrutura física, não tem plano pedagógico, não tem valorização do professor, não tem ambição de um plano de ensino remoto, não coloca a educação como pilar essencial para crescimento sócio econômico, o que torna insustentável qualquer outra política nesse aspecto. Fomos um dos últimos países do mundo a acabar com a escravidão, um dos últimos a dar direito ao voto pelos analfabetos, um dos últimos países do continente americano a universalizar o acesso ao Ensino Fundamental, coisa que só aconteceu na década de 2000. Saímos de uma taxa de analfabetismo gigante para cerca de 10% atualmente mas a média de anos nas escolas em 2000 ainda era de 4,9 anos ( o que não dá nem para completar o ensino fundamental), o avanço ocorreu no governo Temer, assim como uma tendência  de reforço no ensino médio atuar em tempo integral e o que foi feito disso no atual governo ? Nada!

O pilar do governo bolsonaro são as escolas cívico-militares que sim, são uma boa iniciativa ... na década de 1970, com disciplinas fortes, gastando muito conseguimos um ganho de qualidade na educação que vai nos colocar em outro patamar ... na educação, porque na competitividade econômica seguiremos sendo um pais do atraso. Não é isso que precisamos no século XXI com uma crise de desemprego batendo a nossa porta por conta de defasagem profissional, não competimos mais com outros países para ter uma mão de obra boa, competimos com a tecnologia e a inteligência artificial, a ciência de dados, o IoT, a robótica. A solução volta a ser nos modelos de ensino integral, onde saúde e educação, esporte, lazer e cultura vão se encontrar para enfim ensinar nossas crianças a pensar, ter raciocínio lógico, linguístico, conhecer nossa história e regionalidades. Aprender sobre inovação, gestão, economia doméstica, higiene sanitária, ecologia, tecnologia, ciência. Fazendo um trampolim da agenda educacional já colocaria uma prioridade de estado que estimularia o engajamento dos jovens a ter um futuro melhor. Demonstrar isso através de políticas públicas sérias e duradouras estimula o jovem a ser protagonista da sua vida e os faz sonhar com futuros melhores, isso gera um estímulo para toda a sociedade, o país cresce junto, para bancar o futuro e aí sim poderemos dizer que estaremos construindo uma geração saudável. Enquanto isso o governo está preocupado com a doutrinação ideológica nas escolas, que deve ser combatida mas que sempre existiu... para esse combate ele busca uma outra doutrinação ...a religiosa a forma mais praticada de impedir as pessoas de pensar e de ter uma cultura que não se deixa doutrinar. Seguindo o modelo atual acredito que houve um retrocesso  e daria zero para a atual gestão de educação no Brasil, e como vejo esse como o ponto crucial para um bom planejamento de nação não vejo outra justificativa para repetir o zero para qualquer governo que não privilegie a educação como meta de política de Estado.




O impacto da violência na educação

A cena é impactante mas comum .... 10:40 de uma manhã que seria tranquila, as inspetoras do colégio público que está caindo aos pedaços pedem rapidamente que as crianças interrompam suas atividades para que possam se abrigar de um tiroteio que ocorre na imediações. É aula que se perde, raciocínio cortado no meio, medo virando o foco já tão difícil em tempos em que os alunos andam com celular no bolso. Outra cena similar acontece a poucos quilômetros dali, o alvo porém é uma creche particular onde os pais são acionados para rapidamente levarem as crianças pra casa pois, por ordem do tráfico de drogas, todos os estabelecimentos da imediação devem ser fechados. Nessa mesma manhã, o trânsito intenso na cidade é causado por um tiroteio que fecha a principal via de acesso para a faculdade, os alunos perdem aula, o Brasil vai perdendo aos pouco o seu futuro. A aprendizagem é interrompida, os traumas vão sendo criados. O promissor pesquisador é morto a tiros num assalto ao seu ônibus, um professor de química tem seu carro roubado e também morre deixando os alunos sem aula, sem motivação mas com questionamentos intensos, sobre seus objetivos de vida, com um medo que contrai o pensamento e faz aos poucos surgir um sentimento de vingança e ódio. Um estudante entra na escola com uma machadinha matando os colegas aos montes, vociferando seu ódio do nada e acumulando mortes como num videogame, partindo vida, causando lamento das oportunidades que não vieram enquanto o futuro de muitos cai pelo chão e derrama como lágrimas nos olhos dos colegas.

Muito se estuda sobre os impactos econômicos da violência urbana na decadência da cidade, estudos de curto prazo, que indicam os prejuízos por número de homicídios, ou o número de policiais formados que caíram em combate por falta de condições básicas de trabalho enquanto a ferrugem corrói os containers superfaturados das Unidades de Polícia Pacificadora. Ninguém nunca pode estimar quais os efeitos negativos dessa violência, o desperdício de vida e de oportunidades que temos a longo prazo. Da vida interrompida drasticamente num sinal ou do futuro que não veio simplesmente porque morreu no sinal. A vida segue e o tempo faz com que nada disso pareça impactar mais do que o próximo episódio rotineiro do nosso noticiário viciado em notícias fortes.

Educação, que deveria ser a meta básica do país é renegada a segundo plano e ainda sofre um revés diário em função de outras coisas que andam mal, desde o investimento em pesquisa que derrapa na dificuldade econômica, até o aluno que perde as aulas porque pegou dengue. Tudo ... simplesmente tudo impacta o futuro que queremos para as nossas crianças, da sub nutrição na infância, a falta de oportunidade, a educação é o passo atrás que não podemos ter. É o tiro de fuzil que esfacela nossa esperança num amanhã melhor para todos nós. 


terça-feira, abril 12, 2022

Brasil e a educação parte 2

Enquanto debates políticos dividem o Brasil existe uma tendência a politizar tudo e assim dividir e corroer ainda mais a nossa sociedade.
Um dos muitos debates paralelos é sobre como alfabetizar, o que deveria ser algo para andarmos para frente passou a ser uma disputa ideológica diante de um cenário gravíssimo que não muda há décadas. Atualmente mais de 50% dos estudantes brasileiros  de 8 anos não sabem ler adequadamente e 35% desses não conseguem escrever.
Essa deficiência nos primeiros anos da infância funciona como uma bola de neve, ceifam vidas e futuros. Muitos tem mais dificuldade em aprender depois e começam a reprovar em outras matérias pois não conseguem adquirir a compreensão que estão nos livros, dessa forma abandonam as escolas em poucos anos.

Já tivemos muitas gerações perdidas, e outras tantas seguirão pelo mesmo caminho se não forem definidas como prioridade temas que coloquem a educação como prioridade maior desse país, em poucos anos a relevância do Brasil no cenário econômico mundial será mínima, visto que não termos know how sobre os meios de produção e de tomada de decisão, perderemos competitividade industrial, de geração de energia e só seremos relevantes na produção agrícola e de outra commodities porque são baseadas em exploração e mecanização do nosso imenso território. 

Onde não se sabe ler corretamente , não se pode lutar por direitos políticos, por direitos humanos, contra a violência autoritária do Estado. O Brasil sempre criou a ilusão de ser o país do futuro e simplesmente não investe no futuro. Esse futuro está em nossas crianças, que estão desnutridas e indo estudar em condições precárias, precisamos de um salto de qualidade, de abrangência, precisamos de gestão eficiente da máquina administrativa. Precisamos de garantias de investimento, de planejamento, não iremos para nenhum lugar enquanto não tivermos a pedra fundamental do crescimento de uma nação posta como política de Estado.


domingo, março 27, 2022

A liberdade mais sagrada é a liberdade de pensar

 Como ser livre se temos nosso pensamento preso em ideologias, que não são as nossas, em crenças que nos são impostas, em pensamentos da grande maioria? Um dos maiores desafios que enfrentamos na vida é sermos quem a gente é, e a imposição para sermos massa de manobra começa nas imposições que vem como inocentes expectativas dos nossos pais para a nossa vida, mas o rol de imposições menos inocentes começam com as religiões que forçam o indivíduo a crer aos invés de compreender o mundo em que vivemos, isso cria uma paralisia ao nosso pensar... atrofiamos.  Por não pensar, achamos normal consumir a vida dos outros ... alimentando-se do que não é nosso passamos a não ser a gente mesmo. A roupa ...é a da moda, a comida ....é a que vemos todos comerem, o estilo de vida ... é o que passa na televisão, o que é melhor para as nossas próprias vidas ... é o que aparece nas redes sociais.

 
A verdade, é que tanta gente tenta nos impor o que é certo e o que é errado que, se não pararmos para refletir, acabamos sem nem saber qual é a nossa verdadeira identidade. Pessoas sem identidade acabam por ter vidas vazias, e vidas sem nada que façam ela valer são como fantasmas perdidos no tempo, rastros do que poderiam ter sido e não foram... amargor, rancor, páginas sem brilho e sem cor. Jung dizia que só aquilo que somos realmente tem o poder de nos curar, então muitos perdem a oportunidade de se transformarem em cura para as suas mazelas internas, e todos tem essas mazelas esperando serem tratadas. Tratar essas mazelas é um pouco de entendimento do porquê vivemos essa vida.

