domingo, abril 17, 2022

Brasil e a Educação parte 1

Educação é a única solução para o Brasil... educação é o assunto mais relegado do Brasil. É um problema histórico e que tende a ficar mais evidente a medida que impacta diretamente a qualificação educacional e consequentemente as taxas de desemprego histórico que temos atualmente no país. A educação deveria ser a área primordial de um país em desenvolvimento. A busca de novas saídas econômicas, fomentação de inovação, pesquisa de aumento de produtividade, localização de produção que gere uma soberania nacional e independência da nação, esse são só alguns dos potenciais benefícios que justifiquem o investimento em educação, mas por décadas é um assunto velado de que não há interesse político em se investir em educação, pois um povo que pensa não se ajoelha aos pés dos tiranos. 

A partir de quando podemos analisar os problemas da educação no Brasil? Podíamos traçar uma linha desde o Brasil colônia, ou tomando por largada os primeiros anos do império, ou da república ... pouco faz de diferença .. os governos Vargas incluíram sim milhões de brasileiros na escola, mas ainda assim deixou uma horda de igual tamanho sem educação, houveram bons programas nos governos JK e Jango mas era apenas pequenos lampejos sem programas de governos estruturados com base na educação, colocando esse ponto como a linha mestra de um governo. Tirando muito pouca coisa de útil em toda a primeira metade do século XX o Brasil chegou aos governos militares nos anos 70 com programas de educação em massa que não buscavam mais que qualificação em educação básica, e uma baixa no analfabetismo funcional. Nada que pudesse animar um país que não podia nem ter conhecimento político, nem exercer sua cidadania plena, programas como o Mobral tinha como meta acabar com o analfabetismo em 5 anos, mas a realidade é que apenas 15% dos que entravam no programa saiam dele, os números de 11 milhões de pessoas atendidas não reflete uma baixa significativa no número de iletrados, falam de uma redução na taxa de analfabetismo na população adulta de 24% para 15% mais um número contestado que melhorias nas condições de professores para ensinar outras matérias, o pais seguiu burro, dominado e subserviente.  Vieram os períodos de redemocratização e os lampejos seguiram-se poucos, programas como os CIEPs e CIACs, um pouco mais de organização na gestão do ministério da educação no governo FHC e uma redução lenta, porém constante de uma taxa de 16% nas taxas de analfabetismo em 1992 para 11% em 2002, pouquíssimos 5 pontos percentuais em uma década. Mas partir desse período já podemos buscar algumas referências de ações que possam ajudar a pensar o futuro ... aí vieram os governos do PT.

O primeiro governo Lula foi marcado por pouca prioridade com o tema, uma nova fase de redução da taxa de analfabetismo, se mostrou lenta e nem as referências internacionais de programas na Venezuela, Colômbia, Coréia do Sul, Japão, Holanda ficaram mais claras a um modelo que o Brasil poderia seguir, derrapamos mais uma vez. Quando, em 2006, Cristóvão Buarque se candidatou para presidente tendo como pauta uma proposta concreta para mudar a nação e promover a inclusão social a partir de uma revolução pela educação recebeu míseros 2,5 milhões de votos (2,6% da população). Ali ficou claro que os governos e políticos só seguiam a prioridade que o povo dava para o tema, povo que não pensa não pode ver o seu futuro...  Os governos do PT privilegiaram até com certo sucesso, o acesso as universidades mas os índices de desistência se mostraram altíssimos ficando claro que temos problemas na formação da base educacional e no ensino médio, em 2010 a taxa de desistência já era alta 11,4%, em 2014 o percentual de desistências foi de 49%.

Existem raízes históricas e sociais com uma visão pouco otimista em relação ao dados que sugerem queda gradativa nos índices, a condições políticas, econômicas e sociais acabam por determinar as condições em que vai ocorrer a oferta de escolarização, quem terá acesso a ela, qual sua possibilidade de progresso, o nível que poderá ser alcançado. A visão histórica nos coloca diante de parâmetros de uma situação sobre a qual não nos é possível interferir, no entanto nos dá uma clara visão dos fatores que são determinantes para o sucesso de um programa nacional de educação, sem cuidar desses fatores, qualquer investimento em educação será mais uma tentativa temporária e frustrada de erradicar com o analfabetismo, dar qualidade ao sistema, melhorar o desempenho da mão de obra do país e propor uma nova visão de futuro para o Brasil.

