domingo, dezembro 07, 2025

O descanso da alma com amizades verdadeiras

A confiança de uma amizade nos permite desarmar, retirar aquela armadura pesada que tantas vezes precisamos vestir na caminhada diária. O mundo pode ser hostil, e por isso erguemos defesas mentais para proteger nossas convicções e nossa individualidade. Essa armadura, no entanto, não deve ser rígida a ponto de nos engessar, mas sim flexível, como uma malha de ferro que nos resguarda sem nos impedir de mudar. Ainda assim, é um fardo difícil de carregar o tempo todo. Por isso, precisamos de um refúgio sereno, livre de perigos, onde possamos descansar e aliviar o peso das costas — e esse abrigo é oferecido pelos amigos.

Aristóteles já afirmava que as amizades verdadeiras são essenciais para a felicidade humana. É nesse espaço de essencialidade que florescem a confiança, a entrega e o compromisso genuíno, não como cobrança, mas como fruto da partilha de valores como amor, respeito e gratidão.

Se a armadura existe para proteger quem realmente somos, as boas amizades cumprem o papel de nos resguardar quando estamos despidos, oferecendo acolhimento sem julgamentos. Afinal, é na presença dos amigos que encontramos a liberdade de sermos inteiros, sem máscaras, e ainda assim protegidos e respeitados.

 



Os ciclos que a vida faz

 Dentro de um clima tropical, nem sempre percebemos o mudar das estações. Não percebemos, mas a natureza é forte e constante, e a mudança está ali: constância dentro da mudança. Há ciclos!

Quando viajamos no inverno, isso fica evidente. O frio se impõe. O ar muda, a luz muda, a duração do dia muda. O silêncio das ruas anuncia uma estação inteira.

Já foi diversamente estudado como o ritmo de vida do ser humano mudou ao longo dos séculos por conta de novas tecnologias. Como a luz elétrica, a vigília noturna acabou; a vida noturna passou a ter mais agito. Com isso, perdemos o silêncio para reflexões mais profundas, o espaço de contemplação do universo e de como somos pequenos diante das estrelas. Talvez por isso tenhamos nos tornado tão megalomaníacos.

Deus é perfeito em Sua concepção; nós é que somos imperfeitos ao tentar impor nosso próprio ritmo à vida. A natureza ensina: se o corpo pede descanso, descanse; se o mundo se transforma, transforme-se também. . Transformar é como renascer, é como a natureza que nasce, cresce, morre e renasce transformando-se.  

Os exemplos estão a nossa volta: desde o girino, que tem que deixar de ser o que é para se tornar sapo, até uma cobra, que tem que deixar sua pele de lado de tempos em tempos; os ursos, que hibernam para se preparar par as mudanças; os insetos, que reservam comida para enfrentar o inverno; e o exemplo clássico da borboleta. É a sutil evolução da vida. Sim estamos em constante evolução, e não adianta remar contra a maré, é uma Lei Universal.

Quem quiser chegar a ser o que não é, deverá principiar por não ser o que é. Esse é o princípio de uma Lei Universal da mudança. Entender como funcionam essas Leis são verdadeiros pontos de apoio para entendermos como somos influenciados por aquela natureza que muda diante dos nossos olhos, mas que nem sempre percebemos. 

É como entender outra Lei Universal, a da gravidade, e conseguir tirar o melhor proveito dela para a nossa vida. Percebendo sua atuação ou não, ela está lá, em tudo: transformando, tropeços em quedas, mas também facilitando nossa vida quando sabemos usá-la; Por exemplo, ao se aproveitar uma queda d'agua para produzir energia elétrica (aquela mesmo que nos fez perder o brilhos das estrelas).

Leis assim, são poderosas e constantes, independente de onde estivermos. Ou seja, os ciclos existem mesmo que não estejamos dando atenção a eles. Ver os ciclos da natureza e estarmos sintonizados a movimentos sutis é de sábia importância para entender nosso humor e nossa vida. 

 Uma primavera que lembra a sensação de voltar a acreditar em algo: o tempo esquenta, os dias se alongam e as energias se renovam. Primavera é um tempo de sorrir e de recomeçar, com a euforia e a esperança de iniciar um novo ciclo. Alegre e harmonioso.

No verão, chegamos a um auge da renovação. É hora de doarmos a energia que recebemos; é tempo de expandir, criar planos, viver com intensidade - e as vezes até com exaustão, como pensou Vivaldi.

O outono chega como preparação para a introspecção do inverno. É hora de abrir mão da expansão de vida do verão, de reservar energias, soltar coisas que não vamos precisar no inverno. Como as árvores que se despedem de suas folhas, soltar é confiar no processo do ciclo que se renova; é aceitar finais para termos recomeços; é entender que nem toda perda é negativa e que pode-se abrir espaço para a renovação. Vivaldi mostra aqui uma maior consciência e controle das emoções.

E novamente o inverso: silêncio, pausa, recolhimento. É quando parecemos morrer, mas que estamos só nos recolhendo, hibernando para aceitar a passagem do tempo (mais uma daquelas Leis Universais impossíveis de reagirmos). Entendendo o silêncio, gastando pouca energia: eis o inverno de Vivaldi.

Temer invernos é reagir contra a ordem natural das coisas, que são mais fortes que nós. Isso funciona para a natureza que está ao nosso redor e para o que funciona dentro de nós. Invernos emocionais, psíquicos e intelectuais acontecem na nossa vida. Temos que saber reconhecê-los, respeitar nossos silêncios internos, nossa preparação; extravasar quando precisamos, calar também, com a certeza de que são ciclos e que nada dura para sempre. Todos os ciclos são necessários. E cada um tem uma característica bela que devemos reconhecer e acolher.


Relembre sua infância 


quinta-feira, novembro 20, 2025

Tenho saudade de tudo

 Tenho saudade da casa,

uma nostalgia profunda

e uma reflexão serena

sobre como poderia ter sido com você.

Tenho saudade em silêncio, 

Nas inquietudes da vida.

Mas nunca vou saber 

Da vida com você.

Saudade da segurança da sua voz,

Da decisão do teu amar,

Do incentivo, 

e do carinho do teu cuidar.

Tenho saudade de te amar!



Saudade das noites quentes,

Dos nossos corpos ardentes.

Tenho saudade de tudo

E não me arrependo de nada: 

De como moldamos a vida,

De como seguimos em frente 

E de como demos um passo pra trás, 

tentando buscar no passado 

a saudade do que fomos nós.

E me pego pensando que, diante de tanta saudade, 

se foi mesmo separação...

Uma realidade diversa, uma loucura ou alucinação.

Você ainda está aqui dentro, e não tenho saudade de nada.

Revivo tudo a cada instante -

um tormento:

Ter tudo, e depois não ter nada.

Aí, guardo você no meu peito

e, dentro de cada saudade que parece ser pouca,

junto os cacos da vida.

esqueço a nossa partida,

Perco a paz e a calma.

Tenho saudade de tudo, 

Como tatuagem na alma,

Como eco que não se desfaz.

E se o tempo não permitir reencontros,

que ao menos a saudade me embale

nas memórias que ainda sabem teu nome.

terça-feira, novembro 11, 2025

O que fica de eterno em nós ...

Se Heráclito nos ensinou que tudo flui, há também uma sabedoria que nos convida a perceber o que permanece — aquilo que não se dissolve com o tempo, que não se curva às circunstâncias, que não se apaga com o esquecimento.
O permanente não é o oposto da mudança, mas o eixo silencioso que sustenta o movimento.

Enquanto o mundo gira em torno da impermanência, há uma dimensão do ser que se mantém intacta: o espírito, a consciência profunda, a essência que nos conecta ao eterno. É nessa dimensão que encontramos o que é verdadeiramente real — não o que muda, mas o que dá sentido à mudança. Rochas não são eternas, mas no meio do turbilhão das coisas, muitas vezes elas são o ponto seguro para nos apoiar, aí está a importância do eterno.


O que é o seu eterno? A fé? O que você carrega dentro de si ? Suas convicções ou suas crenças? Os conhecimentos que o levam a transcender, percebendo o sentido das coisas? O espírito?

Dentro das concepções que temos de Deus, é possível afirmar que Ele é eterno. E, se o ser humano foi criado à Sua imagem e semelhança, não seria lógico supor que também carregamos algo de eterno em nós?

