quinta-feira, julho 24, 2025

Quando a evolução nos deixou em pé

Graças a Charles Darwin, fomos capazes de comprovar cientificamente aquilo que já intuíamos: o ser humano, assim como os outros animais e toda a natureza, está em constante evolução. Essa verdade sutil explica as dezenas de inadaptações que ainda habitam nosso organismo — traços herdados de uma vida instintiva que hoje coexistem com uma realidade racional e até espiritual.

Em algum ponto da jornada evolutiva, nossa espécie deu um salto cognitivo que continua envolto em mistério. Alguns atribuem isso ao refinamento da técnica manual; outros à conquista da locomoção bípede, que libertou nossas mãos; há quem defenda que foi nossa alimentação — especialmente entre caçadores-coletores — que despertou a mente, com a ingestão de cogumelos alucinógenos desencadeando novas formas de percepção, imaginação e raciocínio.

Mas por que esse salto não ocorreu em outras espécies?

Fato é que, num momento chave da nossa história evolutiva, nosso corpo mudou drasticamente. As sinapses se aceleraram, os sentidos se refinaram, o poder de cognição expandiu. O cérebro cresceu tanto que já não cabia na antiga estrutura. E para sustentá-lo, erguemos a cabeça, perdemos a cauda, assumimos a postura vertical. Nossos quadris e coluna não estavam prontos, e ainda hoje sofremos com a sobrecarga na lombar, nos joelhos, nas articulações.

Ao se erguer, o humano viu mais longe. Caçou, em vez de ser caçado. A visão tornou-se mais importante que o olfato, a cabeça cresceu precocemente — criando um novo desafio à reprodução. Fêmeas tiveram de reduzir o tempo gestacional para acomodar crânios cada vez maiores. Por isso, somos os recém-nascidos mais dependentes do reino animal: enquanto uma girafa já nasce caminhando, nós precisamos de quase um ano só para dar os primeiros passos.

A verticalidade trouxe ganhos, mas também exigiu compensações. O coração teve que se adaptar para bombear sangue contra a gravidade, o sistema digestivo abandonou o processo de ruminação, dependendo cada vez mais das bactérias intestinais. Os sisos tornaram-se vestígios de uma era em que mastigar exigia mais esforço.

E aqui estamos. Bípedes, cabeçudos, frágeis ao nascer, mas gigantes na imaginação.

A evolução não é um caminho de perfeição, mas de transformações. Ela nos deixou com dores nas costas e joelhos problemáticos, mas também com a capacidade de pensar sobre tudo isso — e de contar a nossa própria história com palavras. 

Se a evolução do corpo nos parece mais perceptível, a evolução mental nos mostra a cada dia como éramos e onde chegamos sem nos dar indícios de onde podemos chegar. Resta a questão espiritual que saiu do medo, passou por crenças e que vai nos levando para um encontro consigo mesmo e com o que chamamos por Deus ... aí sim, a perfeição!


Nenhum comentário: