Não me representam

Há meses eu venho observando o cenário político meio que calado e resmungando muito. Já fui politizado mas cansei da hipocrisia das elites e da acomodação das massas, nessa última semana, diante dos patéticos panelaços, povo na rua e tal me perguntei se não seria a hora de ir pras ruas e voltar a discutir política como nos velhos tempos .... e o que eu vejo é que ainda não perderei meu tempo.

Para se mudar um país é preciso mais que insatisfação momentânea, por conta da corrupção, dos preços altos, do alto custo das empregadas domésticas ou do preço do dólar que não vai nos deixar ir pra Disney esse ano. Mudar governos, em geral não muda a essência do que devemos mudar no Brasil ... e temos muito o que mudar.
Lembro da era Sarney (o ex presidente do PDS) com inflação galopante herdada dos militares, ele saiu mas continuou tão presente na sala política do país que ninguém sente saudade dele. Aí veio a primeira eleição pra presidente depois de décadas, discussões em baixo nível mas políticos que mobilizavam o intelecto das massas. Ali nascia Lula dentro de uma esfera nacional, também nascia o fenômeno Collor e sua derrocada relâmpago. Depois veio FHC e ele quebrou o país, Lula renegou toda a esperança que depositavam nele e Dilma já chegou errada... sempre reclamaram de todos eles mas se olharmos nos últimos 20 anos, todos os presidentes foram reeleitos ... FHC, Lula e Dilma receberam a aprovação nas urnas por seus trabalhos feitos num primeiro mandato e mais ... foi nas urnas também que elegemos os políticos que nos representam e que figuram como os grandes líderes para o poder executivo num futuro próximo, nomes como Romário e Tiririca viraram forças políticas. Eles representam todas uma nação, um povo que de coitadinho não tem nada mas que acha que desrespeitando as instituições políticas e partindo pra outros nomes vamos mudar algo por aqui! Ledo engano ... assim mudaríamos os nomes mas não a conjuntura política atual de representar o "jeitinho brasileiro", o "toma lá, dá cá".

Não quero representantes da esperteza desse país, quero a humildade para concluir que em 500 anos ainda não construímos uma nação. Aqui um rico advindo de um BBB é mais apreciado que um  empresário que sustenta famílias com a sua inovação que vira trabalho. Aqui Eikes Batistas se constroem (e destroem) com base na ostentação. Um país que vai perdendo os valores morais a medida que os alunos viram tele expectadores. Trabalhadores passam a ser financiados pelo governo sem nenhuma perspectiva de corte desse laço paternalista. Mas é bom lembrar ... para um governo paternalista tem sempre um povo acomodado. Onde precisamos mudar?

Esse é o país onde a cervejinha do guarda, o avanço do sinal (ou farol), o gato na rede elétrica, de dados, telefone ou água  são coisas normais e corriqueiras, fraudar o imposto de renda é justificável e os que fazem tudo correto são taxados de otários. Somos um país onde empregados roubam patrões e onde patrões exploram empregados, até quando vão, para entender que são mutuamente dependentes ?

Aqui falta desde a pontualidade até a honestidade, onde movimentos de consumo consciente são só uma moda e onde o nacionalismo vale só pra época de copa do mundo. No Brasil se pensa em saúde mas não lavam-se as mãos, se fala em ecologia mas jogam lixo no chão e se consome mais do que o necessário. No Brasil, reclamamos dos preços abusivos do pedágio e das multas mas continuam sendo pegos nos pardais e não achando caro um estacionamento de shopping cobrar o dobro de um pedágio, em prol do comodismo ninguém fica sem estacionar dentro do shopping ou ir de ônibus para que os preços baixem. Ninguém boicota nada, é mais legal fazer a voz das ruas, ser um opositor pelo Facebook e achar que isso é tudo que podemos fazer pelo país.

Falta atitude, falta honestidade, falta educação... mas não venha falar que o governo que tem que prover a educação, cuidar da corrupção... você pode até cobrar que ele faça isso tudo, mas não cabe ao governo mandar dentro da sua casa, do seu trabalho ou da sua consciência.

Mas temos ainda muitas coisas boas e tem muito país por aí com mazelas similares, não adianta ficar comparando os roubos deste governo com o de governos passados, isso tudo só mostra o quando somos roubados ... sempre! Com certeza se o corrupto que roubou menos tivesse a oportunidade do corrupto que roubou mais, teríamos sido roubados MAIS.

E não pense que são sistemas totalitários, ou militarismos baratos que vão mudar isso... essa mudança passa pela consciência do povo, e esse é o melhor do socialismo utópico... pensar no próximo.
Estamos à espera de um grande líder, de uma terceira via, mas ele não vai cair do céu, ele tem que ser formado pela sociedade, e se a sociedade é sadia, teremos um líder saudável a todos, se é uma sociedade corrupta, nada vai mudar. A chave de mudança que queremos para o mundo ... somos nós !

Um abraço
Fabio Carneiro Teixeira Trino

Em tempo ... me considero esquerdista e não populista,  inspirado na social democracia  (não a do PSDB, mas a de Olof Palme na Suécia ou Willy Brandt na Alemanha). Não apoiei as micaretas de 2013 e ainda não me vejo representado nos panelaços de 2015 ou nas passeatas de 2015. Busco uma Terceira via mas que não é assumida nem por Marina Silva, nem pelo PSB e nem pelo PV.

https://www.youtube.com/watch?v=ebzEbjflXkM
https://vimeo.com/122309721