Se mostrar do jeito que somos, muitas vezes fará com que estejamos errados em vários aspectos da vida em sociedade. Abrir mão do que somos para priorizar um convívio, exige um tanto de humildade, empatia e equilíbrio pois, da mesma forma, nem todas as pessoas conseguem te agradar com plenitude. Aí começam a haver os extremismos, uma forma de exacerbar as convicções para se fazer valer em questões que acreditamos e que não queremos abrir mão. Os extremos existem para que com o tempo se apaziguem e se equilibrem entre os opostos e isso é lindo, pois é o fluir da vida aceitando a passagem do tempo. Com o tempo tudo se equilibra... como processos dentro de processos ... como transformações, como a harmonia dentro do caos ... O simples equilíbrio começa em nossos pensamentos, mas como pensar se passamos a vida perdendo essa liberdade primordial para o Ser Humano?

O pensamento começa em equilibrar a sensação de ser criticado pelo que somos, pelas verdades de outras pessoas e por ser o que realmente decidimos ser. O equilíbrio está em ser o que somos ao invés de crer no que não somos. Eis uma das belezas da vida, saber abrir mão de nossa personalidade ao mesmo tempo que nos impomos para sermos felizes e estarmos em paz com nossa essência, dentro do caos de ser quem a gente é.

segunda-feira, janeiro 10, 2022

Loucura de poeta

 A tarde transcorre calme e quente, nas ruas o Sol fervilha de gente. O frenesi e o frisson estão em todas as mentes. É um dia normal de uma vida anormal ....ninguém consegue parar .... poucos ouvem a suas respirações, ofegantes e tristes. Os homens passam a vida sem olhar pro lado, sem olhar pro alto, sem contemplar uma estrela, ver o mar ou ouvir o barulho do vento. O mundo inteiro passa silencioso em vidas que se constroem vazias. 

Acabou o encanto, acabou a poesia, de viver no balanço do mar, e beber maresia. Então a retidão das linhas entram em nossa casa sem cores, nas linhas de um pré moldado que, no nosso quarto, parece tomar conta da gente ficamos meio que pré moldados também, numa rotina que não tem mais fim, o despertar sempre na mesma hora, o remédio, pegar a agenda, cheklist nos compromissos, reuniões rápidas, reuniões longas, reuniões chatas, decisões, ganhar dinheiro, para poder gastar com coisas que não precisamos depois. Conforto e fartura que nos fazem mal, reconstruir uma roda que gira contra nós! Não sabemos navegar na correnteza do rio, e parece que sempre estamos contra ele mas no controle da situação, e não temos controle de nada. Tudo dentro do nosso celular, a agenda, os compromissos, os contatos, os abraços amigos num like e assim a vida passa, o tempo segue e temos a irreal ideia de poder porque controlamos tudo .. será mesmo ?

Um dia eu ainda pego um barco,eu me deito numa rede ... em rio agitado também tem leito, ando descalço, nado no mar, me jogo na areia, sem compromisso com nada, comendo a comida que encontrar. Olho pro céu a noite contemplando a beleza da vida, o passar do tempo sem contar os minutos, vivo a vida sem freio. Visito as amigos sem programar, roubo sorrisos.. valorizo quem faz questão de me ter por perto. Alguns amores são deixados em lugares escondidos para serem lembrados mais tarde ou esquecidos mais cedo. Arrumo as lembranças, ensaboo a vida. Eis a minha loucura... quando o mundo quer TER, eu só quero TERnura.

segunda-feira, janeiro 03, 2022

Amar é quebrar pedras ... construir estradas

Amar é como se achar dentro de sim mesmo
Amar é como se reencontrar no outro
Então eu te acompanho sem saber ao certo se vamos pelo mesmo caminho?
Então percebo que todo o caminho a ser percorrido, deve ser construído
O amor não é um simples caminhar num campo florido
Está muito mais para um obreiro construindo uma estrada sob um forte calor 

Um coração vivido sabe muito bem separar o certo do amado
Se escolhermos o amor utópico, sempre que fecharmos os punhos teremos uma mão vazia
Então o amor deve ser um lampejo de felicidade que sirva de estopim para mais amor 
E esse amor deve ser construído, não com as chamas do ilusório, do frívolo, das aparências ...

O amor deve ser construído a cada dia 
Como quem perfura um poço de petróleo
Buscando nas profundezas aonde tem mais amor
Porque amor simplesmente não vem pronto 
Não se compra numa loja de esquina
Há até quem vende e compra amor, mas não é isso que te preenche, nas noites vazias...
Nas manhãs sem companhia 

Existem os obstáculos da vida 
Cada pedra que deve ser quebrada conquista um pouco da nossa estrada
Buracos tampados onde temos falhas ... preenchemos com amor
Ou fingimos que aqueles buracos não existem e seguimos caminhando 
Afinal com tantos erros por aí o importante é não nos pegar corrigindo os nossos próprios acertos
Falhas sempre vão existir nas estradas que percorremos e isso nunca vai as deixar mais feias e mais bonitas

Então se jogue na sua estrada
Aproveite o asfalto ainda quente
Se não conseguir sentir o calor sob seus pés 
Fique descalço
Sem cautela exagerada
Ou previsões de trajeto muito planejados
Cuidado com os desvios ou bifurcações 
Se em algum momento ficar indeciso 
Tome uma decisão ... e "dê uma cisão"

