sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Honrados presidentes de farda - 74 o ano da virada - parte 5

 O Ano de 1974 foi amplamente comemorado pelas correntes militares opostas, castelistas e costistas se detestavam e haviam desde então se revezado no poder. Geisel entrou para apaziguar ânimos já que o furacão e vigor do governo Médici dava mostras de enfraquecimento, a repressão endureceu e a esquerda ainda dava suspiros, dentro do Brasil e principalmente lá fora, chamando a atenção do mundo para as barbáries que se cometiam aqui. O milagre econômico seguia firme mas a crise do petróleo gerou um rombo na balança comercial. Não havia dinheiro ou benesses para comprar apoio, foi assim a comemoração dos 10 anos de militares no poder no poder.

Geisel entrou para unificar essa turma e preparar as bases para uma reabertura lenta e gradual. Entenda-se preparar a transição como garantir bons ganhos e proteção para cada um que participou da farra do boi dos 10 anos anteriores, Geisel orientou uma mudança radical nos escalões do governo, criou e remodelou estatais, pegou mais dinheiro junto ao FMI para sustentar toda a máquina do governo que crescia para acomodar as duas correntes ideológicas da caserna.

O milagre econômico de 71, o próprio governo sabia que era manipulação estatística e lucro de multinacionais que levavam suas divisas para os países de origem, logo existia pouco a se pagar, mas muito a se barganhar. 

É retomada a produção de Cassiterita em Rondônia por pequenos produtores, nos anos anteriores havia sido proibida e a concessão passou para as mãos  de multinacionais, como a idéia delas era emperrar a produção brasileira a produção caiu e o Brasil passou a importar estanho. Tudo isso foi amarrado por muita pasta de verdinhas, a hora que a remessa de suborno cessou, o governo voltou aos pequenos produtores.

Em 1974 empresários noruegueses associados a tecnocratas brasileiros conseguem enormes empréstimos junto ao BNDES para construir uma fábrica da Borregaard nas margens do Guaíba, enchendo tudo de enxofre e soda cáustica para produzir celulose e vender ao governo por preços superfaturados.

 Companhia de Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco, também em 74, cria barragens contra a seca do nordeste, obras superfaturadas que dão doces na boca da secular elite de corruptos do nordeste, ao invés de irrigar pequenas propriedades de lavradores, o programa beneficia empresas produtoras de álcool, no momento em que já ganhavam muito com a crise do petróleo. Enquanto isso a seca do nordeste afetava 2 milhões de pessoas.

Nuclebrás, uma nova empresa estatal posta na mão de milicos e de gente do Itamarati para criar as bases da bomba nuclear brasileira. Um interesse assim tão ganancioso  merecia, investimentos do mesmo porte, foram anos e anos vastos subsídios, liberalização de gastos e negociatas com pessoal da antiga Alemanha Ocidental. Daí nasceu o tratado de cooperação nuclear para aí sim, compor o modelo nuclear brasileiro, construido com equipamentos obsoletos, erros de projeto e grande aporte financeiro até o governo Collor. Foram US$ 10 bilhões para implantar oito centrais atômicas e usinas de enriquecimento e reprocessamento de urânio. Altos salários, lucros gordos para os banqueiros que intermediariam tudo, gente no governo sorrindo sempre. Tudo ótimo se não fosse a remessa de lixo atômico da Alemanha para o Brasil e a ilusão de que isso nos levaria de elevador para se tornar uma grande potência sem se investir em educação. Nesse caso o segredo de estado escondeu muita falcatrua que viriam a ser descobertos anos mais tarde pela imprensa alemã que denunciava subornos até para o ministro da fazenda Mario Henrique Simonsen.

Ponte Rio Niterói é inaugurada com suspeitas de que tenha sido o maior buraco negro da história do país. E aí vieram depois os superfaturamentos do metro do Rio e de São Paulo, a construção da Torre do Rio Sul e etc etc...

Grupo Financeiro Halles operava financiamentos externos e boa parte do sistema bancário estava amarrado nele, o Banco Central recebia dólares e os comprava emitindo cruzeiros, com os dólares na mão deveria abater dívidas, fazer reservas ou vender. Mas boa parte desse dinheiro era lavado em instituições financeiras. O escândalo não tardou e como existiam grandes figurões do governo envolvidos ... como era regime militar ... ninguém investigou, ninguém foi punido e o povo pagou a conta! E assim vieram mais tarde os escândalos da Corretora Laureano, Grupo Coroa e as mamatas do Open Marketing.



Um comentário:

Juan Marschall disse...

Meu avô trabalhou na Ponte Rio Niteroi como ENgenheiro. Foi o último trabalho dele antes de se aposentar. Ele me contou que controlava a entrada de material e percebeu que os caminhões entravam com o material, entregavam a Nota Fiscal, e dentro de 20 minutos estavam novamente entrando, o mesmo caminhão com outra Nota Fiscal e dando entrada de novo. E dali a 20 minutos, o mesmo caminhão com outra Nota Fiscal e dando entrada de novo. Ele ficou desconfiado e seguiu um caminhão. Descobriu que os caminhões de material (areia, cimento, etc etc etc), entravam no canteiro de obras, NÃO DESCARREGAVAM, davam 10 minutos, e saiam de novo para entrar com NOVA NOTA FISCAL. Ou seja. o mesmo material, era pago 2, 3, 4, 5 vezes. Ele fez um relatório e foi entregar ao chefe dele que estavam roubando dessa forma. O chefe dele rasgou o relatório na cara do meu avô e disse pra ele que se ele quisesse ficar vivo, esquecesse o assunto e fosse cuidar da vida dele, pois aquele esquema era coisa de gente grande. Na semana seguinte ele foi transferido de setor.....