quarta-feira, outubro 03, 2012

A Síndrome da Excelência no Trabalho

A teoria que se aplica no meio empresarial, de uma empresa "aturar" os defeitos de um prestador de serviços mas ter um nível de exigência extremamente alto quanto a outro prestador que simplesmente não falha, pode ter seu paralelo nas relações trabalhistas. 

Um funcionário que sempre faz seu trabalho de maneira como é esperado, mas que chega tarde todo o dia, tem seu ponto de melhoria a ser trabalhado, mas segue com boa avaliação com seu ponto fraco gerenciável. Outro que atrasa na entrega de seu trabalho apesar de ser extremamente pontual, é tido como um profissional "certinho". Tive casos de excelentes profissionais que faziam muito bem seu trabalho... até que algo desse errado. Ao primeiro momento de caos ele se transformava e simplesmente travava. Para resolver qualquer coisa simples, que durante o período de calma ele resolvia, era simplesmente um parto. Ou seja, ele não sabia trabalhar sob pressão e contra uma forte exigência. Isso é algo plenamente gerenciável quando se tem alguma boa vontade, é só não colocar ele a frente de situações como essa sozinho. Outro caso era um profissional quase irresponsável, que era inteligente mas fazia seu horário e nunca estava disponível de 8:00 as 17:00. Porém a qualquer hora que seu celular tocasse ele resolvia o problema dentro das circunstâncias que fossem. A solução para esse caso foi simples e só exigiu boa vontade e flexibilidade, um passou a trabalhar com o outro. Todos tem defeitos que, se são aparentes podem ser até desconsiderados numa avaliação. 

A grande armadilha esta na síndrome da excelência: o melhor funcionário, aquele que sempre tem ótima entrega de resultado, que se comunica bem, que se vira no inglês, que entrega no prazo, tem entendimento sobre seu trabalho, onde se pode depositar responsabilidades e em quem mais se tem confiança. Em geral ele é mais cobrado do que aquele outro funcionário que sempre falha. É ele que trabalha mais, que é mais acionado e ninguém espera uma falha dele, ao primeiro deslize o teor da comunicação de corredor é: "Ele não é tão bom quanto parece!". É um misto de decepção com inveja. 

A avaliação de um funcionário mediano vai considerar seus pontos fortes apesar dos deslises recorrentes, a avaliação do funcionário excelente tende a igualar ele com o mediano pois o defeito sobressai em relação ao bom desempenho e resultado. Essa é uma armadilha que todo o gerente deve ter atenção. O funcionário deve se blindar contra isso da mesma forma como uma empresa, cuidando do seu relacionamento com o "cliente".  

Em quem um gerente quer depositar suas esperanças e ânsia por sucesso? Obvio que a certeza de sucesso é colocar seu funcionário padrão a frente de todas as frentes de trabalho desafiadoras. E aí mora o perigo de uma decepção, ao se colocar um bom funcionário diante de uma furada, as chances de insucesso aumentam muito, se for tudo bem... já teria sido o esperado, se deu errado o funcionário fica marcado como incapaz por um bom tempo. Isso porque ele aceitou algo que vai além do esperado de um outro funcionário mediano. Pior ainda se diante dessa furada o bom funcionário (que possivelmente tem boa visão das coisas) resolver nem aceitar o dito "desafio". Aí a idéia é de que apesar de ser bom, não enfrenta desafios, não tem ganância, não quer crescer, esta na zona de conforto e não sabe liderar. Às vezes ele sabe isso tudo, às vezes ele pode dar conta disso tudo e ele somente (dentro de seus direitos) não quer, naquele momento de sua vida!

Muitos desses bons profissionais passam por grandes decepções ao longo da sua vida de trabalho, eles são exigentes consigo mesmo e ao menor sinal de falha se cobram, são cobrados e acabam em depressão, vivendo ao lado de uma caixa de Prozac ou tendo que conviver com a gastrite crônica. Por serem bons, acreditam que serão sempre bem avaliados, cobram isso ficam obsessivos e quando isso não ocorre pelos mais variados motivos.... caem a procurar outro trabalho. O desempenho positivo se torna invisível por já ser esperado, simplesmente porque o ser humano se acostuma rapidamente com aquilo que é bom.

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