quinta-feira, junho 13, 2013

Sob o caos de uma cidade

No chacoalhar de um ônibus qualquer um homem vende cocadas, ele podia estar roubando... fala algo que não entendo mas coloca alguma culpa no governo do Estado. A noite é fria o chacoalhar inconstante, fico de pé meio triste, meio feliz, estou pleno na minha consciência e observo com calma tudo em minha volta. Ameaço comprar uma cocada para ajudar e lembro da história do solitário milionário, que ao invés de contribuir com instituições de caridade, investir seu dinheiro ou fazer qualquer outra coisa que um rico faria, ele simplesmente entrava nos ônibus, via a penúria do povo e ajudava como podia, uma ajuda momentânea, que não resolvia a vida de ninguém mas que servia como um alento momentâneo. 

Nesse momento esse milionário provavelmente compraria todo o estoque de cocadas  e distribuiria pelo ônibus cheios de olhares cansados... um simples momento que seria mágico para as pessoas desesperançosas de momentos felizes, de comunhão e de afeto.
Sigo pela Central do Brasil, o ônibus ficou pra trás, ando sozinho e o cheiro de urina me enoja... me enjoa, corpos pelo chão, sujos e sem abrigos, rodas de crack, de cola, pivetes tentando fazer um ganho qualquer, a poucos metros dali uma patrulha, a sede do Comando Militar do Leste, a sede da Secretaria de Segurança, um posto de Ordem Urbana onde todos vêem a novela. País de disparidades, constrastes e descaso.

No outro lado da rua uma casa sempre me chama a atenção: de uma sacada, não sei ao certo, um marechal de pijama concluiu um momento histórico para o Brasil e proclamou a república, nascia um país e não uma nação, 100 anos se passaram e ainda buscamos nossa identidade. Continuo a livre caminhada olhando a penúria da vida, quantos contrastes entre uma Ipanema, uma Barra dos Sonhos, uma Tijuca.
A tristeza aperta no meu coração, arrependimentos, choros, saudades ... saudades de pessoas, saudades de uma vida que não vivi, tudo espiritualmente muito controverso, pois nunca pensei que fosse me sentir assim de novo ... tudo na vida é transitório! Do belo sobrado que me chama a atenção vejo uma pequena placa indicando que ali, em 1845 nasceu José Maria da Silva Paranhos Júnior, veio a ser o Barão do Rio Branco endereço incógnito para milhões de pessoas que passam apressadas por aquele lugar todo o dia. Não vejo maiores utilidades em saber de tal informação mas é bom para imaginar como seria a vida num lugar que hoje é sujo e decadente, mas que já foi elegante e importante. Ali se fez política, e história, a metros da casa de Deodoro, quase colada ao senado imperial, onde foi amplamente discutido o projeto da Lei Áurea, que viria a ser assinado pela bisneta de D João VI, em comemoração ao dia do seu aniversário, um ano mais tarde na casa ao lado, a República se instauraria por mãos de um Marechal de Guerra, fraco e doente, mas mesmo assim mais forte que a Dinastia de D João VI, que em frangalhos, depois de romper com os escravocratas, sucumbiria. O centro do Rio me cheira a história e era o lugar da moda em tempos idos, hoje é trocada pela Barra, Ipanema... mundo transitório.   

Vendo a miséria do povo compreendo alguma conexão entre todos esses momentos. A vida passa... as pessoas não se dão conta disso como não se dão conta dos endereços a sua volta, perdidos no caos transitório das suas vidas.

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