quinta-feira, abril 30, 2020

Achados de uma pandemia

Então o Brasil acaba por "descobrir" milhões de desassistidos, pessoas que não aparecem nas listas de CPFs, no SUS, no Bolsa Família, em nenhum programa de assistência do Estado, não são batizados, não são registrados, não são civilizados. Mendigos, indigentes, desocupados, vagabundos ... na verdade são indigestos, restos de uma sociedade que teima em não os ver. Pessoas que não conhecemos, que estão bem abaixo da linha da miséria, que vagam por aí sem que nós os vejamos como seres humanos. Eles não estão escondidos, estão nos sinais, nas esquinas... nós é que não temos olhos para eles! E é estranho não ver uma parcela de pessoas na Era do Big Data, da onipresença dos meios digitais, numa éopca da evolução humana onde ser criam personas virtuais e que não guardamos compaixão com as pessoas reais.

Pessoas que não moram, que acreditam que viver numa favela é algo vetado para eles, pois não tem renda, não tem meios de sobrevivência, não tem credo ou religião, que estão na subvivência e que aceitam isso. Dalits brasileiros, excluídos da sociedade, sem nome na certidão, sem identidade pessoas sem uma vida de verdade. Pois o entendimento do que seria vida passa pelo entendimento do que viemos fazer aqui, se for simplesmente nascer, morrer, procriar e crescer sim .... são seres vivos, porém se ampliarmos um pouco esse baixíssimo espectro e elevarmos ele para minimamente se desenvolver, não damos condições nenhumas para que essas pessoas possam viver. Criamos, diantes de nossos olhos uma horda de zumbis! Sem lar, sem ler, sem saúde ou orgulho só tem um destino e uma certeza ... terminarão em cova rasa sem nunca terem existido. São o resto... 

Entender o que devemos fazer por essas pessoas passa pelo entendimento que tenhamos pela vida e pela humanidade, o que se esperar delas. Que as vidas sejam vazias a ponto de trocarmos os cuidados a seres humanos iguais a nós por um gagget ou pet qualquer ?

Pessoas que carregam no estomago seus objetivos de um dia, da vida inteira, que tem a fome na frente da moral, uma poluíção social que não aparecem nas fotos, são escondidos das festas e dos paraísos de cartão postal. Sem dignidade sem teto pra morar nem por isso deixam de ser Humanos e brasileiros tão fortes e resistentes quanto nós. As ONGs pouco fazem pois não são organizados, são dispersos, pingados. Eis que se abre agora uma oportunidade de descobrí-losem meio a uma tempestada pandêmica, como um furacão que revolve a areia da praia, que tira a espuma do mar bonito para que encontremos tesouros perdidos na praia. Sim, eles são tesouros, uma forma de redenção ... não a deles, a nossa! Temos que exterminá-los, mas não os matando... os incluindo! Elevando suas perspectivas, fazendo seu pesadelo acabar e que continuem sendo erráticos mas nunca os esquecidos na multidão. 

Podemos pensar que são filhos da miséria e cujo castigo é viver ... mas miséria de quem ? Numa sociedade que só pensa no dinheiro é simples deduzir que a miséria é deles porém se elevarmos noss pensamento para a miséria humana podemos também concluir sob outro ponto de vista que existe muita miséria humana e nesse caso a miséria é nossa e não de quem não tem perspectivas para sair do lugar. Uma vez que eles precisam de tudo e não lhes damos nada e isso inclui muito mais que dinheiro ou meios de sobrevivencia. Não lhes damos nem um olhar, não lhes estendemos um braço, um afeto, uma chance. Se já nascem fracassados, não foram eles que fracassaram, não são batizados, não são vacinados ... vão morrer e ninguém vai se importar, uns vão ter um alívio de um problema resolvido.

Ledo engano o problema real vive dentro de nós ! Mais um problema que deve ser descoberto dentro de uma pandemia.





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