sexta-feira, julho 25, 2025

Culto ao luxo fake que lucra com a alienação coletiva

 Em tempos de redes sociais aceleradas e vitrines digitais infinitas, o culto ao luxo fake se estabeleceu como um fenômeno que vai muito além da estética: ele alimenta uma lógica de alienação coletiva — fabricando desejos, deformando valores e lucrando com a ilusão.

Não é preciso ter para parecer. Essa é a nova regra do jogo.

O cenário atual é dominado por influencers que ostentam marcas de grife, carros de alto padrão e estilos de vida glamourosos — frequentemente sustentados por empréstimos, permutas ou réplicas. Nesse universo, o luxo deixou de ser expressão de sucesso real e passou a ser uma performance: um papel social cuidadosamente encenado para ganhar atenção, seguidores, validação. O consumo virou espetáculo, e quem não entra em cena fica invisível.

Essa encenação não é inofensiva: ela movimenta uma indústria que explora, sem pudor, o desejo por pertencimento. Vendas de produtos falsificados, aluguel de itens de luxo, marcas paralelas e publicidade aspiracional são apenas algumas das engrenagens desse sistema.

As plataformas digitais ajudam a perpetuar o ciclo, recompensando quem parece ter mais — independentemente de como ou por que. Por trás da promessa de sucesso imediato, há uma armadilha emocional. A busca compulsiva por status provoca frustração, ansiedade, baixa autoestima. Muitos consomem como resposta ao vazio, tentando preencher com likes aquilo que falta em si mesmos. Nessa lógica, não há tempo para reflexão, nem espaço para autenticidade: o que importa é ser notado, mesmo que seja só pela casca.

Esse culto ao luxo fake distorce relações, neutraliza a empatia e enfraquece noções importantes como propósito, comunidade e essência. Em vez de fortalecer identidades, uniformiza comportamentos. Em vez de inspirar transformação, promove comparação.

E nesse ritmo acelerado, perdemos o que mais importa: o valor da verdade, do tempo e daquilo que não pode ser comprado. Reconhecer o luxo fake como uma construção vazia é o primeiro passo para romper esse ciclo. É preciso coragem para se desconectar da lógica da aparência e reconectar-se com o que é real: o afeto, a simplicidade, os processos verdadeiros — que não cabem em vitrines, mas preenchem a vida.

Luxo de verdade é viver com significado.




quinta-feira, julho 24, 2025

Quando a evolução nos deixou em pé

Graças a Charles Darwin, fomos capazes de comprovar cientificamente aquilo que já intuíamos: o ser humano, assim como os outros animais e toda a natureza, está em constante evolução. Essa verdade sutil explica as dezenas de inadaptações que ainda habitam nosso organismo — traços herdados de uma vida instintiva que hoje coexistem com uma realidade racional e até espiritual.

Em algum ponto da jornada evolutiva, nossa espécie deu um salto cognitivo que continua envolto em mistério. Alguns atribuem isso ao refinamento da técnica manual; outros à conquista da locomoção bípede, que libertou nossas mãos; há quem defenda que foi nossa alimentação — especialmente entre caçadores-coletores — que despertou a mente, com a ingestão de cogumelos alucinógenos desencadeando novas formas de percepção, imaginação e raciocínio.

Mas por que esse salto não ocorreu em outras espécies?

Fato é que, num momento chave da nossa história evolutiva, nosso corpo mudou drasticamente. As sinapses se aceleraram, os sentidos se refinaram, o poder de cognição expandiu. O cérebro cresceu tanto que já não cabia na antiga estrutura. E para sustentá-lo, erguemos a cabeça, perdemos a cauda, assumimos a postura vertical. Nossos quadris e coluna não estavam prontos, e ainda hoje sofremos com a sobrecarga na lombar, nos joelhos, nas articulações.

