quarta-feira, julho 23, 2025

Você é o que sonhou?

Dar certo na vida. O que isso significa, afinal?
Para muitos, é sinônimo de status, conquistas, posses, uma carreira sólida, uma agenda cheia, um perfil que impressiona.
Mas essa definição quase sempre vem de fora — expectativas sociais, padrões impostos, comparações sem fim.

E se mudássemos o foco?
Em vez de olhar para o olhar do outro, que tal olhar para dentro?
Perguntar, com coragem e ternura:
A criança que eu fui teria orgulho do adulto que sou hoje?

A primeira vez que me deparei com essa reflexão estava num momento difícil da vida, tinha conquistado tudo e por fim estava numa cama sem ter absolutamente nada, carreia em transformação filhos longe, amor perdido, dívidas ... e tudo o que conquistei sendo uma pessoa boa? E os amigos que fiz, naturalmente, preocupados com as próprias vidas. Quem poderia me ajudar? Sem ter algo para enfeitar as paredes brancas de um quarto vazio.... encontrei um velho retrato meu de criança e me olhar todo o dia ... o orgulho do que fui perceber que qualquer quer fosse a saída para minha situação, ela estaria dentro de mim mesmo.

Lembrei desse poema do Fernando Pessoa:


A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa 


Aos poucos fui resgatando minha essência, o sorriso e inocência que sempre tive, parei de me culpar pelo que não fiz, descobri que muitos dos erros não estavam realmente em mim, mas que tinha me perdido no emaranhado da vida.

Criança não valoriza cargo nem currículo. Ela quer leveza, verdade, afeto, liberdade.

Ela acredita no impossível, faz amigos em minutos, chora sem medo e sonha sem limites.
A alma infantil não está preocupada com aparências — ela se importa com sensações.
Com a alegria genuína, com o brilho nos olhos, com a aventura do simples.

E você? Será que hoje você ainda ri como antes?
Você ainda se emociona com uma música, com um pôr do sol, com uma conversa despretensiosa?
Ainda se permite errar e recomeçar?

Dar certo na vida pode ser, sim, conquistar grandes coisas.
Mas também pode ser manter a capacidade de sentir, de amar com inteireza, de brincar mesmo cansado, de cuidar do outro e de si.

Talvez o sucesso seja simplesmente conseguir preservar a alma de criança em meio à dureza dos dias adultos.

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