segunda-feira, fevereiro 18, 2013

O carnaval de 1984 - Brizola, Manchete, Mangueira e a criação do Sambódromo


"O dia em que a Mangueira voltou a sambar para cair nos braços do povo"

Até 1983, os desfiles das escolas de samba eram realizados em instalações provisórias e o custo de instalação das arquibancadas, além de não seguir processos licitatórios formais, encarecia o espetáculo. Isso tudo inviabilizava dar um salto de qualidade para tornar o evento mundialmente conhecido como um evento belo, e principalmente, organizado.

Em 1983 o recém empossado Leonel Brizola, guardava um ódio das empresas empreiteiras que, segundo suspeita teriam financiado irregularmente candidaturas concorrentes ao governo do estado (possivelmente as de Moreira Franco e Miro Teixeira), além disso a Rede Globo era seu alvo preferido após a descoberta do plano Proconsult que evitava sua vitória nas eleições de 82, diante de tudo isso a prioridade dada ao secretário da cultura (Darcy Ribeiro) era a de acabar com a mamata dos carnavais anteriores, e colocar tudo num patamar de profissionalismo que vemos hoje.

O início da transformação se deu na própria construção do Sambódromo, obra de Oscar Niemeyer, tocada em menos de 1 ano, sofrendo pressões de empreiteiros, bicheiros e do rádio, TV e jornais capitaneados pelo todo poderoso Roberto Marinho. A Rede Manchete de Adolpho Bloch, foi criada em 1983, e diante da difamação da Globo e do terrorismo de esvaziar o espetáculo se negando a transmití-lo, Brizola não pensou duas vezes a conceder a concessão a nova concorrente da Globo.

Contra os donos do samba, os bicheiros, novas regras de disputa foram criadas: os desfiles foram divididos em dois dias (domingo e segunda), e, consequentemente, esses dias valeriam um campeonato cada. Um Super campeonato no sábado seguinte com os três melhores de domingo e segunda-feira de carnaval, além do campeão e o vice do Grupo de Acesso. Isso aumentaria o público em 3 dias de espetáculo, o que faria com que se pagasse o custo da obra num único ano. 

Como um novo ambiente de desfile houve logo uma correria para adaptação técnica dos desfiles e da transmissão, foi alegando essa dificuldade que a Globo se retirou da disputa de transmissão. Coube a recém inaugurada, Manchete fazer acontecer, essa empreitada junto com as escolas e com o público, fez a Manchete cair nos braços do povo, seus técnicos quando entravam na avenida ouviam o coro do público gritando : Manchete, Manchete , Manchete !

Em meio a isso tudo veio a Mangueira passando, já dia claro, o enredo cantava Yes, Nós Temos Braguinha! Era uma mudança na forma de se fazer carnaval, era a inauguração de uma nova emissora, era um povo querendo dizer chega! Era a Estação Primeiro com um samba poético de letra condizente com o homenageado:

Samba Enredo 1984 - Yes, Nós Temos Braguinha

Vem...
Ouvir de novo o meu cantar (canta Mangueira..)
Vem ouvir as pastorinhas
A luz de um pássaro cantor
Yes nós temos braguinha
Bela época
Quando o poeta floresceu
Oh! meu rio
Então cantando amanheceu
Num fim de semana em Paquetá
Ouvi Carinhoso amei ao luar
Laura... que não sai da minha mente
Morena a saudade mata a gente (bis)
Hoje tem fogueira
Viva são joão
Mané fogueteiro
Vai soltar balão
Carnaval!
O povo vibra de alegria
Ao cantar a tua poesia
Será que hoje tudo já mudou
Onde andará o arlequim tão sonhador
Chora pierrô, chora
Se a tua colombina foi embora
Canta!
A mulata é a tal
Salve a lourinha
Dos olhos claros de cristal
É no balancê-balancê,
Eu quero ver balançar
É no balanço que a Mangueira vai passar (bis)


No domingo, a Mangueira era a última a desfilar. Nenhuma escola sabia muito bem o que fazer com outra novidade do desfile daquele ano: a Praça da Apoteose, quando a passarela se alargava. Evoluir com toda a escola, compor espaços com as baianas, ignorar a existência de uma verdadeira praça do samba.. era um mistério o que poderia ser feito naquele espaço. Quando a Mangueira chegou à Apoteose, dentro do prazo estabelecido, ela simplesmente, valendo-se do fato de que nenhuma outra agremiação viria atrás, voltou a percorrer a nova Passarela do Samba de trás pra frente. Fez um segundo desfile. Improvisado como nos velhos tempos, alegre, feliz, brincando... e principalmente nos braços do povo, que gritava  “É campeã!”.

No ano seguinte, a Globo voltou a transmitir os desfiles. Mesmo em dois dias. Mas nunca mais houve uma apresentação como aquela da Mangueira. E só a Manchete registrou !

2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns Brizola pela coragem de combater o Imperialismo da Globo!

Ademir de Souza disse...

O BRASIL TEM QUE ACORDAR DAR VALOR E SEGUIR OS ENSINAMENTOS QUE Brizola nos deixou.

PDT. Vamos Brasil!

COMPOSITOR: Ademir de Souza

EU E VOCÊ E O PDT
VOCÊ E EU E O PDT
EU E VOCÊ E O PDT
VOCÊ E EU E O PDT
VAMOS BRASIL
JÁ SABEMOS O CAMINHO
QUE ENSINOU
LEONEL BRIZOLA
E O DARCI RIBEIRO
SÓ COM TRABALHO E EDUCAÇÃO
TEM-SE DE VOLTA
A ESSÊNCIA DO POVO BRASILEIRO
FESTIVO TRABALHADOR E ORDEIRO
POVO FESTIVO TRABALHADOR E ORDEIRO
HÁ! MEU SENHOR MINHA SENHORA
VAMOS SER A VOS
DO DARCI E DO BRIZOLA
E TRABALHO PRO POVÃO
E CRIANÇA NA ESCOLA
E TRABALHO PRO POVÃO
E CRIANÇA NA ESCOLA
VAMOS LÁ COMPANHEIROS!

https://www.palcomp3.com/ademirfdesouza/