Qual parte de nós perece, e qual parte segue?
A parte de Deus que habita em nós pode ser chamada de alma ou espírito — mas se pensarmos na alma como algo mais ligado à personalidade e ao corpo, então o espírito seria essa entidade imperecível, incorpórea e eterna. Essa essência não se altera com o tempo, não se desgasta com as emoções, não se perde nas ideias. É ela que nos permite pensar e sentir o eterno, mesmo em meio ao caos da existência.

A consciência do eterno nos liberta da tirania do efêmero. Quando cultivamos o espírito, não nos desesperamos com o tempo físico — serenamo-nos, como quem se ancora no centro da eternidade. E é nesse ponto que nascem as aspirações mais nobres que podemos ter:

  • A vontade de evoluir, mesmo diante das quedas.

  • A busca pelo justo, pelo belo, pelo verdadeiro — e por outros valores que não se desgastam.

  • A memória afetiva que resiste ao tempo e transforma dor em sabedoria.

  • O conhecimento transcendente, que não se consome como o metal, mas se multiplica e se eterniza dentro de nós.

O permanente não nega a mudança — ele a orienta. É como o caule que sustenta a flor, mesmo quando ela murcha. É como o céu que permanece, mesmo quando as nuvens passam.
O espírito é esse céu interior, onde podemos cultivar ações que não perecem, pensamentos que não se dissolvem, sentimentos e valores morais que não se corrompem.

Na filosofia oriental — especialmente no budismo, no taoismo e no hinduísmo — encontramos uma visão que dialoga profundamente com essa ideia de que “o permanente não nega a mudança, ele a orienta”.
O budismo ensina a impermanência (anicca), reconhecendo que tudo está em constante transformação, mas que há um campo de consciência serena — como o céu por trás das nuvens — que observa o fluxo sem se confundir com ele.

O céu contempla o turbilhão as nuvens na placidez do lago? O tempo muda tudo, mas o céu permanece. 

O taoismo expressa essa harmonia entre o mutável e o imutável através do Dao, o princípio invisível que sustenta o movimento das coisas.
Já o hinduísmo, com a noção de Atman ou Brahman, vê o espírito como o núcleo eterno da realidade — imutável e silencioso — que dá sentido à dança da vida.
Embora cada tradição tenha sua linguagem, todas convergem na mesma intuição: há uma dimensão interior — seja consciência, Dao ou espírito — que permanece, orientando as mudanças externas e permitindo cultivar pensamentos e valores que atravessam o tempo sem se corromper.

Se tudo passa, o eterno permanece como direção.
Ele não é um lugar fixo, mas um estado de consciência.
E é nesse estado que podemos afirmar o melhor de nossas vidas — como navegantes que enfrentam as ondas, mas seguem guiados pelas estrelas que não se apagam.

O mundo gira, as ondas vão e vem, as estrelas rompem o tempo, demoram mas se vão... a luz fica em meio a escuridão.

O permanente é o que nos torna humanos em nossa dimensão mais elevada.
É o que nos conecta ao divino, ao tempo profundo, à sabedoria que não envelhece.
Em meio à metamorfose ambulante, é o que nos permite ser sem deixar de evoluir.
Se o impermanente nos ensina a desapegar, o permanente nos ensina a consagrar.



domingo, novembro 09, 2025

Preste atenção ... O mundo é um moinho

 Heráclito de Éfeso com a noção de que tudo está em constante mudança, registrou pela primeira vez a constatação do devir, paradoxalmente é uma noção que ... fica! Se aproximando bastante com as filosofias orientais (a impermanência é um dos três pilares do budismo e o ciclo de samsara do hinduísmo que mostra a existência como um fluxo contínuo e o Taoísmo chinês como o Tao sendo o caminho natural do universo, fluído e em transformação), Heráclito teve a atenção de combinar Homem e Natureza, na sua frase famosa:

"Nenhum homem entra duas vezes no mesmo rio, pois nem o homem é o mesmo, nem o rio."

Essa citação expressa a ideia de que tudo flui (panta rhei, em grego), e nada permanece igual. Tanto o rio (com sua água corrente) quanto o homem (com suas experiências e pensamentos) estão em constante transformação.

Heráclito acreditava que a mudança é a essência da realidade — uma visão que influenciou profundamente a filosofia ocidental. A partir daí a arte e a ciência se apropriaram da noção da impermanência, demonstrando até com a física quântica moderna e termodinâmica que energia e matéria estão em constante movimento, que o Universo está em expansão, e nada é estático - nem o tempo, como demonstrou a teoria da relatividade de Einstein. (que coloca em cheque até o fluir do tempo).

Filósofos existencialistas começaram a abordar o lado humano disso, com Nietzsche e Sartre destacando o ser humano sempre em construção e uma identidade não fixa, sendo moldada pelas circunstâncias, escolhas e experiências. E nem precisa ser um gênio inconstante como o de Salvador Dali ou Vicent Van Gogh, basta ver os diferentes heterônimos de múltiplas identidades de Fernando Pessoa. A ideia também foi abordada pelas artes.

A Persistência da Memória - Salvador Dali


A Noite Estrelada - Vicent van Gogh transmitindo sensação de turbulência emocional e transformação interior do artista, a Lua e estrelas brilham enquanto a cidade dorme. É um cosmo vivo e eterno diante da efemeridade da vida.


“Nossa cabeça é redonda para permitir ao pensamento mudar de direção”- Francis Picabia.

Diante dessa "Metamorfose Ambulante", tudo passa... tudo muda, inclusive nossas idéias e emoções e aí podemos " dizer o contrário do que dizemos antes.... ou se hoje eu te odeio, amanhã já se apagou". O Homem como um turbilhão de ideias e sentimentos pode se proteger da ideia de que esta em constante transformação, "do que ter a velha opinião formada sobre tudo!" afinal o próprio mundo a nossa volta muda e "nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia".





sábado, outubro 25, 2025

A Educação que Forma o Ser

Vivemos tempos em que o sistema educacional parece cada vez mais voltado para resultados técnicos, provas padronizadas e conteúdos que, embora importantes, não dão conta da complexidade da vida. A escola ensina matemática, ciências, línguas — mas muitas vezes esquece de ensinar o que é o Ser humano, além do sentido biológico. Esquece de preparar o indivíduo para lidar com suas emoções, tomar decisões éticas, enfrentar desafios econômicos e construir uma vida com propósito.

É urgente repensar a educação. Precisamos de uma formação que vá além do intelecto e alcance o coração, a consciência, o caráter.

Educar para o caráter é cultivar valores como respeito, empatia, honestidade e responsabilidade. Não se trata de doutrinar, mas de oferecer espaços de reflexão, diálogo e vivência. O aluno precisa entender que suas escolhas têm impacto — em si mesmo, nos outros e no mundo.

Educar para a autonomia econômica é ensinar o valor do trabalho, do planejamento, da gestão financeira. É preparar o jovem para lidar com dinheiro de forma consciente, para empreender, para buscar sua independência com dignidade. Isso é liberdade.

Educar para o cumprimento das obrigações é formar cidadãos comprometidos com o coletivo. A escola deve ensinar que disciplina, pontualidade e responsabilidade não são apenas regras, mas ferramentas para construir confiança e respeito mútuo.

Cultivar bem as sementes, deixar que raízes fortes em valores sustentem galhos voltados para o conhecimento e o futuro.

Educar para o amor ao trabalho e ao progresso é inspirar o aluno a enxergar o trabalho como expressão de criatividade e transformação. É mostrar que o progresso não é apenas tecnológico, mas também moral, espiritual e comunitário.

Educar para a inteligência emocional é oferecer ferramentas para que o aluno reconheça suas emoções, lide com frustrações, desenvolva resiliência e construa relações saudáveis. Em um mundo cada vez mais acelerado e exigente, essa habilidade é essencial.

Educar para a vida em sociedade é preparar o indivíduo para conviver com o diferente, respeitar a diversidade, dialogar com maturidade e contribuir para o bem comum. A escola é o primeiro laboratório da cidadania.

A educação que queremos é integral, humanista, prática e transformadora. Uma educação que forma não apenas profissionais, mas pessoas conscientes, livres e comprometidas com o bem.

Educar é um ato de amor, coragem e esperança. Que nossas escolas sejam jardins onde floresçam seres humanos inteiros, livres de preconceitos, medos e com os olhos voltados para as oportunidades da vida propõe, buscando sempre o desenvolvimento integral pessoal e da sociedade, pois esse é o verdadeiro sentido da vida.

sábado, outubro 18, 2025

Somos sociais

Sobre a interdependência humana...

