sexta-feira, julho 25, 2025

Culto ao luxo fake que lucra com a alienação coletiva

 Em tempos de redes sociais aceleradas e vitrines digitais infinitas, o culto ao luxo fake se estabeleceu como um fenômeno que vai muito além da estética: ele alimenta uma lógica de alienação coletiva — fabricando desejos, deformando valores e lucrando com a ilusão.

Não é preciso ter para parecer. Essa é a nova regra do jogo.

O cenário atual é dominado por influencers que ostentam marcas de grife, carros de alto padrão e estilos de vida glamourosos — frequentemente sustentados por empréstimos, permutas ou réplicas. Nesse universo, o luxo deixou de ser expressão de sucesso real e passou a ser uma performance: um papel social cuidadosamente encenado para ganhar atenção, seguidores, validação. O consumo virou espetáculo, e quem não entra em cena fica invisível.

Essa encenação não é inofensiva: ela movimenta uma indústria que explora, sem pudor, o desejo por pertencimento. Vendas de produtos falsificados, aluguel de itens de luxo, marcas paralelas e publicidade aspiracional são apenas algumas das engrenagens desse sistema.

As plataformas digitais ajudam a perpetuar o ciclo, recompensando quem parece ter mais — independentemente de como ou por que. Por trás da promessa de sucesso imediato, há uma armadilha emocional. A busca compulsiva por status provoca frustração, ansiedade, baixa autoestima. Muitos consomem como resposta ao vazio, tentando preencher com likes aquilo que falta em si mesmos. Nessa lógica, não há tempo para reflexão, nem espaço para autenticidade: o que importa é ser notado, mesmo que seja só pela casca.

Esse culto ao luxo fake distorce relações, neutraliza a empatia e enfraquece noções importantes como propósito, comunidade e essência. Em vez de fortalecer identidades, uniformiza comportamentos. Em vez de inspirar transformação, promove comparação.

E nesse ritmo acelerado, perdemos o que mais importa: o valor da verdade, do tempo e daquilo que não pode ser comprado. Reconhecer o luxo fake como uma construção vazia é o primeiro passo para romper esse ciclo. É preciso coragem para se desconectar da lógica da aparência e reconectar-se com o que é real: o afeto, a simplicidade, os processos verdadeiros — que não cabem em vitrines, mas preenchem a vida.

Luxo de verdade é viver com significado.




quinta-feira, julho 24, 2025

Quando a evolução nos deixou em pé

Graças a Charles Darwin, fomos capazes de comprovar cientificamente aquilo que já intuíamos: o ser humano, assim como os outros animais e toda a natureza, está em constante evolução. Essa verdade sutil explica as dezenas de inadaptações que ainda habitam nosso organismo — traços herdados de uma vida instintiva que hoje coexistem com uma realidade racional e até espiritual.

Em algum ponto da jornada evolutiva, nossa espécie deu um salto cognitivo que continua envolto em mistério. Alguns atribuem isso ao refinamento da técnica manual; outros à conquista da locomoção bípede, que libertou nossas mãos; há quem defenda que foi nossa alimentação — especialmente entre caçadores-coletores — que despertou a mente, com a ingestão de cogumelos alucinógenos desencadeando novas formas de percepção, imaginação e raciocínio.

Mas por que esse salto não ocorreu em outras espécies?

Fato é que, num momento chave da nossa história evolutiva, nosso corpo mudou drasticamente. As sinapses se aceleraram, os sentidos se refinaram, o poder de cognição expandiu. O cérebro cresceu tanto que já não cabia na antiga estrutura. E para sustentá-lo, erguemos a cabeça, perdemos a cauda, assumimos a postura vertical. Nossos quadris e coluna não estavam prontos, e ainda hoje sofremos com a sobrecarga na lombar, nos joelhos, nas articulações.

Ao se erguer, o humano viu mais longe. Caçou, em vez de ser caçado. A visão tornou-se mais importante que o olfato, a cabeça cresceu precocemente — criando um novo desafio à reprodução. Fêmeas tiveram de reduzir o tempo gestacional para acomodar crânios cada vez maiores. Por isso, somos os recém-nascidos mais dependentes do reino animal: enquanto uma girafa já nasce caminhando, nós precisamos de quase um ano só para dar os primeiros passos.

A verticalidade trouxe ganhos, mas também exigiu compensações. O coração teve que se adaptar para bombear sangue contra a gravidade, o sistema digestivo abandonou o processo de ruminação, dependendo cada vez mais das bactérias intestinais. Os sisos tornaram-se vestígios de uma era em que mastigar exigia mais esforço.

E aqui estamos. Bípedes, cabeçudos, frágeis ao nascer, mas gigantes na imaginação.

A evolução não é um caminho de perfeição, mas de transformações. Ela nos deixou com dores nas costas e joelhos problemáticos, mas também com a capacidade de pensar sobre tudo isso — e de contar a nossa própria história com palavras. 

Se a evolução do corpo nos parece mais perceptível, a evolução mental nos mostra a cada dia como éramos e onde chegamos sem nos dar indícios de onde podemos chegar. Resta a questão espiritual que saiu do medo, passou por crenças e que vai nos levando para um encontro consigo mesmo e com o que chamamos por Deus ... aí sim, a perfeição!


quarta-feira, julho 23, 2025

Você é o que sonhou?

Dar certo na vida. O que isso significa, afinal?
Para muitos, é sinônimo de status, conquistas, posses, uma carreira sólida, uma agenda cheia, um perfil que impressiona.
Mas essa definição quase sempre vem de fora — expectativas sociais, padrões impostos, comparações sem fim.

E se mudássemos o foco?
Em vez de olhar para o olhar do outro, que tal olhar para dentro?
Perguntar, com coragem e ternura:
A criança que eu fui teria orgulho do adulto que sou hoje?

A primeira vez que me deparei com essa reflexão estava num momento difícil da vida, tinha conquistado tudo e por fim estava numa cama sem ter absolutamente nada, carreia em transformação filhos longe, amor perdido, dívidas ... e tudo o que conquistei sendo uma pessoa boa? E os amigos que fiz, naturalmente, preocupados com as próprias vidas. Quem poderia me ajudar? Sem ter algo para enfeitar as paredes brancas de um quarto vazio.... encontrei um velho retrato meu de criança e me olhar todo o dia ... o orgulho do que fui perceber que qualquer quer fosse a saída para minha situação, ela estaria dentro de mim mesmo.

Lembrei desse poema do Fernando Pessoa:


A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa 


Aos poucos fui resgatando minha essência, o sorriso e inocência que sempre tive, parei de me culpar pelo que não fiz, descobri que muitos dos erros não estavam realmente em mim, mas que tinha me perdido no emaranhado da vida.

Criança não valoriza cargo nem currículo. Ela quer leveza, verdade, afeto, liberdade.

Ela acredita no impossível, faz amigos em minutos, chora sem medo e sonha sem limites.
A alma infantil não está preocupada com aparências — ela se importa com sensações.
Com a alegria genuína, com o brilho nos olhos, com a aventura do simples.

E você? Será que hoje você ainda ri como antes?
Você ainda se emociona com uma música, com um pôr do sol, com uma conversa despretensiosa?
Ainda se permite errar e recomeçar?

Dar certo na vida pode ser, sim, conquistar grandes coisas.
Mas também pode ser manter a capacidade de sentir, de amar com inteireza, de brincar mesmo cansado, de cuidar do outro e de si.

Talvez o sucesso seja simplesmente conseguir preservar a alma de criança em meio à dureza dos dias adultos.

terça-feira, julho 22, 2025

Asas ao vento na beleza de final de tarde

O sol do fim da tarde acaricia as asas das andorinhas em voo,
elas cortam o ar como ases indomáveis,
rasgando o céu com a elegância dos que conhecem o vento.

Brincam como se despreocupadas,
mas por trás da dança há propósito —
a eterna busca da natureza para matar a fome.

Num sistema invisível aos olhos distraídos,
as andorinhas seguem o rastro das nuvens de insetos,
voando com precisão, caçando com instinto,
vivendo a rotina selvagem
que sustenta o equilíbrio silencioso do mundo.



segunda-feira, julho 21, 2025

A Linguagem como Território

Falar é uma coisa curiosa. Ao mesmo tempo em que expressamos aquilo que nos torna comuns, revelamos o que temos de mais singular. A linguagem carrega a marca da coletividade e, também, a assinatura da individualidade.

Existe uma cumplicidade silenciosa entre quem escreve e quem lê. As palavras têm o poder de criar laços, mas também de romper acordos — são pontos de conflito e, paradoxalmente, os instrumentos mais eficazes para resolvê-los. Usar a linguagem é quase um milagre: ela transforma ideias em redes invisíveis que nos conectam.

Assim como as palavras se espalham pelas ruas, reinventando a linguagem falada, nossos pensamentos brotam em formas imprevisíveis. A singularidade de uma ideia pode se manifestar por meio de gírias, sotaques, neologismos. Cada letra forma palavras, que se unem em discursos, que constroem relações — e dentro delas, a própria vida.

O português do Brasil, por exemplo, é uma língua única: resultado de uma fusão rica de outros idiomas, uma identidade linguística que se desdobra e se reinventa. Linguagem é uma das maiores riquezas de um povo. E a forma como ela define o mundo ao nosso redor é o que nos eleva a novos patamares de cultura e consciência.

Compreender a língua que se fala vai além do respeito à gramática ou à norma culta. É reconhecer o outro, sua história, sua identidade. Respeitar diferentes formas de expressão é, sobretudo, respeitar culturas diversas — e esse talvez seja um dos grandes desafios da onda civilizatória, especialmente quando se trata dos povos indígenas originários.

Afinal, o que significa "evoluir"? É abandonar formas antigas ou aprender a conviver com a diversidade?

Impor uma cultura não é apenas silenciar outra — é arrancar sua raiz mais profunda. Às vezes, entender corretamente uma palavra pode ser mais poderoso do que qualquer lei: proteger a “terra” para os povos indígenas não é apenas garantir território físico, mas assegurar que ali permaneça viva sua alma, sua visão de mundo, suas raízes e cultura, enfim ... sua conexão com a vida.

 

domingo, julho 20, 2025

No agito da vida ... no enlace de olhar

Quando paramos no corre corre das nossas vidas, repentinamente o pensamento remete para a paz e o silêncio de ter nossas mãos entrelaçadas.
Quando deitamos nossos corpos  cansados na cama o último suspiro do dia nos remete a gratidão de termos um ao outro como porto seguro. 
E se muitas vezes nossas vidas agitadas parecem nos mover para campos opostos, lembramos das razões que nos trouxeram a estarmos juntos. Seguimos assim ... sempre acreditando com esperança de que é possível melhorar, e basta um cinema as segundas feiras, passeio aleatório, um jantar feito às pressas ... Uns momentos juntos para conectarmos novamente um com o outro.

