sexta-feira, julho 25, 2025

Culto ao luxo fake que lucra com a alienação coletiva

 Em tempos de redes sociais aceleradas e vitrines digitais infinitas, o culto ao luxo fake se estabeleceu como um fenômeno que vai muito além da estética: ele alimenta uma lógica de alienação coletiva — fabricando desejos, deformando valores e lucrando com a ilusão.

Não é preciso ter para parecer. Essa é a nova regra do jogo.

O cenário atual é dominado por influencers que ostentam marcas de grife, carros de alto padrão e estilos de vida glamourosos — frequentemente sustentados por empréstimos, permutas ou réplicas. Nesse universo, o luxo deixou de ser expressão de sucesso real e passou a ser uma performance: um papel social cuidadosamente encenado para ganhar atenção, seguidores, validação. O consumo virou espetáculo, e quem não entra em cena fica invisível.

Essa encenação não é inofensiva: ela movimenta uma indústria que explora, sem pudor, o desejo por pertencimento. Vendas de produtos falsificados, aluguel de itens de luxo, marcas paralelas e publicidade aspiracional são apenas algumas das engrenagens desse sistema.

As plataformas digitais ajudam a perpetuar o ciclo, recompensando quem parece ter mais — independentemente de como ou por que. Por trás da promessa de sucesso imediato, há uma armadilha emocional. A busca compulsiva por status provoca frustração, ansiedade, baixa autoestima. Muitos consomem como resposta ao vazio, tentando preencher com likes aquilo que falta em si mesmos. Nessa lógica, não há tempo para reflexão, nem espaço para autenticidade: o que importa é ser notado, mesmo que seja só pela casca.

Esse culto ao luxo fake distorce relações, neutraliza a empatia e enfraquece noções importantes como propósito, comunidade e essência. Em vez de fortalecer identidades, uniformiza comportamentos. Em vez de inspirar transformação, promove comparação.

E nesse ritmo acelerado, perdemos o que mais importa: o valor da verdade, do tempo e daquilo que não pode ser comprado. Reconhecer o luxo fake como uma construção vazia é o primeiro passo para romper esse ciclo. É preciso coragem para se desconectar da lógica da aparência e reconectar-se com o que é real: o afeto, a simplicidade, os processos verdadeiros — que não cabem em vitrines, mas preenchem a vida.

Luxo de verdade é viver com significado.




quinta-feira, julho 24, 2025

Quando a evolução nos deixou em pé

Graças a Charles Darwin, fomos capazes de comprovar cientificamente aquilo que já intuíamos: o ser humano, assim como os outros animais e toda a natureza, está em constante evolução. Essa verdade sutil explica as dezenas de inadaptações que ainda habitam nosso organismo — traços herdados de uma vida instintiva que hoje coexistem com uma realidade racional e até espiritual.

Em algum ponto da jornada evolutiva, nossa espécie deu um salto cognitivo que continua envolto em mistério. Alguns atribuem isso ao refinamento da técnica manual; outros à conquista da locomoção bípede, que libertou nossas mãos; há quem defenda que foi nossa alimentação — especialmente entre caçadores-coletores — que despertou a mente, com a ingestão de cogumelos alucinógenos desencadeando novas formas de percepção, imaginação e raciocínio.

Mas por que esse salto não ocorreu em outras espécies?

Fato é que, num momento chave da nossa história evolutiva, nosso corpo mudou drasticamente. As sinapses se aceleraram, os sentidos se refinaram, o poder de cognição expandiu. O cérebro cresceu tanto que já não cabia na antiga estrutura. E para sustentá-lo, erguemos a cabeça, perdemos a cauda, assumimos a postura vertical. Nossos quadris e coluna não estavam prontos, e ainda hoje sofremos com a sobrecarga na lombar, nos joelhos, nas articulações.

Ao se erguer, o humano viu mais longe. Caçou, em vez de ser caçado. A visão tornou-se mais importante que o olfato, a cabeça cresceu precocemente — criando um novo desafio à reprodução. Fêmeas tiveram de reduzir o tempo gestacional para acomodar crânios cada vez maiores. Por isso, somos os recém-nascidos mais dependentes do reino animal: enquanto uma girafa já nasce caminhando, nós precisamos de quase um ano só para dar os primeiros passos.