Ao se erguer, o humano viu mais longe. Caçou, em vez de ser caçado. A visão tornou-se mais importante que o olfato, a cabeça cresceu precocemente — criando um novo desafio à reprodução. Fêmeas tiveram de reduzir o tempo gestacional para acomodar crânios cada vez maiores. Por isso, somos os recém-nascidos mais dependentes do reino animal: enquanto uma girafa já nasce caminhando, nós precisamos de quase um ano só para dar os primeiros passos.

A verticalidade trouxe ganhos, mas também exigiu compensações. O coração teve que se adaptar para bombear sangue contra a gravidade, o sistema digestivo abandonou o processo de ruminação, dependendo cada vez mais das bactérias intestinais. Os sisos tornaram-se vestígios de uma era em que mastigar exigia mais esforço.

E aqui estamos. Bípedes, cabeçudos, frágeis ao nascer, mas gigantes na imaginação.

A evolução não é um caminho de perfeição, mas de transformações. Ela nos deixou com dores nas costas e joelhos problemáticos, mas também com a capacidade de pensar sobre tudo isso — e de contar a nossa própria história com palavras. 

Se a evolução do corpo nos parece mais perceptível, a evolução mental nos mostra a cada dia como éramos e onde chegamos sem nos dar indícios de onde podemos chegar. Resta a questão espiritual que saiu do medo, passou por crenças e que vai nos levando para um encontro consigo mesmo e com o que chamamos por Deus ... aí sim, a perfeição!


quarta-feira, julho 23, 2025

Você é o que sonhou?

Dar certo na vida. O que isso significa, afinal?
Para muitos, é sinônimo de status, conquistas, posses, uma carreira sólida, uma agenda cheia, um perfil que impressiona.
Mas essa definição quase sempre vem de fora — expectativas sociais, padrões impostos, comparações sem fim.

E se mudássemos o foco?
Em vez de olhar para o olhar do outro, que tal olhar para dentro?
Perguntar, com coragem e ternura:
A criança que eu fui teria orgulho do adulto que sou hoje?

A primeira vez que me deparei com essa reflexão estava num momento difícil da vida, tinha conquistado tudo e por fim estava numa cama sem ter absolutamente nada, carreia em transformação filhos longe, amor perdido, dívidas ... e tudo o que conquistei sendo uma pessoa boa? E os amigos que fiz, naturalmente, preocupados com as próprias vidas. Quem poderia me ajudar? Sem ter algo para enfeitar as paredes brancas de um quarto vazio.... encontrei um velho retrato meu de criança e me olhar todo o dia ... o orgulho do que fui perceber que qualquer quer fosse a saída para minha situação, ela estaria dentro de mim mesmo.

Lembrei desse poema do Fernando Pessoa:


A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa 


Aos poucos fui resgatando minha essência, o sorriso e inocência que sempre tive, parei de me culpar pelo que não fiz, descobri que muitos dos erros não estavam realmente em mim, mas que tinha me perdido no emaranhado da vida.

Criança não valoriza cargo nem currículo. Ela quer leveza, verdade, afeto, liberdade.

Ela acredita no impossível, faz amigos em minutos, chora sem medo e sonha sem limites.
A alma infantil não está preocupada com aparências — ela se importa com sensações.
Com a alegria genuína, com o brilho nos olhos, com a aventura do simples.

E você? Será que hoje você ainda ri como antes?
Você ainda se emociona com uma música, com um pôr do sol, com uma conversa despretensiosa?
Ainda se permite errar e recomeçar?

Dar certo na vida pode ser, sim, conquistar grandes coisas.
Mas também pode ser manter a capacidade de sentir, de amar com inteireza, de brincar mesmo cansado, de cuidar do outro e de si.

Talvez o sucesso seja simplesmente conseguir preservar a alma de criança em meio à dureza dos dias adultos.

terça-feira, julho 22, 2025

Asas ao vento na beleza de final de tarde

O sol do fim da tarde acaricia as asas das andorinhas em voo,
elas cortam o ar como ases indomáveis,
rasgando o céu com a elegância dos que conhecem o vento.

Brincam como se despreocupadas,
mas por trás da dança há propósito —
a eterna busca da natureza para matar a fome.

Num sistema invisível aos olhos distraídos,
as andorinhas seguem o rastro das nuvens de insetos,
voando com precisão, caçando com instinto,
vivendo a rotina selvagem
que sustenta o equilíbrio silencioso do mundo.



segunda-feira, julho 21, 2025

A Linguagem como Território

Falar é uma coisa curiosa. Ao mesmo tempo em que expressamos aquilo que nos torna comuns, revelamos o que temos de mais singular. A linguagem carrega a marca da coletividade e, também, a assinatura da individualidade.

Existe uma cumplicidade silenciosa entre quem escreve e quem lê. As palavras têm o poder de criar laços, mas também de romper acordos — são pontos de conflito e, paradoxalmente, os instrumentos mais eficazes para resolvê-los. Usar a linguagem é quase um milagre: ela transforma ideias em redes invisíveis que nos conectam.

Assim como as palavras se espalham pelas ruas, reinventando a linguagem falada, nossos pensamentos brotam em formas imprevisíveis. A singularidade de uma ideia pode se manifestar por meio de gírias, sotaques, neologismos. Cada letra forma palavras, que se unem em discursos, que constroem relações — e dentro delas, a própria vida.

O português do Brasil, por exemplo, é uma língua única: resultado de uma fusão rica de outros idiomas, uma identidade linguística que se desdobra e se reinventa. Linguagem é uma das maiores riquezas de um povo. E a forma como ela define o mundo ao nosso redor é o que nos eleva a novos patamares de cultura e consciência.

Compreender a língua que se fala vai além do respeito à gramática ou à norma culta. É reconhecer o outro, sua história, sua identidade. Respeitar diferentes formas de expressão é, sobretudo, respeitar culturas diversas — e esse talvez seja um dos grandes desafios da onda civilizatória, especialmente quando se trata dos povos indígenas originários.

Afinal, o que significa "evoluir"? É abandonar formas antigas ou aprender a conviver com a diversidade?

Impor uma cultura não é apenas silenciar outra — é arrancar sua raiz mais profunda. Às vezes, entender corretamente uma palavra pode ser mais poderoso do que qualquer lei: proteger a “terra” para os povos indígenas não é apenas garantir território físico, mas assegurar que ali permaneça viva sua alma, sua visão de mundo, suas raízes e cultura, enfim ... sua conexão com a vida.

 

domingo, julho 20, 2025

No agito da vida ... no enlace de olhar

Quando paramos no corre corre das nossas vidas, repentinamente o pensamento remete para a paz e o silêncio de ter nossas mãos entrelaçadas.
Quando deitamos nossos corpos  cansados na cama o último suspiro do dia nos remete a gratidão de termos um ao outro como porto seguro. 
E se muitas vezes nossas vidas agitadas parecem nos mover para campos opostos, lembramos das razões que nos trouxeram a estarmos juntos. Seguimos assim ... sempre acreditando com esperança de que é possível melhorar, e basta um cinema as segundas feiras, passeio aleatório, um jantar feito às pressas ... Uns momentos juntos para conectarmos novamente um com o outro.

Nos vendo é possível perceber o quão simples é a vida e que o passar do tempo nos faz mais estáveis, mais maduros, mais cautelosos um com o outro.

Vamos seguindo assim .. no agito da vida, no enlace de olhar!

sábado, julho 19, 2025

Vidas em fragmentos - Quando o tempo parava para ouvir um disco

Houve um tempo em que, nas casas, ouvia-se o último disco de um cantor: um trabalho completo, com princípio, meio e fim. Muitos minutos de música que, na maioria das vezes, atuavam como um ator em cena — regidos por um texto, pela cenografia, pelo som e pelos demais atores. Cada faixa compunha uma parte de algo maior, e não o todo. Não era raro visitar um amigo só para ouvir o disco novo do Chico — ou, no mínimo, o compacto de alguma banda. Alguns álbuns continuam inteiros, analisados em sua totalidade, como verdadeiras obras que marcam o tempo.

