Uso da palavra
Usar a palavra é um dos poucos meios que dispomos de entrar para a posteridade, não que seja esse o meu intuito aqui nesse espaço. Meu intuito é somente tornar público o que fica guardado na minha mente e nos meus escritos "secretos".
quarta-feira, março 13, 2024
A morada do silêncio
quinta-feira, maio 25, 2023
As ruas da cidade
terça-feira, abril 04, 2023
O muito que eu vi da vida
terça-feira, março 14, 2023
Cidadãos sem cidadania
Cidadãos sem cidade
Não tem transporte
Lhe falta asfalto...
Não tem bit, não tem byte
As calorias? São vazias!
A fome ... lhe dá um vazio por dentro
A cultura é rasa!
No frio ... mal se aquece
No calor ... padece!
Não tem documento
Não tem identidade
Tem um voto
Mas lhe faltam com a verdade
Sua vida é um tormento
Não tem saúde
Não tem educação
Vive sem alento
De escassos planos
É só um sofrimento
De viver sem sonhos
Sobrevive
Sub-vive
Desejo se vão
Esperanças afogam em lágrimas
Sem lenço pra secar
A margem de tudo
Dos registros do governo
Da lista de endereços
Nas sombras do sistema
Irreconhecíveis
Até entre os pagadores de impostos
Transparentes aos bancos
Despreparados aos empregos
Nem os gatonets lhes querem
Porque não tem como pagar.
Não tem morada
Não tem CEP e nem CIEP
Não tem Vida
Não tem nada
segunda-feira, março 13, 2023
O que falta numa favela?
O Brasil é tão imenso e tão diverso que não consegue se conhecer e as realidades, dos brasileiros que convivem nas praias, ruas, meios de transporte, casas são completamente ignoradas, dentro de um contexto um pouco diferente, mas abrangendo esse ponto também em 1978, os geniais Aldir Blanc e Maurício Tapajós criaram Querellas do Brasil, ou seria Quer Ellas?? Ficou famosa na voz da também genial Elis Regina.
O Brazil não conhece o Brasil
O Brasil nunca foi ao Brazil
Óbvio que verso traça um paralelo entre classes, dentro de um contexto cultural social mas a verdade é que para muitos, não existe fome, preconceito racial é algo que acabou em 1888, que favelado mora ali porque quere para muitos outros, o povo que vive no asfalto não trabalha, não produz e não estão preocupados com o sofrimento alheio, ganham tudo porque tem dinheiro e não passam dificuldades na vida. Os abismos vão se abrindo e fica mais difícil as realidades se descobrirem. Para uns, o transporte coletivo é no máximo um avião ou um trem na Europa e nem se dão conta das mazelas e benefícios dos nosso próprio transporte porque aqui ... eles não se misturam! Se para muitos, e eu me incluo nessa... pensar nas disparidades e dar uma cesta básica, ou uma roupa velha aqui e ali é a forma de ser solidário, outros ignoram completamente realidades alheias. Quando as pessoas passam a operar por si mesmas, não tendo uma noção de pertencimento a um grupo fica cada vez mais difícil reaproximar diferentes lados ... mesmo que não sejam completamente opostos.
Então para você que nunca pisou numa favela, e não tem noção do que se encontra por lá pode se pensar que falta tudo, dinheiro, água, saneamento, escola, atendimento de saúde, segurança, ordem e organização ... opa! peraí. Em muitos lugares até que se organizam muito bem para vencer as mazelas do dia a dia, nem sempre tem força para ir além das periferias e favelas, mas fazem um bom trabalho. Se você pensa que existe miséria completa, sim existe mas ... pobreza e vida simples não se torna uma miséria quando se tem dignidade e mas se pudéssemos resumir em uma palavra tudo o que falta numa favela, essa palavra seria ... DIGNIDADE. Dignidade para poder exigir, para poder lutar por seus direitos básicos, dignidade para coexistir em igualdade de condições com pessoas menos capazes, dignidade para ser um cidadão de fato, dignidade para comer, estudar, sonhar... morar!
Ter uma casa própria deveria ser uma meta atingível para todo cidadão, muitos nunca vão conseguir isso, outros tantos não vão conseguir nem tentar e outros nunca nem sonharão com isso! Porém toda pessoa tem que morar em algum lugar, para ... viver, chegar do trabalho. Enquanto muitos ainda moram nas ruas, outros até tem uma casinha, nem sempre essa moradia tem condições aceitáveis face a sua precariedade, em outros casos melhores é uma casa para se viver com certa dignidade, mas ... a pessoa não tem, endereço! Pessoas sem CEP são 36,2 milhões no Brasil e isso também é uma forma de não dar a devida dignidade a uma parcela bastante relevante da população.
Uma pessoa sem CEP, não tem acesso a sistemas regulares da saúde, se passar mal não tem acesso a bombeiro, ou ambulância... e o detalhe, muitas vezes essa pessoa paga por isso com os seus impostos incorridos em todo o tipo de serviço e produto, muitas vezes não mora num endereço reconhecido e as empresas de entregas não chegam lá onde ele mora, outras vezes tem que dar endereço de parentes ou amigos ou mesmo pagar taxas extras em associações de moradores para receber entregas de compras de internet, mas não tem provedor forma de internet, ou de luz e esse tipo de situação abre um mercado para milicias que controlam áreas inteiras de uma cidade.
Uma pessoa sem CEP perde em situações tão corriqueiras onde é preciso dar um comprovante de endereço e isso vai desde conseguir um emprego formal até arrumar um provedor de internet ou ter um plano de celular pós-pago! Nesse último caso um plano pré pago com preços caríssimos é a saída para se conectar ao mundo e hoje em dia quando falamos de alguém prejudicado pela falta de internet, podemos interpretar como exclusão social!