A verticalidade trouxe ganhos, mas também exigiu compensações. O coração teve que se adaptar para bombear sangue contra a gravidade, o sistema digestivo abandonou o processo de ruminação, dependendo cada vez mais das bactérias intestinais. Os sisos tornaram-se vestígios de uma era em que mastigar exigia mais esforço.

E aqui estamos. Bípedes, cabeçudos, frágeis ao nascer, mas gigantes na imaginação.

A evolução não é um caminho de perfeição, mas de transformações. Ela nos deixou com dores nas costas e joelhos problemáticos, mas também com a capacidade de pensar sobre tudo isso — e de contar a nossa própria história com palavras. 

Se a evolução do corpo nos parece mais perceptível, a evolução mental nos mostra a cada dia como éramos e onde chegamos sem nos dar indícios de onde podemos chegar. Resta a questão espiritual que saiu do medo, passou por crenças e que vai nos levando para um encontro consigo mesmo e com o que chamamos por Deus ... aí sim, a perfeição!


quarta-feira, julho 23, 2025

Você é o que sonhou?

Dar certo na vida. O que isso significa, afinal?
Para muitos, é sinônimo de status, conquistas, posses, uma carreira sólida, uma agenda cheia, um perfil que impressiona.
Mas essa definição quase sempre vem de fora — expectativas sociais, padrões impostos, comparações sem fim.

E se mudássemos o foco?
Em vez de olhar para o olhar do outro, que tal olhar para dentro?
Perguntar, com coragem e ternura:
A criança que eu fui teria orgulho do adulto que sou hoje?

A primeira vez que me deparei com essa reflexão estava num momento difícil da vida, tinha conquistado tudo e por fim estava numa cama sem ter absolutamente nada, carreia em transformação filhos longe, amor perdido, dívidas ... e tudo o que conquistei sendo uma pessoa boa? E os amigos que fiz, naturalmente, preocupados com as próprias vidas. Quem poderia me ajudar? Sem ter algo para enfeitar as paredes brancas de um quarto vazio.... encontrei um velho retrato meu de criança e me olhar todo o dia ... o orgulho do que fui perceber que qualquer quer fosse a saída para minha situação, ela estaria dentro de mim mesmo.

Lembrei desse poema do Fernando Pessoa:


A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa 


Aos poucos fui resgatando minha essência, o sorriso e inocência que sempre tive, parei de me culpar pelo que não fiz, descobri que muitos dos erros não estavam realmente em mim, mas que tinha me perdido no emaranhado da vida.

Criança não valoriza cargo nem currículo. Ela quer leveza, verdade, afeto, liberdade.

Ela acredita no impossível, faz amigos em minutos, chora sem medo e sonha sem limites.
A alma infantil não está preocupada com aparências — ela se importa com sensações.
Com a alegria genuína, com o brilho nos olhos, com a aventura do simples.

E você? Será que hoje você ainda ri como antes?
Você ainda se emociona com uma música, com um pôr do sol, com uma conversa despretensiosa?
Ainda se permite errar e recomeçar?

Dar certo na vida pode ser, sim, conquistar grandes coisas.
Mas também pode ser manter a capacidade de sentir, de amar com inteireza, de brincar mesmo cansado, de cuidar do outro e de si.

Talvez o sucesso seja simplesmente conseguir preservar a alma de criança em meio à dureza dos dias adultos.

terça-feira, julho 22, 2025

Asas ao vento na beleza de final de tarde

O sol do fim da tarde acaricia as asas das andorinhas em voo,
elas cortam o ar como ases indomáveis,
rasgando o céu com a elegância dos que conhecem o vento.

Brincam como se despreocupadas,
mas por trás da dança há propósito —
a eterna busca da natureza para matar a fome.

Num sistema invisível aos olhos distraídos,
as andorinhas seguem o rastro das nuvens de insetos,
voando com precisão, caçando com instinto,
vivendo a rotina selvagem
que sustenta o equilíbrio silencioso do mundo.



segunda-feira, julho 21, 2025

A Linguagem como Território

Falar é uma coisa curiosa. Ao mesmo tempo em que expressamos aquilo que nos torna comuns, revelamos o que temos de mais singular. A linguagem carrega a marca da coletividade e, também, a assinatura da individualidade.