Muitas outras estradas se cruzam pelo caminho
O importante é não parar o seu caminho
Construindo estradas, quebrando pedras, tampando buracos ou até seguindo com eles.

quinta-feira, dezembro 23, 2021

Catavento

 Gosto do cata-vento

Que quando venta

Mostra o invisível em movimento

E existe tanto invisível a nossa volta 

Que quando menos percebemos 

Somos nós que nos movimentamos pela força dele

Nós somos como um cata-vento

Podemos ter uma atitude à mercê do invisível

Podemos nós mesmos catar o vento nos pondo em movimento

É como começar 

O que não tem fim

É como amar ... se reencontrando no outro.

É um olhar no espelho, parado e vazio 

Mas aí surge uma lágrima contida...

Um sorriso espontâneo ...

Quando um cata-vento roda por nossa ação é como sair de uma encruzilhada

Um destino que deu um nó nas forças do vento

Um caminho que se cruza criando um período estático.

Romper com o parar do vento é tomar uma atitude.

É nos por para girar 

E quando nós começarmos a rodar com a força do invisível

É muito difícil parar ...

Rode sempre, não a mercê do vento mas em busca dele...

E se o vento for forte, troque o brinquedo por uma pipa

E deixe o vento te fazer ... voar!




Um passo de cada vez

 Se a poesia tivesse um destino, esse destino seria o infinito, porque quando escrevemos uma poesia miramos a alegria que está em todas as coisas muito além do tempo. 

Uma poesia mira a beleza do olhar e não os seus olhos, a leitura é só uma ponte entre a palavra realizada e a sonhada eternidade da palavra.

Em passos mansos a poesia se concretiza da inspiração à ideia, do pensamento à ação de escrever, de formatar um sentimento à criação de um texto ... e nesse instante sai do peito passando rápido pelo pensamento um sem freio de ilusões, desejos ... coisas sensíveis aos seres humanos, não se sabe bem porque ? É sempre algo que nos une, um pouco de divindade de termos nascidos assim, tão distantes e tão parecidos. Unidos pela palavra nem tanto, muito mais unidos pelos sentimentos que compartilhamos, e compartilharemos ao longo do tempo.

Novas gerações virão  e os sentimentos que nos excitam serão sempre os mesmos, e a poesia estará lá para encher um coração de gratidão por termos lido, de emoção por abraçar nosso peito, de humanidade por nos vermos tão "iguais aos nossos semelhantes". E aí nesse momento descobriremos que a vida é bela.

As pessoas ficam simpáticas percebendo o quanto somos parecidos ao ler um poema ... uma poesia. Descobrem que uma vida é pouca, se é só um pouco de vida. Vivida sendo pouca, sendo pouco vivida. 

Vá a um mundo onde eu possa versificar porque que é nesse mundo que se pode ver ao longe e "ver se fica" por lá, esse mundo vai te levar ao infinito das palavras, mas sempre seguindo um passo de cada vez a ponto de podermos voar e a poesia é um voar fora das asas.

sexta-feira, novembro 26, 2021

Noite havaiana

Num tempo entrelaçado entre a distância e o passado... pessoas de longe vão chegando, sorrisos e conversas com um ar de retomada. 

O tempo passa .. as coisas mudam .... pessoas chegam cedo, outras tarde, porém ninguém saiu do que já era, e tudo permanece igual.

Ali naquele beira mar, os anseios tem sonhos, os sonhos esperança em se realizar , falamos em futuro e estamos presos em passados. Então o que nos une ? ? Ninguém sabe ao certo... amor ou amizade, coisas difíceis de explicar.

Angústias de filhos, caminhos profissionais, causos ... pouco importa o assunto, pouco importa o que se come, ou o que se bebe. A música ... uma qualquer que não distraia o momento, nada importa além daquele singelo momento presente que tanto esperavam. Ali ... naquele lugar, chinelos se amontoam sem o interesse neles em si. 

Quem chegou tem o brilho dos olhos dos momentos presentes, mais lindo que o sol se pondo, mais profundo que o mar, tão intenso como noite de verão com brisa fresca de mar. O vento estufa e entorpece o prazer do reencontro. 

O ali naquele lugar há bem pouco era um lá .. tão longe que parecia nunca chegar. Agora é um aqui, todos perto ... embalados com as pétalas da Acácia.



segunda-feira, novembro 15, 2021

A mente de um ateu na morte

 Não acreditar em nada ! 

Extremamente difícil, talvez a mente de  um ateu seja muito mais complexa e detenha muito mais auto controle que a de muitos. Isso ocorre simplesmente porque é mais fácil se acreditar em qualquer coisa sem razoar sobre a veracidade das coisas. Simplesmente olhar o Sol e não crer que alguma força maior o colocou ali naquele exato lugar que dista da Terra a ponto de procriar a vida, perceber o tênue equilíbrio de forças monumentais mantém toda a possibilidade de vida. Tempestades solares, atmosfera, gravidade, equilíbrio de astros e átomos isso tudo parece orquestrado por uma força maior mas mesmo assim eles são céticos. 

Olhar o milagre da vida e não crer em algum Deus é muito mais complexo que acreditar em qualquer deus charlatão, porém não crer na vida pode ser mais difícil ao meu entendimento que não crer na morte (ou a vida depois dela). Para tentar entender o que é morte, primeiro é preciso entender o que somos, porque afinal se não soubermos exatamente o que somos, como iremos conceber o que irá morrer? Morre corpo, morre alma, morre espírito, mente, memórias, átomos? O que de fato somos?? 

É certo que o ser humano tem uma tendência a criar verdades e ilusões para atenuar sofrimentos, preservar nosso sistema sensível e consolar nossa mente das verdades dramáticas da vida (só o ser humano tem isso, os outros animais não parecem ter!). Entender que tudo tem um motivo é uma maneira de terceirizar a verdade. Pensar que sempre há algo bom em tudo... um plano maior, é para um ateu um momento de contradição total com a existência de um Deus amoroso. Todos nós queremos esse Deus, que exista um Deus bom, escrevendo certo por linhas tortas e governando a nossa própria vida, que Ele sempre tenha um motivo justo para toda a injustiça do mundo. Será que esse Deus existe exatamente dessa forma? Velhinho, barbudo, caucasiano? E onde fica a auto determinação do Homem? Esse pensamento também não explica a vida e nem a morte, aí entram as religiões, tentando explicar (e nos fazendo crer) todo o mistério da vida (e se pensarmos que a morte também faz parte da vida.... ou do contrário pensar que a vida faz parte da morte, afinal começamos a morrer quando nascemos, como numa ampulheta?). 

O que acontece quando morremos? Quem pode dizer ?  É uma luz que simplesmente se apaga, uma memória dando reset para nova jornada?  O corpo sabe quando vai parar de funcionar ? Ele se desliga abruptamente ou de forma gradual e sensível para libertar o espírito ? Ou não tem espírito na jogada ? Como funciona a máquina humana ? Como querermos crer ou entender Deus se não somos capazes de entender a nós mesmos? A presunção humana as vezes parece maior que o Deus que alguns acreditam. 

A respiração para, os movimentos se tornam inconstantes... em seguida o coração para de bombear sangue, órgãos, tecidos, células vão perdendo sua energia, em poucos minutos tudo para mas em alguma fração de tempo que ninguém sabe ao certo o cérebro vai mandar uma mensagem pelos neurónios que ainda estarão ativos, essa mensagem vem por meio de dimetiltriptamina, um composto psicodélico que inibe todos os receptores de serotonina, a glândula pineal que antes estava tão desconexa da vida pela ação de açúcares e conservantes, faz uma liberação abrupta de DMT, o corpo adormece e em lugar das sensações, sonhamos ... imaginamos ... lembramos tudo como um filme que passa, como uma viagem alucinante que nos faz crer que estamos indo para outro plano (é aquele momento em que a vida passa como um filme!). O tempo já não existe mais, tudo se mistura... o futuro acaba, o passado aparece como uma enxurrada no presente. Em breve ele também não existirá mais. O download cerebral cessa, as luzes se apagam, as cortinas se fecham. Nem dor, nem lembrança, nem consciência, não há alma, não há espírito, o corpo ainda tem atividade vital, mas não nossa ... passamos então ao cumprir o papel de devolver para a vida, toda a parte orgânica que tiramos do cosmos. Bactérias, fungos ... bilhões de organismos agora se alimentam de tecidos mortos. A morte gerando a vida numa eternidade biológica, o propósito da decomposição mórbida gerando vida. Novos processos de vida sendo construídos, relacionamento de cadeias de microrganismos interagindo com o que era um humano há poucos minutos. Aí percebemos que o tempo não para. Novas vidas seguem ... cada átomo foi reciclado, perde-se a individualidade e o corpo estará em bilhões de outros corpos como poeira no espaço. O tempo não existe mais para aquela pessoa mas segue seu percurso, sua energia também se extinguiu, mas e sua matéria ? 

Do pó viemos ... e para o pó voltaremos. Mas isso é tudo ? Num momento tudo é microscópico, no outro somos a imensidão da vida espalhados pelo cosmos. Quando se morre, morrem tantos sentimentos... mas será que todos eles morrem, a memória de um ente querido será que não o mantem vivo nem que seja na memória alheia ? Alma ... acaba, espírito se solta, vão pra onde ? Vagam como energia no espaço, será que continuam ou será que nunca existiram ? Alguém existiu mas como num virar de página .. passou a simplicidade da vida encontra a compreensão de um ateu.

terça-feira, novembro 02, 2021

TUDO É MAIS RAPIDO E EU CONTINUO SEM TEMPO

 -Vivemos numa vida sem tempo ! Áudios acelerados, leitura dinâmica, métodos ágeis, interações curtas, entregas constantes, vidas atribuladas e mais um dia se foi !