Vivemos cercados por conquistas que não são exclusivamente nossas.  
O alimento que consumimos, muitas vezes, não foi plantado por nossas mãos — e mesmo quando foi, as sementes são fruto de séculos de seleção e conhecimento acumulado por outros.

Vestimos roupas que não costuramos.  
Comunicamo-nos em línguas que não inventamos.  
Pensamos com base em conceitos matemáticos que não descobrimos. Entendemos um pouco de nós pelo esforço de físicos, biólogos e filósofos que detinham um pensamento muita vezes diferenciado do nosso.

Somos protegidos por leis que não criamos, e que são mantidas por pessoas que sequer conhecemos.

A tecnologia que usamos diariamente — dos processadores ao software — é resultado do trabalho de mentes brilhantes que vieram antes de nós.

Somos tocados por músicas que não compusemos. Por poemas escritos antes de nascermos.

Somos curados por médicos, medicamentos e práticas desenvolvidas por gerações de cientistas e profissionais da saúde.

Somos um mosaico de saberes e devemos gratidão a tudo que veio até nós pelas obras de outros semelhantes .... somos feitos de um pouco dos outros, somos sociais na essência.

Tudo o que fazemos está ancorado em uma vasta rede de conhecimento, cultura, esforço e sacrifício humano.  
Somos profundamente interdependentes por tudo que é criado ou foi criado por gerações passadas, somos um acúmulo de experiências e realizações da nossa civilização e ser grato a tudo isso é um ato de humildade e reconhecimento de que somos seres sociais.

quarta-feira, outubro 01, 2025

Entrelaçados


No meio do caos da semana,
num instante que escapa da pressa,

o pensamento sussurra silêncio, 
a saudade que tenho de ti.

Então no reencontro ...
corpos se amassam
bocas se acham

e nossas mãos se procuram
como abrigo antigo.

Na cama, o cansaço,
mas o último suspiro do dia
é a prece muda da gratidão:
estarmos ainda lado a lado,
porto seguro um do outro.

Mesmo que a rotina nos empurre
para lados opostos,
há sempre uma lembrança sutil
dos motivos que nos enlaçaram.

Levar uma vida mais leve
Ter gestos simples diante da vida
Um admirar o outro ...
Entre brigas, risos e distrações 
nos reconectar sempre.

É olhando pra nós que entendemos:
a vida é simples,
o tempo molda,
e o afeto amadurece como fruto

Seguimos assim...

no agito da vida,
no enlace do olhar,
na certeza serena
de que ainda é amor.


terça-feira, setembro 09, 2025

Fizeram amor

Como casal maduro que são, e cansados do dia que ficou pra trás, combinaram de fazer amor mais descansados no dia seguinte bem cedinho para dormirem logo. 

Acordo feito... Se meteram embaixo das cobertas, enquanto ela apoiava a cabeça no ombro dele, ele colocava sua mão nas coxas dela, entrelaçadas as pernas e com os pés juntinhos.... dormiram assim! 

Despertaram bem cedo, trocaram um beijo ainda com o bafo da noite, colocaram uma música suave para tocar ... enquanto ele colocava a mesa do café, ela arrumava a cama, ele fazia ovos mexidos, enquanto ela pegava as coisas na geladeira ... comeram entre olhares carinhosos e risadas. 

Um cuidando do outro, pois sem esse cuidado recíproco, não existe química, paixão ou qualquer outra coisa que consiga fazer um relacionamento perdurar no tempo. No começo, tudo é mágico, as descobertas fazem o relacionamento transbordar nossas vidas, tudo é intenso e as coisas fluem naturalmente. As palavras fluem, as histórias contadas são inéditas e cheias de interesse mútuo de um descobrir um pouco mais sobre o outro. Os gestos encantam e os dias ficam curtos para tanta conexão. Mas aos poucos vamos vendo que o mundo gira ao redor dessa realidade a dois, e temos que voltar para outra realidade, aí emerge a atenção e o esforço no cuidado com o outro, quem ama ... cuida. As conversas perdem um pouco o brilho, os abraços e beijos de outrora, viram rotina e não é que o amor morre de repente, mas ele vai se desfazendo aos poucos. No lugar dele amizade, intimidade, paz, cuidado, gratidão e os lampejos de paixão para incendiar a brasa adormecida.

O calor da noite ditava o desejo da vida, depois do café, ela foi colocar uma roupa bem bonita enquanto ele lavava a louça, foram passear na praia, olhares dizendo mais que palavras, mãos dadas, pausas para abraços, um beijinho numa pedra com a vista do mar.


Estavam mantendo o combinado e fazendo um amor explícito, na frente de todos e sem se importar com o que pensavam. Um amor que não se esconde mas que pulsa e vive a liberdade da entrega, um amor sem tempo e livre para fazerem o que bem quisessem e quando quisessem.


sexta-feira, julho 25, 2025

Culto ao luxo fake que lucra com a alienação coletiva

 Em tempos de redes sociais aceleradas e vitrines digitais infinitas, o culto ao luxo fake se estabeleceu como um fenômeno que vai muito além da estética: ele alimenta uma lógica de alienação coletiva — fabricando desejos, deformando valores e lucrando com a ilusão.

Não é preciso ter para parecer. Essa é a nova regra do jogo.

O cenário atual é dominado por influencers que ostentam marcas de grife, carros de alto padrão e estilos de vida glamourosos — frequentemente sustentados por empréstimos, permutas ou réplicas. Nesse universo, o luxo deixou de ser expressão de sucesso real e passou a ser uma performance: um papel social cuidadosamente encenado para ganhar atenção, seguidores, validação. O consumo virou espetáculo, e quem não entra em cena fica invisível.

Essa encenação não é inofensiva: ela movimenta uma indústria que explora, sem pudor, o desejo por pertencimento. Vendas de produtos falsificados, aluguel de itens de luxo, marcas paralelas e publicidade aspiracional são apenas algumas das engrenagens desse sistema.


As plataformas digitais ajudam a perpetuar o ciclo, recompensando quem parece ter mais — independentemente de como ou por que. Por trás da promessa de sucesso imediato, há uma armadilha emocional. A busca compulsiva por status provoca frustração, ansiedade, baixa autoestima. Muitos consomem como resposta ao vazio, tentando preencher com likes aquilo que falta em si mesmos. Nessa lógica, não há tempo para reflexão, nem espaço para autenticidade: o que importa é ser notado, mesmo que seja só pela casca.

Esse culto ao luxo fake distorce relações, neutraliza a empatia e enfraquece noções importantes como propósito, comunidade e essência. Em vez de fortalecer identidades, uniformiza comportamentos. Em vez de inspirar transformação, promove comparação.

E nesse ritmo acelerado, perdemos o que mais importa: o valor da verdade, do tempo e daquilo que não pode ser comprado. Reconhecer o luxo fake como uma construção vazia é o primeiro passo para romper esse ciclo. É preciso coragem para se desconectar da lógica da aparência e reconectar-se com o que é real: o afeto, a simplicidade, os processos verdadeiros — que não cabem em vitrines, mas preenchem a vida.

Luxo de verdade é viver com significado.




quinta-feira, julho 24, 2025

Quando a evolução nos deixou em pé

Graças a Charles Darwin, fomos capazes de comprovar cientificamente aquilo que já intuíamos: o ser humano, assim como os outros animais e toda a natureza, está em constante evolução. Essa verdade sutil explica as dezenas de inadaptações que ainda habitam nosso organismo — traços herdados de uma vida instintiva que hoje coexistem com uma realidade racional e até espiritual.

Em algum ponto da jornada evolutiva, nossa espécie deu um salto cognitivo que continua envolto em mistério. Alguns atribuem isso ao refinamento da técnica manual; outros à conquista da locomoção bípede, que libertou nossas mãos; há quem defenda que foi nossa alimentação — especialmente entre caçadores coletores — que despertou a mente, com a ingestão de cogumelos alucinógenos desencadeando novas formas de percepção, imaginação e raciocínio.

Mas por que esse salto não ocorreu em outras espécies?