Existe uma cumplicidade silenciosa entre quem escreve e quem lê. As palavras têm o poder de criar laços, mas também de romper acordos — são pontos de conflito e, paradoxalmente, os instrumentos mais eficazes para resolvê-los. Usar a linguagem é quase um milagre: ela transforma ideias em redes invisíveis que nos conectam.

Assim como as palavras se espalham pelas ruas, reinventando a linguagem falada, nossos pensamentos brotam em formas imprevisíveis. A singularidade de uma ideia pode se manifestar por meio de gírias, sotaques, neologismos. Cada letra forma palavras, que se unem em discursos, que constroem relações — e dentro delas, a própria vida.

O português do Brasil, por exemplo, é uma língua única: resultado de uma fusão rica de outros idiomas, uma identidade linguística que se desdobra e se reinventa. Linguagem é uma das maiores riquezas de um povo. E a forma como ela define o mundo ao nosso redor é o que nos eleva a novos patamares de cultura e consciência.

Compreender a língua que se fala vai além do respeito à gramática ou à norma culta. É reconhecer o outro, sua história, sua identidade. Respeitar diferentes formas de expressão é, sobretudo, respeitar culturas diversas — e esse talvez seja um dos grandes desafios da onda civilizatória, especialmente quando se trata dos povos indígenas originários.

Afinal, o que significa "evoluir"? É abandonar formas antigas ou aprender a conviver com a diversidade?

Impor uma cultura não é apenas silenciar outra — é arrancar sua raiz mais profunda. Às vezes, entender corretamente uma palavra pode ser mais poderoso do que qualquer lei: proteger a “terra” para os povos indígenas não é apenas garantir território físico, mas assegurar que ali permaneça viva sua alma, sua visão de mundo, suas raízes e cultura, enfim ... sua conexão com a vida.

 

domingo, julho 20, 2025

No agito da vida ... no enlace de olhar

Quando paramos no corre corre das nossas vidas, repentinamente o pensamento remete para a paz e o silêncio de ter nossas mãos entrelaçadas.
Quando deitamos nossos corpos  cansados na cama o último suspiro do dia nos remete a gratidão de termos um ao outro como porto seguro. 
E se muitas vezes nossas vidas agitadas parecem nos mover para campos opostos, lembramos das razões que nos trouxeram a estarmos juntos. Seguimos assim ... sempre acreditando com esperança de que é possível melhorar, e basta um cinema as segundas feiras, passeio aleatório, um jantar feito às pressas ... Uns momentos juntos para conectarmos novamente um com o outro.

Nos vendo é possível perceber o quão simples é a vida e que o passar do tempo nos faz mais estáveis, mais maduros, mais cautelosos um com o outro.

Vamos seguindo assim .. no agito da vida, no enlace de olhar!

sábado, julho 19, 2025

Vidas em fragmentos - Quando o tempo parava para ouvir um disco

Houve um tempo em que, nas casas, ouvia-se o último disco de um cantor: um trabalho completo, com princípio, meio e fim. Muitos minutos de música que, na maioria das vezes, atuavam como um ator em cena — regidos por um texto, pela cenografia, pelo som e pelos demais atores. Cada faixa compunha uma parte de algo maior, e não o todo. Não era raro visitar um amigo só para ouvir o disco novo do Chico — ou, no mínimo, o compacto de alguma banda. Alguns álbuns continuam inteiros, analisados em sua totalidade, como verdadeiras obras que marcam o tempo.

Aos poucos, as músicas se dividiram entre as rádios. Os grandes sucessos tornaram-se solitários, órfãos das canções que davam sentido ao conjunto. O disco foi perdendo sua essência como unidade artística — uma representação do momento íntimo de um criador. Tudo ficou mais rápido, mais volátil, mais raso. Os livros afinaram, os jornais perderam páginas, conteúdo, escritores, profundidade. Os textões viraram tweets de 256 caracteres. O mundo perdeu a forma.

