terça-feira, março 19, 2013

O recado aos mais novos

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O contexto dessa música é o fim dos anos de chumbo e uma enfraquecida ditadura que ainda tentava se fortelacer com a força, pela opressão e pela censura. E para dribar essa última era comum o uso criativo metáforas para dar forma disfarçada à crítica. São inúmeras as músicas escritas nas entrelinhas que as tornam mais fortes e mais brilhantes, mas uma em específico virou hino!
Hino de toda uma nação, cantada sem oposição e bem debaixo do nariz da repressão. Virou a canção que nos remete à luta pela anistia ampla, geral e irrestrita.

A música contém uma mensagem de esperança e otimismo ao povo brasileiro, evidenciado na última estrofe. O movimento pela anistia deu resultado, e em 1979, com a ditadura já enfraquecida, foi promulgada a Lei da Anistia. Seis anos mais tarde, em 1985, o regime militar chegava ao fim, era iniciada uma nova era na política brasileira. Mas Elis não chegou a presenciar esse momento, pois morreu no dia 19 de janeiro de 1982.



O Bêbado e A Equilibrista

Elis Regina (João Bosco e Aldir Blanc)

 Um bêbado embriagado nos momentos conturbados
Uma equilibrista se equilibrando entre o que era certo e errado
Assim era a rotina durante os dias de ditadura
Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...
Os anos de progresso do milagre economico chegam ao fim como a tarde
O viaduto Paulo de Frontin desaba no Rio em 1971
Um pavilhão desaba na mesma época em Belo Horizonte
As sessões de tortura começavam ao cair da tarde
Carlitos é uma figura poética, um andarilho de chapéu-coco, pobre mas um cavalheiro
Um personagem que vive a contradição de um alegre e melancólico vagabundo
Um bêbado que parece de luto

A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
A lua, é referência a noite e a escuridão do período 
(com torturas, exílios, desaparecimentos e famílias dilaceradas) 
A lua rouba sua luz do sol 
 como proprietária do prostíbulo, rouba-o das suas empregadas;
As luas são  os políticos que se “venderam” ao regime militar (as estrelas)
em troca de "aluguéis" (benefícios pessoais).

E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
 Nuvens tampam a luz do sol como a censura que com controles e atitudes punitivas para aqueles que “manchassem” a ordem presente na ditadura.
Nuvens são censores, torturadores e todos aqueles que operavam o regime
 
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil.
Meu Brasil!...

Aqueles que são contra o regime são bebados, loucos, equilibristas
O Chapéu - coco de Carlitos, também é uma alusão aos capacetes das forças armadas
Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...
O irmão de Henfil, era o exilado Betinho, sociólogo. 
Que partiu em exílio (num rabo de foguete).
A Pátria mãe gentil que deveria nos proteger, nos tortura
Maria era esposa de Manuel Fiel Filho, torturado e morto sob a acusação de ser do PCB
 embora seu real crime tenha sido ler o jornal A Voz Operária
Clarisse, a esposa de Vladimir Herzog,  
que teve um suicídio por enforcamento muito mal forjado em uma cela do DOI-CODI.
mulheres no plural para enfatizar que o sofrimento eram de todas

Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...
A dor pungente imposta pelo regime não será inútil pois uma nova esperança
alimenta esse momento de anistia
Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...
os equilibristas, artistas e loucos 
vão se equilibrando na tênue linha do que era subversivo ou não
e que pode acabar em tortura

Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...
Os artistas que continuam a lutar contra a ditadura
A democracia já aparece florescente 

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