Com o uso de novas tecnologias para acesso a educação podemos pensar em sistemas híbridos de ensino, onde aulas presenciais podem tratar de temas que necessitem uma maior interação e de forma virtual seja possível ter temáticas que possam fundir recursos áudio visuais com reflexão. O amplo debate de um modelo de ensino a ser seguindo de forma nacional acaba interrompendo a criação de modelos regionais, as diretrizes devem ser criadas para gestões descentralizadas com fluxos de financiamento educacional sendo geridos por gestores administrativos com formação em educação ou educadores que conheçam as entranhas do sistema burocrático. O tema é complexo e deve ser tratado como prioridade de Estado e não lampejo de um governo. Seja qual for o modelo ele deve ficar a margem de politização, porém as brigas políticas geram uma instabilidade política dentro dos próprios períodos governamentais. Sem nem entrar nas esferas estaduais ou municipais que são um verdadeiro caos, se observarmos a organização federal, que deveria manter o projeto de transformação do país pela educação, vemos um verdadeiro bater de cabeça. 

O governo federal em pouco mais de 3 anos já trocou 4 ministros da educação (Milton Ribeiro, Ricardo Velez, Abraham Weintraub, Carlos Decotelli). Nenhum deles com apetite para ver a educação como política pública de Estado. A grande maioria dos ministros foram escolhidos não pelas experiências que puderam ter nas esferas estaduais ou municipais, não por terem em mente um plano educacional para o país e muito menos por entender do asunto. o Mote de se virar ministro da educação no Brasil é ter um viés ideológico parecido com o proposto pelo presidente. O papel de um ministro da educação no Brasil atualmente é conservador e buscar uma guerra ideológica contras as universidade onde florescem 90% da pesquisa no país. Os cortes de financiamento por contingenciamento mostrou que a educação seguia o modelo petista de ser delegada a segundo plano. Os temas eram saber se os universitários fumavam maconha ou liam Marx, se os prefeitos iam pagar propina para construção de escolas e se iam distribuir bíblias aos pastores indicados pelo presidente.

O Brasil perdeu uma pandemia inteira para de estruturar , fez uma olimpíada  e um copa do mundo mas ainda segue com 80% dos municípios não tendo mais que 4 escolas, não tem estrutura física, não tem plano pedagógico, não tem valorização do professor, não tem ambição de um plano de ensino remoto, não coloca a educação como pilar essencial para crescimento sócio econômico, o que torna insustentável qualquer outra política nesse aspecto. Fomos um dos últimos países do mundo a acabar com a escravidão, um dos últimos a dar direito ao voto pelos analfabetos, um dos últimos países do continente americano a universalizar o acesso ao Ensino Fundamental, coisa que só aconteceu na década de 2000. Saímos de uma taxa de analfabetismo gigante para cerca de 10% atualmente mas a média de anos nas escolas em 2000 ainda era de 4,9 anos ( o que não dá nem para completar o ensino fundamental), o avanço ocorreu no governo Temer, assim como uma tendência  de reforço no ensino médio atuar em tempo integral e o que foi feito disso no atual governo ? Nada!

O pilar do governo bolsonaro são as escolas cívico-militares que sim, são uma boa iniciativa ... na década de 1970, com disciplinas fortes, gastando muito conseguimos um ganho de qualidade na educação que vai nos colocar em outro patamar ... na educação, porque na competitividade econômica seguiremos sendo um pais do atraso. Não é isso que precisamos no século XXI com uma crise de desemprego batendo a nossa porta por conta de defasagem profissional, não competimos mais com outros países para ter uma mão de obra boa, competimos com a tecnologia e a inteligência artificial, a ciência de dados, o IoT, a robótica. A solução volta a ser nos modelos de ensino integral, onde saúde e educação, esporte, lazer e cultura vão se encontrar para enfim ensinar nossas crianças a pensar, ter raciocínio lógico, linguístico, conhecer nossa história e regionalidades. Aprender sobre inovação, gestão, economia doméstica, higiene sanitária, ecologia, tecnologia, ciência. Fazendo um trampolim da agenda educacional já colocaria uma prioridade de estado que estimularia o engajamento dos jovens a ter um futuro melhor. Demonstrar isso através de políticas públicas sérias e duradouras estimula o jovem a ser protagonista da sua vida e os faz sonhar com futuros melhores, isso gera um estímulo para toda a sociedade, o país cresce junto, para bancar o futuro e aí sim poderemos dizer que estaremos construindo uma geração saudável. Enquanto isso o governo está preocupado com a doutrinação ideológica nas escolas, que deve ser combatida mas que sempre existiu... para esse combate ele busca uma outra doutrinação ...a religiosa a forma mais praticada de impedir as pessoas de pensar e de ter uma cultura que não se deixa doutrinar. Seguindo o modelo atual acredito que houve um retrocesso  e daria zero para a atual gestão de educação no Brasil, e como vejo esse como o ponto crucial para um bom planejamento de nação não vejo outra justificativa para repetir o zero para qualquer governo que não privilegie a educação como meta de política de Estado.




