terça-feira, junho 14, 2016

Olimpiadas do Rio e o seu legado

Eu nunca aceitei grandes eventos faraônicos num país como o Brasil, onde a miséria anda junto com o progresso. Mascarar nossas mazelas para mostrar ao mundo nossa capacidade de organização, nosso calor humano, e nos tirar do sentimento de vira lata foram algumas das estratégias adotadas pelos nossos governantes para promover o país. Teria sido mais direto atacar nossos problemas e nos promover como um lugar sério.

Em meio de um caos político, moral e econômico vamos mais uma vez organizar um grande evento, eu já vi vários ... Rio92, CIMERA, Rio+20, Copa do Mundo, Jogos Militares, Rock in Rio, Pan 2007, Encontro com a Juventude, Copa das Confederações e dezenas de eventos testes. Um calendário invejável como esse nunca houve em qualquer sociedade na história.  Sem dúvida mexe como nosso orgulho e capacidade de organização pois tivemos sucesso até agora mostrando a vocação da cidade para eventos. Mas nossa vocação para o turismo passa por uma organização urbanística melhor, um atendimento aos visitantes mais profissional, por meios de transportes mais dignos, nível de segurança aceitável e por uma educação geral da população para atender bem os turistas. Apesar de ver dezenas de eventos históricos nos meus 40 e poucos anos vi muito poucas obras que mudassem a cara da cidade, que eu me lembre a Linha Vermelha e a Linha Amarela e poucos quilômetros de metro.

Chegamos enfim nas portas dos polêmicos Jogos Olímpicos tão comemorados como conquista para a cidade e é tempo de se refletir se estamos capacitados para organizar mega eventos, minha resposta otimista é ... SIM, apesar de tudo! Quando o rio se candidatou para organizar os jogos olímpicos, o Brasil estava na crista da onda mundial, poucos países se colocavam em condições de abrigar tal evento, cidades como Tóquio, Chicago e Madrid tentavam até sair da estagnação pelo meio olímpico, o Rio ... tentava trazer os jogos para um outro lugar do globo e transformar uma cidade que estava longe de estar estagnada, mas era uma cidade que precisava se reinventar, será que conseguimos ? Aí nesse ponto eu acho que falhamos, mas só o tempo dirá ...

A marca Rio de Janeiro passa a ter uma exposição protagonista mundial, todos os solavancos do processo entrarão na conta, mas o lucro em termos de imagem é quase certo ! É um legado intangível, como o know-how organizacional para cumprir prazos e orçamentos. De concreto mesmo só a transformação de uma grande área da cidade conhecida como região olímpica, o símbolo das mudanças urbanísticas.

Hoje vivemos muito mais a estagnação e um momento de unir o país do que imaginávamos quando começamos a jornada olímpica. Será uma Olimpíada épica, unindo esforços pelos ideais olímpicos e para-olímpicos. Muito mais calorosa que a londrina, muito mais pobre que a chinesa, no Rio teremos uma delegação de refugiados, num momento em que o mundo tenta resolver esse problema e reflete sobre a intolerância. 

O Rio adotou uma política de inclusão frente aos jogos, tendo participação da sociedade civil em muitas questões e colocando a cidade de aproveitando dos Jogos e não só o contrário (diferentemente do que a FIFA costuma fazer com a Copa do Mundo!). Deodoro foi escolhido como sede porque é o bairro com mais jovens abaixo de 18 anos e aí poderemos ver o impacto humano que o ideário olímpico pode causar na juventude.

Investimentos olímpicos (concorde eu ou não ... as informações são da prefeitura).

  • R$ 38,67 Bilhões de gastos
  • Para cada R$1 olímpico outros R$5 investidos no legado.
  • 3 Parques na cidade (Parque Olímpico, Parque de Madureira, Parque de Deodoro)
  • 1 Campo de Golfe que será assumido pela iniciativa privada
  • Uma vila olímpica totalmente assumida pela iniciativa privada
  • 15.000 empregos diretos e 45.000 indiretos.
  • Melhorias viabilizadas sob a desculpa olímpica - linha 4 do metro, BRT, VLT, Porto Maravilha, Saneamento da Zona Oeste, duplicação do Joá.

Todo o orçamento olímpico foi pautado em gerar um legado para a cidade, fazer economia sem a criação de obras faraônicas, podem falar até de corrupção e despedício mas muito possivelmente falaremos de elefantes brancos criados pelos Jogos Olímpicos, a China tinha plenas condições econômicas de criar o Ninho do Pássaro, nós não ! Nossos jogos serão de terceiro mundo, sem luxo e com muito esforço. Serão Jogos Olímpicos sem estádio Olímpico! Todo o orçamento de 39 bilhões de reais veio por um comitê organizador (COI), uma matriz de responsabilidade (composta por diversas esferas governamentais, patrocinadores e empresas público privadas), paralelamente a isso temos a construção de um legado e aí foi destinado boa parte dos investimentos público.

43% (R$16,87 bilhões) foram investimentos públicos, os outros 57%(R$22,2 bilhões) são da iniciativa privada. Todo orçamento que coube ao comitê (R$7,4 bilhões) veio da iniciativa privada, no caso o COI, o dinheiro público foi investido para 40% da matriz de responsabilidade (R$7,07 bilhões) e na construção do legado (R$24,6 bilhões).

Outra estratégia é envolver a empresa responsável pela construção dos espaços com a manutenção dos mesmos, isso garantirá um cuidado melhor com a obra para evitar perdas futuras, um exemplo disso aconteceu com o Golfe, que voltou a ser um esporte olímpico, com isso,  tivemos que parir um campo com dinheiro público que não estava previsto, o resultado foi o maios programa de recuperação de restinga do país com investimento 100% privado pois o mesmo passará à iniciativa privada após os jogos. 

A Arquitetura Nômade entrou de vez nas soluções arquitetônicas brasileiras, a "Arena do Futuro" será desmontada e a estrutura transformada em 4 escolas públicas municipais. O estádio aquático será desmontado e transformado em arenas menores. É a primeira vez que esse conceito acontece nos Jogos.

Hoje os Jogos estão garantidos com 98% das obras prontas, nenhuma crise econômica ou política atrapalharão a realização das Olimpíadas, nenhum atraso nas obras do Velódromo impedirá uma corrida de bicicleta lá dentro. mas algumas perguntas quanto ao legado ainda aparecem quando pensamos em evitar a ressaca olímpica, algumas delas :

  1. Os quartos de hotel vazios, como manter a demanda dos mais de 70 novos hotéis criados?
  2. 15.000 operários sem emprego
  3. Mega empreendimento imobiliário dentro do Parque Olímpico e nas Vilas Olímpicas? E o esgoto ? E a preocupação com o impacto ambiental nas lagoas de Jacarepaguá ?
  4. Mais uma década sem a despoluição da Baía de Guanabara ?
  5. Como confiar nas dezenas de obras feitas às pressas?
  6. As empresas de telefonia estão preparadas para manter a qualidade de sinal ?



Nenhum comentário: