quarta-feira, outubro 16, 2013

Insatisfação e a legitimidade de protestar

Protestos ou maniFESTAção, estamos diante do que afinal ? Professores pedindo aumento de salário ou abusando do direito de greve e usando o povo como massa de manobra? Médicos pedindo melhores condições de trabalho ou alimentando seu já conhecido corporativismo? Durante toda a história, a insatisfação sempre foi maior na cabeça dos jovens (que graças a Deus) tem o ímpeto de mudar o mundo, nem que seja com um novo corte de cabelo, um jeans esfarrapado ou uma tatuagem. Os jovens carregam em si o estopim da mudança, em geral são eles que vão para as ruas e que saem do conforto do lar para abraçar causas (e nem sempre são causas tão nobres).

Analisando alguns dos movimento populares fortes desde os estudantes franceses em 68, vemos os pacifistas americanos contra a guerra do Vietnam mas que se tornaram os yuppies da era Reagan, vemos que foram os jovens que se rebelaram numa China ainda comunista e que clamava por mudanças que vieram a levá-la a potência "capitalista" que é hoje, mesmo sem a tão falada liberdade. Num passado mais recente tivemos eclosão nos subúrbios de Paris, reivindicando inclusive contra a Copa do mundo da França, Seattle em 1999 contra resoluções da OMC, Davos em 2000 contra o Fórum Econômico Mundial, ou Inglaterra em 2010 contra os cortes no orçamento da Educação, um exemplo seguido na Espanha, Grécia em 2011 contra o massacre econômico ou Nova York 2011 no Occupy Wall Street. Mas o que parece ser a grande inspiração dos protestos brasileiros sem dúvida nenhuma é a revolução burguesa ocorrida na França em 1789, porque foram remeter a um ato tão remoto? Existe também a inspiração na Primavera Árabe que até hoje causa rebuliços no mundo, os movimentos na Tunísia em 2010, Egito em 2011 e Líbia em 2011 derrubaram seus governos. Na Síria, Jordânia, Yemen, Argélia e Bahrein ainda existe muita insatisfação. Em todos esses movimentos não se via um líder político único ou uma ideologia predominante, tudo organizado pela internet por jovens que sabiam o que não queriam (corrupção, desemprego, neoliberalismo, ditadura, corte de direitos sociais, alta no custo de vida e descaso dos políticos constituídos) ...mas que não sabem o que realmente QUEREM. 

Devido a descrença nos falidos sistemas políticos esse jovens não se identificam mais com siglas partidárias ou não se vêem encaixotados por alguma ideologia, dessa forma, fica difícil propor melhorias reais ou mesmo aproximar um político que os represente. Gritar nas ruas tem muito mais eco hoje que o voto de anos atrás, mas só gritar parece não adiantar. Quebram, aparecem na mídia seus gritos ecoam muito mais que qualquer "abraço simbólico à Lagoa Rodrigo de Freitas contra a violência" ou mesmo carinhas juvenis pintadas de verde e amarelo, dessa forma nunca conseguiram nada ... o grito que vem das ruas é forte e poderoso, mas se não viesse seguido de algo que o legitimasse não incomodaria tanto, na contramão da ordem estabelecida, pedem renúncias, depredam patrimônio público e símbolos que não os representam (consulados americanos, empresas telefônicas, bancos, o Estado) instituições que passaram anos achacando e lucrando com base na espoliação social. 

Foi esse grito que fez o governo federal acelerar a reforma política (promessa de campanha do primeiro governo do PT, mas já aventada nos 15 anos que se passaram). É a primeira reforma estrutural e falta muito pra acabar, existe ainda a reforma previdenciária, a reforma agrária, a tributária. Porém esse "jovens baderneiros" deviam usar de outras armas, para ganhar de vez a legitimidade que precisam, não basta apontar as mazelas e sim propor soluções viáveis sem a utopia dos tempos juvenis. Não basta quebrar um ponto de ônibus mas usar o transporte coletivo, não basta atear fogo numa empresa de telefonia, mas fazer uso do consumo consciente. Apontar alternativas para o mundo e discuti-las democraticamente, ao invés do velho cenário onde se fertilizam regimes de exceção.

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