domingo, abril 17, 2022

O impacto da violência na educação

A cena é impactante mas comum .... 10:40 de uma manhã que seria tranquila, as inspetoras do colégio público que está caindo aos pedaços pedem rapidamente que as crianças interrompam suas atividades para que possam se abrigar de um tiroteio que ocorre na imediações. É aula que se perde, raciocínio cortado no meio, medo virando o foco já tão difícil em tempos em que os alunos andam com celular no bolso. Outra cena similar acontece a poucos quilômetros dali, o alvo porém é uma creche particular onde os pais são acionados para rapidamente levarem as crianças pra casa pois, por ordem do tráfico de drogas, todos os estabelecimentos da imediação devem ser fechados. Nessa mesma manhã, o trânsito intenso na cidade é causado por um tiroteio que fecha a principal via de acesso para a faculdade, os alunos perdem aula, o Brasil vai perdendo aos pouco o seu futuro. A aprendizagem é interrompida, os traumas vão sendo criados. O promissor pesquisador é morto a tiros num assalto ao seu ônibus, um professor de química tem seu carro roubado e também morre deixando os alunos sem aula, sem motivação mas com questionamentos intensos, sobre seus objetivos de vida, com um medo que contrai o pensamento e faz aos poucos surgir um sentimento de vingança e ódio. Um estudante entra na escola com uma machadinha matando os colegas aos montes, vociferando seu ódio do nada e acumulando mortes como num videogame, partindo vida, causando lamento das oportunidades que não vieram enquanto o futuro de muitos cai pelo chão e derrama como lágrimas nos olhos dos colegas.

Muito se estuda sobre os impactos econômicos da violência urbana na decadência da cidade, estudos de curto prazo, que indicam os prejuízos por número de homicídios, ou o número de policiais formados que caíram em combate por falta de condições básicas de trabalho enquanto a ferrugem corrói os containers superfaturados das Unidades de Polícia Pacificadora. Ninguém nunca pode estimar quais os efeitos negativos dessa violência, o desperdício de vida e de oportunidades que temos a longo prazo. Da vida interrompida drasticamente num sinal ou do futuro que não veio simplesmente porque morreu no sinal. A vida segue e o tempo faz com que nada disso pareça impactar mais do que o próximo episódio rotineiro do nosso noticiário viciado em notícias fortes.

Educação, que deveria ser a meta básica do país é renegada a segundo plano e ainda sofre um revés diário em função de outras coisas que andam mal, desde o investimento em pesquisa que derrapa na dificuldade econômica, até o aluno que perde as aulas porque pegou dengue. Tudo ... simplesmente tudo impacta o futuro que queremos para as nossas crianças, da sub nutrição na infância, a falta de oportunidade, a educação é o passo atrás que não podemos ter. É o tiro de fuzil que esfacela nossa esperança num amanhã melhor para todos nós. 


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