Novas soluções estão sendo criadas para o endereçamento virtual em áreas de risco e excluídas do mapa das cidades, as associações de moradores tem ajudado muito nisso, tecnologias novas de criação de CEP por geolocalização também, criação de um ecossistema logístico operado pelas grandes empresas de comércio virtual, poder público, empresas de tecnologia e com os próprios moradores para fazer entregas nessas áreas, mas tudo isso incorre em custos mais altos para quem muitas vezes não tem condições. No vácuo desse transtorno o crime organizado também começa a operar, ou atrapalhar quem queira atuar de forma honesta nesse mercado crescente, e mais uma vez a dignidades das pessoas cai na lama de um país que não olha pra si mesmo e que não se reconhece quando se vê rico e próspero ou quando se vê miserável com records de lucro e arrecadação do poder público, de bancos e grandes empresas.
domingo, março 12, 2023
O Globo não mostra
Um amigo acredita que toda pessoa pobre esteja influenciada pelo jornal O Globo do Rio de Janeiro, um jornal classes A e B que ele acha que custa pouco para uma realidade brasileira, pois bem além do custo de um jornal de papel ser completamente impensável numa realidade econômica, uma leitura virtual poderia estar acessível para qualquer um, pois todo mundo tem celular hoje em dia, mesmo não concordando muito com essa realidade de que todos tem um celular, para ler um artigo é preciso geralmente uma assinatura virtual, um valor tão irrisório pra ele, que possivelmente esqueceu que existe, mas aí tem o pacote de dados... algo que para ele também é irrisório, mesmo o Brasil sendo o país com o custo de internet mais caro do mundo (considerando-se equipamentos de acesso, sem considerar isso somos o 71º em 114 países pesquisados). Se um morador pobre de periferia no Brasil, conseguisse romper essa barreira econômica, ainda vem um outro ponto mais básico... ele precisa saber ler! Temos 16 milhões de brasileiros completamente iletrados, e 33 milhões que não conseguiriam compreender mais que 3 ou 4 palavras de um artigo do Globo.
Se a influência fosse em relação a televisão que é um veículo passivo de informação que não preconiza a reflexão imediata, aí eu poderia concordar, se a discussão fosse em relação aos mandos e desmandos das organizações Globo que busca os interesses próprios manipulando e distorcendo fatos há décadas ... tudo bem! Mas seu poder de influência só de um dos jornais da organização sobre só uma parcela da sociedade aí é muito pouco e demonstra um total desconhecimento de uma fração ínfima da nossa sociedade perante a imensa maioria desse país. É o Brazil que não conhece o Brasil!
sábado, março 11, 2023
País partido
quinta-feira, fevereiro 23, 2023
A Inteligencia Artificial e o ChatGPT
Serão cada vez mais comuns sistemas de inteligência artificial, na verdade já são muito mais comuns do que a grande maioria da população pensa. Por questões profissionais eu tive que estudar o tema desde muito novo, acabei não me interessando muito por sentir que o mundo não estava preparado para isso há 3 décadas atrás, hoje com o volume de dados disponível e com a capacidade de processamento maior posso dizer que tecnicamente o mundo está mais preparado. Porém sob o ponto de vista de aplicabilidade e pensando sob a ótica social será que estamos preparados para esse salto de evolução ? Mesmo que não estejamos, é um fato irreversível e vamos ter que nos adaptar.
Sou da época em que vi centenas de digitadores serem demitidos porque eu criei um sistema que eliminava a interface humana, digitando textos que já estavam em outro sistema, criei o que chamamos de interface entre sistemas e no exato dia em que meu sistema foi pro ar, vi as pessoas serem demitidas, de início fiquei triste, aos poucos fui percebendo que era inevitável isso, alguns tiveram um acompanhamento da empresa para mudar de rumos e por anos eles já tinham sido avisados que deveriam mudar de profissão que eram os novos datilógrafos, ou como os acendedores de lampião das ruas, em pouco tempo ficariam obsoletos. Para todas essas profissões o impacto da tecnologia foi setorial, para a IA não ... o efeito seria irreversível mudando o rumo de várias profissões ao mesmo tempo e extinguindo várias. Imagine de uma vez só juízes advogados, desembargadores e etc sem trabalho a fazer porque um sistema de IA seria capaz de rever e tratar de todos os processos jurídicos parados há décadas? Imagine diagnósticos médicos feitos por um computador... ou previsão do tempo sem meteorologistas, programadores de computadores em sistemas no-code etc etc ... porém existe o outro lado da moeda que é bem menos cruel. O uso da tecnologia só como ferramenta para aumentar nossa eficiência, jornalistas escrevendo mais rápido, do email do trabalho ou daquela mensagem de aniversário num dia sem inspiração, muita coisa pode ser facilitada com o uso da IA. Estão disponíveis para as funções desde um estudante até a alta gerência, para uma grande empresa ou um freelancer, porém o protagonismo sempre é o do ser humano! Existem nuances do nosso humor, complexidades sutis da criatividade humana, culturas regionais, identidade e outras coisas que nunca serão respondidas por respostas genéricas. A inteligência artificial nunca substituirá profissionais, mas profissionais que usam IA, com certeza vão substituir os que não a usam.
Se pensarmos no ser humano com um ser meramente intelectual podemos estar chegando num limite importante, porém se formos pensar que um ser humano tem todo um lado sensível e psico-espiritual aí o caminho é mais longo e tortuoso para a tecnologia. Acontece que muitos seres humanos são meramente isso ... um ser intelectual! Não se trata da tecnologia alcançando o homem mas o homem se rebaixando ao lugar de uma máquina. Cada vez mais se faz necessário desenvolver habilidades como a de se fazer perguntas, ter uma habilidade de comunicar com empatia, ter criatividade, conhecimento amplo de várias matérias, comunicação assertiva, pensamento crítico e analítico e um tanto de indignação que nos faz mover pra ser mais que uma mera máquina. Enquanto não houver essa clareza, a IA vai seguir aumentando as desigualdades entre as pessoas.
