sábado, março 11, 2023

País partido

Que vivemos num país partido todos já sabem, que nossas divisões socioeconômicas
 são imensas, chegamos a estudar nas escolas sem nunca conseguir ao menos reduzir nossos abismos, também sabemos. Mas atualmente existe uma nuance desse abismo social que tem crescido, a falta de empatia e intolerância de parte a parte tem trazido para a política um vies de pais. 

Campanhas publicitárias, políticas públicas, oportunismos de mercado até tentam aproximar minorias da maioria, como nos casos de negros, mulheres, homossexuais, trans, e toda uma sopa de letrinhas que nos fazem nos perder nas palavras e ações conjuntas para criar um país de todos, isso já virou slogan de governo! Mas algo que ainda não consegue ser rompido é o Gap social entre ricos e pobres. As disparidades são grandes e animosidades crescem a ponto de uns não conhecerem a realidade dos outros. O Brasil não conhece nem o seu padrão de consumo, e se aquela persona que você criou para impulsionar o seu negócio é um branco 35 anos, bem-sucedido, com formação acadêmica, carro na garagem e se matando pra pagar a prestação do apartamento e manter as dívidas controlas esqueça ... Nossa realidade é muito pior! 

Somos cerca de 210 milhões desses, 118 milhões são negros, 108 milhões são mulheres e 165 milhões moram na periferia, então se você ainda não entendeu por que as propagandas estão mudando o seu foco e porque nas novelas existe sempre o núcleo da periferia ... não é lacração, é o Brasil tentando se encontrar depois de um período longo de embriaguez. Se você ainda se assusta com uma passeata gay com 2 milhões de pessoas batendo qualquer comício eleitoral e com ampla divulgação da TV, entenda, são 15 milhões de homossexuais no Brasil e continuamos matando-os por preconceito. Obrigatoriedade de PCDs nas empresas? Imagine deixar 12 milhões de brasileiros a margem do mercado de trabalho, porém a meritocracia impõe que eles atuem melhor que outras pessoas sem problema algum, dentro do padrão não igualitário do Brasil isso é impossível e acaba que o paternalismo artificial acaba por incentivar as empresas a financiar a formação de jovens PCDs. 

Dois terços dos trabalhadores brasileiros conhecem alguém que já sofreu algum tipo de preconceito, discriminação ou humilhação no seu ambiente de trabalho, dentre as maiores causas estão discriminações de raça e orientação sexual, e parte significativa da população ainda acredita que existe muito mimimi por aí, são completamente contrárias às políticas de incentivo e reparação, sejam elas a partir de cotas ou espaços que passaram a ser abertos na mídia. 79% dos brasileiros acham que muitas marcas se aproveitam do combate ao preconceito apesar para fazer propaganda, mas que não tem ações concretas de mudança de realidade. E quando uma população se revolta contra a instituição policial numa favela o termo pejorativo de cambada de favelados bomba nas redes sociais, mas a instituição com maior percepção de discriminação racial no Brasil é a polícia, há de se defender policiais corretos e separar o joio do trigo, porém existe a contrapartida de ver que numa favela não existem só bandidos e que excessos são cometidos de parte a parte, mas a polícia como sendo parte do estado de direito não pode cometer tais excessos, ela deve reprimi-los. 

Se você tiver que repensar sua estratégia de atingir os consumidores no Brasil, entenda que mulheres, negros das classes CDE concentram 80% da intenção de compra do país, se você não atinge essa parte da população você vive para um nicho de mercado e a minoria é você! E preste bem atenção que a concentração não é puramente de consumo, mas de INTENÇÃO de consumo porque nessas classes o dinheiro é contado e é quase impossível consumir de uma forma que não seja por impulso, traçar planejamento financeiro para uma compra mais vultuosa é um esforço em vão pois ao primeiro aperto as economias se vão e essa forma de se consumir também difere o país entre as classes sociais. Classes AB planejam o consumo, praticam consulta de preços, tem acesso a preços e condições melhores de crédito, acessam produtos diferenciados e conseguem de alguma forma praticar um planejamento financeiro, classes CDE não tem acesso a crédito, não sabem o dia de amanhã e consomem o necessário hoje, pagam preços maiores por isso ...e mais abismos se abrem! A verdade é que só 33% da população brasileira tem um "padrão internacional de consumo aceitável" esse índice ainda é baixo e faz com que investimentos no Brasil não sejam viáveis para empresas internacionais e que não consiga alavancar crescimento de empresas nacionais. Daí o esforço para manter uma parcela da população pelo menos perto da margem de consumo optando por políticas públicas de remessa de dinheiro, não é só um assistencialismo barato, é uma forma de impulsionar a economia.
O consumo no Brasil em 2020 foi da ordem de R$4.9 trilhões, nossas disparidades nos levam para R$2 trilhões serem feitos por mulheres, só R$ 1.6 trilhões pela classe CDE, R$2 Trilhões por negros. Podemos dizer que somos um retrato do mundo onde dos US$ 42 trilhões gerados de riqueza entre dezembro de 2019 e dezembro de 2021, US$26 trilhões (63%) ficou na mão de .... 1% da população! Os US$16 trilhões restantes (37%) ficou para todo o resto do mundo junto. Significa dizer que para cada dólar ganha por uma pessoa dentre as mais pobres do mundo, um bilionário ganhou US$1,7 milhão, as disparidades globais não param por aí ... Elon Musk ... o bambambam do dinheiro, pagou uma taxa de imposto real de 3,27% entre 2014 e 2018, uma vendedora de farinha em Uganda, ganha US$80 por mês mas paga uma taxa de imposto de 40%. Se o imposto taxado para bilionários como o Elon Musk fosse de 5% a economia seria impulsionada em US$ 1,7 trilhão por ano e tiraria da miséria 2 bilhões de pessoas. 

Pesquisa e números : Oxfam, Locomotiva, CUFA, PNAD e IBGE.
 


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