Nos vendo é possível perceber o quão simples é a vida e que o passar do tempo nos faz mais estáveis, mais maduros, mais cautelosos um com o outro.

Vamos seguindo assim .. no agito da vida, no enlace de olhar!

sábado, julho 19, 2025

Vidas em fragmentos - Quando o tempo parava para ouvir um disco

Houve um tempo em que, nas casas, ouvia-se o último disco de um cantor: um trabalho completo, com princípio, meio e fim. Muitos minutos de música que, na maioria das vezes, atuavam como um ator em cena — regidos por um texto, pela cenografia, pelo som e pelos demais atores. Cada faixa compunha uma parte de algo maior, e não o todo. Não era raro visitar um amigo só para ouvir o disco novo do Chico — ou, no mínimo, o compacto de alguma banda. Alguns álbuns continuam inteiros, analisados em sua totalidade, como verdadeiras obras que marcam o tempo.

Aos poucos, as músicas se dividiram entre as rádios. Os grandes sucessos tornaram-se solitários, órfãos das canções que davam sentido ao conjunto. O disco foi perdendo sua essência como unidade artística — uma representação do momento íntimo de um criador. Tudo ficou mais rápido, mais volátil, mais raso. Os livros afinaram, os jornais perderam páginas, conteúdo, escritores, profundidade. Os textões viraram tweets de 256 caracteres. O mundo perdeu a forma.

Busca-se amor platônico nas dedadas do Tinder. Amores ficaram mais inconstantes, fugazes, superficiais. As vidas ficaram vazias. O medo não nos deixa sair de casa, nos impede de nos conectar. Relações se tornaram fugazes. Ninguém entrega corpo e alma à vida. Espera-se pelo fim de semana, pela quarta à noite, pelo dia sem chuva, pelas férias, pela aposentadoria... pelo prêmio da loteria. E, quando se percebe, não se viveu. Não se amou. Não se sofreu.

Perde-se o sentido da vida porque se corre contra o tempo — sem fazer o devido uso dele.

O que sobra são fragmentos de uma vida inacabada como músicas perdidas e solitárias de um disco bom.


Eu e você ....

 Dá pra explicar o que nos faz gostar de alguém? Dizem que a conexão entre duas pessoas não está nas semelhanças, mas sim na compreensão das diferenças.

Ela é de sol, eu sou de sombra.

Ela é música, eu sou silêncio. 

Eu falo e ela não me escuta.

Ela fala e eu não a escuto.

Ela é de malhar e eu de espreguiçar.

Eu acordo feliz e ela mal humorada.

Eu tenho hora pra acordar, ela não!

Ela é do vinho e eu do refri. 

Sou da surpresa, ela precisa de tudo planejado.

Eu planejo e não cumpro .... ela não planeja mas cumpre.

Ela é do stress e eu sou Zen. 

Sou do mar, e ela da areia.

Prefiro calor e ela frio.

Ela canta e eu ouço.

Ela grita e eu respiro.

Como muito e ela pouco.

Ela é TV e eu sou internet.

Eu chamo ... ela não vem !

Amor não necessariamente é algo construído num plano divino em linhas que se encontram ao longo da vida, muitas vezes a relação e o sentimento são construídos a partir de pequenas e grandes decisões. Criadas e protegidas para se manter, porém não há como negar... o sorriso brota, a preocupação vem na cabeça, o cuidado com o outro prevalece e a vida acaba por sorrir prá nós.

Amar é um ato de coragem, é uma ousadia com nós mesmos. É perder um pouco das nossas autoafirmações e convicções para amar o outro, é ceder em prol de um amor conjunto. Ousar é perder nosso chão momentaneamente. Não ousar é perder a nós mesmos....

quinta-feira, julho 03, 2025

Tudo vai

Os minutos passam e a gente não sente, quando percebemos passaram os minutos, as horas ...

Os dias vão se acumulando em pequenos sentimentos de uma vida frívola e frágil.

Semanas vão passando, quando olhamos, já são meses e o ano surpreendentemente acabou.

O ano que começou depois do carnaval passa pelo interminável agosto onde aguardamos ansiosos pelas festas de fim de ano.

O frisson toma conta de nós e contamos os dias para ver mais um ano se acumular em nossas vidas.

 Os anos passam e a gente não sente 

Sentimos a ausência de um ente querido

Sentimos o que dói a alma 

O que cala a voz

O que estremece o corpo

Quando damos por nós, nossos cabelos caíram

Nossa flexibilidade foi embora 

E o que fica são grandes sentimentos, saudades, gratidões

Um olhar pra trás com orgulho e uma vontade de ficar mais um pouquinho pelo mundo.

Quando somos jovens não temos a sabedoria de ver o tempo passar e temos pressa.

Quando somos velhos temos pouco tempo .... e nem por isso temos pressa

Descobrimos que sentir com calma a vida e ver tudo o que passa por nós nos ajuda a pegar um pouco mais do que a vida nos traz.

E um dia tudo se acaba ... não passa mais.

O tempo segue e a vida para.

nos ajuda a pegar

quarta-feira, junho 04, 2025

Vida que vai

Das peças que a vida nos prega, já passei por muita coisa, passei mas nunca, sem pegar algo de bom de uma situação .... uma lembrança, um aprendizado... e as vezes o gosto amargo de um revés fica, mas se desfaz com o tempo.
Deixei um pouco de mim, também deixei um pouco de vida por onde passei, mas aí você me pergunta: deixou a vida ir embora?  Sim, do contrario o que seria?  A vida é uma ampulheta, nascer o que mais é, senão o inicio da morte. 

Não perderia a vida em vivê-la, perderia se ela passasse e eu não vivesse cada oportunidade que ela descortina dentro da rotina que nos adsorve. Ela esta esvaindo-se a cada minuto, a cada segundo? Então o que melhor se faz é viver cada segundo como se fosse o último. A única coisa imutável na vida é que ela pode mudar a cada segundo, inclusive acabar!

domingo, junho 01, 2025

mais um domingo

Chega o fim de mais um domingo, mais uma semana se passou e o sentimento de sucesso e alívio toma conta de mim. Além do trabalho e das centenas de atribuições de quem tenta reconstruir a vida e criar uma nova família. O sentimento de orgulho próprio é por mais um final de semana. Pouco tempo para saber das novidades, conversar, educar, resolver problemas, se emocionar com a perpetuação da vida, criar laços e construir a nossa própria história .... Viver a vida, com que ela nos propõe. 

Foram anos de muito esforço, planejando as coisas conciliando interesses e me colocando numa posição de elo para fazer a vida fluir. E se hoje o orgulho de ver os filhos fortes, inteligentes e construindo a história deles, não era esse mesmo sentimento, lá atrás quando a insegurança me tirava o sono e quando eu não conseguia ter orgulho nem de mim. Fracassar por vezes é perturbador, mas se fracassei no casamento, espero não ter fracassado como pai, fiz o meu melhor...

Se existe algo difícil numa separação e a perda do convívio com os filhos, e muitas vezes fazia mais que a maioria, mas ainda sim reconheço que não fiz tudo o que podia. Mesmo assim, tudo o que eu fiz foi com um amor imenso, e um sentido de gratidão que vai se.perpetuar até o fim dos meus dias.

sexta-feira, maio 23, 2025

Rio que mora no mar

Vivo numa cidade que enfeitiça, com tudo de bom e de ruim. Entre o silêncio da montanha e o murmurinho da praia cheia, se esconde uma cidade barulhenta.  
Um Rio que não é rio de verdade mas é tão caudaloso no seu encontro com o mar como se fosse. 
Rio verdejante, de batuque cadenciado e sem pressa. 
Rio agitado da correria do dia e da noite frenética.
Rio do chopp Dourado da felicidade, dos botequins quiosques e afins. 
Rio colorido das feiras, cinzento e bonito no inverno, claudicante do calor do verão.
Um Rio de ritmos 
Um Rio sonoro de poesias 
Lar de piratas, de índios onde o mar faz esquina na Baia da Guanabara e faz história, na vida libertária, na vergonha escravista.
Rio preto, branco... Mulato ! 
Rio do mar e do mato.
Da cores e sons, do samba do funk e do jazz ....
De Antônio Cícero a Drummond, de Cazuza a Cartola. O Rio é de Rita, de Tom, de Vinícius, de Leny, de Erasmo... É um Rio baiano de Gil e Caetano ...

É samba, história e poesia. Um lugar onde as letras encontram as melodias, onde as curvas do mar tocam as montanhas acoitadas pelo sol. Onde a beleza toca a alegria, açoitada pela violência.

quarta-feira, maio 21, 2025

Vendo a poesia da vida

Brincadeira que fazem uma criança sorrir 
Sorriso de orgulho da vida
Por do sol iluminando namorados
Nascer de sol inundando de vida mais um dia
Um abrir de olhos 
Um fechar de boca para um beijo
O ir e vir do mar
E as ondas batendo num cais
Se eu gosto de poesia?

Se considerarmos que a poesia está em todas as coisas, desde a natureza até o concreto dos prédios..
Gostar da vida é gostar de poesia 
E entenda-se disso como ver o mundo com os olhos de um expectador de arte
Gente, bichos, plantas todos tem sua poesia escondida
Basta ter olhos abertos para observá-los, na repetição do cotidiano ou nas surpresas da vida.

Para tudo existe poesia, se você estiver aberto a ela, se você tem a sensibilidade na alma.

Visitar lugares
Comer bem 
Se lambuzar com chocolate
Beber um vinho, pensando muito mais no terroir que o criou do que no paladar.
Papos amenos
Conversas sérias
Amizade
Amor
Respeito 
Tem poesia nisso tudo também ... nas sensações, no nosso observar, nas atitudes diante do mundo, nas nuances da vida e que não fica presa nos versos formais.

Muitas vezes os detalhes do cotidiano passam despercebidos pelos nosso olhos, muitas vezes porque esses olhos estão muito treinados a só ver o que se quer, muito porque perdemos o hábito de flanar, de olhar o céu, de ficar em silêncio, de ter empatia. Nos fechamos no nosso mundo, e pouco conhecemos de nós. Quem olha o mundo por um lado poético tem que aprender a desaprender, tem que esquecer o que os dogmas ensinaram, tem que mudar de pensamento para experimentar as nuances da vida e observar tudo como se fosse a primeira vez.