quarta-feira, fevereiro 08, 2023
A vida fala
quarta-feira, outubro 12, 2022
Depressão
segunda-feira, outubro 10, 2022
O amor começa num chute
Não sou mãe ...pela ótica de pai não sei ao certo quando começa o amor pelos filhos, não sei se é no sonho de menino de um dia tê-los, não sei se é no momento em que o sonho se realiza em ouvir que o exame deu positivo, obviamente isso vai variar de pessoa para pessoa. Comigo o momento forte não foi quando eu sonhei, quando eu realizei .. mas foi quando eu concretizei! E não foi quando eu vi ali aquele meninão saindo da barriga da mãe. As preocupações foram tantas que, quando eu soube pelo telefone que o tal exame tinha dado positivo, tive um misto de alegria, amor mas o meu caráter planejador sabia que minha vida viraria de cabeça pra baixo e que a responsabilidade da vida tinha batido em minha porta. Aí vieram os nove meses de transformação, no corpo e na alma da mãe... e no meu espírito, sabia que o legado que eu estava preparando teria enfim um herdeiro a se inspirar nos meus passos. Acompanhar ressonâncias, sentir ele chutando a barriga da mãe (sim, esse é o chute que me referia no título), ou ver o parto não fizeram a minha ficha cair. Eu sempre precisei ficar sozinho para me encontrar em mim mesmo e digerir as emoções, os pensamentos e concretizar as minhas conquistas internamente. Lembro bem do dia ... 24 de abril de 2006, madrugada.. ele dormia calmamente num carrinho do berçario de número 007 eu olhava abobalhado aquela criancinha tão perfeitinha e tão frágil em seus primeiros momentos de vida (afinal quando a vida começa?!?!?), olhei o sol nascendo, sim ... como aquele menino o sol nascia como todos os dias, mas naquele dia nascia pela primeira vez pra ele, ia formando uma cor deslumbrante no céu, a mãe dormia cansada... e ali estava eu, sozinho... eu e ele! Quem fazia companhia para a minha solidão era o fruto de um momento de amor por outra pessoa. Peguei eles nos braços, uma lágrima escorreu dos meus olhos, em silencio, levei ele pela janela e o apresentei para a vida! Veja o seu mundo ! Sussurrei no seu ouvido .... estava começando ali um outro ato de amor.
O segundo filho veio em momento atribulado da minha vida, a ficha com ele deve ter demorado alguns meses mais a cair, quando eu percebi já estava amando aquela criancinha barulhenta de uma forma que transbordava a alma, não me recordava do exato momento em que esse amor veio e depois fui percebendo que era um amor bem mais suave e maduro, não brotou de uma vez só, era um amor que já existia mas que me fez acordar da letargia quando a mãe possivelmente fez brotar o amor dela por ele. Ali eu percebi que os homens só nascem de verdade para a vida quando tornam-se pais, e renascem quando vem os outros filhos. Sempre fui pai .. desde criança os filhos já estavam presentes na minha vida, nos meus sonhos, no meu destino, faltava concretizar. Se mães são como eu e precisam estar sozinhas e sentir a concretização daquilo que está acontecendo com a vida dela, essa concretização vem num chute que dão dentro da sua barriga (e eu não faço ideia da sensação que pode ter isso !!) Ali pela primeira vez a mãe sente a força do que carrega dentro de seu ventre, ali deve brotar o amor que vai carregar até os últimos dias da sua vida.
Eu posso estar sendo machista ou falando de um assunto que desconheço que não me compete, porém é algo que sinto no peito que eu pude sentir sendo pai. Um sentimento que pode até ser imperfeito mas o que é uma imperfeição ... se a perfeição da vida está em entender as imperfeições dela ?
Humanidade encurralada nos sonhos dos mortos
Vivemos num mundo vazio, tomado por informações irrelevantes, por formadores de opinião auto denominando-se influenciadores digitais que determinam o pensamento moderno, os costumes, as atitudes, o consumo. Vivemos numa humanidade à mercê do pouco uso que se faz com o que nos difere do resto das espécies, a inteligência. Mas mesmo assim ainda avançamos como civilização, tendo avanços nas ciências, medicina, criando novas formas de artes, novas formas de interação, de comunicação, indo além dos horizontes já conquistados !
E onde mais poderíamos avançar ? Que novos campos poderiam ser desenvolvidos como a tecnologia dos computadores e celulares? Se tecnicamente a humanidade avançou muito, ainda vemos a brutalidade nas relações humanas, não sabemos lidar com nossa psique, com nosso espírito, temos conceitos distorcidos de tempo, de criação, de existência. Vivemos o que aparentamos, olhamos assustados para o que somos por dentro, não cuidamos do nosso planeta, não protegemos outras espécies, não entendemos os relacionamentos de leis universais e naturais que regem a vida. Não sabemos conviver civilizadamente... O conceito de civilização começou com uma perna quebrada, ali naquele primeiro momento onde os arqueólogos descobriram uma ossada com um osso de fêmur calcificado inicia-se o conceito de civilização e de vida em sociedade. É simples explicar, num período dos homens das cavernas sair para caçar era extremamente arriscado, conseguir uma caça por si só difícil e durante muito tempo os hominídeos viviam cada um por si, uma fratura de perna significaria a inoperância para caçar, o abandono à própria sorte e ... por fim, a morte ! Mas um indivíduo que chegou a vida adulta, com uma fratura calcificada significa que ficou curado e que coube a algum semelhante cuidar dele enquanto ficava curado, esse alguém que teve pela primeira vez a empatia com seu semelhante, reforçou os laços humanos e possivelmente ali naquele esqueleto calcificado brotou pela primeira vez a gratidão! Difícil saber se foram de fato os primeiros fenômenos mas com certeza foram os primeiros que puderam ser registrados, num tempo onde a comunicação como a de hoje nos impedia de registrar a vida da civilização. Mesmo aquele esqueleto calcificando sendo tão igual a nós... nos parece tão distante, mas o DNA é fundamentalmente o mesmo, o que nos difere é o conhecimento!
