quinta-feira, dezembro 15, 2016

Aleppo

Não me sai da cabeça o show de atrocidades que acontecem nesse momento na cidade de Aleppo, não são as primeiras notícias assim, infelizmente não serão as últimas, acontecem lá ... acontecem aqui. Náo precisamos puxar muito da memória e nem recorrer aos abusos da segunda guerra. Genocídios assim ocorreram em Belgrado, no Kosofo, no Iraque curdo, em Zagreb, em Gaza, Líbia. Esse acontece AGORA, causa perplexidade de poucos e indiferença de milhões. 

Caso ainda não saiba o que está acontecendo debaixo de nossos narizes ... em 2011, sob a luz da primavera árabe, jovens picharam muros contra o desemprego e a corrupção do governo Bashar al-Assad, foram reprimidos e torturados por isso. Manifestações se formaram e foram fortemente reprimidas por forças do governo. Criou-se um movimento de ódio cíclico, o povo se levantava contra o governo, esse os reprimia com violência e mais eco formava pelas ruas... formaram-se grupos rebeldes contra o governo e os enfrentamentos chegaram em 2012 a capital Damasco e a segunda cidade do país Aleppo. Eis então que os conflitos criam contorno de guerra sectária islamica entre Sunitas (maioria da população) e Xiitas (grupos pró governo), isto criou uma outra dimensão para o conflito, radicais e jihadistas - partidários da "guerra santa" islâmica passaram a atuar no conflito, entram em cena o Estado Islâmico e a Frente Nusra, afiliada à Al-Qaeda. Criou-se então uma guerra dentro da guerra, com o EI dominando, com truculência, grandes porções do território, não apoiam ninguém nem opositores moderados do governo e nem governistas, a sua entrada no conflito mostra um completo descontrole da região. 

Minorias curdas que fugiam do norte do Iraque também entram no conflito com apoio americano mas evitando o conflito direto com as forças governistas, já a Rússia apoia Bashar al-Assad pois esse defende os interesses de Mosco na região. Os Estados Unidos culpam Assad pela maior parte das atrocidades cometidas no conflito e exigem que ele deixe o poder como pré-condição para a paz. O Irã, de maioria xiita, é o aliado mais próximo de Bashar al-Assad. A Síria é o principal ponto de trânsito de armamentos que Teerã envia para o movimento Hezbollah no Líbano - a milícia também enviou milhares de combatentes para apoiar as forças sírias. Além disso Quatar, Turquia e Jordânia apoiam os rebeldes com bilhões de dólares envolvidos na região.

A ONU estima que em 5 anos a guerra tenha deixado cerca de 400 mil mortos e provocado um êxodo de mais de 4,5 milhões de pessoas do país. Só 10% desses vão para a Europa Ocidental. A ONU disse que são necessários US$ 3,2 bilhões para prover ajuda humanitária a 13,5 milhões de pessoas - incluindo seis milhões de crianças - no país. Cerca de 500 mil pessoas vivem sob o cerco de forças de segurança ou rebeldes. Além disso, 70% da população não tem acesso a água potável. Chegamos então a Aleppo (controlada por rebeldes), onde os grandes grupos brigam para levar alguma vantagem numa futura negociação de paz onde os territórios ocupados podem ser mantidos. Pessoas comuns mandam mensagens pela internet se despedindo por estarem a metros dos conflitos, pais matam suas filhas e esposas para não as deixar serem estupradas até a morte. 250.000 pessoas tentam deixar as zonas leste da cidade em meio a um fogo cruzado entre rebeldes e tropas do governo Sírio.

Essas palavras não acabaram com uma guerra, não salvarão uma vida sequer, no máximo chamará você leitor para uma reflexão sobre como vidas normais são esmagadas por conflitos que se alimentam de ódio, e muitas vezes esse ódio não nasce pela mão de superpotências mas pela falta de humanidade geral que temos ao virar nossas costas contra as injustiças.

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