Busca-se amor platônico nas dedadas do Tinder. Amores ficaram mais inconstantes, fugazes, superficiais. As vidas ficaram vazias. O medo não nos deixa sair de casa, nos impede de nos conectar. Relações se tornaram fugazes. Ninguém entrega corpo e alma à vida. Espera-se pelo fim de semana, pela quarta à noite, pelo dia sem chuva, pelas férias, pela aposentadoria... pelo prêmio da loteria. E, quando se percebe, não se viveu. Não se amou. Não se sofreu.

Perde-se o sentido da vida porque se corre contra o tempo — sem fazer o devido uso dele.

O que sobra são fragmentos de uma vida inacabada como músicas perdidas e solitárias de um disco bom.


Eu e você ....

 Dá pra explicar o que nos faz gostar de alguém? Dizem que a conexão entre duas pessoas não está nas semelhanças, mas sim na compreensão das diferenças.

Ela é de sol, eu sou de sombra.

Ela é música, eu sou silêncio. 

Eu falo e ela não me escuta.

Ela fala e eu não a escuto.

Ela é de malhar e eu de espreguiçar.

Eu acordo feliz e ela mal humorada.

Eu tenho hora pra acordar, ela não!

Ela é do vinho e eu do refri. 

Sou da surpresa, ela precisa de tudo planejado.

Eu planejo e não cumpro .... ela não planeja mas cumpre.

Ela é do stress e eu sou Zen. 

Sou do mar, e ela da areia.

Prefiro calor e ela frio.

Ela canta e eu ouço.

Ela grita e eu respiro.

Como muito e ela pouco.

Ela é TV e eu sou internet.

Eu chamo ... ela não vem !

Amor não necessariamente é algo construído num plano divino em linhas que se encontram ao longo da vida, muitas vezes a relação e o sentimento são construídos a partir de pequenas e grandes decisões. Criadas e protegidas para se manter, porém não há como negar... o sorriso brota, a preocupação vem na cabeça, o cuidado com o outro prevalece e a vida acaba por sorrir prá nós.

Amar é um ato de coragem, é uma ousadia com nós mesmos. É perder um pouco das nossas autoafirmações e convicções para amar o outro, é ceder em prol de um amor conjunto. Ousar é perder nosso chão momentaneamente. Não ousar é perder a nós mesmos....

quinta-feira, julho 03, 2025

Tudo vai

Os minutos passam e a gente não sente, quando percebemos passaram os minutos, as horas ...

Os dias vão se acumulando em pequenos sentimentos de uma vida frívola e frágil.

Semanas vão passando, quando olhamos, já são meses e o ano surpreendentemente acabou.

O ano que começou depois do carnaval passa pelo interminável agosto onde aguardamos ansiosos pelas festas de fim de ano.

O frisson toma conta de nós e contamos os dias para ver mais um ano se acumular em nossas vidas.

 Os anos passam e a gente não sente 

Sentimos a ausência de um ente querido

Sentimos o que dói a alma 

O que cala a voz

O que estremece o corpo

Quando damos por nós, nossos cabelos caíram

Nossa flexibilidade foi embora 

E o que fica são grandes sentimentos, saudades, gratidões

Um olhar pra trás com orgulho e uma vontade de ficar mais um pouquinho pelo mundo.

Quando somos jovens não temos a sabedoria de ver o tempo passar e temos pressa.

Quando somos velhos temos pouco tempo .... e nem por isso temos pressa

Descobrimos que sentir com calma a vida e ver tudo o que passa por nós nos ajuda a pegar um pouco mais do que a vida nos traz.

E um dia tudo se acaba ... não passa mais.

O tempo segue e a vida para.

nos ajuda a pegar

quarta-feira, junho 04, 2025

Vida que vai

Das peças que a vida nos prega, já passei por muita coisa, passei mas nunca, sem pegar algo de bom de uma situação .... uma lembrança, um aprendizado... e as vezes o gosto amargo de um revés fica, mas se desfaz com o tempo.
Deixei um pouco de mim, também deixei um pouco de vida por onde passei, mas aí você me pergunta: deixou a vida ir embora?  Sim, do contrario o que seria?  A vida é uma ampulheta, nascer o que mais é, senão o inicio da morte. 