É como ler um texto mais uma vez e entender significados que não observamos no primeiro passar de olhos, é como perceber numa música um solo de guitarra que se perdeu no meio da bateria, e ver num quadro impressionista de Monet nuances de luz e imaginar essa mesma percepção para ele. É muito mais que ter arte em tudo, é saber observar a beleza onde ela não é aparente.

Pra quem tem um olhar atento, a poesia está sempre perto e nos acompanhando. Seja nas pessoas que amamos ou no vinho que compartilhamos, nas pessoas que nos rodeiam ou na natureza e sentimentos. A poesia está nas interações humanas, na obra de Deus. A poesia é uma atitude de abertura pra vida, de enxergar beleza no comum, no simples, no efêmero.

Por isso, basta olhar com alma aberta, com olhos curiosos, com o coração disposto a sentir. A poesia está por toda parte, esperando para ser percebida. No cotidiano e nas surpresas, na simplicidade e no extraordinário. Afinal, viver é, por si só, um ato poético.

terça-feira, maio 20, 2025

Poder de escolha

 

O Ser humano diz sempre buscar a liberdade, mas ele está preparado para isso ? Apesar se termos sempre que ser contrários a qualquer tipo de sistema, relacionamento ou relação que nos tire nossa liberdade de pensar, expressar e atuar. Uma auto censura muitas vezes cabe bem e a certeza de que liberdade tem como premissa responsabilidade para tê-la. Sem a liberdade o Ser humano encolhe, murcha e é dominado.

Independência ou liberdade nada mais é do que ter poder de escolha, é poder escolher com base nos seus pensamentos, e se pensarmos que o livre pensar, sem conceitos pré-concebidos, já é a forma mais pura de liberdade. Daí ter a liberdade de ir e vir, atendendo suas necessidades e vontades próprias, é mais um passo em busca da utópica liberdade plena, sim utópica porque vivendo em sociedade é difícil se pensar numa liberdade que não vá ferir a liberdade do outro, o que se faz é articular em consenso. Existem dogmas, valores comuns, crenças, leis e etc .... todas essas coisas vão tolher de alguma forma a nossa liberdade, porém lembre, a liberdade plena fica no campo do pensar.

Outra questão de discussão sobre a liberdade é quando pensamos na liberdade de viver um grande amor, existem combinações de relacionamento que só dizem direito as pessoas que firmaram acordos, e se esses acordos ferem a liberdade plena de qualquer um ... tudo bem ! A liberdade não pode dispensar a magia de se viver um grande amor mesmo que isso possa, de alguma forma, prejudicar nossa independência plena.... tudo questão de bom senso e acordos para se definir até onde ir e não ir. Independência não pode ser confundida com solidão daquele cara que resolveu ficar solteiro pra sempre para não perder sua liberdade, independência e sinônimo de honestidade consigo mesmo e com o outro (é a tal da responsabilidade que salvaguarda a liberdade) é estar onde se quer, com quem se quer e porque quer. Aí é uma liberdade no campo dos sentimentos, onde vive a alma! 

A honestidade consigo mesmo, seja qual for a sua escolha, é uma forma libertária e reforça que ser independente não significa rejeitar vínculos, mas ter o dom e a plenitude de ter as escolhas nas nossas mãos, com a dignidade e responsabilidade de suas consequências. Viver com liberdade é viver com verdade. É reconhecer suas próprias vontades sem ignorar as do outro. É poder escolher, não necessariamente viver solto no mundo, mas poder escolher entre isso e ter um emprego fixo, uma pessoa a seu lado ou um dogma para seguir. É ter o mesmo peso na decisão entre casar ou se divorciar, é pensar que assumir compromissos também é um ato de liberdade para com nossos  pensamentos. Testando, errando, acertando nossa vida até que tudo se encaixe.


segunda-feira, maio 19, 2025

O culto ao luxo fake que lucra com a alienação coletiva

 O culto ao luxo fake é um fenômeno que se fortalece na era digital, onde a ostentação se torna um espetáculo lucrativo e a alienação coletiva alimenta um ciclo de consumo desenfreado, mas isso não começou agora, quantos príncipes falidos não conseguiram impérios ostentando o que não tinham, quantos golpista já não apareceram ao longo da história. O que muda é a disseminação imposta pelas redes sociais, mas o vazio da humanidade em consumir o fake continua o mesmo.

O ser humano se afastou de valores fundamentais para compreender a vida, desde valores morais para vivermos em sociedade até valores espirituais mesmo (não os dados pelas igrejas, mas os valores encontrados na empatia entre os homens).

Vivemos em um tempo em que a aparência de riqueza muitas vezes vale mais do que a própria riqueza. Influenciadores, marcas e até figuras públicas constroem narrativas de sucesso baseadas em bens materiais, criando um padrão inalcançável para a maioria. O luxo, antes símbolo de exclusividade, agora é replicado em versões acessíveis, mas sem substância, apenas para alimentar a ilusão de status.

Essa indústria prospera porque explora desejos e inseguranças. O marketing agressivo vende a ideia de que possuir determinados itens ou viver certas experiências é sinônimo de felicidade e prestígio, e aí voltamos a ver a ausência de valores que podem nos trazer uma felicidade verdadeira e duradoura.

Redes sociais amplificam essa lógica, transformando vidas editadas em modelos aspiracionais. O resultado? Um público que consome não por necessidade, mas por uma busca incessante de validação. E aí entra um outro fenômeno de nossos tempos, viver a vida dos outros que está exposta para todos, e eventualmente criticar, dessas críticas vem o julgamento social com base em fundamentação rasa, pra que ? porque ? Com a impressão de que assim tampamos os vazios internos que nos levam a ser maiores que os outros, criticamos sem pensar porque agora um julgamento está há um clique de distância, como um imperador romano que coloca o polegar para baixo ordenando que uma determinada pessoa seja jogada aos leões. Tempos de barbárie!

O problema se agrava quando essa alienação coletiva desvia o foco de questões essenciais, como desigualdade social, sustentabilidade e bem-estar emocional. Enquanto alguns se endividam para manter uma imagem, outros lucram com essa ilusão, perpetuando um sistema onde o valor de uma pessoa é medido pelo que ela exibe, e não pelo que ela é. Houve o tempo em que o Ter estava acima do Ser, vivemos o tempo onde o PARECER estar no topo do foco do ser humano. Mas isso só existe porque as pessoas em geral se interessam e sustentam isso... mas o verdadeiro luxo não está na ostentação, mas na liberdade de viver sem precisar provar nada a ninguém.


domingo, maio 18, 2025

Amor com pés no chão

Passei da fase em que busco amores impossíveis, em que crio expectativas de pessoas que não existem ou de mudar completamente pessoas para serem um pouco do que eu quero. Tem amores que arrepiam. Tem aqueles que confortam, como chocolate quente debaixo das cobertas. Mas o mais bonito é aquele que dá chão. Que dá um norte para sermos o que quisermos ser, para termos a liberdade de sair de um ninho e voltar pra ele mas que no fundo nos mostram que o melhor é permanecer na quietude e no conforto dele sem nem sair. Não chega a ser um amor passivo, é um amor bem libertário quando nós mesmos fazemos as nossas escolhas de ficar.

É amor que sossega o peito, que acolhe o silêncio, que faz a vida andar mais leve. Amor que não apressa, mas acompanha e muitas vezes de mãos dadas. Existe amor que fala com o silêncio, que faz brilhar o olhar e que mesmo em furadas nos faz ter um leve sorriso no rosto com a certeza de que estamos no lugar certo e na hora certa simplesmente porque estamos juntos.

O que são os beijos

Tem horas que estar dentro de um abraço é o melhor lugar em que podemos estar, tem outras horas que o abraço pede um beijo e do beijo nasce um olhar de onde brota  outro beijo ... E outro e outro. Nada disso seguindo necessariamente essa ordem!

A única coisa melhor que um beijo é o milésimo de segundo que antecede o encontro das bocas, quando a gente sabe que vai acontecer. É aquele momento que antecede a explosão de emoções, é o momento retrasado nas esculturas gregas do início de uma corrida o prenúncio de um salto. Os músculos saltam, o sangue fervilha os nervos retesam ... Milhões de processos químicos acontecem, uma enxurrada coisas acontecem misturando nossa inteligência, com sensibilidade, recordações vem, coração palpita, imaginação tenta romper a barreira do tempo e enfim o ápice das coisas acontece.

Rouba-se o primeiro, segundo se pede, o terceiro se convence e a partir do quarto eles acontecem... Brotam da alma, encantam o espírito ! Sobrevivem aos acontecimentos, dos melhores aos piores. Desde o beijo que acolhe até o beijo que perturba a alma e que fica na nossa cabeça por muito tempo.

Há quem diga que o gostoso do beijo é a troca de rédeas ...cada um domina um pouco e adverte o outro que a partir de agora provocar é uma máxima que deve ser levada à risca. Um domínio onde ninguém domina nada e bocas murmuram toda essa explosão de emoções.

Existem beijos de bocas e beijos de coração... um fala, o outro cala, um é rápido, efêmero e o outro parece eterno. Enquanto um cala dentro dos murmúrios pedindo silêncio para um próximo beijo; o outro fala, mas em seu silêncio, clama pela eternidade daquele momento.

Beijos de bocas, vem de fora e  são como beijos de boa noite que dizem mais que boa noite e nos convidam para viver uma noite inteira de beijos. São mais que simples voltinhas em bocas atordoadas com o fulgor de corpos numa celebração, numa euforia, numa paixão. Os beijos assim são recomendados para todas as idades mas indicados para os mais jovens de espírito e que querem viver aventura dos minutos posteriores ao beijo, tem tanto a sensação do novo quanto o gosto daquele beijo que faltou há 20 anos atrás. São beijos atrevidos, destemidos, curiosos pela boca em que estão beijando, são línguas entrelaçadas, cheias de tesão, suplicando por mais beijos pelo corpo.

Já os beijos do coração, esses calam mais do que falam, vem de dentro, convidam para dormir e realmente são beijos desejando só uma boa noite, indicados também para todas as idades mas amados pelas pessoas maduras, é o beijo da recordação dos 20 anos que ficaram pra trás, são beijos calmos e sem malícia ou molejo. São beijos conhecedores das bocas que se tocam, são beijos que abraçam, são suspiros tocando os nossos lábios.

E assim, entre beijos roubados e beijos entregues, entre murmúrios e silêncios, o que realmente importa não é a técnica, a ordem ou a duração. O beijo é o instante suspenso no tempo, o fio invisível que conecta dois mundos, o toque que traduz sentimentos sem precisar de palavras.

Seja um beijo atrevido que desperta desejos ou um beijo tranquilo que embala uma despedida, no fim, todos têm o mesmo propósito: contar histórias que só os lábios sabem narrar.

Porque, no final das contas, o melhor beijo não é aquele que se dá. É aquele que permanece.



segunda-feira, fevereiro 03, 2025

Na viagem de Cecília

Que lindos cânticos te levem ao mundo dos sonhos e da inspiração. Transcendendo aos mundos, no inconcreto limite da razão, onde cores ficam difusas, onde o tempo pára ao sentir uma emoção. 
Teu nome é liberdade ! E o vento do teu espírito sopra sobre a vida, tudo que era efêmero se desfaz, resta só tu... Que é eterno!

sábado, dezembro 28, 2024

Pílulas de inquietudes para reflexão e ... ação !

Avanços tecnológicos, globalização, sociedade da informação... Comunicação instantânea, encurtamento das distâncias, análise de dados, novas profissões, relacionamentos virtuais, avanços da medicina, conforto... Mas, estamos realmente usufruindo dessas conquistas ? Como sociedade e de forma igual ?
No mundo atual, as transformações culturais têm favorecida a solução de conflitos com base no respeito, aproximando as pessoas ao invés de afastá-las? 
E a miséria? Por quanto tempo ainda existirá ? Já temos plenas condições de oferecer o básico para todos e por que até hoje ainda não fizemos, porque até hoje o tema da pobreza ainda incomoda a sociedade humana. Falta de água, falta de acesso a recursos básicos de saneamento, fome e  analfabetismo... Se são temas que incomodam, porque o foco da sociedade sabota esses temas ?
Um país gasta US$2 bilhões numa bomba que matou 70 mil pessoas e "aliviou a agonia da guerra", coisa insana e desnecessária a guerra, mas poderia o homem viver sem ela ? Enquanto soldados americanos massacram 300 famílias no Vietnam, o comandante da tropa se defende falando que precisa "atacá-los para protegê-los"....
Ditadores massacram a liberdade de comunicar, a pobreza mata a liberdade de sonhar.... E o que seria do Homem sem o sonho que nos possibilita avançar as dificuldades, criar utopias e ver além da tristeza e do desamparo?
O direito de sonhar é o pai de todos os demais direitos, quando regimes de exceção limitam o sonho, limitam a liberdade de pensamento e a expressão deles, ele limita a valorização do homem como ser psicológico único e ali se morre. É preciso viver em pensamento pleno para não morrer. Sem os sonhos viveríamos numa miséria maior que a material porque matariamos a esperança.

segunda-feira, julho 08, 2024

Pelos Olhos de Alice

 Pelos olhos de Alice eu vi a pureza e a simplicidade da vida.

Na profundidade de seus olhos serenos, na sua feição séria como a que tentando repreender a todos que não compreendem a essência da vida que ela, em sua sabedoria transcendental, já tem.

Alice é recém nascida, da pureza da carne até a serenidade da alma. E no momento que a peguei nos braços tive uma certeza de estar muito próximo de Deus. Já estive outras vezes bem perto de encontrá-Lo quando apreciei todo esplendor da natureza ou num momento singelo de um suspiro, num pensamento inspirador, nas lembranças que guardo mais no coração que na cabeça. E aquele olhar de Alice fez um único segundo se transformar em momento guardado dentro da eternidade. Desses que a gente lembra quando faz uma grande conquista, ou mesmo quando se olha sorridente e pleno em frente do espelho mas que nunca estão presentes dentro de um templo.

Porque, no final das contas, haveremos de compreender que as coisas mais leves são as únicas que o vento não consegue levar. Desde aquele cheiro de casa de vó, até as tolas brincadeiras de criança que embalam nossas vidas até a velhice, é aquele suspiro de primeiro amor ou a rima boba de uma música que não nos sai da cabeça. É leve e fica preso no tempo, o carinho puro, a atitude necessária no momento certo. O cheiro de carro novo, o folear de um livro, o ecoar de uma gargalhada, um cafuné no sofá, um pé enroscado no frio, um abraço apertado na saudade, um choro de euforia ... são nos pequenos momentos banais e sutis que marcamos a nossa vida e é no conjunto desses pequenos momentos é que percebemos o que é a felicidade e que a simplicidade da vida está nos detalhes das coisas.

E estava ali diante do olhar pleno e instigante de Alice travando uma guerra mental tentando entender o que ela me dizia sem falar uma única palavra, ao mesmo tempo em que ela nada dizia, acabava por me encher de tudo o que precisava para eternizar um momento e me trazer a paz e a alegria que a vida tanto precisa.


Deus 2

 Eu vi Deus ! Sim, já o busquei em momentos plenos de sabedoria e paz, quando diante do espelho me olhei radiante de alegria depois de uma grande conquista, quando peguei nos braços meus filhos numa madrugada e meu calor calou seu choro, num momento de meditação e até dentro de um pensamento inspirador. 

Busquei Deus em meio a natureza num mergulho no meio de um cardume, num nascer do sol estonteante numa praia no Espírito Santo, numa noite de luar em Itaipava, num por do Sol no Pontal do Atalaia ... num voo de uma borboleta azul na floresta da Tijuca, no mar castigando as pedras do litoral de San Andrés. 

Esses foram os lugares onde mas perto estive de encontrar com Deus, mas nunca o encontrei dentro de um templo ou nos livros ou dogmas que teoriam sobre Ele. Só uma única vez O vi e tive certeza de que estava diante Dele. 

Era um dia de caridade num centro espírita, mas como disse acima , nunca encontrei Deus num templo e nem buscando nas religiões. Era um trabalho voluntário organizado pela minha empresa nesse centro espírita que faz um trabalho social de abrigar idosos solitários, crianças órfãs ou abandonadas e pessoas com algum tipo de deficiência. Já estávamos no meio da tarde depois de uma jornada de socialização com crianças e idosos e com o coração já completamente energizado pela manhã, partimos para o trabalho que na minha cabeça seria o mais complicado e comovente, pessoas com síndrome de Down... na verdade o mais correto era dizer crianças com Down. Em meio a uma brincadeira banal de boliche com bolas de plástico, vi um determinado menino mirando a pontaria e insistindo ...errou 1,2, 3 vezes buscava se superar, não era um momento de competição com outro jogador, ali era um diálogo mental dele com suas deficiências e num determinado momento ele jogou a bola e seu semblante mudou repentinamente, não sei ao certo de acertou um ou dois pinos, se era um lance de sorte, ou realmente o resultado do seu esforço e superação pessoal, eu só sei que no meio daquele tumulto de outras dezenas de crianças brincando, me pareceu por um instante que o tempo parou, que o silêncio se fez e que aquele instante passasse como uma eternidade na minha cabeça, entreolhei uma colega que percebeu o mesmo que eu, sorrimos e retribuímos o sorriso para aquele garoto que devia ter uns 30 e poucos anos, mas que mentalmente tinha uns 6 mas que naquele sorriso me mostrou algo que nem a natureza, nem os livros, nem os dogmas me mostraram nos meus 40 anos. Dentro daquele sorriso puro e singelo, eu vi Deus !

Não sei se pela euforia do que estávamos sentido, se pelo resultado do que estávamos fazendo, se aquele sorriso era um prêmio, um agradecimento, um amor tão forte, só sei que aquele momento ficou gravado na minha eternidade como todos os outros onde busquei e estive perto de encontrar, algo muito mais forte diferenciava esse momento dos demais que tive em minha vida. Ainda hoje quando me recordo cheio de gratidão no coração a força interna que sinto me tira o sono, me intriga a mente, me estimula o espírito. 

domingo, junho 09, 2024

Deus 1

Afinal o que é DEUS ? Através dos séculos crenças e religiões tentaram traçar uma imagem para entender o que é DEUS? Obviamente há uma tendência natural de imaginá-lo como uma figura humana, supremo de toda a sabedoria mas enérgico pintou-se Deus como um senhor de meia idade, branco, de cabelos e barbas brancas, simbolizando uma suposta pureza, longevidade e sabedoria; forte e musculoso para demonstrar todo o seu poder. Mas porque diante de toda a natureza ele deveria ter a forma humana, algumas crenças o pintam como um animal, de uma Salamandra a um Caramujo e porque então não teria ele a aparência de uma tartaruga ? 

As dúvida e inquietudes vão muito além das aparências de um Deus, sua forma de atuar como sendo um pai bom e amoroso ou um mestre que nos dita cada caminho a seguir. Acompanhando nossas atitudes como quem nos controla como marionetes ou apenas um Criador que definiu Leis e processos naturais que nos rodeiam e a qual estamos sujeitos ? Isso porque nem entramos ainda no mérito mais básico que é sobre a existência de Deus, uma inquietude pertinente nessa reflexão, mas partimos do pressuposto básico de que se existe criação, existe um criador...

Poder da criação já seria por si só algo que nos faz divagar ao longo da existência humana, se pensarmos no Universo então ... Microcosmos e Macrocosmos seria tudo uma coincidência natural ? Ou somos o fruto de um poder criador inteligente? Saindo agora de uma discussão sobre a imagem de Deus e de uma tendência a querer humanizá-lo ... existe uma inteligência única dentro dos milhares de processos naturais que já conseguimos conhecer ? Somos fruto de uma criação ? Se fomos gerados espontaneamente, e regidos por algumas Leis gerais, o que ou quem definiu essas Leis ? Se fomos criados por um Deus ... quem criou o próprio Deus? Seria ele o conjunto de tudo o que não podemos compreender ? Assim como a fé é o poder que não controlamos... 

Pensamos num Deus supra humano numa tentativa de nos reconhecer Nele (e lá vem o narcisismo humano de tentar suas próprias imperfeições sempre!), mas isso ocorre por pura incompetência nossa de conseguir imaginar  algo que não conhecemos, Deus pode ser simplesmente uma energia criadora de magnitude imensa a ponto de criar e acompanhar toda a sua criação, Ele pode também ter criado regras, Leis que funcionariam em todo o universo e toda a existência estaria sujeito a essas regras, ditariam o conhecimento divino e através delas tudo seria orquestrado sem necessariamente uma interferência direta de Deus , algo como por exemplo a Lei da gravidade que existe em menor ou maior grau influenciando por onde se vá no Universo, desde os átomos, até os astros, todos os corpos estão sujeitos a essa "ação de Deus" e de seu conhecimento.  E como tentar conhecer algo que não está presencialmente diante de nossos olhos e que seja muito maior que a nossa capacidade intelectual? Como amar algo que não conhecemos bem ? É como amar uma pessoa, criamos um sentimento por algo que conhecemos e criamos expectativa por algo que supomos conhecer.

Conhecer um Criador a partir de sua criação é um caminho viável na maioria dos casos, é como tentar entender a psicologia de Leonardo Da Vinci a partir de seus escritos, suas pinturas, o lugar onde viveu , temos muita coisa palpável para trabalhar, mas devemos ter um pouco de imaginação para tentar conceber um pouco como era o gênio a partir de seu trabalho. É uma pesquisa semelhante que tentamos conduzir para entender Deus. A partir de sua obra divina, buscar entendê-Lo. Mas onde estaria a obra de Deus? Espalhada pelos quatro cantos do mundo ? Por todo o Universo? Nas coisas mínimas? Se entendermos um Deus criador de tudo, em tudo existe uma partícula divina. Teríamos que compreender toda a física, a química e a biologia  a partir dos processos matemáticos para entender um pouco que que é Deus? É claro que um cientista opera nesse caminho há milênios, mas e se quisermos entender os sentimentos?  Porque ir buscar no mundo subatômico se podemos começar com algo muito perto de nós ? Porque não supor que a inteligência humana deriva de uma inteligência de seu Criador para que possamos dentro de nosso micro cosmos traçar paralelos com Deus e compreendê-lo mais? Se Deus nos criou, decerto existe uma partícula Divina dentro de cada um de nós e dentro de cada coisa nesse universo vasto e complexo. E aí está algo para nos aprofundar em pesquisa. Tão perto, e tão distânte, teoricamente Deus está dentro de nós, porque nã começar por entender a nós mesmos? Ou em coisas que estão por perto, no nosso cotidiano, na natureza que nos rodeia? Onde e quando reconhecemos Deus? Estamos aptos a fazer essa pesquisa, a descobrir aos poucos sobre essa energia que supõe-se que tenha nos criado? Será que podemos nos decepcionar por não chegar a lugar nenhum ou a chegar em algum lugar que não poderemos compreender?

Se pararmos para pensar e reconhecer onde vemos seria um caminho fácil para encontrar  Deus. Mas é preciso ficar atento para ter certeza de que  estaremos reconhecendo Ele realmente com os nosso olhos, ouvidos e ... Sentimentos. Estamos como olhos , ouvidos e sentimento atentos para captar Deus em cada coisa ? Ou passamos batidos por ele em 99,9% do nosso tempo? Porque se Deus está em tudo, é possível  sentir sua presença na natureza, nas relações humanas, no amor, no carinho e no ódio. Aonde você viu Deus ? No abrir de olhos diário, numa mãe dando aconchego ao seu filho? Num ato de ternura, na compreensão das tais Leis? Nas religiões  que definem  Deus tanto sendo um senhorzinho barbudo quanto um caramujo? Nas suas atitudes diárias? Onde está o Seu Deus ? 



sexta-feira, maio 31, 2024

Dia de eleição

Título na mão, números dos candidatos guardados, nunca da cabeça para não esquecer deles nos próximos anos. Era assim a minha rotina de voto desde que comecei a cumprir meu dever a uns 17 anos atrás, me recordo de fazer uma peregrinação por Vila Isabel, revendo velhos amigos e sempre em companhia dos inseparáveis Ali e Fernando, as longas filas eram ótimas oportunidades de colocarmos o papo em dia, depois de rodar por lugares da nossa infância. Com o tempo a magia do voto acabou, os passeios com os amigos ficaram raros, a vontade de dar o voto a um político para não pagar R$ 3,50 de multa vai ficando cada vez menor, porém outras motivações acontecem, mas que uma surpresa política o passeio a pé com minha esposa e meus filhos para mostrar-lhe um pouco da magia eleitoral que eu sentia nos meus anos de adolescente, o exemplo é tudo para eles terem um mundo melhor.
Atualmente o assunto política é um assunto chato, a ideologia deu lugar ao marketing político, há muito que voto no menos pior e não concordo com o modelo político adotado pelo Brasil, a troca de favores, o toma lá dá cá, os desmandos, a roubalheira, a divisão dos poderes, as administrações tacanhas e obsoletas. Nada de novo em Brasília, nada de novo no meu estado, cidade e nem na forma de se fazer política.... o último político que priorizou a educação foi o Cristovam Buarque em 2006, o Centrão segue a política da UDN de travar o governo e barganhar tudo em torno da governabilidade.
E o discurso vai ficando chato, a política vai dividindo o povo que deveria cada vez mais se unir, a cultura de "nós e os outros", desfaz amizades e releva a política a um assunto que ninguém mais quer abordar, a despolitização acaba por deixar tudo do jeito que está, as esperanças que eu carregava nos tempos juvenis ficou pra trás, amizades foram quebradas, brilho nos olhos foram ficando turvos, esquerda ou direita seguem os mesmos modelos políticos mal sucedidos.... então no próximo dia de obrigação eleitoral cumprirei minha caminhada pelo bairro focando só na nostalgia dos tempos idos.

quarta-feira, março 13, 2024

A morada do silêncio

O silêncio vive atrás dos muros, onde àqueles que querem falar vivem na angústia do calar eterno. 
É um silêncio pálido e profundo... Abafado pela escuridão, revolto por terra sagrada. Frio e sem vida.
Não há um último apelo, não há o último lamúrio
Somente silêncio repentino e eterno, não houve mensagem de despedida nem pedido de socorro nada pode impedir aquele silencio.
Que ao mesmo tempo que nós é imposto por força maior, é democrático... Igual para todos.
Do louco moribundo, ao gênio... Do miserável assassino, ao artista de tv
O silêncio atrai comentários sobre o que foi dito e que não vale mais...
Com silêncio maior que o tempo na beira da rua da saudade, o silêncio tem endereço apesar de não andar mais.
É um silêncio largado na sarjeta imune a tudo que venha depois....  Imutável estado que não muda mais. 

quinta-feira, maio 25, 2023

As ruas da cidade

Houve um tempo em que as ruas da cidade testemunharam nossas vidas e, que se soubéssemos teríamos aproveitado muito mais. Tento lembrar das dificuldades do dia a dia, do engarrafamento que me chateou, mas só lembro dos sorrisos.... Das conversas que rolavam enquanto íamos em direção a qualquer bar pra um almoço... E não importava a comida, mas o garçom amigo que nós atendia. O que fica do tempo que não para os momentos bons ou ruins são nossas ,emorias e o que fizemos dele, o soberano tempo... Ah e se pudessemos voltar no tempo, provavelmente não teria saído mais cedo de casa para não ficar no engarrafamento mas sim teria dado mais um abraço e se ele fizesse eu me atrasar mais ... Dane se o engarrafamento!

Pessoas apoiando outras , vida fluindo ... nossa história sendo criada dentro do nosso tempo. Tudo isso para que, num dia como hoje, pudéssemos olhar para trás respirar com mais candura as coisas que vivemos da vida, todo amor que deixamos pelo caminho.
Época em que problemas afloravam, angústias apareciam, mas o trabalho era o local de lazer ... De espairecer e de viver tudo aquilo que queríamos construir. Tudo passou e nossas vidas se transformaram no que pudemos fazer, muitos dos nossos sonhos tiveram que ser enlatados, e não há problema algum nisso... Porque a vida é leve e temos que saber viver o que ela nos propõe, tirar o que melhor pudermos dela. Para viver a vida, é preciso ter coragem de seguir em frente mesmo olhando pra trás ... Temos que tomar decisões, virar páginas esquecer mágoas , secar lágrimas e seguir por caminhos que desviam do coração, sempre haverão momentos de reencontros e um tempo para olhar com orgulho tudo o que ficou para trás. Isso nos dá mais força para seguirmos outros caminhos fazendo fazer valer a pena as escolhas que fizemos. E no fim tudo se ajeita ! 
Que a brevidade das coisas perdure em nossa memória com o senso de gratidão que as coisas que moram no coração merecem ter. Que a vida seja longa, leve e cheia de candura para realizarmos nosso planos e vencermos nosso desafios. As ruas do centro da cidade continuarão como sempre estiveram, testemunhando vidas, lágrimas, sorrisos e a fluidez da vida que deixa rastros mas não os que se espalham pelo chão ... Hasta siempre!

terça-feira, abril 04, 2023

O muito que eu vi da vida

Acho que vi muito, em tempos tão conturbados, onde o muito, nesse caso tem significado mais relacionado com  intensidade do que longevidade.

Eu vi os anos 70... também vi os anos 80, a virada de um milênio... sem esquecer da década perdida dos anos 90! Vi os anos 2000 e a apática década de 2010, mas nesse período assisti da janela de casa uma Copa do mundo, uma olimpíada, encontros pra celebrar o mundo , pensar na natureza e não trazer nenhum resultado concreto para o mundo.

Eu vi o final de uma ditadura, a redemocratização do país ... minha primeira lembrança de um feito televisivo foi o golpe dos aiatolas no Irã! Eu vi a guerra das Malvinas, eu vi o bombardeio americano na Líbia Vivi no mesmo tempo que Pelé, Zico, Platini,Zidane, Sócrates, Júnior, Éder, Maradona, Messi, Cristiano Ronaldo, Romário, Ronaldinho, Ronaldinho Gaúcho, comemorei títulos, vi o samba se transformar em maior espetáculo da terra, vivi no mesmo tempo de Darcy Ribeiro, Humberto Eco, Domenico do Mazi, de Fidel Castro, de Brizola,  de Margaret Teacher, de Mitterand, de Tancredo, Covas, Obama, Reagan, de Mikhail Gorbachev pontuando seu conceito de Perestroika. Vivi um tempo e que não haviam mais Beatles como banda mas como músicos independentes , vi Tom Jobim tocar, Elis cantar, vi o Rock in Rio 1, ídolos morreram... Ayrton Sena, Michael Jackson, Paulo Gustavo, Lennon, Vangelis...

Eu vi a guerra do Irã contra o Iraque, e as duas guerras do Iraque, eu vi o vulcão krakatoa explodir, o cometa Harley passar, o novo século com novas esperanças, o impeachment de presidentes, um casamento de uma princesa inglesa e depois o divórcio da mesma, mais tarde ainda vi essa mesma princesa morrer e vi uma rainha longeva morrer. Não é comum em séculos ver um papa sofrer um atentado, um outro abdicar. 