O vazio é existencial, quando os valores humanos não preenchem nossa existência, a solidez da vida acaba ao menor ato de desespero onde busca-se acabar com ela. A devoção pelo que é belo deu lugar ao que vende e tem apelo comercial, não se busca mais fazer o melhor mas o que pode ser consumido rápido. Com isso não se produz arte, não come-se bem, não há conhecimento e sim informação em demasia, se mortos tem sonhos são almas penadas vagando no vazio mas o vazio é estreito porque nem ele prolifera num terreno tão infrutífero quanto o que vemos agora, gerações perdidas e sem certezas em relação ao futuro, sem construir um futuro, sem esperanças no presente, sem sonhos, sem planos e com muita religião ... muita crença e pouca fé!
domingo, abril 17, 2022
Brasil e a Educação parte 1
Educação é a única solução para o Brasil... educação é o assunto mais relegado do Brasil. É um problema histórico e que tende a ficar mais evidente a medida que impacta diretamente a qualificação educacional e consequentemente as taxas de desemprego histórico que temos atualmente no país. A educação deveria ser a área primordial de um país em desenvolvimento. A busca de novas saídas econômicas, fomentação de inovação, pesquisa de aumento de produtividade, localização de produção que gere uma soberania nacional e independência da nação, esse são só alguns dos potenciais benefícios que justifiquem o investimento em educação, mas por décadas é um assunto velado de que não há interesse político em se investir em educação, pois um povo que pensa não se ajoelha aos pés dos tiranos.
A partir de quando podemos analisar os problemas da educação no Brasil? Podíamos traçar uma linha desde o Brasil colônia, ou tomando por largada os primeiros anos do império, ou da república ... pouco faz de diferença .. os governos Vargas incluíram sim milhões de brasileiros na escola, mas ainda assim deixou uma horda de igual tamanho sem educação, houveram bons programas nos governos JK e Jango mas era apenas pequenos lampejos sem programas de governos estruturados com base na educação, colocando esse ponto como a linha mestra de um governo. Tirando muito pouca coisa de útil em toda a primeira metade do século XX o Brasil chegou aos governos militares nos anos 70 com programas de educação em massa que não buscavam mais que qualificação em educação básica, e uma baixa no analfabetismo funcional. Nada que pudesse animar um país que não podia nem ter conhecimento político, nem exercer sua cidadania plena, programas como o Mobral tinha como meta acabar com o analfabetismo em 5 anos, mas a realidade é que apenas 15% dos que entravam no programa saiam dele, os números de 11 milhões de pessoas atendidas não reflete uma baixa significativa no número de iletrados, falam de uma redução na taxa de analfabetismo na população adulta de 24% para 15% mais um número contestado que melhorias nas condições de professores para ensinar outras matérias, o pais seguiu burro, dominado e subserviente. Vieram os períodos de redemocratização e os lampejos seguiram-se poucos, programas como os CIEPs e CIACs, um pouco mais de organização na gestão do ministério da educação no governo FHC e uma redução lenta, porém constante de uma taxa de 16% nas taxas de analfabetismo em 1992 para 11% em 2002, pouquíssimos 5 pontos percentuais em uma década. Mas partir desse período já podemos buscar algumas referências de ações que possam ajudar a pensar o futuro ... aí vieram os governos do PT.
O primeiro governo Lula foi marcado por pouca prioridade com o tema, uma nova fase de redução da taxa de analfabetismo, se mostrou lenta e nem as referências internacionais de programas na Venezuela, Colômbia, Coréia do Sul, Japão, Holanda ficaram mais claras a um modelo que o Brasil poderia seguir, derrapamos mais uma vez. Quando, em 2006, Cristóvão Buarque se candidatou para presidente tendo como pauta uma proposta concreta para mudar a nação e promover a inclusão social a partir de uma revolução pela educação recebeu míseros 2,5 milhões de votos (2,6% da população). Ali ficou claro que os governos e políticos só seguiam a prioridade que o povo dava para o tema, povo que não pensa não pode ver o seu futuro... Os governos do PT privilegiaram até com certo sucesso, o acesso as universidades mas os índices de desistência se mostraram altíssimos ficando claro que temos problemas na formação da base educacional e no ensino médio, em 2010 a taxa de desistência já era alta 11,4%, em 2014 o percentual de desistências foi de 49%.
Existem raízes históricas e sociais com uma visão pouco otimista em relação ao dados que sugerem queda gradativa nos índices, a condições políticas, econômicas e sociais acabam por determinar as condições em que vai ocorrer a oferta de escolarização, quem terá acesso a ela, qual sua possibilidade de progresso, o nível que poderá ser alcançado. A visão histórica nos coloca diante de parâmetros de uma situação sobre a qual não nos é possível interferir, no entanto nos dá uma clara visão dos fatores que são determinantes para o sucesso de um programa nacional de educação, sem cuidar desses fatores, qualquer investimento em educação será mais uma tentativa temporária e frustrada de erradicar com o analfabetismo, dar qualidade ao sistema, melhorar o desempenho da mão de obra do país e propor uma nova visão de futuro para o Brasil.
Com o uso de novas tecnologias para acesso a educação podemos pensar em sistemas híbridos de ensino, onde aulas presenciais podem tratar de temas que necessitem uma maior interação e de forma virtual seja possível ter temáticas que possam fundir recursos áudio visuais com reflexão. O amplo debate de um modelo de ensino a ser seguindo de forma nacional acaba interrompendo a criação de modelos regionais, as diretrizes devem ser criadas para gestões descentralizadas com fluxos de financiamento educacional sendo geridos por gestores administrativos com formação em educação ou educadores que conheçam as entranhas do sistema burocrático. O tema é complexo e deve ser tratado como prioridade de Estado e não lampejo de um governo. Seja qual for o modelo ele deve ficar a margem de politização, porém as brigas políticas geram uma instabilidade política dentro dos próprios períodos governamentais. Sem nem entrar nas esferas estaduais ou municipais que são um verdadeiro caos, se observarmos a organização federal, que deveria manter o projeto de transformação do país pela educação, vemos um verdadeiro bater de cabeça.