O impacto da violência na educação

A cena é impactante mas comum .... 10:40 de uma manhã que seria tranquila, as inspetoras do colégio público que está caindo aos pedaços pedem rapidamente que as crianças interrompam suas atividades para que possam se abrigar de um tiroteio que ocorre na imediações. É aula que se perde, raciocínio cortado no meio, medo virando o foco já tão difícil em tempos em que os alunos andam com celular no bolso. Outra cena similar acontece a poucos quilômetros dali, o alvo porém é uma creche particular onde os pais são acionados para rapidamente levarem as crianças pra casa pois, por ordem do tráfico de drogas, todos os estabelecimentos da imediação devem ser fechados. Nessa mesma manhã, o trânsito intenso na cidade é causado por um tiroteio que fecha a principal via de acesso para a faculdade, os alunos perdem aula, o Brasil vai perdendo aos pouco o seu futuro. A aprendizagem é interrompida, os traumas vão sendo criados. O promissor pesquisador é morto a tiros num assalto ao seu ônibus, um professor de química tem seu carro roubado e também morre deixando os alunos sem aula, sem motivação mas com questionamentos intensos, sobre seus objetivos de vida, com um medo que contrai o pensamento e faz aos poucos surgir um sentimento de vingança e ódio. Um estudante entra na escola com uma machadinha matando os colegas aos montes, vociferando seu ódio do nada e acumulando mortes como num videogame, partindo vida, causando lamento das oportunidades que não vieram enquanto o futuro de muitos cai pelo chão e derrama como lágrimas nos olhos dos colegas.

Muito se estuda sobre os impactos econômicos da violência urbana na decadência da cidade, estudos de curto prazo, que indicam os prejuízos por número de homicídios, ou o número de policiais formados que caíram em combate por falta de condições básicas de trabalho enquanto a ferrugem corrói os containers superfaturados das Unidades de Polícia Pacificadora. Ninguém nunca pode estimar quais os efeitos negativos dessa violência, o desperdício de vida e de oportunidades que temos a longo prazo. Da vida interrompida drasticamente num sinal ou do futuro que não veio simplesmente porque morreu no sinal. A vida segue e o tempo faz com que nada disso pareça impactar mais do que o próximo episódio rotineiro do nosso noticiário viciado em notícias fortes.

Educação, que deveria ser a meta básica do país é renegada a segundo plano e ainda sofre um revés diário em função de outras coisas que andam mal, desde o investimento em pesquisa que derrapa na dificuldade econômica, até o aluno que perde as aulas porque pegou dengue. Tudo ... simplesmente tudo impacta o futuro que queremos para as nossas crianças, da sub nutrição na infância, a falta de oportunidade, a educação é o passo atrás que não podemos ter. É o tiro de fuzil que esfacela nossa esperança num amanhã melhor para todos nós. 


terça-feira, abril 12, 2022

Brasil e a educação parte 2

Enquanto debates políticos dividem o Brasil existe uma tendência a politizar tudo e assim dividir e corroer ainda mais a nossa sociedade.
Um dos muitos debates paralelos é sobre como alfabetizar, o que deveria ser algo para andarmos para frente passou a ser uma disputa ideológica diante de um cenário gravíssimo que não muda há décadas. Atualmente mais de 50% dos estudantes brasileiros  de 8 anos não sabem ler adequadamente e 35% desses não conseguem escrever.
Essa deficiência nos primeiros anos da infância funciona como uma bola de neve, ceifam vidas e futuros. Muitos tem mais dificuldade em aprender depois e começam a reprovar em outras matérias pois não conseguem adquirir a compreensão que estão nos livros, dessa forma abandonam as escolas em poucos anos.

Já tivemos muitas gerações perdidas, e outras tantas seguirão pelo mesmo caminho se não forem definidas como prioridade temas que coloquem a educação como prioridade maior desse país, em poucos anos a relevância do Brasil no cenário econômico mundial será mínima, visto que não termos know how sobre os meios de produção e de tomada de decisão, perderemos competitividade industrial, de geração de energia e só seremos relevantes na produção agrícola e de outra commodities porque são baseadas em exploração e mecanização do nosso imenso território. 

Onde não se sabe ler corretamente , não se pode lutar por direitos políticos, por direitos humanos, contra a violência autoritária do Estado. O Brasil sempre criou a ilusão de ser o país do futuro e simplesmente não investe no futuro. Esse futuro está em nossas crianças, que estão desnutridas e indo estudar em condições precárias, precisamos de um salto de qualidade, de abrangência, precisamos de gestão eficiente da máquina administrativa. Precisamos de garantias de investimento, de planejamento, não iremos para nenhum lugar enquanto não tivermos a pedra fundamental do crescimento de uma nação posta como política de Estado.