Vi o 11 de setembro, uma guerra insana contra o terror, mais atos e atos terroristas.... Vi a espoliação do povo, o massacre contra culturas , o avanço tecnológico diante da pobreza de espírito do mundo vigente. Convivi com a falta de liberdade e com o grito sufocado dessa mesma liberdade que corria pelos cantos da China, numa primavera árabe , num cybercafe no Líbano ou em Israel. Mas ao mesmo tempo era um período onde muito pouco se usou a palavra perdão !

Eu vivi uma época de prosperidade com boa parte do mundo ainda passando fome. Eu vivi a revolução da tecnologia e da informação, convivendo ainda com taxas de analfabetismo. Vivi o ápice da longevidade humana Graças aos avanços da pesquisa na área de saúde numa mesma época em que uma pandemia assolou o mundo. Além dos tempos da aids, do ebola da dengue e da febre amarela. Acompanhei de perto uma crise do petróleo, crises da bolsa, epopeia da China que saiu da idade média para ser a maior potência mundial, acompanhei os tigres asiáticos, a derrocada do socialismo com a queda do muro de Berlim, vivi tempos de guerra fria, o final de países e a criação de outros, uma completa mudança no cenário geopolítico mundial.  O final da cortina de ferro o desmembramento de países com o final da União soviética. 

 Vi o futuro ser construído, o passado ser resgatado mas muito do nosso presente ser apagado com as atitudes rasas das pessoas que vêem tudo passar pela sua frente de forma passiva e sem se dar conta que isso é a história que vai ficar do nosso tempo. Me dá até um certo cansaço lembrar disso tudo, me sinto velho mas um típico espectador ativo dos novos tempos pois não paro de refletir sobre os efeitos causais das coisas que ainda estão por vir, porque o tempo não é só um trem que passa diante dos nossos olhos na estação , muitas vezes podemos adentrar nesse trem e viver a experiência dessa viagem.

terça-feira, março 14, 2023

Cidadãos sem cidadania

Cidadãos sem cidade 

Não tem transporte 

Lhe falta asfalto... 

Não tem bit, não tem byte

As calorias? São vazias! 

A fome ... lhe dá um vazio por dentro 

A cultura é rasa!

No frio ... mal se aquece

No calor ... padece!

Não tem documento

Não tem identidade

Tem um voto 

Mas lhe faltam com a verdade

Sua vida é um tormento

Não tem saúde 

Não tem educação 

Vive sem alento

De escassos planos

É só um sofrimento 

De viver sem sonhos 

Sobrevive

Sub-vive

Desejo se vão

Esperanças afogam em lágrimas

Sem lenço pra secar

A margem de tudo

Dos registros do governo

Da lista de endereços

Nas sombras do sistema

Irreconhecíveis 

Até entre os pagadores de impostos

Transparentes aos bancos

Despreparados aos empregos 

Nem os gatonets lhes querem 

Porque não tem como pagar.

Não tem morada

Não tem CEP e nem CIEP

Não tem Vida 

Não tem nada



segunda-feira, março 13, 2023

O que falta numa favela?

 O Brasil é tão imenso e tão diverso que não consegue se conhecer e as realidades, dos brasileiros que convivem nas praias, ruas, meios de transporte, casas são completamente ignoradas, dentro de um contexto um pouco diferente, mas abrangendo esse ponto também em 1978, os geniais Aldir Blanc e Maurício Tapajós criaram Querellas do Brasil, ou seria Quer Ellas?? Ficou famosa na voz da também genial Elis Regina.

O Brazil não conhece o Brasil 

O Brasil nunca foi ao Brazil

Óbvio que verso traça um paralelo entre classes, dentro de um contexto cultural social mas a verdade é que para muitos, não existe fome, preconceito racial é algo que acabou em 1888, que favelado mora ali porque quere para muitos outros, o povo que vive no asfalto não trabalha, não produz e não estão preocupados com o sofrimento alheio, ganham tudo porque tem dinheiro e não passam dificuldades na vida. Os abismos vão se abrindo e fica mais difícil as realidades se descobrirem. Para uns, o transporte coletivo é no máximo um avião ou um trem na Europa e nem se dão conta das mazelas e benefícios dos nosso próprio transporte porque aqui ... eles não se misturam! Se para muitos, e eu me incluo nessa... pensar nas disparidades e dar uma cesta básica, ou uma roupa velha aqui e ali é a forma de ser solidário, outros ignoram completamente realidades alheias. Quando as pessoas passam a operar por si mesmas, não tendo uma noção de pertencimento a um grupo fica cada vez mais difícil reaproximar diferentes lados ... mesmo que não sejam completamente opostos.

Então para você que nunca pisou numa favela, e não tem noção do que se encontra por lá pode se pensar que falta tudo, dinheiro, água, saneamento, escola, atendimento de saúde, segurança, ordem e organização ... opa! peraí. Em muitos lugares até que se organizam muito bem para vencer as mazelas do dia a dia, nem sempre tem força para ir além das periferias e favelas, mas fazem um bom trabalho. Se você pensa que existe miséria completa, sim existe mas ... pobreza e vida simples não se torna uma miséria quando se tem dignidade e mas se pudéssemos resumir em uma palavra tudo o que falta numa favela, essa palavra seria ... DIGNIDADE. Dignidade para poder exigir, para poder lutar por seus direitos básicos, dignidade para coexistir em igualdade de condições com pessoas menos capazes, dignidade para ser um cidadão de fato, dignidade para comer, estudar, sonhar... morar!

Ter uma casa própria deveria ser uma meta atingível para todo cidadão, muitos nunca vão conseguir isso, outros tantos não vão conseguir nem tentar e outros nunca nem sonharão com isso! Porém toda pessoa tem que morar em algum lugar, para ... viver, chegar do trabalho. Enquanto muitos ainda moram nas ruas, outros até tem uma casinha, nem sempre essa moradia tem condições aceitáveis face a sua precariedade, em outros casos melhores é uma casa para se viver com certa dignidade, mas ... a pessoa não tem, endereço! Pessoas sem CEP são 36,2 milhões no Brasil e isso também é uma forma de não dar a devida dignidade a uma parcela bastante relevante da população.

Uma pessoa sem CEP, não tem acesso a sistemas regulares da saúde, se passar mal não tem acesso a bombeiro, ou ambulância... e o detalhe, muitas vezes essa pessoa paga por isso com os seus impostos incorridos em todo o tipo de serviço e produto, muitas vezes não mora num endereço reconhecido e as empresas de entregas não chegam lá onde ele mora, outras vezes tem que dar endereço de parentes ou amigos ou mesmo pagar taxas extras em associações de moradores para receber entregas de compras de internet, mas não tem provedor forma de internet, ou de luz e esse tipo de situação abre um mercado para milicias que controlam áreas inteiras de uma cidade. 

Uma pessoa sem CEP perde em situações tão corriqueiras onde é preciso dar um comprovante de endereço e isso vai desde conseguir um emprego formal até arrumar um provedor de internet ou ter um plano de celular pós-pago! Nesse último caso um plano pré pago com preços caríssimos é a saída para se conectar ao mundo e hoje em dia quando falamos de alguém prejudicado pela falta de internet, podemos interpretar como exclusão social!

Novas soluções estão sendo criadas para o endereçamento virtual em áreas de risco e excluídas do mapa das cidades, as associações de moradores tem ajudado muito nisso, tecnologias novas de criação de CEP por geolocalização também, criação de um ecossistema logístico operado pelas grandes empresas de comércio virtual, poder público, empresas de tecnologia e com os próprios moradores para fazer entregas nessas áreas, mas tudo isso incorre em custos mais altos para quem muitas vezes não tem condições. No vácuo desse transtorno o crime organizado também começa a operar, ou atrapalhar quem queira atuar de forma honesta nesse mercado crescente, e mais uma vez a dignidades das pessoas cai na lama de um país que não olha pra si mesmo e que não se reconhece quando se vê rico e próspero ou quando se vê miserável com records de lucro e arrecadação do poder público, de bancos e grandes empresas.


domingo, março 12, 2023

O Globo não mostra

 Um amigo acredita que toda pessoa pobre esteja influenciada pelo jornal O Globo do Rio de Janeiro, um jornal classes A e B que ele acha que custa pouco para uma realidade brasileira, pois bem além do custo de um jornal de papel ser completamente impensável numa realidade econômica, uma leitura virtual poderia estar acessível para qualquer um, pois todo mundo tem celular hoje em dia, mesmo não concordando muito com essa realidade de que todos tem um celular, para ler um artigo é preciso geralmente uma assinatura virtual, um valor tão irrisório pra ele, que possivelmente esqueceu que existe, mas aí tem o pacote de dados... algo que para ele também é irrisório, mesmo o Brasil sendo o país com o custo de internet mais caro do mundo (considerando-se equipamentos de acesso, sem considerar isso somos o 71º em 114 países pesquisados). Se um morador pobre de periferia no Brasil, conseguisse romper essa barreira econômica, ainda vem um outro ponto mais básico... ele precisa saber ler! Temos 16 milhões de brasileiros completamente iletrados, e 33 milhões que não conseguiriam compreender mais que 3 ou 4 palavras de um artigo do Globo.

Se a influência fosse em relação a televisão que é um veículo passivo de informação que não preconiza a reflexão imediata, aí eu poderia concordar, se a discussão fosse em relação aos mandos e desmandos das organizações Globo que busca os interesses próprios manipulando e distorcendo fatos há décadas ... tudo bem! Mas seu poder de influência só de um dos jornais da organização sobre só uma parcela da sociedade aí é muito pouco e demonstra um total desconhecimento de uma fração ínfima da nossa sociedade perante a imensa maioria desse país. É o Brazil que não conhece o Brasil!

sábado, março 11, 2023

País partido

Que vivemos num país partido todos já sabem, que nossas divisões socioeconômicas
 são imensas, chegamos a estudar nas escolas sem nunca conseguir ao menos reduzir nossos abismos, também sabemos. Mas atualmente existe uma nuance desse abismo social que tem crescido, a falta de empatia e intolerância de parte a parte tem trazido para a política um vies de pais. 

Campanhas publicitárias, políticas públicas, oportunismos de mercado até tentam aproximar minorias da maioria, como nos casos de negros, mulheres, homossexuais, trans, e toda uma sopa de letrinhas que nos fazem nos perder nas palavras e ações conjuntas para criar um país de todos, isso já virou slogan de governo! Mas algo que ainda não consegue ser rompido é o Gap social entre ricos e pobres. As disparidades são grandes e animosidades crescem a ponto de uns não conhecerem a realidade dos outros. O Brasil não conhece nem o seu padrão de consumo, e se aquela persona que você criou para impulsionar o seu negócio é um branco 35 anos, bem-sucedido, com formação acadêmica, carro na garagem e se matando pra pagar a prestação do apartamento e manter as dívidas controlas esqueça ... Nossa realidade é muito pior! 