Não perderia a vida em vivê-la, perderia se ela passasse e eu não vivesse cada oportunidade que ela descortina dentro da rotina que nos adsorve. Ela esta esvaindo-se a cada minuto, a cada segundo? Então o que melhor se faz é viver cada segundo como se fosse o último. A única coisa imutável na vida é que ela pode mudar a cada segundo, inclusive acabar!

domingo, junho 01, 2025

mais um domingo

Chega o fim de mais um domingo, mais uma semana se passou e o sentimento de sucesso e alívio toma conta de mim. Além do trabalho e das centenas de atribuições de quem tenta reconstruir a vida e criar uma nova família. O sentimento de orgulho próprio é por mais um final de semana. Pouco tempo para saber das novidades, conversar, educar, resolver problemas, se emocionar com a perpetuação da vida, criar laços e construir a nossa própria história .... Viver a vida, com que ela nos propõe. 

Foram anos de muito esforço, planejando as coisas conciliando interesses e me colocando numa posição de elo para fazer a vida fluir. E se hoje o orgulho de ver os filhos fortes, inteligentes e construindo a história deles, não era esse mesmo sentimento, lá atrás quando a insegurança me tirava o sono e quando eu não conseguia ter orgulho nem de mim. Fracassar por vezes é perturbador, mas se fracassei no casamento, espero não ter fracassado como pai, fiz o meu melhor...

Se existe algo difícil numa separação e a perda do convívio com os filhos, e muitas vezes fazia mais que a maioria, mas ainda sim reconheço que não fiz tudo o que podia. Mesmo assim, tudo o que eu fiz foi com um amor imenso, e um sentido de gratidão que vai se.perpetuar até o fim dos meus dias.

sexta-feira, maio 23, 2025

Rio que mora no mar

Vivo numa cidade que enfeitiça, com tudo de bom e de ruim. Entre o silêncio da montanha e o murmurinho da praia cheia, se esconde uma cidade barulhenta.  
Um Rio que não é rio de verdade mas é tão caudaloso no seu encontro com o mar como se fosse. 
Rio verdejante, de batuque cadenciado e sem pressa. 
Rio agitado da correria do dia e da noite frenética.
Rio do chopp Dourado da felicidade, dos botequins quiosques e afins. 
Rio colorido das feiras, cinzento e bonito no inverno, claudicante do calor do verão.
Um Rio de ritmos 
Um Rio sonoro de poesias 
Lar de piratas, de índios onde o mar faz esquina na Baia da Guanabara e faz história, na vida libertária, na vergonha escravista.
Rio preto, branco... Mulato ! 
Rio do mar e do mato.
Da cores e sons, do samba do funk e do jazz ....
De Antônio Cícero a Drummond, de Cazuza a Cartola. O Rio é de Rita, de Tom, de Vinícius, de Leny, de Erasmo... É um Rio baiano de Gil e Caetano ...

É samba, história e poesia. Um lugar onde as letras encontram as melodias, onde as curvas do mar tocam as montanhas acoitadas pelo sol. Onde a beleza toca a alegria, açoitada pela violência.

quarta-feira, maio 21, 2025

Vendo a poesia da vida

Brincadeira que fazem uma criança sorrir 
Sorriso de orgulho da vida
Por do sol iluminando namorados
Nascer de sol inundando de vida mais um dia
Um abrir de olhos 
Um fechar de boca para um beijo
O ir e vir do mar
E as ondas batendo num cais
Se eu gosto de poesia?

Se considerarmos que a poesia está em todas as coisas, desde a natureza até o concreto dos prédios..
Gostar da vida é gostar de poesia 
E entenda-se disso como ver o mundo com os olhos de um expectador de arte
Gente, bichos, plantas todos tem sua poesia escondida
Basta ter olhos abertos para observá-los, na repetição do cotidiano ou nas surpresas da vida.

Para tudo existe poesia, se você estiver aberto a ela, se você tem a sensibilidade na alma.