-Não tenho tempo! Quantas vezes você já não escutou ou mesmo falou essa frase ? -Não tenho tempo! Quantas vezes não a usou com desculpa para não fazer algo que um pensamento destrutivo te induzia a não fazer?

Pelo conceito logosófico, o tempo é vida ! Logo, quando você fica repetindo que não tem tempo para alguma coisa é porque esta deixando de viver ... "tempo que se vai, é vida que se perde!!"

Estamos vivendo ou só correndo? Temos intensidade de vida a ponto de não perceber as nuances que a vida tem? Estamos sem tempo ou sem prioridades, sem tempo ou sem atenção à ele? Porque, quando nós  percebermos a passagem do tempo podemos perceber o quanto perdemos dele  diariamente.

Será que controlamos bem o nosso tempo? Vivendo exatamente o que é importante de ser vivido?

Somos mais de 7 bilhões de seres ao redor do mundo... todos tem exatamente os mesmos 86.400 segundos por dia para viver.. Ah! mas um segundo é muito pouco, não dá pra fazer nada... mais ou menos, 1 segundo é o tempo para um pensamento e um simples pensamento pode mudar sua ação e as vezes a forma como agimos mexe com a nossa índole, com o nosso caráter, com o temos de futuro para as nossas vidas. 

Ao longo da história, desde os grandes imperadores, conquistadores, sábios e inventores até o mais simples dos homens, todos tiveram exatamente a mesma quota diária de tempo. O que cada um prioriza ou vive, aí sim é uma escolha diferente e que pode indicar o que cada um viveu.
 
Tempo é uma grandeza física da natureza ou um conceito abstrato criado pela sociedade? O nosso tempo está restrito à nossa vida na terra, ou ele perdura ... Que movimentos eu faço para que o tempo corra a meu favor? Eu estou sempre contra o tempo ou a favor dele? E se você continuar de olhos fechados pra o tempo, sem tratar essas inquietudes, o tempo vai passar e você vai continuar com elas.
O amadurecimento é uma ação do tempo, logo o próprio tempo me fez perceber o quanto eu perdia de vida, me fez ter o discernimento para entender o quando eu podia estar trabalhando para ter o tempo a meu favor.... a visão de que o tempo se estreita mudou para uma visão de um tempo que se expande, porque a vida passou a ter mais valor.
Fazer um controle das atividades mentais e da minha conduta diária, para que no final do dia eu seja dono do que eu vivi, passou a me dar o controle do meu tempo, refletir sobre o que eu faço do meu tempo ( ou da minha vida)  me mostrou como ter uma vida produtiva, vinculada a atos de bem, a estudos superiores e que me levam a um processo de evolução através do tempo.


sábado, outubro 16, 2021

O país que parece que não é

Vivemos num país bizarro onde tudo parece faz de conta. Onde segurança se confunde com bandidagem, onde bandidagem faz a segurança da população, todos pedem algo em troca é verdade, mas o papel do Estado é desviado para um papel que parece mais querer extorquir a população. 
O Brasil é um Estado onde exercer o poder se confunde com corrupção. Economia é controlar quem vai fazer os gastos e divisão de poderes é meramente arranjar quem vai separar cada quinhão.
É o país do futuro que não se entende com seu passado. Um futuro que nunca chega e que vive num presente de demagogia e podridão. Aqui se finge fazer educação, não há terra pra todos mesmo nessa imensidão.  Onde tudo passa a ter uma dimensão torta e retumba enviesado tudo o que se faça. O médico que num hospital público, salva um paciente da morte na verdade fez mais que um ato da saúde, ele rompeu com desigualdades sociais imensas por dar um atendimento que poucos podem ter. Conseguir estabelecer um complexo protocolo de saúde do início ao fim aqui no Brasil não é só uma questão de saúde e competência médica, muitas vezes é uma questão de resistência ao sistema falho e uma questão de sorte.
Aqui tomar uma vacina passa a ser muito mais que um ato para resguardar sua própria saúde, a um custo baixo a nível preventivo. Cada vacina tomada toma o vulto de um ato político e de um posicionamento social. Um dizer não quando deveria ser um apoio dizendo sim. 
Governos estão sempre contra nós, o aparelho do Estado parece estar contra nós. É um país onde a educação é resistência , é teimosia , é ter esperança que sabemos que se quebra na primeira crise econômica. Crise é algo que começa e termina, nossas crises são eternas num efeito que só parece que se ameniza, mas que no fundo ... No fundo mesmo vive de mesmos problemas que parecem que são os que já foram ... Mas que nunca terminam. Vivemos num tempo onde problemas de tensão agrária ainda existem, num tempo onde a equação entre o agro business toma o lugar do latifundiário monocultor, num tempo onde confrontos indígenas ainda existem, onde a saúde é precária, a educação não desenvolve o povo. Onde esperamos de braços cruzados um salvador da pátria , pai dos pobres,um mito. Aqui as doenças são erradicadas mas voltam a nos assombrar e a qualquer descompasso da economia, que patina sempre, a fome retorna. Um país liberal e de economia extremamente fechada. Os mesmos problemas de décadas ou de séculos passados. O verdadeiro pais que não sai do lugar.

sábado, abril 03, 2021

Ditadura nunca mais

 


Usar do artifício de uma ditadura ou de uma autocracia (mesmo que democrática) é atestar nossa incompetência em resolver os problemas na base do diálogo. Sim, dialogar é muito mais difícil porém é a coisa certa a se fazer. 

Regimes totalitários nos dão a impressão de que quando chegamos a um nível crítico de caos, só a força impõe a ordem. Esse expediente deve ser uma opção sim ... a última! E com um caminho muito bem definido sob a forma da Lei. Regimes assim incutem no subconsciente humano de que a força se sobrepõe à razão, isso gera desde extrapolação dos limites da lei, por quem deveria cuidar dela e até justificativas para a violência doméstica.

Regimes totalitários impactam uma característica essencial do Ser Humano, a de se contrapor, a de se refletir no oposto a de deixar um amplo e fértil campo de pensamentos disponível para a livre escolha.

Regimes totalitários são a celebração do rompimento com a democracia e o Estado de Direito. É renegar a inteligência humana a um segundo nível, é limitar os pensamentos a uma ou outra teoria. Existem convicções, existem valores morais e essas coisas devem ser priorizadas em relação a tremores repentinos e temporários de uma política de Estado. Esses valores nunca devem ser violados pois viola-se assim a essência humana que nos diferencia do resto do mundo animal. 

Não falo mal de uma ditadura de direita ou de esquerda ... a cabeça é redonda para permitir ao pensamento, mudar de direção então pouco importa de que lado esteja o totalitarismo, ele causa mal para ambos os lados da nossa massa encefálica.

sábado, julho 18, 2020

Presunção humana

Achando que somos eternos, nos preocupamos pouco com as coisas realmente relevantes nessa nossa passagem por aqui e os grandes problemas da humanidade seguem os mesmos através dos anos. Temos fé subjugando o conhecimento, vamos ao espaço ver de longe nossa pequenez mas limpamos o coco da mesma forma tosca por séculos ... derrubamos árvores (que achamos que não são vidas) para fazer .... papel! (aquele mesmo que limpa o coco). Nos falta oxigênio ... sentimos falta daqueles árvores que matamos, gastamos milhões plantando outras e as derrubamos também.

Não pensamos mais em filosofia como os gregos imaginaram há séculos, agora a cadeira de filosofia é só aquela matéria que o governo acha inoperante e deficitária nas faculdades. Eis que aí nos conhecemos muito pouco .... sem saber o que nós somos, não entendemos o que precisamos e cometemos os mesmo erros do passado por achar que a história não é feita de repetição (e nesse caso também acharam o tema deficitário). Sim vamos crer num mundo melhor mas seria melhor arregaçar as mangas e fazer esse mundo melhor, nós temos capacidade pra isso ! Afinal inventamos a tal nave no espaço.

Uma nave no espaço serve para nos mostrar o quão evoluídos nós somos e o tão pouco evoluídos somos até agora. Uma nave no espaço eterno nos mostra que nesse grão de areia onde vivemos num equilíbrio frágil vimos passar no espectro da história todo grande populista, todo ditador sanguinário, todos os nossos amores, toda a nossa perdição, nossa vida inteira ... toda a vida do mundo que num raio de sol mais forte ou num cometa desgovernado, pode se desfazer em segundos. Vemos de longe que somos no espaço um nada mas que num equilíbrio cósmico temos aqui nesse nosso cantinho do universo uma condição ímpar de vida ... e não aproveitamos bem esse milagre. Seguimos tocando a vida ... e sendo muito pouco tocados por ela, graças à fragilidade que nos infligimos.

Não sabemos porque estamos aqui, como chegamos a esse estágio da história, não sabemos nos curar de um vírus que morre em minutos com álcool gel, não conseguimos dar, água limpa para todos, investimos milhões para curarmos de doenças raras e que matam pouco enquanto milhões morrem porque não tem saneamento básico, olhando as redes sociais vejo os experts do mundo debatendo sobre a vida pessoal do artista ou do jogador de futebol. As maiores cabeças pensantes do mundo usam a sua genialidade para que um site ganhe mais likes enquanto o mundo clama por soluções. Na crise recorremos a médicos, quando deveríamos ter sanitaristas evitando as crises e esquecemos que todos os médicos, cientistas, políticos... eram pedras brutas antes de passar pelas mãos de um professor, mal remunerado e descontente com sua vida.