Fato é que, num momento chave da nossa história evolutiva, nosso corpo mudou drasticamente. As sinapses se aceleraram, os sentidos se refinaram, o poder de cognição expandiu. O cérebro cresceu tanto que já não cabia na antiga estrutura. E para sustentá-lo, erguemos a cabeça, perdemos a cauda, assumimos a postura vertical. Nossos quadris e coluna não estavam prontos, e ainda hoje sofremos com a sobrecarga na lombar, nos joelhos, nas articulações.


Ao se erguer, o humano viu mais longe. Caçou, em vez de ser caçado. A visão tornou-se mais importante que o olfato, a cabeça cresceu precocemente — criando um novo desafio à reprodução. Fêmeas tiveram de reduzir o tempo gestacional para acomodar crânios cada vez maiores. Por isso, somos os recém-nascidos mais dependentes do reino animal: enquanto uma girafa já nasce caminhando, nós precisamos de quase um ano só para dar os primeiros passos.

A verticalidade trouxe ganhos, mas também exigiu compensações. O coração teve que se adaptar para bombear sangue contra a gravidade, o sistema digestivo abandonou o processo de ruminação, dependendo cada vez mais das bactérias intestinais. Os sisos tornaram-se vestígios de uma era em que mastigar exigia mais esforço.

E aqui estamos. Bípedes, cabeçudos, frágeis ao nascer, mas gigantes na imaginação ... e se ainda estamos evoluindo é de se supor que ainda estamos pelo caminho.

A evolução não é um caminho de perfeição, mas de transformações. Ela nos deixou com dores nas costas e joelhos problemáticos, mas também com a capacidade de pensar sobre tudo isso — e de contar a nossa própria história com palavras. 

Se a evolução do corpo nos parece mais perceptível, a evolução mental nos mostra a cada dia como éramos e onde chegamos sem nos dar indícios de onde podemos chegar. Resta a questão espiritual que saiu do medo, passou por crenças e que vai nos levando para um encontro consigo mesmo e com o que chamamos por Deus ... aí sim, a perfeição!


quarta-feira, julho 23, 2025

Você é o que sonhou?

Dar certo na vida. O que isso significa, afinal?
Para muitos, é sinônimo de status, conquistas, posses, uma carreira sólida, uma agenda cheia, um perfil que impressiona.
Mas essa definição quase sempre vem de fora — expectativas sociais, padrões impostos, comparações sem fim.

E se mudássemos o foco?
Em vez de olhar para o olhar do outro, que tal olhar para dentro?
Perguntar, com coragem e ternura:
A criança que eu fui teria orgulho do adulto que sou hoje?

A primeira vez que me deparei com essa reflexão estava num momento difícil da vida, tinha conquistado tudo e por fim estava numa cama sem ter absolutamente nada, carreia em transformação filhos longe, amor perdido, dívidas ... e tudo o que conquistei sendo uma pessoa boa? E os amigos que fiz, naturalmente, preocupados com as próprias vidas. Quem poderia me ajudar? Sem ter algo para enfeitar as paredes brancas de um quarto vazio.... encontrei um velho retrato meu de criança e me olhar todo o dia ... o orgulho do que fui perceber que qualquer quer fosse a saída para minha situação, ela estaria dentro de mim mesmo.


Lembrei desse poema do Fernando Pessoa:


A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa 

Aos poucos fui resgatando minha essência, o sorriso e inocência que sempre tive, parei de me culpar pelo que não fiz, descobri que muitos dos erros não estavam realmente em mim, mas que tinha me perdido no emaranhado da vida.

Criança não valoriza cargo nem currículo. Ela quer leveza, verdade, afeto, liberdade. Ela acredita no impossível, faz amigos em minutos, chora sem medo e sonha sem limites. A alma infantil não está preocupada com aparências — ela se importa com sensações. Com a alegria genuína, com o brilho nos olhos, com a aventura do simples.

E você? Será que hoje você ainda ri como antes? Você ainda se emociona com uma música, com um pôr do sol, com uma conversa despretensiosa? Ainda se permite errar e recomeçar?

Dar certo na vida pode ser, sim, conquistar grandes coisas.
Mas também pode ser manter a capacidade de sentir, de amar com inteireza, de brincar mesmo cansado, de cuidar do outro e de si. 
Talvez o sucesso seja simplesmente conseguir preservar a alma de criança em meio à dureza dos dias adultos.

terça-feira, julho 22, 2025

Asas ao vento na beleza de final de tarde

O sol do fim da tarde acaricia as asas das andorinhas em voo,
elas cortam o ar como ases indomáveis,
rasgando o céu com a elegância dos que conhecem o vento.

Brincam como se despreocupadas,
mas por trás da dança há propósito —
a eterna busca da natureza para matar a fome.

Num sistema invisível aos olhos distraídos,
as andorinhas seguem o rastro das nuvens de insetos,
voando com precisão, caçando com instinto,
vivendo a rotina selvagem
que sustenta o equilíbrio silencioso do mundo.



segunda-feira, julho 21, 2025

A Linguagem como Território

Falar é uma coisa curiosa. Ao mesmo tempo em que expressamos aquilo que nos torna comuns, revelamos o que temos de mais singular. A linguagem carrega a marca da coletividade e, também, a assinatura da individualidade.

Existe uma cumplicidade silenciosa entre quem escreve e quem lê. As palavras têm o poder de criar laços, mas também de romper acordos — são pontos de conflito e, paradoxalmente, os instrumentos mais eficazes para resolvê-los. Usar a linguagem é quase um milagre: ela transforma ideias em redes invisíveis que nos conectam.

Assim como as palavras se espalham pelas ruas, reinventando a linguagem falada, nossos pensamentos brotam em formas imprevisíveis. A singularidade de uma ideia pode se manifestar por meio de gírias, sotaques, neologismos. Cada letra forma palavras, que se unem em discursos, que constroem relações — e dentro delas, a própria vida.

O português do Brasil, por exemplo, é uma língua única: resultado de uma fusão rica de outros idiomas, uma identidade linguística que se desdobra e se reinventa. Linguagem é uma das maiores riquezas de um povo. E a forma como ela define o mundo ao nosso redor é o que nos eleva a novos patamares de cultura e consciência.

Compreender a língua que se fala vai além do respeito à gramática ou à norma culta. É reconhecer o outro, sua história, sua identidade. Respeitar diferentes formas de expressão é, sobretudo, respeitar culturas diversas — e esse talvez seja um dos grandes desafios da onda civilizatória, especialmente quando se trata dos povos indígenas originários.

Afinal, o que significa "evoluir"? É abandonar formas antigas ou aprender a conviver com a diversidade?

Impor uma cultura não é apenas silenciar outra — é arrancar sua raiz mais profunda. Às vezes, entender corretamente uma palavra pode ser mais poderoso do que qualquer lei: proteger a “terra” para os povos indígenas não é apenas garantir território físico, mas assegurar que ali permaneça viva sua alma, sua visão de mundo, suas raízes e cultura, enfim ... sua conexão com a vida.

 

domingo, julho 20, 2025

No agito da vida ... no enlace de olhar

Quando paramos no corre corre das nossas vidas, repentinamente o pensamento remete para a paz e o silêncio de ter nossas mãos entrelaçadas.
Quando deitamos nossos corpos  cansados na cama o último suspiro do dia nos remete a gratidão de termos um ao outro como porto seguro. 
E se muitas vezes nossas vidas agitadas parecem nos mover para campos opostos, lembramos das razões que nos trouxeram a estarmos juntos. Seguimos assim ... sempre acreditando com esperança de que é possível melhorar, e basta um cinema as segundas feiras, passeio aleatório, um jantar feito às pressas ... Uns momentos juntos para conectarmos novamente um com o outro.

Nos vendo é possível perceber o quão simples é a vida e que o passar do tempo nos faz mais estáveis, mais maduros, mais cautelosos um com o outro.

Vamos seguindo assim .. no agito da vida, no enlace de olhar!

sábado, julho 19, 2025

Vidas em fragmentos - Quando o tempo parava para ouvir um disco

Houve um tempo em que, nas casas, ouvia-se o último disco de um cantor: um trabalho completo, com princípio, meio e fim. Muitos minutos de música que, na maioria das vezes, atuavam como um ator em cena — regidos por um texto, pela cenografia, pelo som e pelos demais atores. Cada faixa compunha uma parte de algo maior, e não o todo. Não era raro visitar um amigo só para ouvir o disco novo do Chico — ou, no mínimo, o compacto de alguma banda. Alguns álbuns continuam inteiros, analisados em sua totalidade, como verdadeiras obras que marcam o tempo.