Visitar lugares
Comer bem 
Se lambuzar com chocolate
Beber um vinho, pensando muito mais no terroir que o criou do que no paladar.
Papos amenos
Conversas sérias
Amizade
Amor
Respeito 
Tem poesia nisso tudo também ... nas sensações, no nosso observar, nas atitudes diante do mundo, nas nuances da vida e que não fica presa nos versos formais.

Muitas vezes os detalhes do cotidiano passam despercebidos pelos nosso olhos, muitas vezes porque esses olhos estão muito treinados a só ver o que se quer, muito porque perdemos o hábito de flanar, de olhar o céu, de ficar em silêncio, de ter empatia. Nos fechamos no nosso mundo, e pouco conhecemos de nós. Quem olha o mundo por um lado poético tem que aprender a desaprender, tem que esquecer o que os dogmas ensinaram, tem que mudar de pensamento para experimentar as nuances da vida e observar tudo como se fosse a primeira vez.

É como ler um texto mais uma vez e entender significados que não observamos no primeiro passar de olhos, é como perceber numa música um solo de guitarra que se perdeu no meio da bateria, e ver num quadro impressionista de Monet nuances de luz e imaginar essa mesma percepção para ele. É muito mais que ter arte em tudo, é saber observar a beleza onde ela não é aparente.

Pra quem tem um olhar atento, a poesia está sempre perto e nos acompanhando. Seja nas pessoas que amamos ou no vinho que compartilhamos, nas pessoas que nos rodeiam ou na natureza e sentimentos. A poesia está nas interações humanas, na obra de Deus. A poesia é uma atitude de abertura pra vida, de enxergar beleza no comum, no simples, no efêmero.

Por isso, basta olhar com alma aberta, com olhos curiosos, com o coração disposto a sentir. A poesia está por toda parte, esperando para ser percebida. No cotidiano e nas surpresas, na simplicidade e no extraordinário. Afinal, viver é, por si só, um ato poético.

terça-feira, maio 20, 2025

Poder de escolha

 

O Ser humano diz sempre buscar a liberdade, mas ele está preparado para isso ? Apesar se termos sempre que ser contrários a qualquer tipo de sistema, relacionamento ou relação que nos tire nossa liberdade de pensar, expressar e atuar. Uma auto censura muitas vezes cabe bem e a certeza de que liberdade tem como premissa responsabilidade para tê-la. Sem a liberdade o Ser humano encolhe, murcha e é dominado.

Independência ou liberdade nada mais é do que ter poder de escolha, é poder escolher com base nos seus pensamentos, e se pensarmos que o livre pensar, sem conceitos pré-concebidos, já é a forma mais pura de liberdade. Daí ter a liberdade de ir e vir, atendendo suas necessidades e vontades próprias, é mais um passo em busca da utópica liberdade plena, sim utópica porque vivendo em sociedade é difícil se pensar numa liberdade que não vá ferir a liberdade do outro, o que se faz é articular em consenso. Existem dogmas, valores comuns, crenças, leis e etc .... todas essas coisas vão tolher de alguma forma a nossa liberdade, porém lembre, a liberdade plena fica no campo do pensar.

Outra questão de discussão sobre a liberdade é quando pensamos na liberdade de viver um grande amor, existem combinações de relacionamento que só dizem direito as pessoas que firmaram acordos, e se esses acordos ferem a liberdade plena de qualquer um ... tudo bem ! A liberdade não pode dispensar a magia de se viver um grande amor mesmo que isso possa, de alguma forma, prejudicar nossa independência plena.... tudo questão de bom senso e acordos para se definir até onde ir e não ir. Independência não pode ser confundida com solidão daquele cara que resolveu ficar solteiro pra sempre para não perder sua liberdade, independência e sinônimo de honestidade consigo mesmo e com o outro (é a tal da responsabilidade que salvaguarda a liberdade) é estar onde se quer, com quem se quer e porque quer. Aí é uma liberdade no campo dos sentimentos, onde vive a alma! 