O governo federal em pouco mais de 3 anos já trocou 4 ministros da educação (Milton Ribeiro, Ricardo Velez, Abraham Weintraub, Carlos Decotelli). Nenhum deles com apetite para ver a educação como política pública de Estado. A grande maioria dos ministros foram escolhidos não pelas experiências que puderam ter nas esferas estaduais ou municipais, não por terem em mente um plano educacional para o país e muito menos por entender do asunto. o Mote de se virar ministro da educação no Brasil é ter um viés ideológico parecido com o proposto pelo presidente. O papel de um ministro da educação no Brasil atualmente é conservador e buscar uma guerra ideológica contras as universidade onde florescem 90% da pesquisa no país. Os cortes de financiamento por contingenciamento mostrou que a educação seguia o modelo petista de ser delegada a segundo plano. Os temas eram saber se os universitários fumavam maconha ou liam Marx, se os prefeitos iam pagar propina para construção de escolas e se iam distribuir bíblias aos pastores indicados pelo presidente.
O Brasil perdeu uma pandemia inteira para de estruturar , fez uma olimpíada e um copa do mundo mas ainda segue com 80% dos municípios não tendo mais que 4 escolas, não tem estrutura física, não tem plano pedagógico, não tem valorização do professor, não tem ambição de um plano de ensino remoto, não coloca a educação como pilar essencial para crescimento sócio econômico, o que torna insustentável qualquer outra política nesse aspecto. Fomos um dos últimos países do mundo a acabar com a escravidão, um dos últimos a dar direito ao voto pelos analfabetos, um dos últimos países do continente americano a universalizar o acesso ao Ensino Fundamental, coisa que só aconteceu na década de 2000. Saímos de uma taxa de analfabetismo gigante para cerca de 10% atualmente mas a média de anos nas escolas em 2000 ainda era de 4,9 anos ( o que não dá nem para completar o ensino fundamental), o avanço ocorreu no governo Temer, assim como uma tendência de reforço no ensino médio atuar em tempo integral e o que foi feito disso no atual governo ? Nada!
O pilar do governo bolsonaro são as escolas cívico-militares que sim, são uma boa iniciativa ... na década de 1970, com disciplinas fortes, gastando muito conseguimos um ganho de qualidade na educação que vai nos colocar em outro patamar ... na educação, porque na competitividade econômica seguiremos sendo um pais do atraso. Não é isso que precisamos no século XXI com uma crise de desemprego batendo a nossa porta por conta de defasagem profissional, não competimos mais com outros países para ter uma mão de obra boa, competimos com a tecnologia e a inteligência artificial, a ciência de dados, o IoT, a robótica. A solução volta a ser nos modelos de ensino integral, onde saúde e educação, esporte, lazer e cultura vão se encontrar para enfim ensinar nossas crianças a pensar, ter raciocínio lógico, linguístico, conhecer nossa história e regionalidades. Aprender sobre inovação, gestão, economia doméstica, higiene sanitária, ecologia, tecnologia, ciência. Fazendo um trampolim da agenda educacional já colocaria uma prioridade de estado que estimularia o engajamento dos jovens a ter um futuro melhor. Demonstrar isso através de políticas públicas sérias e duradouras estimula o jovem a ser protagonista da sua vida e os faz sonhar com futuros melhores, isso gera um estímulo para toda a sociedade, o país cresce junto, para bancar o futuro e aí sim poderemos dizer que estaremos construindo uma geração saudável. Enquanto isso o governo está preocupado com a doutrinação ideológica nas escolas, que deve ser combatida mas que sempre existiu... para esse combate ele busca uma outra doutrinação ...a religiosa a forma mais praticada de impedir as pessoas de pensar e de ter uma cultura que não se deixa doutrinar. Seguindo o modelo atual acredito que houve um retrocesso e daria zero para a atual gestão de educação no Brasil, e como vejo esse como o ponto crucial para um bom planejamento de nação não vejo outra justificativa para repetir o zero para qualquer governo que não privilegie a educação como meta de política de Estado.
O impacto da violência na educação
Muito se estuda sobre os impactos econômicos da violência urbana na decadência da cidade, estudos de curto prazo, que indicam os prejuízos por número de homicídios, ou o número de policiais formados que caíram em combate por falta de condições básicas de trabalho enquanto a ferrugem corrói os containers superfaturados das Unidades de Polícia Pacificadora. Ninguém nunca pode estimar quais os efeitos negativos dessa violência, o desperdício de vida e de oportunidades que temos a longo prazo. Da vida interrompida drasticamente num sinal ou do futuro que não veio simplesmente porque morreu no sinal. A vida segue e o tempo faz com que nada disso pareça impactar mais do que o próximo episódio rotineiro do nosso noticiário viciado em notícias fortes.
Educação, que deveria ser a meta básica do país é renegada a segundo plano e ainda sofre um revés diário em função de outras coisas que andam mal, desde o investimento em pesquisa que derrapa na dificuldade econômica, até o aluno que perde as aulas porque pegou dengue. Tudo ... simplesmente tudo impacta o futuro que queremos para as nossas crianças, da sub nutrição na infância, a falta de oportunidade, a educação é o passo atrás que não podemos ter. É o tiro de fuzil que esfacela nossa esperança num amanhã melhor para todos nós.
terça-feira, abril 12, 2022
Brasil e a educação parte 2
Um dos muitos debates paralelos é sobre como alfabetizar, o que deveria ser algo para andarmos para frente passou a ser uma disputa ideológica diante de um cenário gravíssimo que não muda há décadas. Atualmente mais de 50% dos estudantes brasileiros de 8 anos não sabem ler adequadamente e 35% desses não conseguem escrever.