Aos poucos, as músicas se dividiram entre as rádios. Os grandes sucessos tornaram-se solitários, órfãos das canções que davam sentido ao conjunto. O disco foi perdendo sua essência como unidade artística — uma representação do momento íntimo de um criador. Tudo ficou mais rápido, mais volátil, mais raso. Os livros afinaram, os jornais perderam páginas, conteúdo, escritores, profundidade. Os textões viraram tweets de 256 caracteres. O mundo perdeu a forma.

Busca-se amor platônico nas dedadas do Tinder. Amores ficaram mais inconstantes, fugazes, superficiais. As vidas ficaram vazias. O medo não nos deixa sair de casa, nos impede de nos conectar. Relações se tornaram fugazes. Ninguém entrega corpo e alma à vida. Espera-se pelo fim de semana, pela quarta à noite, pelo dia sem chuva, pelas férias, pela aposentadoria... pelo prêmio da loteria. E, quando se percebe, não se viveu. Não se amou. Não se sofreu.

Perde-se o sentido da vida porque se corre contra o tempo — sem fazer o devido uso dele.

O que sobra são fragmentos de uma vida inacabada como músicas perdidas e solitárias de um disco bom.


Eu e você ....

 Dá pra explicar o que nos faz gostar de alguém? Dizem que a conexão entre duas pessoas não está nas semelhanças, mas sim na compreensão das diferenças.

Ela é de sol, eu sou de sombra.

Ela é música, eu sou silêncio. 

Eu falo e ela não me escuta.

Ela fala e eu não a escuto.

Ela é de malhar e eu de espreguiçar.

Eu acordo feliz e ela mal humorada.

Eu tenho hora pra acordar, ela não!

Ela é do vinho e eu do refri. 

Sou da surpresa, ela precisa de tudo planejado.

Eu planejo e não cumpro .... ela não planeja mas cumpre.

Ela é do stress e eu sou Zen. 

Sou do mar, e ela da areia.

Prefiro calor e ela frio.

Ela canta e eu ouço.

Ela grita e eu respiro.

Como muito e ela pouco.

Ela é TV e eu sou internet.

Eu chamo ... ela não vem !

Amor não necessariamente é algo construído num plano divino em linhas que se encontram ao longo da vida, muitas vezes a relação e o sentimento são construídos a partir de pequenas e grandes decisões. Criadas e protegidas para se manter, porém não há como negar... o sorriso brota, a preocupação vem na cabeça, o cuidado com o outro prevalece e a vida acaba por sorrir prá nós.

Amar é um ato de coragem, é uma ousadia com nós mesmos. É perder um pouco das nossas autoafirmações e convicções para amar o outro, é ceder em prol de um amor conjunto. Ousar é perder nosso chão momentaneamente. Não ousar é perder a nós mesmos....

quinta-feira, julho 03, 2025

Tudo vai

Os minutos passam e a gente não sente, quando percebemos passaram os minutos, as horas ...

Os dias vão se acumulando em pequenos sentimentos de uma vida frívola e frágil.

Semanas vão passando, quando olhamos, já são meses e o ano surpreendentemente acabou.

O ano que começou depois do carnaval passa pelo interminável agosto onde aguardamos ansiosos pelas festas de fim de ano.

O frisson toma conta de nós e contamos os dias para ver mais um ano se acumular em nossas vidas.

 Os anos passam e a gente não sente 

Sentimos a ausência de um ente querido

Sentimos o que dói a alma 

O que cala a voz

O que estremece o corpo

Quando damos por nós, nossos cabelos caíram

Nossa flexibilidade foi embora 

E o que fica são grandes sentimentos, saudades, gratidões

Um olhar pra trás com orgulho e uma vontade de ficar mais um pouquinho pelo mundo.

Quando somos jovens não temos a sabedoria de ver o tempo passar e temos pressa.

Quando somos velhos temos pouco tempo .... e nem por isso temos pressa

Descobrimos que sentir com calma a vida e ver tudo o que passa por nós nos ajuda a pegar um pouco mais do que a vida nos traz.

E um dia tudo se acaba ... não passa mais.

O tempo segue e a vida para.

nos ajuda a pegar

quarta-feira, junho 04, 2025

Vida que vai

Das peças que a vida nos prega, já passei por muita coisa, passei mas nunca, sem pegar algo de bom de uma situação .... uma lembrança, um aprendizado... e as vezes o gosto amargo de um revés fica, mas se desfaz com o tempo.
Deixei um pouco de mim, também deixei um pouco de vida por onde passei, mas aí você me pergunta: deixou a vida ir embora?  Sim, do contrario o que seria?  A vida é uma ampulheta, nascer o que mais é, senão o inicio da morte. 

Não perderia a vida em vivê-la, perderia se ela passasse e eu não vivesse cada oportunidade que ela descortina dentro da rotina que nos adsorve. Ela esta esvaindo-se a cada minuto, a cada segundo? Então o que melhor se faz é viver cada segundo como se fosse o último. A única coisa imutável na vida é que ela pode mudar a cada segundo, inclusive acabar!

domingo, junho 01, 2025

mais um domingo

Chega o fim de mais um domingo, mais uma semana se passou e o sentimento de sucesso e alívio toma conta de mim. Além do trabalho e das centenas de atribuições de quem tenta reconstruir a vida e criar uma nova família. O sentimento de orgulho próprio é por mais um final de semana. Pouco tempo para saber das novidades, conversar, educar, resolver problemas, se emocionar com a perpetuação da vida, criar laços e construir a nossa própria história .... Viver a vida, com que ela nos propõe. 

Foram anos de muito esforço, planejando as coisas conciliando interesses e me colocando numa posição de elo para fazer a vida fluir. E se hoje o orgulho de ver os filhos fortes, inteligentes e construindo a história deles, não era esse mesmo sentimento, lá atrás quando a insegurança me tirava o sono e quando eu não conseguia ter orgulho nem de mim. Fracassar por vezes é perturbador, mas se fracassei no casamento, espero não ter fracassado como pai, fiz o meu melhor...

Se existe algo difícil numa separação e a perda do convívio com os filhos, e muitas vezes fazia mais que a maioria, mas ainda sim reconheço que não fiz tudo o que podia. Mesmo assim, tudo o que eu fiz foi com um amor imenso, e um sentido de gratidão que vai se.perpetuar até o fim dos meus dias.

sexta-feira, maio 23, 2025

Rio que mora no mar

Vivo numa cidade que enfeitiça, com tudo de bom e de ruim. Entre o silêncio da montanha e o murmurinho da praia cheia, se esconde uma cidade barulhenta.  
Um Rio que não é rio de verdade mas é tão caudaloso no seu encontro com o mar como se fosse. 
Rio verdejante, de batuque cadenciado e sem pressa. 
Rio agitado da correria do dia e da noite frenética.
Rio do chopp Dourado da felicidade, dos botequins quiosques e afins. 
Rio colorido das feiras, cinzento e bonito no inverno, claudicante do calor do verão.
Um Rio de ritmos 
Um Rio sonoro de poesias 
Lar de piratas, de índios onde o mar faz esquina na Baia da Guanabara e faz história, na vida libertária, na vergonha escravista.
Rio preto, branco... Mulato ! 
Rio do mar e do mato.
Da cores e sons, do samba do funk e do jazz ....
De Antônio Cícero a Drummond, de Cazuza a Cartola. O Rio é de Rita, de Tom, de Vinícius, de Leny, de Erasmo... É um Rio baiano de Gil e Caetano ...

É samba, história e poesia. Um lugar onde as letras encontram as melodias, onde as curvas do mar tocam as montanhas acoitadas pelo sol. Onde a beleza toca a alegria, açoitada pela violência.

quarta-feira, maio 21, 2025

Vendo a poesia da vida

Brincadeira que fazem uma criança sorrir 
Sorriso de orgulho da vida
Por do sol iluminando namorados
Nascer de sol inundando de vida mais um dia
Um abrir de olhos 
Um fechar de boca para um beijo
O ir e vir do mar
E as ondas batendo num cais
Se eu gosto de poesia?

Se considerarmos que a poesia está em todas as coisas, desde a natureza até o concreto dos prédios..
Gostar da vida é gostar de poesia 
E entenda-se disso como ver o mundo com os olhos de um expectador de arte
Gente, bichos, plantas todos tem sua poesia escondida
Basta ter olhos abertos para observá-los, na repetição do cotidiano ou nas surpresas da vida.