Somos cerca de 210 milhões desses, 118 milhões são negros, 108 milhões são mulheres e 165 milhões moram na periferia, então se você ainda não entendeu por que as propagandas estão mudando o seu foco e porque nas novelas existe sempre o núcleo da periferia ... não é lacração, é o Brasil tentando se encontrar depois de um período longo de embriaguez. Se você ainda se assusta com uma passeata gay com 2 milhões de pessoas batendo qualquer comício eleitoral e com ampla divulgação da TV, entenda, são 15 milhões de homossexuais no Brasil e continuamos matando-os por preconceito. Obrigatoriedade de PCDs nas empresas? Imagine deixar 12 milhões de brasileiros a margem do mercado de trabalho, porém a meritocracia impõe que eles atuem melhor que outras pessoas sem problema algum, dentro do padrão não igualitário do Brasil isso é impossível e acaba que o paternalismo artificial acaba por incentivar as empresas a financiar a formação de jovens PCDs. 

Dois terços dos trabalhadores brasileiros conhecem alguém que já sofreu algum tipo de preconceito, discriminação ou humilhação no seu ambiente de trabalho, dentre as maiores causas estão discriminações de raça e orientação sexual, e parte significativa da população ainda acredita que existe muito mimimi por aí, são completamente contrárias às políticas de incentivo e reparação, sejam elas a partir de cotas ou espaços que passaram a ser abertos na mídia. 79% dos brasileiros acham que muitas marcas se aproveitam do combate ao preconceito apesar para fazer propaganda, mas que não tem ações concretas de mudança de realidade. E quando uma população se revolta contra a instituição policial numa favela o termo pejorativo de cambada de favelados bomba nas redes sociais, mas a instituição com maior percepção de discriminação racial no Brasil é a polícia, há de se defender policiais corretos e separar o joio do trigo, porém existe a contrapartida de ver que numa favela não existem só bandidos e que excessos são cometidos de parte a parte, mas a polícia como sendo parte do estado de direito não pode cometer tais excessos, ela deve reprimi-los. 

Se você tiver que repensar sua estratégia de atingir os consumidores no Brasil, entenda que mulheres, negros das classes CDE concentram 80% da intenção de compra do país, se você não atinge essa parte da população você vive para um nicho de mercado e a minoria é você! E preste bem atenção que a concentração não é puramente de consumo, mas de INTENÇÃO de consumo porque nessas classes o dinheiro é contado e é quase impossível consumir de uma forma que não seja por impulso, traçar planejamento financeiro para uma compra mais vultuosa é um esforço em vão pois ao primeiro aperto as economias se vão e essa forma de se consumir também difere o país entre as classes sociais. Classes AB planejam o consumo, praticam consulta de preços, tem acesso a preços e condições melhores de crédito, acessam produtos diferenciados e conseguem de alguma forma praticar um planejamento financeiro, classes CDE não tem acesso a crédito, não sabem o dia de amanhã e consomem o necessário hoje, pagam preços maiores por isso ...e mais abismos se abrem! A verdade é que só 33% da população brasileira tem um "padrão internacional de consumo aceitável" esse índice ainda é baixo e faz com que investimentos no Brasil não sejam viáveis para empresas internacionais e que não consiga alavancar crescimento de empresas nacionais. Daí o esforço para manter uma parcela da população pelo menos perto da margem de consumo optando por políticas públicas de remessa de dinheiro, não é só um assistencialismo barato, é uma forma de impulsionar a economia.
O consumo no Brasil em 2020 foi da ordem de R$4.9 trilhões, nossas disparidades nos levam para R$2 trilhões serem feitos por mulheres, só R$ 1.6 trilhões pela classe CDE, R$2 Trilhões por negros. Podemos dizer que somos um retrato do mundo onde dos US$ 42 trilhões gerados de riqueza entre dezembro de 2019 e dezembro de 2021, US$26 trilhões (63%) ficou na mão de .... 1% da população! Os US$16 trilhões restantes (37%) ficou para todo o resto do mundo junto. Significa dizer que para cada dólar ganha por uma pessoa dentre as mais pobres do mundo, um bilionário ganhou US$1,7 milhão, as disparidades globais não param por aí ... Elon Musk ... o bambambam do dinheiro, pagou uma taxa de imposto real de 3,27% entre 2014 e 2018, uma vendedora de farinha em Uganda, ganha US$80 por mês mas paga uma taxa de imposto de 40%. Se o imposto taxado para bilionários como o Elon Musk fosse de 5% a economia seria impulsionada em US$ 1,7 trilhão por ano e tiraria da miséria 2 bilhões de pessoas. 

Pesquisa e números : Oxfam, Locomotiva, CUFA, PNAD e IBGE.
 


quinta-feira, fevereiro 23, 2023

A Inteligencia Artificial e o ChatGPT

 Serão cada vez mais comuns sistemas de inteligência artificial, na verdade já são muito mais comuns do que a grande maioria da população pensa. Por questões profissionais eu tive que estudar o tema desde muito novo, acabei não me interessando muito por sentir que o mundo não estava preparado para isso há 3 décadas atrás, hoje com o volume de dados disponível e com a capacidade de processamento maior posso dizer que tecnicamente o mundo está mais preparado. Porém sob o ponto de vista de aplicabilidade e pensando sob a ótica social será que estamos preparados para esse salto de evolução ?  Mesmo que não estejamos, é um fato irreversível e vamos ter que nos adaptar. 

Sou da época em que vi centenas de digitadores serem demitidos porque eu criei um sistema que eliminava a interface humana, digitando textos que já estavam em outro sistema, criei o que chamamos de interface entre sistemas e no exato dia em que meu sistema foi pro ar, vi as pessoas serem demitidas, de início fiquei triste, aos poucos fui percebendo que era inevitável isso, alguns tiveram um acompanhamento da empresa para mudar de rumos e por anos eles já tinham sido avisados que deveriam mudar de profissão que eram os novos datilógrafos, ou como os acendedores de lampião das ruas, em pouco tempo ficariam obsoletos. Para todas essas profissões o impacto da tecnologia foi setorial, para a IA não ... o efeito seria irreversível mudando o rumo de várias profissões ao mesmo tempo e extinguindo várias. Imagine de uma vez só juízes advogados, desembargadores e etc sem trabalho a fazer porque um sistema de IA seria capaz de rever e tratar de todos os processos jurídicos parados há décadas? Imagine diagnósticos médicos feitos por um computador... ou previsão do tempo sem meteorologistas, programadores de computadores em sistemas no-code etc etc ... porém existe o outro lado da moeda que é bem menos cruel. O uso da tecnologia só como ferramenta para aumentar nossa eficiência, jornalistas escrevendo mais rápido, do email do trabalho ou daquela mensagem de aniversário num dia sem inspiração, muita coisa pode ser facilitada com o uso da IA. Estão disponíveis para as funções desde um estudante até a alta gerência, para uma grande empresa ou um freelancer, porém o protagonismo sempre é o do ser humano! Existem nuances do nosso humor, complexidades sutis da criatividade humana, culturas regionais, identidade e outras coisas que nunca serão respondidas por respostas genéricas. A inteligência artificial nunca substituirá profissionais, mas profissionais que usam IA, com certeza vão substituir os que não a usam. 

Se pensarmos no ser humano com um ser meramente intelectual podemos estar chegando num limite importante, porém se formos pensar que um ser humano tem todo um lado sensível e psico-espiritual aí o caminho é mais longo e tortuoso para a tecnologia. Acontece que muitos seres humanos são meramente isso ... um ser intelectual!  Não se trata da tecnologia alcançando o homem mas o homem se rebaixando ao lugar de uma máquina. Cada vez mais se faz necessário desenvolver habilidades como a de se fazer perguntas, ter uma habilidade de comunicar com empatia, ter criatividade, conhecimento amplo de várias matérias, comunicação assertiva, pensamento crítico e analítico e  um tanto de indignação que nos faz mover pra ser mais que uma mera máquina. Enquanto não houver essa clareza, a IA vai seguir aumentando as desigualdades entre as pessoas.

quarta-feira, fevereiro 08, 2023

A vida fala

Na natureza tudo tem uma linguagem, tudo fala. Até uma criança muda consegue se expressar nem que seja pelo simples olhar, ali ela está falando se comunicando. Às vezes o pleno silêncio também nos diz muita coisa, a silenciosa brisa que refresca nossa face e nos traz paz. É a grandiosidade da natureza falando conosco, o silenciosos apreciar de uma paisagem, as flores que crescem avisando que estão abertas para reprodução e chamando os insetos pra se aproximar.
Tudo fala conosco, as vezes aos berros mesmo numa forma silenciosa de se expressar, porém a ideia do silêncio pode estar muito mais na nossa capacidade de ouvir esses clamores do que da natureza silenciar-se. O que é fruto divino não se silencia nunca enquanto vivo !

quarta-feira, outubro 12, 2022

Depressão

A maior dor é a reconhecida falta de forças onde elas seriam necessárias.
Arthur Schopenhauer

Meu objetivo aqui não é discutir os números crescente, as políticas públicas... Analisar o problema social e expor as soluções! Os números estão aí... Ao nosso redor, mas velados. As políticas públicas inexistentes criam no máximo campanhas coloridas para uma realidade em cor. A depressão e suas doenças correlatas chegam sem avisar criando ao Ser Humano um excesso de vazio sem precedentes na nossa vida. É como perder o paladar e não saber mais o gosto que tem a comida porque descobrimos que no passado também não estávamos sentindo o gosto correto das coisas... E pior, sem perspectivas se vamos conseguir comer novamente com algum paladar.

Tive um evento de depressão num momento de grandes transformações da minha vida, ainda bem que foi um episódio curto, ondem nem ao certo foi diagnosticado depressão, Burnout, síndrome do pânico e etc, porém posso garantir ....foi o pior momento da minha vida! Sentia vazio em tudo! Nós meus valores, na minha vida, no meu potencial... Me faltavam forças, amigos, alma .. me faltava a energia para romper com tudo e essa falta de energia me deixava na cama, olhando para dentro de mim e não vendo nada lá dentro!