Essa deficiência nos primeiros anos da infância funciona como uma bola de neve, ceifam vidas e futuros. Muitos tem mais dificuldade em aprender depois e começam a reprovar em outras matérias pois não conseguem adquirir a compreensão que estão nos livros, dessa forma abandonam as escolas em poucos anos.
domingo, março 27, 2022
A liberdade mais sagrada é a liberdade de pensar
Como ser livre se temos nosso pensamento preso em ideologias, que não são as nossas, em crenças que nos são impostas, em pensamentos da grande maioria? Um dos maiores desafios que enfrentamos na vida é sermos quem a gente é, e a imposição para sermos massa de manobra começa nas imposições que vem como inocentes expectativas dos nossos pais para a nossa vida, mas o rol de imposições menos inocentes começam com as religiões que forçam o indivíduo a crer aos invés de compreender o mundo em que vivemos, isso cria uma paralisia ao nosso pensar... atrofiamos. Por não pensar, achamos normal consumir a vida dos outros ... alimentando-se do que não é nosso passamos a não ser a gente mesmo. A roupa ...é a da moda, a comida ....é a que vemos todos comerem, o estilo de vida ... é o que passa na televisão, o que é melhor para as nossas próprias vidas ... é o que aparece nas redes sociais.
segunda-feira, janeiro 10, 2022
Loucura de poeta
A tarde transcorre calme e quente, nas ruas o Sol fervilha de gente. O frenesi e o frisson estão em todas as mentes. É um dia normal de uma vida anormal ....ninguém consegue parar .... poucos ouvem a suas respirações, ofegantes e tristes. Os homens passam a vida sem olhar pro lado, sem olhar pro alto, sem contemplar uma estrela, ver o mar ou ouvir o barulho do vento. O mundo inteiro passa silencioso em vidas que se constroem vazias.
Acabou o encanto, acabou a poesia, de viver no balanço do mar, e beber maresia. Então a retidão das linhas entram em nossa casa sem cores, nas linhas de um pré moldado que, no nosso quarto, parece tomar conta da gente ficamos meio que pré moldados também, numa rotina que não tem mais fim, o despertar sempre na mesma hora, o remédio, pegar a agenda, cheklist nos compromissos, reuniões rápidas, reuniões longas, reuniões chatas, decisões, ganhar dinheiro, para poder gastar com coisas que não precisamos depois. Conforto e fartura que nos fazem mal, reconstruir uma roda que gira contra nós! Não sabemos navegar na correnteza do rio, e parece que sempre estamos contra ele mas no controle da situação, e não temos controle de nada. Tudo dentro do nosso celular, a agenda, os compromissos, os contatos, os abraços amigos num like e assim a vida passa, o tempo segue e temos a irreal ideia de poder porque controlamos tudo .. será mesmo ?
Um dia eu ainda pego um barco,eu me deito numa rede ... em rio agitado também tem leito, ando descalço, nado no mar, me jogo na areia, sem compromisso com nada, comendo a comida que encontrar. Olho pro céu a noite contemplando a beleza da vida, o passar do tempo sem contar os minutos, vivo a vida sem freio. Visito as amigos sem programar, roubo sorrisos.. valorizo quem faz questão de me ter por perto. Alguns amores são deixados em lugares escondidos para serem lembrados mais tarde ou esquecidos mais cedo. Arrumo as lembranças, ensaboo a vida. Eis a minha loucura... quando o mundo quer TER, eu só quero TERnura.
segunda-feira, janeiro 03, 2022
Amar é quebrar pedras ... construir estradas
quinta-feira, dezembro 23, 2021
Catavento
Gosto do cata-vento
Que quando venta
Mostra o invisível em movimento
E existe tanto invisível a nossa volta
Que quando menos percebemos
Somos nós que nos movimentamos pela força dele
Nós somos como um cata-vento
Podemos ter uma atitude à mercê do invisível
Podemos nós mesmos catar o vento nos pondo em movimento
É como começar
O que não tem fim
É como amar ... se reencontrando no outro.
É um olhar no espelho, parado e vazio
Mas aí surge uma lágrima contida...
Um sorriso espontâneo ...
Quando um cata-vento roda por nossa ação é como sair de uma encruzilhada
Um destino que deu um nó nas forças do vento
Um caminho que se cruza criando um período estático.
Romper com o parar do vento é tomar uma atitude.
É nos por para girar
E quando nós começarmos a rodar com a força do invisível
É muito difícil parar ...
Rode sempre, não a mercê do vento mas em busca dele...
E se o vento for forte, troque o brinquedo por uma pipa
E deixe o vento te fazer ... voar!
Um passo de cada vez
Se a poesia tivesse um destino, esse destino seria o infinito, porque quando escrevemos uma poesia miramos a alegria que está em todas as coisas muito além do tempo.
Uma poesia mira a beleza do olhar e não os seus olhos, a leitura é só uma ponte entre a palavra realizada e a sonhada eternidade da palavra.
Em passos mansos a poesia se concretiza da inspiração à ideia, do pensamento à ação de escrever, de formatar um sentimento à criação de um texto ... e nesse instante sai do peito passando rápido pelo pensamento um sem freio de ilusões, desejos ... coisas sensíveis aos seres humanos, não se sabe bem porque ? É sempre algo que nos une, um pouco de divindade de termos nascidos assim, tão distantes e tão parecidos. Unidos pela palavra nem tanto, muito mais unidos pelos sentimentos que compartilhamos, e compartilharemos ao longo do tempo.
Novas gerações virão e os sentimentos que nos excitam serão sempre os mesmos, e a poesia estará lá para encher um coração de gratidão por termos lido, de emoção por abraçar nosso peito, de humanidade por nos vermos tão "iguais aos nossos semelhantes". E aí nesse momento descobriremos que a vida é bela.
As pessoas ficam simpáticas percebendo o quanto somos parecidos ao ler um poema ... uma poesia. Descobrem que uma vida é pouca, se é só um pouco de vida. Vivida sendo pouca, sendo pouco vivida.