Para tudo existe poesia, se você estiver aberto a ela, se você tem a sensibilidade na alma.

Visitar lugares
Comer bem 
Se lambuzar com chocolate
Beber um vinho, pensando muito mais no terroir que o criou do que no paladar.
Papos amenos
Conversas sérias
Amizade
Amor
Respeito 
Tem poesia nisso tudo também ... nas sensações, no nosso observar, nas atitudes diante do mundo, nas nuances da vida e que não fica presa nos versos formais.

Muitas vezes os detalhes do cotidiano passam despercebidos pelos nosso olhos, muitas vezes porque esses olhos estão muito treinados a só ver o que se quer, muito porque perdemos o hábito de flanar, de olhar o céu, de ficar em silêncio, de ter empatia. Nos fechamos no nosso mundo, e pouco conhecemos de nós. Quem olha o mundo por um lado poético tem que aprender a desaprender, tem que esquecer o que os dogmas ensinaram, tem que mudar de pensamento para experimentar as nuances da vida e observar tudo como se fosse a primeira vez.

É como ler um texto mais uma vez e entender significados que não observamos no primeiro passar de olhos, é como perceber numa música um solo de guitarra que se perdeu no meio da bateria, e ver num quadro impressionista de Monet nuances de luz e imaginar essa mesma percepção para ele. É muito mais que ter arte em tudo, é saber observar a beleza onde ela não é aparente.

Pra quem tem um olhar atento, a poesia está sempre perto e nos acompanhando. Seja nas pessoas que amamos ou no vinho que compartilhamos, nas pessoas que nos rodeiam ou na natureza e sentimentos. A poesia está nas interações humanas, na obra de Deus. A poesia é uma atitude de abertura pra vida, de enxergar beleza no comum, no simples, no efêmero.

Por isso, basta olhar com alma aberta, com olhos curiosos, com o coração disposto a sentir. A poesia está por toda parte, esperando para ser percebida. No cotidiano e nas surpresas, na simplicidade e no extraordinário. Afinal, viver é, por si só, um ato poético.

terça-feira, maio 20, 2025

Poder de escolha

 

O Ser humano diz sempre buscar a liberdade, mas ele está preparado para isso ? Apesar se termos sempre que ser contrários a qualquer tipo de sistema, relacionamento ou relação que nos tire nossa liberdade de pensar, expressar e atuar. Uma auto censura muitas vezes cabe bem e a certeza de que liberdade tem como premissa responsabilidade para tê-la. Sem a liberdade o Ser humano encolhe, murcha e é dominado.

Independência ou liberdade nada mais é do que ter poder de escolha, é poder escolher com base nos seus pensamentos, e se pensarmos que o livre pensar, sem conceitos pré-concebidos, já é a forma mais pura de liberdade. Daí ter a liberdade de ir e vir, atendendo suas necessidades e vontades próprias, é mais um passo em busca da utópica liberdade plena, sim utópica porque vivendo em sociedade é difícil se pensar numa liberdade que não vá ferir a liberdade do outro, o que se faz é articular em consenso. Existem dogmas, valores comuns, crenças, leis e etc .... todas essas coisas vão tolher de alguma forma a nossa liberdade, porém lembre, a liberdade plena fica no campo do pensar.

Outra questão de discussão sobre a liberdade é quando pensamos na liberdade de viver um grande amor, existem combinações de relacionamento que só dizem direito as pessoas que firmaram acordos, e se esses acordos ferem a liberdade plena de qualquer um ... tudo bem ! A liberdade não pode dispensar a magia de se viver um grande amor mesmo que isso possa, de alguma forma, prejudicar nossa independência plena.... tudo questão de bom senso e acordos para se definir até onde ir e não ir. Independência não pode ser confundida com solidão daquele cara que resolveu ficar solteiro pra sempre para não perder sua liberdade, independência e sinônimo de honestidade consigo mesmo e com o outro (é a tal da responsabilidade que salvaguarda a liberdade) é estar onde se quer, com quem se quer e porque quer. Aí é uma liberdade no campo dos sentimentos, onde vive a alma! 

A honestidade consigo mesmo, seja qual for a sua escolha, é uma forma libertária e reforça que ser independente não significa rejeitar vínculos, mas ter o dom e a plenitude de ter as escolhas nas nossas mãos, com a dignidade e responsabilidade de suas consequências. Viver com liberdade é viver com verdade. É reconhecer suas próprias vontades sem ignorar as do outro. É poder escolher, não necessariamente viver solto no mundo, mas poder escolher entre isso e ter um emprego fixo, uma pessoa a seu lado ou um dogma para seguir. É ter o mesmo peso na decisão entre casar ou se divorciar, é pensar que assumir compromissos também é um ato de liberdade para com nossos  pensamentos. Testando, errando, acertando nossa vida até que tudo se encaixe.


segunda-feira, maio 19, 2025

O culto ao luxo fake que lucra com a alienação coletiva

 O culto ao luxo fake é um fenômeno que se fortalece na era digital, onde a ostentação se torna um espetáculo lucrativo e a alienação coletiva alimenta um ciclo de consumo desenfreado, mas isso não começou agora, quantos príncipes falidos não conseguiram impérios ostentando o que não tinham, quantos golpista já não apareceram ao longo da história. O que muda é a disseminação imposta pelas redes sociais, mas o vazio da humanidade em consumir o fake continua o mesmo.

O ser humano se afastou de valores fundamentais para compreender a vida, desde valores morais para vivermos em sociedade até valores espirituais mesmo (não os dados pelas igrejas, mas os valores encontrados na empatia entre os homens).

Vivemos em um tempo em que a aparência de riqueza muitas vezes vale mais do que a própria riqueza. Influenciadores, marcas e até figuras públicas constroem narrativas de sucesso baseadas em bens materiais, criando um padrão inalcançável para a maioria. O luxo, antes símbolo de exclusividade, agora é replicado em versões acessíveis, mas sem substância, apenas para alimentar a ilusão de status.

Essa indústria prospera porque explora desejos e inseguranças. O marketing agressivo vende a ideia de que possuir determinados itens ou viver certas experiências é sinônimo de felicidade e prestígio, e aí voltamos a ver a ausência de valores que podem nos trazer uma felicidade verdadeira e duradoura.

Redes sociais amplificam essa lógica, transformando vidas editadas em modelos aspiracionais. O resultado? Um público que consome não por necessidade, mas por uma busca incessante de validação. E aí entra um outro fenômeno de nossos tempos, viver a vida dos outros que está exposta para todos, e eventualmente criticar, dessas críticas vem o julgamento social com base em fundamentação rasa, pra que ? porque ? Com a impressão de que assim tampamos os vazios internos que nos levam a ser maiores que os outros, criticamos sem pensar porque agora um julgamento está há um clique de distância, como um imperador romano que coloca o polegar para baixo ordenando que uma determinada pessoa seja jogada aos leões. Tempos de barbárie!

O problema se agrava quando essa alienação coletiva desvia o foco de questões essenciais, como desigualdade social, sustentabilidade e bem-estar emocional. Enquanto alguns se endividam para manter uma imagem, outros lucram com essa ilusão, perpetuando um sistema onde o valor de uma pessoa é medido pelo que ela exibe, e não pelo que ela é. Houve o tempo em que o Ter estava acima do Ser, vivemos o tempo onde o PARECER estar no topo do foco do ser humano. Mas isso só existe porque as pessoas em geral se interessam e sustentam isso... mas o verdadeiro luxo não está na ostentação, mas na liberdade de viver sem precisar provar nada a ninguém.


domingo, maio 18, 2025

Amor com pés no chão

Passei da fase em que busco amores impossíveis, em que crio expectativas de pessoas que não existem ou de mudar completamente pessoas para serem um pouco do que eu quero. Tem amores que arrepiam. Tem aqueles que confortam, como chocolate quente debaixo das cobertas. Mas o mais bonito é aquele que dá chão. Que dá um norte para sermos o que quisermos ser, para termos a liberdade de sair de um ninho e voltar pra ele mas que no fundo nos mostram que o melhor é permanecer na quietude e no conforto dele sem nem sair. Não chega a ser um amor passivo, é um amor bem libertário quando nós mesmos fazemos as nossas escolhas de ficar.