A vida é breve companheiro e vale a pena cada sorriso que se de, cada bem que se faça ... cada angustia que se viva, porque viver é muito mais que nascer, crescer, envelhecer e morrer. Nossa vida vai além da batida inconsciente de um coração, nossa vida pode ser o legado que deixamos para outras vidas, nossa existência tem um tempo que se eleva ao corre corre do dia. Mas entre guerras, doenças, futilidades, problemas pra se resolver, presumimos que isso tudo que nos ocupa é mais importante do que a transformação que podemos gerar usando um pouco mais dos 10% que conhecemos da nossa capacidade mental.

quinta-feira, abril 30, 2020

Achados de uma pandemia

Então o Brasil acaba por "descobrir" milhões de desassistidos, pessoas que não aparecem nas listas de CPFs, no SUS, no Bolsa Família, em nenhum programa de assistência do Estado, não são batizados, não são registrados, não são civilizados. Mendigos, indigentes, desocupados, vagabundos ... na verdade são indigestos, restos de uma sociedade que teima em não os ver. Pessoas que não conhecemos, que estão bem abaixo da linha da miséria, que vagam por aí sem que nós os vejamos como seres humanos. Eles não estão escondidos, estão nos sinais, nas esquinas... nós é que não temos olhos para eles! E é estranho não ver uma parcela de pessoas na Era do Big Data, da onipresença dos meios digitais, numa éopca da evolução humana onde ser criam personas virtuais e que não guardamos compaixão com as pessoas reais.

Pessoas que não moram, que acreditam que viver numa favela é algo vetado para eles, pois não tem renda, não tem meios de sobrevivência, não tem credo ou religião, que estão na subvivência e que aceitam isso. Dalits brasileiros, excluídos da sociedade, sem nome na certidão, sem identidade pessoas sem uma vida de verdade. Pois o entendimento do que seria vida passa pelo entendimento do que viemos fazer aqui, se for simplesmente nascer, morrer, procriar e crescer sim .... são seres vivos, porém se ampliarmos um pouco esse baixíssimo espectro e elevarmos ele para minimamente se desenvolver, não damos condições nenhumas para que essas pessoas possam viver. Criamos, diantes de nossos olhos uma horda de zumbis! Sem lar, sem ler, sem saúde ou orgulho só tem um destino e uma certeza ... terminarão em cova rasa sem nunca terem existido. São o resto... 

Entender o que devemos fazer por essas pessoas passa pelo entendimento que tenhamos pela vida e pela humanidade, o que se esperar delas. Que as vidas sejam vazias a ponto de trocarmos os cuidados a seres humanos iguais a nós por um gagget ou pet qualquer ?

Pessoas que carregam no estomago seus objetivos de um dia, da vida inteira, que tem a fome na frente da moral, uma poluíção social que não aparecem nas fotos, são escondidos das festas e dos paraísos de cartão postal. Sem dignidade sem teto pra morar nem por isso deixam de ser Humanos e brasileiros tão fortes e resistentes quanto nós. As ONGs pouco fazem pois não são organizados, são dispersos, pingados. Eis que se abre agora uma oportunidade de descobrí-losem meio a uma tempestada pandêmica, como um furacão que revolve a areia da praia, que tira a espuma do mar bonito para que encontremos tesouros perdidos na praia. Sim, eles são tesouros, uma forma de redenção ... não a deles, a nossa! Temos que exterminá-los, mas não os matando... os incluindo! Elevando suas perspectivas, fazendo seu pesadelo acabar e que continuem sendo erráticos mas nunca os esquecidos na multidão. 

Podemos pensar que são filhos da miséria e cujo castigo é viver ... mas miséria de quem ? Numa sociedade que só pensa no dinheiro é simples deduzir que a miséria é deles porém se elevarmos noss pensamento para a miséria humana podemos também concluir sob outro ponto de vista que existe muita miséria humana e nesse caso a miséria é nossa e não de quem não tem perspectivas para sair do lugar. Uma vez que eles precisam de tudo e não lhes damos nada e isso inclui muito mais que dinheiro ou meios de sobrevivencia. Não lhes damos nem um olhar, não lhes estendemos um braço, um afeto, uma chance. Se já nascem fracassados, não foram eles que fracassaram, não são batizados, não são vacinados ... vão morrer e ninguém vai se importar, uns vão ter um alívio de um problema resolvido.

Ledo engano o problema real vive dentro de nós ! Mais um problema que deve ser descoberto dentro de uma pandemia.