Vá a um mundo onde eu possa versificar porque que é nesse mundo que se pode ver ao longe e "ver se fica" por lá, esse mundo vai te levar ao infinito das palavras, mas sempre seguindo um passo de cada vez a ponto de podermos voar e a poesia é um voar fora das asas.
sexta-feira, novembro 26, 2021
Noite havaiana
Num tempo entrelaçado entre a distância e o passado... pessoas de longe vão chegando, sorrisos e conversas com um ar de retomada.
O tempo passa .. as coisas mudam .... pessoas chegam cedo, outras tarde, porém ninguém saiu do que já era, e tudo permanece igual.
Ali naquele beira mar, os anseios tem sonhos, os sonhos esperança em se realizar , falamos em futuro e estamos presos em passados. Então o que nos une ? ? Ninguém sabe ao certo... amor ou amizade, coisas difíceis de explicar.
Angústias de filhos, caminhos profissionais, causos ... pouco importa o assunto, pouco importa o que se come, ou o que se bebe. A música ... uma qualquer que não distraia o momento, nada importa além daquele singelo momento presente que tanto esperavam. Ali ... naquele lugar, chinelos se amontoam sem o interesse neles em si.
Quem chegou tem o brilho dos olhos dos momentos presentes, mais lindo que o sol se pondo, mais profundo que o mar, tão intenso como noite de verão com brisa fresca de mar. O vento estufa e entorpece o prazer do reencontro.
O ali naquele lugar há bem pouco era um lá .. tão longe que parecia nunca chegar. Agora é um aqui, todos perto ... embalados com as pétalas da Acácia.
segunda-feira, novembro 15, 2021
A mente de um ateu na morte
Não acreditar em nada !
Extremamente difícil, talvez a mente de um ateu seja muito mais complexa e detenha muito mais auto controle que a de muitos. Isso ocorre simplesmente porque é mais fácil se acreditar em qualquer coisa sem razoar sobre a veracidade das coisas. Simplesmente olhar o Sol e não crer que alguma força maior o colocou ali naquele exato lugar que dista da Terra a ponto de procriar a vida, perceber o tênue equilíbrio de forças monumentais mantém toda a possibilidade de vida. Tempestades solares, atmosfera, gravidade, equilíbrio de astros e átomos isso tudo parece orquestrado por uma força maior mas mesmo assim eles são céticos.
Olhar o milagre da vida e não crer em algum Deus é muito mais complexo que acreditar em qualquer deus charlatão, porém não crer na vida pode ser mais difícil ao meu entendimento que não crer na morte (ou a vida depois dela). Para tentar entender o que é morte, primeiro é preciso entender o que somos, porque afinal se não soubermos exatamente o que somos, como iremos conceber o que irá morrer? Morre corpo, morre alma, morre espírito, mente, memórias, átomos? O que de fato somos??
É certo que o ser humano tem uma tendência a criar verdades e ilusões para atenuar sofrimentos, preservar nosso sistema sensível e consolar nossa mente das verdades dramáticas da vida (só o ser humano tem isso, os outros animais não parecem ter!). Entender que tudo tem um motivo é uma maneira de terceirizar a verdade. Pensar que sempre há algo bom em tudo... um plano maior, é para um ateu um momento de contradição total com a existência de um Deus amoroso. Todos nós queremos esse Deus, que exista um Deus bom, escrevendo certo por linhas tortas e governando a nossa própria vida, que Ele sempre tenha um motivo justo para toda a injustiça do mundo. Será que esse Deus existe exatamente dessa forma? Velhinho, barbudo, caucasiano? E onde fica a auto determinação do Homem? Esse pensamento também não explica a vida e nem a morte, aí entram as religiões, tentando explicar (e nos fazendo crer) todo o mistério da vida (e se pensarmos que a morte também faz parte da vida.... ou do contrário pensar que a vida faz parte da morte, afinal começamos a morrer quando nascemos, como numa ampulheta?).
O que acontece quando morremos? Quem pode dizer ? É uma luz que simplesmente se apaga, uma memória dando reset para nova jornada? O corpo sabe quando vai parar de funcionar ? Ele se desliga abruptamente ou de forma gradual e sensível para libertar o espírito ? Ou não tem espírito na jogada ? Como funciona a máquina humana ? Como querermos crer ou entender Deus se não somos capazes de entender a nós mesmos? A presunção humana as vezes parece maior que o Deus que alguns acreditam.
A respiração para, os movimentos se tornam inconstantes... em seguida o coração para de bombear sangue, órgãos, tecidos, células vão perdendo sua energia, em poucos minutos tudo para mas em alguma fração de tempo que ninguém sabe ao certo o cérebro vai mandar uma mensagem pelos neurónios que ainda estarão ativos, essa mensagem vem por meio de dimetiltriptamina, um composto psicodélico que inibe todos os receptores de serotonina, a glândula pineal que antes estava tão desconexa da vida pela ação de açúcares e conservantes, faz uma liberação abrupta de DMT, o corpo adormece e em lugar das sensações, sonhamos ... imaginamos ... lembramos tudo como um filme que passa, como uma viagem alucinante que nos faz crer que estamos indo para outro plano (é aquele momento em que a vida passa como um filme!). O tempo já não existe mais, tudo se mistura... o futuro acaba, o passado aparece como uma enxurrada no presente. Em breve ele também não existirá mais. O download cerebral cessa, as luzes se apagam, as cortinas se fecham. Nem dor, nem lembrança, nem consciência, não há alma, não há espírito, o corpo ainda tem atividade vital, mas não nossa ... passamos então ao cumprir o papel de devolver para a vida, toda a parte orgânica que tiramos do cosmos. Bactérias, fungos ... bilhões de organismos agora se alimentam de tecidos mortos. A morte gerando a vida numa eternidade biológica, o propósito da decomposição mórbida gerando vida. Novos processos de vida sendo construídos, relacionamento de cadeias de microrganismos interagindo com o que era um humano há poucos minutos. Aí percebemos que o tempo não para. Novas vidas seguem ... cada átomo foi reciclado, perde-se a individualidade e o corpo estará em bilhões de outros corpos como poeira no espaço. O tempo não existe mais para aquela pessoa mas segue seu percurso, sua energia também se extinguiu, mas e sua matéria ?