A honestidade consigo mesmo, seja qual for a sua escolha, é uma forma libertária e reforça que ser independente não significa rejeitar vínculos, mas ter o dom e a plenitude de ter as escolhas nas nossas mãos, com a dignidade e responsabilidade de suas consequências. Viver com liberdade é viver com verdade. É reconhecer suas próprias vontades sem ignorar as do outro. É poder escolher, não necessariamente viver solto no mundo, mas poder escolher entre isso e ter um emprego fixo, uma pessoa a seu lado ou um dogma para seguir. É ter o mesmo peso na decisão entre casar ou se divorciar, é pensar que assumir compromissos também é um ato de liberdade para com nossos  pensamentos. Testando, errando, acertando nossa vida até que tudo se encaixe.


segunda-feira, maio 19, 2025

O culto ao luxo fake que lucra com a alienação coletiva

 O culto ao luxo fake é um fenômeno que se fortalece na era digital, onde a ostentação se torna um espetáculo lucrativo e a alienação coletiva alimenta um ciclo de consumo desenfreado, mas isso não começou agora, quantos príncipes falidos não conseguiram impérios ostentando o que não tinham, quantos golpista já não apareceram ao longo da história. O que muda é a disseminação imposta pelas redes sociais, mas o vazio da humanidade em consumir o fake continua o mesmo.

O ser humano se afastou de valores fundamentais para compreender a vida, desde valores morais para vivermos em sociedade até valores espirituais mesmo (não os dados pelas igrejas, mas os valores encontrados na empatia entre os homens).

Vivemos em um tempo em que a aparência de riqueza muitas vezes vale mais do que a própria riqueza. Influenciadores, marcas e até figuras públicas constroem narrativas de sucesso baseadas em bens materiais, criando um padrão inalcançável para a maioria. O luxo, antes símbolo de exclusividade, agora é replicado em versões acessíveis, mas sem substância, apenas para alimentar a ilusão de status.

Essa indústria prospera porque explora desejos e inseguranças. O marketing agressivo vende a ideia de que possuir determinados itens ou viver certas experiências é sinônimo de felicidade e prestígio, e aí voltamos a ver a ausência de valores que podem nos trazer uma felicidade verdadeira e duradoura.

Redes sociais amplificam essa lógica, transformando vidas editadas em modelos aspiracionais. O resultado? Um público que consome não por necessidade, mas por uma busca incessante de validação. E aí entra um outro fenômeno de nossos tempos, viver a vida dos outros que está exposta para todos, e eventualmente criticar, dessas críticas vem o julgamento social com base em fundamentação rasa, pra que ? porque ? Com a impressão de que assim tampamos os vazios internos que nos levam a ser maiores que os outros, criticamos sem pensar porque agora um julgamento está há um clique de distância, como um imperador romano que coloca o polegar para baixo ordenando que uma determinada pessoa seja jogada aos leões. Tempos de barbárie!

O problema se agrava quando essa alienação coletiva desvia o foco de questões essenciais, como desigualdade social, sustentabilidade e bem-estar emocional. Enquanto alguns se endividam para manter uma imagem, outros lucram com essa ilusão, perpetuando um sistema onde o valor de uma pessoa é medido pelo que ela exibe, e não pelo que ela é. Houve o tempo em que o Ter estava acima do Ser, vivemos o tempo onde o PARECER estar no topo do foco do ser humano. Mas isso só existe porque as pessoas em geral se interessam e sustentam isso... mas o verdadeiro luxo não está na ostentação, mas na liberdade de viver sem precisar provar nada a ninguém.


domingo, maio 18, 2025

Amor com pés no chão

Passei da fase em que busco amores impossíveis, em que crio expectativas de pessoas que não existem ou de mudar completamente pessoas para serem um pouco do que eu quero. Tem amores que arrepiam. Tem aqueles que confortam, como chocolate quente debaixo das cobertas. Mas o mais bonito é aquele que dá chão. Que dá um norte para sermos o que quisermos ser, para termos a liberdade de sair de um ninho e voltar pra ele mas que no fundo nos mostram que o melhor é permanecer na quietude e no conforto dele sem nem sair. Não chega a ser um amor passivo, é um amor bem libertário quando nós mesmos fazemos as nossas escolhas de ficar.