É amor que sossega o peito, que acolhe o silêncio, que faz a vida andar mais leve. Amor que não apressa, mas acompanha e muitas vezes de mãos dadas. Existe amor que fala com o silêncio, que faz brilhar o olhar e que mesmo em furadas nos faz ter um leve sorriso no rosto com a certeza de que estamos no lugar certo e na hora certa simplesmente porque estamos juntos.

O que são os beijos

Tem horas que estar dentro de um abraço é o melhor lugar em que podemos estar, tem outras horas que o abraço pede um beijo e do beijo nasce um olhar de onde brota  outro beijo ... E outro e outro. Nada disso seguindo necessariamente essa ordem!

A única coisa melhor que um beijo é o milésimo de segundo que antecede o encontro das bocas, quando a gente sabe que vai acontecer. É aquele momento que antecede a explosão de emoções, é o momento retrasado nas esculturas gregas do início de uma corrida o prenúncio de um salto. Os músculos saltam, o sangue fervilha os nervos retesam ... Milhões de processos químicos acontecem, uma enxurrada coisas acontecem misturando nossa inteligência, com sensibilidade, recordações vem, coração palpita, imaginação tenta romper a barreira do tempo e enfim o ápice das coisas acontece.

Rouba-se o primeiro, segundo se pede, o terceiro se convence e a partir do quarto eles acontecem... Brotam da alma, encantam o espírito ! Sobrevivem aos acontecimentos, dos melhores aos piores. Desde o beijo que acolhe até o beijo que perturba a alma e que fica na nossa cabeça por muito tempo.

Há quem diga que o gostoso do beijo é a troca de rédeas ...cada um domina um pouco e adverte o outro que a partir de agora provocar é uma máxima que deve ser levada à risca. Um domínio onde ninguém domina nada e bocas murmuram toda essa explosão de emoções.

Existem beijos de bocas e beijos de coração... um fala, o outro cala, um é rápido, efêmero e o outro parece eterno. Enquanto um cala dentro dos murmúrios pedindo silêncio para um próximo beijo; o outro fala, mas em seu silêncio, clama pela eternidade daquele momento.

Beijos de bocas, vem de fora e  são como beijos de boa noite que dizem mais que boa noite e nos convidam para viver uma noite inteira de beijos. São mais que simples voltinhas em bocas atordoadas com o fulgor de corpos numa celebração, numa euforia, numa paixão. Os beijos assim são recomendados para todas as idades mas indicados para os mais jovens de espírito e que querem viver aventura dos minutos posteriores ao beijo, tem tanto a sensação do novo quanto o gosto daquele beijo que faltou há 20 anos atrás. São beijos atrevidos, destemidos, curiosos pela boca em que estão beijando, são línguas entrelaçadas, cheias de tesão, suplicando por mais beijos pelo corpo.

Já os beijos do coração, esses calam mais do que falam, vem de dentro, convidam para dormir e realmente são beijos desejando só uma boa noite, indicados também para todas as idades mas amados pelas pessoas maduras, é o beijo da recordação dos 20 anos que ficaram pra trás, são beijos calmos e sem malícia ou molejo. São beijos conhecedores das bocas que se tocam, são beijos que abraçam, são suspiros tocando os nossos lábios.

E assim, entre beijos roubados e beijos entregues, entre murmúrios e silêncios, o que realmente importa não é a técnica, a ordem ou a duração. O beijo é o instante suspenso no tempo, o fio invisível que conecta dois mundos, o toque que traduz sentimentos sem precisar de palavras.

Seja um beijo atrevido que desperta desejos ou um beijo tranquilo que embala uma despedida, no fim, todos têm o mesmo propósito: contar histórias que só os lábios sabem narrar.

Porque, no final das contas, o melhor beijo não é aquele que se dá. É aquele que permanece.



segunda-feira, fevereiro 03, 2025

Na viagem de Cecília

Que lindos cânticos te levem ao mundo dos sonhos e da inspiração. Transcendendo aos mundos, no inconcreto limite da razão, onde cores ficam difusas, onde o tempo pára ao sentir uma emoção. 
Teu nome é liberdade ! E o vento do teu espírito sopra sobre a vida, tudo que era efêmero se desfaz, resta só tu... Que é eterno!

sábado, dezembro 28, 2024

Pílulas de inquietudes para reflexão e ... ação !

Avanços tecnológicos, globalização, sociedade da informação... Comunicação instantânea, encurtamento das distâncias, análise de dados, novas profissões, relacionamentos virtuais, avanços da medicina, conforto... Mas, estamos realmente usufruindo dessas conquistas ? Como sociedade e de forma igual ?
No mundo atual, as transformações culturais têm favorecida a solução de conflitos com base no respeito, aproximando as pessoas ao invés de afastá-las? 
E a miséria? Por quanto tempo ainda existirá ? Já temos plenas condições de oferecer o básico para todos e por que até hoje ainda não fizemos, porque até hoje o tema da pobreza ainda incomoda a sociedade humana. Falta de água, falta de acesso a recursos básicos de saneamento, fome e  analfabetismo... Se são temas que incomodam, porque o foco da sociedade sabota esses temas ?
Um país gasta US$2 bilhões numa bomba que matou 70 mil pessoas e "aliviou a agonia da guerra", coisa insana e desnecessária a guerra, mas poderia o homem viver sem ela ? Enquanto soldados americanos massacram 300 famílias no Vietnam, o comandante da tropa se defende falando que precisa "atacá-los para protegê-los"....
Ditadores massacram a liberdade de comunicar, a pobreza mata a liberdade de sonhar.... E o que seria do Homem sem o sonho que nos possibilita avançar as dificuldades, criar utopias e ver além da tristeza e do desamparo?
O direito de sonhar é o pai de todos os demais direitos, quando regimes de exceção limitam o sonho, limitam a liberdade de pensamento e a expressão deles, ele limita a valorização do homem como ser psicológico único e ali se morre. É preciso viver em pensamento pleno para não morrer. Sem os sonhos viveríamos numa miséria maior que a material porque matariamos a esperança.

segunda-feira, julho 08, 2024

Pelos Olhos de Alice

 Pelos olhos de Alice eu vi a pureza e a simplicidade da vida.

Na profundidade de seus olhos serenos, na sua feição séria como a que tentando repreender a todos que não compreendem a essência da vida que ela, em sua sabedoria transcendental, já tem.

Alice é recém nascida, da pureza da carne até a serenidade da alma. E no momento que a peguei nos braços tive uma certeza de estar muito próximo de Deus. Já estive outras vezes bem perto de encontrá-Lo quando apreciei todo esplendor da natureza ou num momento singelo de um suspiro, num pensamento inspirador, nas lembranças que guardo mais no coração que na cabeça. E aquele olhar de Alice fez um único segundo se transformar em momento guardado dentro da eternidade. Desses que a gente lembra quando faz uma grande conquista, ou mesmo quando se olha sorridente e pleno em frente do espelho mas que nunca estão presentes dentro de um templo.

Porque, no final das contas, haveremos de compreender que as coisas mais leves são as únicas que o vento não consegue levar. Desde aquele cheiro de casa de vó, até as tolas brincadeiras de criança que embalam nossas vidas até a velhice, é aquele suspiro de primeiro amor ou a rima boba de uma música que não nos sai da cabeça. É leve e fica preso no tempo, o carinho puro, a atitude necessária no momento certo. O cheiro de carro novo, o folear de um livro, o ecoar de uma gargalhada, um cafuné no sofá, um pé enroscado no frio, um abraço apertado na saudade, um choro de euforia ... são nos pequenos momentos banais e sutis que marcamos a nossa vida e é no conjunto desses pequenos momentos é que percebemos o que é a felicidade e que a simplicidade da vida está nos detalhes das coisas.

E estava ali diante do olhar pleno e instigante de Alice travando uma guerra mental tentando entender o que ela me dizia sem falar uma única palavra, ao mesmo tempo em que ela nada dizia, acabava por me encher de tudo o que precisava para eternizar um momento e me trazer a paz e a alegria que a vida tanto precisa.


Deus 2

 Eu vi Deus ! Sim, já o busquei em momentos plenos de sabedoria e paz, quando diante do espelho me olhei radiante de alegria depois de uma grande conquista, quando peguei nos braços meus filhos numa madrugada e meu calor calou seu choro, num momento de meditação e até dentro de um pensamento inspirador. 