Aos poucos, as músicas se dividiram entre as rádios. Os grandes sucessos tornaram-se solitários, órfãos das canções que davam sentido ao conjunto. O disco foi perdendo sua essência como unidade artística — uma representação do momento íntimo de um criador. Tudo ficou mais rápido, mais volátil, mais raso. Os livros afinaram, os jornais perderam páginas, conteúdo, escritores, profundidade. Os textões viraram tweets de 256 caracteres. O mundo perdeu a forma.

Busca-se amor platônico nas dedadas do Tinder. Amores ficaram mais inconstantes, fugazes, superficiais. As vidas ficaram vazias. O medo não nos deixa sair de casa, nos impede de nos conectar. Relações se tornaram fugazes. Ninguém entrega corpo e alma à vida. Espera-se pelo fim de semana, pela quarta à noite, pelo dia sem chuva, pelas férias, pela aposentadoria... pelo prêmio da loteria. E, quando se percebe, não se viveu. Não se amou. Não se sofreu.

Perde-se o sentido da vida porque se corre contra o tempo — sem fazer o devido uso dele.

O que sobra são fragmentos de uma vida inacabada como músicas perdidas e solitárias de um disco bom.


Eu e você ....

 Dá pra explicar o que nos faz gostar de alguém? Dizem que a conexão entre duas pessoas não está nas semelhanças, mas sim na compreensão das diferenças.

Ela é de sol, eu sou de sombra.

Ela é música, eu sou silêncio. 

Eu falo e ela não me escuta.

Ela fala e eu não a escuto.

Ela é de malhar e eu de espreguiçar.

Eu acordo feliz e ela mal humorada.

Eu tenho hora pra acordar, ela não!

Ela é do vinho e eu do refri. 

Sou da surpresa, ela precisa de tudo planejado.

Eu planejo e não cumpro .... ela não planeja mas cumpre.

Ela é do stress e eu sou Zen. 

Sou do mar, e ela da areia.

Prefiro calor e ela frio.

Ela canta e eu ouço.

Ela grita e eu respiro.

Como muito e ela pouco.

Ela é TV e eu sou internet.

Eu chamo ... ela não vem !

Amor não necessariamente é algo construído num plano divino em linhas que se encontram ao longo da vida, muitas vezes a relação e o sentimento são construídos a partir de pequenas e grandes decisões. Criadas e protegidas para se manter, porém não há como negar... o sorriso brota, a preocupação vem na cabeça, o cuidado com o outro prevalece e a vida acaba por sorrir prá nós.

Amar é um ato de coragem, é uma ousadia com nós mesmos. É perder um pouco das nossas autoafirmações e convicções para amar o outro, é ceder em prol de um amor conjunto. Ousar é perder nosso chão momentaneamente. Não ousar é perder a nós mesmos....

quinta-feira, julho 03, 2025

Tudo vai

Os minutos passam e a gente não sente, quando percebemos passaram os minutos, as horas ...

Os dias vão se acumulando em pequenos sentimentos de uma vida frívola e frágil.

Semanas vão passando, quando olhamos, já são meses e o ano surpreendentemente acabou.

O ano que começou depois do carnaval passa pelo interminável agosto onde aguardamos ansiosos pelas festas de fim de ano.

O frisson toma conta de nós e contamos os dias para ver mais um ano se acumular em nossas vidas.

 Os anos passam e a gente não sente 

Sentimos a ausência de um ente querido

Sentimos o que dói a alma 

O que cala a voz

O que estremece o corpo

Quando damos por nós, nossos cabelos caíram

Nossa flexibilidade foi embora 

E o que fica são grandes sentimentos, saudades, gratidões

Um olhar pra trás com orgulho e uma vontade de ficar mais um pouquinho pelo mundo.

Quando somos jovens não temos a sabedoria de ver o tempo passar e temos pressa.

Quando somos velhos temos pouco tempo .... e nem por isso temos pressa

Descobrimos que sentir com calma a vida e ver tudo o que passa por nós nos ajuda a pegar um pouco mais do que a vida nos traz.

E um dia tudo se acaba ... não passa mais.

O tempo segue e a vida para.

nos ajuda a pegar