Do pó viemos ... e para o pó voltaremos. Mas isso é tudo ? Num momento tudo é microscópico, no outro somos a imensidão da vida espalhados pelo cosmos. Quando se morre, morrem tantos sentimentos... mas será que todos eles morrem, a memória de um ente querido será que não o mantem vivo nem que seja na memória alheia ? Alma ... acaba, espírito se solta, vão pra onde ? Vagam como energia no espaço, será que continuam ou será que nunca existiram ? Alguém existiu mas como num virar de página .. passou a simplicidade da vida encontra a compreensão de um ateu.
terça-feira, novembro 02, 2021
TUDO É MAIS RAPIDO E EU CONTINUO SEM TEMPO
-Vivemos numa vida sem tempo ! Áudios acelerados, leitura dinâmica, métodos ágeis, interações curtas, entregas constantes, vidas atribuladas e mais um dia se foi !
sábado, outubro 16, 2021
O país que parece que não é
sábado, abril 03, 2021
Ditadura nunca mais
Usar do artifício de uma ditadura ou de uma autocracia (mesmo que democrática) é atestar nossa incompetência em resolver os problemas na base do diálogo. Sim, dialogar é muito mais difícil porém é a coisa certa a se fazer.
Regimes totalitários nos dão a impressão de que quando chegamos a um nível crítico de caos, só a força impõe a ordem. Esse expediente deve ser uma opção sim ... a última! E com um caminho muito bem definido sob a forma da Lei. Regimes assim incutem no subconsciente humano de que a força se sobrepõe à razão, isso gera desde extrapolação dos limites da lei, por quem deveria cuidar dela e até justificativas para a violência doméstica.
Regimes totalitários impactam uma característica essencial do Ser Humano, a de se contrapor, a de se refletir no oposto a de deixar um amplo e fértil campo de pensamentos disponível para a livre escolha.
Regimes totalitários são a celebração do rompimento com a democracia e o Estado de Direito. É renegar a inteligência humana a um segundo nível, é limitar os pensamentos a uma ou outra teoria. Existem convicções, existem valores morais e essas coisas devem ser priorizadas em relação a tremores repentinos e temporários de uma política de Estado. Esses valores nunca devem ser violados pois viola-se assim a essência humana que nos diferencia do resto do mundo animal.
Não falo mal de uma ditadura de direita ou de esquerda ... a cabeça é redonda para permitir ao pensamento, mudar de direção então pouco importa de que lado esteja o totalitarismo, ele causa mal para ambos os lados da nossa massa encefálica.
sábado, julho 18, 2020
Presunção humana
quinta-feira, abril 30, 2020
Achados de uma pandemia
Pessoas que não moram, que acreditam que viver numa favela é algo vetado para eles, pois não tem renda, não tem meios de sobrevivência, não tem credo ou religião, que estão na subvivência e que aceitam isso. Dalits brasileiros, excluídos da sociedade, sem nome na certidão, sem identidade pessoas sem uma vida de verdade. Pois o entendimento do que seria vida passa pelo entendimento do que viemos fazer aqui, se for simplesmente nascer, morrer, procriar e crescer sim .... são seres vivos, porém se ampliarmos um pouco esse baixíssimo espectro e elevarmos ele para minimamente se desenvolver, não damos condições nenhumas para que essas pessoas possam viver. Criamos, diantes de nossos olhos uma horda de zumbis! Sem lar, sem ler, sem saúde ou orgulho só tem um destino e uma certeza ... terminarão em cova rasa sem nunca terem existido. São o resto...
Entender o que devemos fazer por essas pessoas passa pelo entendimento que tenhamos pela vida e pela humanidade, o que se esperar delas. Que as vidas sejam vazias a ponto de trocarmos os cuidados a seres humanos iguais a nós por um gagget ou pet qualquer ?
Pessoas que carregam no estomago seus objetivos de um dia, da vida inteira, que tem a fome na frente da moral, uma poluíção social que não aparecem nas fotos, são escondidos das festas e dos paraísos de cartão postal. Sem dignidade sem teto pra morar nem por isso deixam de ser Humanos e brasileiros tão fortes e resistentes quanto nós. As ONGs pouco fazem pois não são organizados, são dispersos, pingados. Eis que se abre agora uma oportunidade de descobrí-losem meio a uma tempestada pandêmica, como um furacão que revolve a areia da praia, que tira a espuma do mar bonito para que encontremos tesouros perdidos na praia. Sim, eles são tesouros, uma forma de redenção ... não a deles, a nossa! Temos que exterminá-los, mas não os matando... os incluindo! Elevando suas perspectivas, fazendo seu pesadelo acabar e que continuem sendo erráticos mas nunca os esquecidos na multidão.
Podemos pensar que são filhos da miséria e cujo castigo é viver ... mas miséria de quem ? Numa sociedade que só pensa no dinheiro é simples deduzir que a miséria é deles porém se elevarmos noss pensamento para a miséria humana podemos também concluir sob outro ponto de vista que existe muita miséria humana e nesse caso a miséria é nossa e não de quem não tem perspectivas para sair do lugar. Uma vez que eles precisam de tudo e não lhes damos nada e isso inclui muito mais que dinheiro ou meios de sobrevivencia. Não lhes damos nem um olhar, não lhes estendemos um braço, um afeto, uma chance. Se já nascem fracassados, não foram eles que fracassaram, não são batizados, não são vacinados ... vão morrer e ninguém vai se importar, uns vão ter um alívio de um problema resolvido.
Ledo engano o problema real vive dentro de nós ! Mais um problema que deve ser descoberto dentro de uma pandemia.