O passado e o que gerou esse vazio

Hoje, na distância do que aconteceu consigo tirar algumas conclusões do que desencadeou o tal episódio... Vinha num ritmo acelerado não só nas últimas semanas ou meses, até viajar e passear me gerava um estresse de não aproveitar os passeios para seguir com o planejamentos, era o super homem da família , todos podiam quebrar menos eu! No trabalho entrada todo o dia pelo escritório com postura de líder, sem tempo para respirar e resolvendo todos os problemas com um sorriso no rosto, era uma nova função de gerente e não poderia decepcionar o meu time formado por colegas que depositaram em mim suas carreiras, os rumos dos negócios, as expectativas dos clientes. A família estava crescendo, e um problema de saúde no meu filho que estava nascendo fez a família ficar apreensiva... Eu também fiquei, mas guardei comigo toda a ansiedade para fazer o que deveria ser feito enquanto a família estava partida ao meio. Eu mesmo fiquei doente sem uma razão qualquer e sem qualquer diagnóstico, melhorei e segurei todas as reações adversas que surgiam pela vida ..Segurei .... Segurei ... Mantive as aparências e num belo dia, quebrei ! 
Um olhar mais atento vai perceber o quão doente ou me adoentado eu estava ao longo dos anos, vivia uma fortaleza sem as estruturas fortes de base isso se constrói na infância, mas toda a vez que vamos reformar a tal fortaleza temos que reforçar as estruturas de base e , ao longo do tempo, eu não fiz isso na minha adolescência e no início da minha vida adulta!

Como resolvi a questão 

O primeiro passo para resolver qualquer problema e reconhecer que ele existe, e até entender o que estava acontecendo eu demorei um pouco... Pois não é igual aquela vontade de ficar na cama e não ir pro trabalho numa segunda feira de manhã, nesse caso é não saber que dia da semana estamos e não saber há quantos dias já não vamos ao trabalho! A depressão nos faz perder a noção do tempo, a noção da vida, perdemos referências e dentre essas perdas ganhamos algo.... Nós mesmos e o que realmente importa! Quando nos vemos sozinhos e isolados, lembramos que temos família e eles sempre estiveram ali do lado, temos amigos ... Poucos mas valiosos! Temos Deus, nem sempre  religiões! Foi me apoiando nessas coisas que voltei a tona. 
Desconectei de tudo ... Não podia ver um noticiário falando que queimaram uma árvore na Amazônia que desativa a chorar pela árvore, pela crueldade do mundo e pelo rumo que as coisas estavam tomando. Resolvi largar tudo de mão e me concentrar em mim e a minha família, isso era o básico para reconquistar minha auto confiança. Ligava a TV no máximo pra ver um jogo de futebol ou uma resenha esportiva, algo que distraí se ao invés de deprimir e a vida em geral nos deprime! Comecei a fazer escolhas do que assistir, consumir, comer, escutar , percebi que nem sempre as redes sociais terão algo que me alimente! Abandonei as ! 
Procurei ajuda, essa atitude de humildade me fez ter empatia com quem estava me ajudando a partir daí comecei a cultivar gratidão por elas e fui vendo um outro mundo que foge do corre corre da vida, passei a Observar o livre movimento da vida sob outras perspectivas, fiz acupuntura, massagem, terapia... Cuidei de mim, me coloquei em primeiro lugar, olhei minha saúde pois percebi que não poderia dar aos outros algo que eu não tinha, não poderia amar aos outros se não estava me amando primeiro.

E o futuro?

Os problemas psicológicos não parecem ter uma cura, vivemos de altos e baixos mentais e o que parece é que tentamos eternamente domar esse cão raivoso (ou um cão tristonho) que habita dentro da gente. Para sempre eu vou conviver com isso, e e por conta disso tenho que sempre ter atenção aos sinais que não percebi dessa primeira vez. Quando me vejo tristonho e sem energias de vez em quando, silenciosamente respiro, pego um fôlego, reflito sobre os problemas que consigo ou não resolver, percebi ao longo do tempo que não tenho a capacidade de resolver tudo, de ser perfeito em tudo, posso ser muito bom... Mas não perfeito! Posso dar o meu melhor e as vezes isso é insuficiente para resolver uma questão e se isso acontecer tudo bem. Passei a colocar os problemas dentro da vida e não a vida dentro dos problemas. Passei a conviver melhor com tudo que não era capaz de mudar, há tempos eu acharia isso um fracasso ... Hoje acho isso libertador !

segunda-feira, outubro 10, 2022

O amor começa num chute

  Não sou mãe ...pela ótica de pai não sei ao certo quando começa o amor pelos filhos, não sei se é no sonho de menino de um dia tê-los, não sei se é no momento em que o sonho se realiza em ouvir que o exame deu positivo, obviamente isso vai variar de pessoa para pessoa. Comigo o momento forte não foi quando eu sonhei, quando eu realizei .. mas foi quando eu concretizei! E não foi quando eu vi ali aquele meninão saindo da barriga da mãe. As preocupações foram tantas que, quando eu soube pelo telefone que o tal exame tinha dado positivo, tive um misto de alegria, amor mas o meu caráter planejador sabia que minha vida viraria de cabeça pra baixo e que a responsabilidade da vida tinha batido em minha porta. Aí vieram os nove meses de transformação, no corpo e na alma da mãe... e no meu espírito, sabia que o legado que eu estava preparando teria enfim um herdeiro a se inspirar nos meus passos. Acompanhar ressonâncias, sentir ele chutando a barriga da mãe (sim, esse é o chute que me referia no título), ou ver o parto não fizeram a minha ficha cair. Eu sempre precisei ficar sozinho para me encontrar em mim mesmo e digerir as emoções, os pensamentos e concretizar as minhas conquistas internamente. Lembro bem do dia ... 24 de abril de 2006, madrugada.. ele dormia calmamente num carrinho do berçario de número 007 eu olhava abobalhado aquela criancinha tão perfeitinha e tão frágil em seus primeiros momentos de vida (afinal quando a vida começa?!?!?), olhei o sol nascendo, sim ... como aquele menino o sol nascia como todos os dias, mas naquele dia nascia pela primeira vez pra ele, ia formando uma cor deslumbrante no céu, a mãe dormia cansada... e ali estava eu, sozinho... eu e ele! Quem fazia companhia para a minha solidão era o fruto de um momento de amor por outra pessoa. Peguei eles nos braços, uma lágrima escorreu dos meus olhos, em silencio, levei ele pela janela e o apresentei para a vida! Veja o seu mundo ! Sussurrei no seu ouvido .... estava começando ali um outro ato de amor.

O segundo filho veio em momento atribulado da minha vida, a ficha com ele deve ter demorado alguns meses mais a cair, quando eu percebi já estava amando aquela criancinha barulhenta de uma forma que transbordava a alma, não me recordava do exato momento em que esse amor veio e depois fui percebendo que era um amor bem mais suave e maduro, não brotou de uma vez só, era um amor que já existia mas que me fez acordar da letargia quando a mãe possivelmente fez brotar o amor dela por ele. Ali eu percebi que os homens só nascem de verdade para a vida quando tornam-se pais, e renascem quando vem os outros filhos. Sempre fui pai .. desde criança os filhos já estavam presentes na minha vida, nos meus sonhos, no meu destino, faltava concretizar. Se mães são como eu e precisam estar sozinhas e sentir a concretização daquilo que está acontecendo com a vida dela, essa concretização vem num chute que dão dentro da sua barriga  (e eu não faço ideia da sensação que pode ter isso !!) Ali pela primeira vez a mãe sente a força do que carrega dentro de seu ventre, ali deve brotar o amor que vai carregar até os últimos dias da sua vida. 

Eu posso estar sendo machista ou falando de um assunto que desconheço que  não me compete, porém é algo que sinto no peito que eu pude sentir sendo pai. Um sentimento que pode até ser imperfeito mas o que é uma imperfeição ... se a perfeição da vida está em entender as imperfeições dela ?

Humanidade encurralada nos sonhos dos mortos




 Vivemos num mundo vazio, tomado por informações irrelevantes, por formadores de opinião auto denominando-se influenciadores digitais que determinam o pensamento moderno, os costumes, as atitudes, o consumo. Vivemos numa humanidade à mercê do pouco uso que se faz com o que nos difere do resto das espécies, a inteligência. Mas mesmo assim ainda avançamos como civilização, tendo avanços nas ciências, medicina, criando novas formas de artes, novas formas de interação, de comunicação, indo além dos horizontes já conquistados !

E onde mais poderíamos avançar ? Que novos campos poderiam ser desenvolvidos como a tecnologia dos computadores e celulares? Se tecnicamente a humanidade avançou muito, ainda vemos a brutalidade nas relações humanas, não sabemos lidar com nossa psique, com nosso espírito, temos conceitos distorcidos de tempo, de criação, de existência. Vivemos o que aparentamos, olhamos assustados para o que somos por dentro, não cuidamos do nosso planeta, não protegemos outras espécies, não entendemos os relacionamentos  de leis universais e naturais que regem a vida. Não sabemos conviver civilizadamente... O conceito de civilização começou com uma perna quebrada, ali naquele primeiro momento onde os arqueólogos descobriram uma ossada com um osso de fêmur calcificado inicia-se o conceito de civilização e de vida em sociedade. É simples explicar, num período dos homens das cavernas sair para caçar era extremamente arriscado, conseguir uma caça por si só difícil e durante muito tempo os hominídeos viviam cada um por si, uma fratura de perna significaria a inoperância para caçar, o abandono à própria sorte e ... por fim, a morte ! Mas um indivíduo que chegou a vida adulta, com uma fratura calcificada significa que ficou curado e que coube a algum semelhante cuidar dele enquanto ficava curado, esse alguém que teve pela primeira vez a empatia com seu semelhante, reforçou os laços humanos e possivelmente ali naquele esqueleto calcificado brotou pela primeira vez a gratidão! Difícil saber se foram de fato os primeiros fenômenos mas  com certeza foram os primeiros que puderam ser registrados, num tempo onde a comunicação como a de hoje nos impedia de registrar a vida da civilização. Mesmo aquele esqueleto calcificando sendo tão igual a nós... nos parece tão distante, mas o DNA é fundamentalmente o mesmo, o que nos difere é o conhecimento!

O vazio é existencial, quando os valores humanos não preenchem nossa existência, a solidez da vida acaba ao menor ato de desespero onde busca-se acabar com ela. A devoção pelo que é belo deu lugar ao que vende e tem apelo comercial, não se busca mais fazer o melhor mas o que pode ser consumido rápido. Com isso não se produz arte, não come-se bem, não há conhecimento e sim informação em demasia, se mortos tem sonhos são almas penadas vagando no vazio mas o vazio é estreito porque nem ele prolifera num terreno tão infrutífero quanto o que vemos agora, gerações perdidas e sem certezas em relação ao futuro, sem construir um futuro, sem esperanças no presente, sem sonhos, sem planos e com muita religião ... muita crença e pouca fé!