Busquei Deus em meio a natureza num mergulho no meio de um cardume, num nascer do sol estonteante numa praia no Espírito Santo, numa noite de luar em Itaipava, num por do Sol no Pontal do Atalaia ... num voo de uma borboleta azul na floresta da Tijuca, no mar castigando as pedras do litoral de San Andrés. 

Esses foram os lugares onde mas perto estive de encontrar com Deus, mas nunca o encontrei dentro de um templo ou nos livros ou dogmas que teoriam sobre Ele. Só uma única vez O vi e tive certeza de que estava diante Dele. 

Era um dia de caridade num centro espírita, mas como disse acima , nunca encontrei Deus num templo e nem buscando nas religiões. Era um trabalho voluntário organizado pela minha empresa nesse centro espírita que faz um trabalho social de abrigar idosos solitários, crianças órfãs ou abandonadas e pessoas com algum tipo de deficiência. Já estávamos no meio da tarde depois de uma jornada de socialização com crianças e idosos e com o coração já completamente energizado pela manhã, partimos para o trabalho que na minha cabeça seria o mais complicado e comovente, pessoas com síndrome de Down... na verdade o mais correto era dizer crianças com Down. Em meio a uma brincadeira banal de boliche com bolas de plástico, vi um determinado menino mirando a pontaria e insistindo ...errou 1,2, 3 vezes buscava se superar, não era um momento de competição com outro jogador, ali era um diálogo mental dele com suas deficiências e num determinado momento ele jogou a bola e seu semblante mudou repentinamente, não sei ao certo de acertou um ou dois pinos, se era um lance de sorte, ou realmente o resultado do seu esforço e superação pessoal, eu só sei que no meio daquele tumulto de outras dezenas de crianças brincando, me pareceu por um instante que o tempo parou, que o silêncio se fez e que aquele instante passasse como uma eternidade na minha cabeça, entreolhei uma colega que percebeu o mesmo que eu, sorrimos e retribuímos o sorriso para aquele garoto que devia ter uns 30 e poucos anos, mas que mentalmente tinha uns 6 mas que naquele sorriso me mostrou algo que nem a natureza, nem os livros, nem os dogmas me mostraram nos meus 40 anos. Dentro daquele sorriso puro e singelo, eu vi Deus !

Não sei se pela euforia do que estávamos sentido, se pelo resultado do que estávamos fazendo, se aquele sorriso era um prêmio, um agradecimento, um amor tão forte, só sei que aquele momento ficou gravado na minha eternidade como todos os outros onde busquei e estive perto de encontrar, algo muito mais forte diferenciava esse momento dos demais que tive em minha vida. Ainda hoje quando me recordo cheio de gratidão no coração a força interna que sinto me tira o sono, me intriga a mente, me estimula o espírito. 

domingo, junho 09, 2024

Deus 1

Afinal o que é DEUS ? Através dos séculos crenças e religiões tentaram traçar uma imagem para entender o que é DEUS? Obviamente há uma tendência natural de imaginá-lo como uma figura humana, supremo de toda a sabedoria mas enérgico pintou-se Deus como um senhor de meia idade, branco, de cabelos e barbas brancas, simbolizando uma suposta pureza, longevidade e sabedoria; forte e musculoso para demonstrar todo o seu poder. Mas porque diante de toda a natureza ele deveria ter a forma humana, algumas crenças o pintam como um animal, de uma Salamandra a um Caramujo e porque então não teria ele a aparência de uma tartaruga ? 

As dúvida e inquietudes vão muito além das aparências de um Deus, sua forma de atuar como sendo um pai bom e amoroso ou um mestre que nos dita cada caminho a seguir. Acompanhando nossas atitudes como quem nos controla como marionetes ou apenas um Criador que definiu Leis e processos naturais que nos rodeiam e a qual estamos sujeitos ? Isso porque nem entramos ainda no mérito mais básico que é sobre a existência de Deus, uma inquietude pertinente nessa reflexão, mas partimos do pressuposto básico de que se existe criação, existe um criador...

Poder da criação já seria por si só algo que nos faz divagar ao longo da existência humana, se pensarmos no Universo então ... Microcosmos e Macrocosmos seria tudo uma coincidência natural ? Ou somos o fruto de um poder criador inteligente? Saindo agora de uma discussão sobre a imagem de Deus e de uma tendência a querer humanizá-lo ... existe uma inteligência única dentro dos milhares de processos naturais que já conseguimos conhecer ? Somos fruto de uma criação ? Se fomos gerados espontaneamente, e regidos por algumas Leis gerais, o que ou quem definiu essas Leis ? Se fomos criados por um Deus ... quem criou o próprio Deus? Seria ele o conjunto de tudo o que não podemos compreender ? Assim como a fé é o poder que não controlamos... 

Pensamos num Deus supra humano numa tentativa de nos reconhecer Nele (e lá vem o narcisismo humano de tentar suas próprias imperfeições sempre!), mas isso ocorre por pura incompetência nossa de conseguir imaginar  algo que não conhecemos, Deus pode ser simplesmente uma energia criadora de magnitude imensa a ponto de criar e acompanhar toda a sua criação, Ele pode também ter criado regras, Leis que funcionariam em todo o universo e toda a existência estaria sujeito a essas regras, ditariam o conhecimento divino e através delas tudo seria orquestrado sem necessariamente uma interferência direta de Deus , algo como por exemplo a Lei da gravidade que existe em menor ou maior grau influenciando por onde se vá no Universo, desde os átomos, até os astros, todos os corpos estão sujeitos a essa "ação de Deus" e de seu conhecimento.  E como tentar conhecer algo que não está presencialmente diante de nossos olhos e que seja muito maior que a nossa capacidade intelectual? Como amar algo que não conhecemos bem ? É como amar uma pessoa, criamos um sentimento por algo que conhecemos e criamos expectativa por algo que supomos conhecer.

Conhecer um Criador a partir de sua criação é um caminho viável na maioria dos casos, é como tentar entender a psicologia de Leonardo Da Vinci a partir de seus escritos, suas pinturas, o lugar onde viveu , temos muita coisa palpável para trabalhar, mas devemos ter um pouco de imaginação para tentar conceber um pouco como era o gênio a partir de seu trabalho. É uma pesquisa semelhante que tentamos conduzir para entender Deus. A partir de sua obra divina, buscar entendê-Lo. Mas onde estaria a obra de Deus? Espalhada pelos quatro cantos do mundo ? Por todo o Universo? Nas coisas mínimas? Se entendermos um Deus criador de tudo, em tudo existe uma partícula divina. Teríamos que compreender toda a física, a química e a biologia  a partir dos processos matemáticos para entender um pouco que que é Deus? É claro que um cientista opera nesse caminho há milênios, mas e se quisermos entender os sentimentos?  Porque ir buscar no mundo subatômico se podemos começar com algo muito perto de nós ? Porque não supor que a inteligência humana deriva de uma inteligência de seu Criador para que possamos dentro de nosso micro cosmos traçar paralelos com Deus e compreendê-lo mais? Se Deus nos criou, decerto existe uma partícula Divina dentro de cada um de nós e dentro de cada coisa nesse universo vasto e complexo. E aí está algo para nos aprofundar em pesquisa. Tão perto, e tão distânte, teoricamente Deus está dentro de nós, porque nã começar por entender a nós mesmos? Ou em coisas que estão por perto, no nosso cotidiano, na natureza que nos rodeia? Onde e quando reconhecemos Deus? Estamos aptos a fazer essa pesquisa, a descobrir aos poucos sobre essa energia que supõe-se que tenha nos criado? Será que podemos nos decepcionar por não chegar a lugar nenhum ou a chegar em algum lugar que não poderemos compreender?

Se pararmos para pensar e reconhecer onde vemos seria um caminho fácil para encontrar  Deus. Mas é preciso ficar atento para ter certeza de que  estaremos reconhecendo Ele realmente com os nosso olhos, ouvidos e ... Sentimentos. Estamos como olhos , ouvidos e sentimento atentos para captar Deus em cada coisa ? Ou passamos batidos por ele em 99,9% do nosso tempo? Porque se Deus está em tudo, é possível  sentir sua presença na natureza, nas relações humanas, no amor, no carinho e no ódio. Aonde você viu Deus ? No abrir de olhos diário, numa mãe dando aconchego ao seu filho? Num ato de ternura, na compreensão das tais Leis? Nas religiões  que definem  Deus tanto sendo um senhorzinho barbudo quanto um caramujo? Nas suas atitudes diárias? Onde está o Seu Deus ?