É amor que sossega o peito, que acolhe o silêncio, que faz a vida andar mais leve. Amor que não apressa, mas acompanha e muitas vezes de mãos dadas. Existe amor que fala com o silêncio, que faz brilhar o olhar e que mesmo em furadas nos faz ter um leve sorriso no rosto com a certeza de que estamos no lugar certo e na hora certa simplesmente porque estamos juntos.

O que são os beijos

Tem horas que estar dentro de um abraço é o melhor lugar em que podemos estar, tem outras horas que o abraço pede um beijo e do beijo nasce um olhar de onde brota  outro beijo ... E outro e outro. Nada disso seguindo necessariamente essa ordem!

A única coisa melhor que um beijo é o milésimo de segundo que antecede o encontro das bocas, quando a gente sabe que vai acontecer. É aquele momento que antecede a explosão de emoções, é o momento retrasado nas esculturas gregas do início de uma corrida o prenúncio de um salto. Os músculos saltam, o sangue fervilha os nervos retesam ... Milhões de processos químicos acontecem, uma enxurrada coisas acontecem misturando nossa inteligência, com sensibilidade, recordações vem, coração palpita, imaginação tenta romper a barreira do tempo e enfim o ápice das coisas acontece.

Rouba-se o primeiro, segundo se pede, o terceiro se convence e a partir do quarto eles acontecem... Brotam da alma, encantam o espírito ! Sobrevivem aos acontecimentos, dos melhores aos piores. Desde o beijo que acolhe até o beijo que perturba a alma e que fica na nossa cabeça por muito tempo.

Há quem diga que o gostoso do beijo é a troca de rédeas ...cada um domina um pouco e adverte o outro que a partir de agora provocar é uma máxima que deve ser levada à risca. Um domínio onde ninguém domina nada e bocas murmuram toda essa explosão de emoções.

Existem beijos de bocas e beijos de coração... um fala, o outro cala, um é rápido, efêmero e o outro parece eterno. Enquanto um cala dentro dos murmúrios pedindo silêncio para um próximo beijo; o outro fala, mas em seu silêncio, clama pela eternidade daquele momento.

Beijos de bocas, vem de fora e  são como beijos de boa noite que dizem mais que boa noite e nos convidam para viver uma noite inteira de beijos. São mais que simples voltinhas em bocas atordoadas com o fulgor de corpos numa celebração, numa euforia, numa paixão. Os beijos assim são recomendados para todas as idades mas indicados para os mais jovens de espírito e que querem viver aventura dos minutos posteriores ao beijo, tem tanto a sensação do novo quanto o gosto daquele beijo que faltou há 20 anos atrás. São beijos atrevidos, destemidos, curiosos pela boca em que estão beijando, são línguas entrelaçadas, cheias de tesão, suplicando por mais beijos pelo corpo.

Já os beijos do coração, esses calam mais do que falam, vem de dentro, convidam para dormir e realmente são beijos desejando só uma boa noite, indicados também para todas as idades mas amados pelas pessoas maduras, é o beijo da recordação dos 20 anos que ficaram pra trás, são beijos calmos e sem malícia ou molejo. São beijos conhecedores das bocas que se tocam, são beijos que abraçam, são suspiros tocando os nossos lábios.

E assim, entre beijos roubados e beijos entregues, entre murmúrios e silêncios, o que realmente importa não é a técnica, a ordem ou a duração. O beijo é o instante suspenso no tempo, o fio invisível que conecta dois mundos, o toque que traduz sentimentos sem precisar de palavras.

Seja um beijo atrevido que desperta desejos ou um beijo tranquilo que embala uma despedida, no fim, todos têm o mesmo propósito: contar histórias que só os lábios sabem narrar.

Porque, no final das contas, o melhor beijo não é aquele que se dá. É aquele que permanece.



segunda-feira, fevereiro 03, 2025

Na viagem de Cecília

Que lindos cânticos te levem ao mundo dos sonhos e da inspiração. Transcendendo aos mundos, no inconcreto limite da razão, onde cores ficam difusas, onde o tempo pára ao sentir uma emoção. 
Teu nome é liberdade ! E o vento do teu espírito sopra sobre a vida, tudo que era efêmero se desfaz, resta só tu... Que é eterno!