terça-feira, dezembro 28, 2010

Quando a ética é eclipsada pelas entidades de classe

Certas profissões parecem viver sob um manto de proteção privilegiada: médicos, engenheiros e advogados são constantemente valorizados graças à força e à organização das suas entidades de classe. E nisso não há nenhum problema — é natural que grupos profissionais lutem por seus direitos e reconhecimento.

O dilema começa quando essas entidades ultrapassam os limites éticos, acobertando incidentes, blindando seus afiliados em situações delicadas ou, pior ainda, cultivando preconceito contra profissionais de outras áreas. Há também uma resistência velada — ou explícita — àqueles que escolhem não se submeter a essas instituições maiores.

Um exemplo emblemático é a famosa prova da OAB. Trata-se de uma entidade poderosa, influente e extremamente rica, que exige que bacharéis em Direito façam um exame extra para exercerem a profissão. Mas aqui surge uma pergunta legítima: por que alguém que já foi aprovado por uma universidade reconhecida pelo MEC precisa passar por mais uma prova? Não seria mais útil investir na atualização prática de todos os advogados do país? Ou essa exigência serve, no fim das contas, como uma fonte de receita para a própria OAB?

Vale lembrar que médicos e engenheiros lidam diariamente com situações que podem colocar vidas em risco — e, ainda assim, não precisam de exames adicionais para atuar após a graduação. A classe médica, por exemplo, não realiza provas como a da OAB, mas tampouco vemos mobilizações expressivas para melhorar as condições de trabalho desses profissionais. É como se criassem política onde deveria haver prática.

O que se dizer então dos sindicatos, que vira e mexe são denunciados por mau uso do dinheiro arrecadado de seus afiliados ou do corporativismo médico quando algum membro é denunciado em algum escândalo ou crime? 

A confiança nas entidades de classe deveria nascer da ética, da transparência e do compromisso com o bem coletivo — e não apenas da manutenção de privilégios ou da blindagem de seus membros. Quando o corporativismo supera a responsabilidade social, enfraquece-se não só a credibilidade das instituições, mas também a confiança da população nos profissionais que delas fazem parte.

A reflexão que fica é simples e urgente: até que ponto essas estruturas estão defendendo a qualidade do serviço prestado à sociedade, e até que ponto estão apenas defendendo seus próprios interesses?

Enquanto não houver um debate amplo e honesto sobre as finalidades dessas exigências e dos mecanismos de controle ético, continuaremos assistindo à manutenção de sistemas que muitas vezes mais protegem o poder do que promovem a justiça.




Fecha na Prochaska

O ano era um dos eternos anos 80, o baile de carnaval do Monte Líbano bombava num rítmo frenético das moças dançantes. A cada virada de camera as moças eram tiradas da inércia para mostrar belos rebolados.

Enquanto o samba ia rolando solto e a Bandeirantes de Televisão batalhava alguns pontos na audiência contra a poderosa Globo, eis que a dupla de apresentadores Otávio Mesquita (recém incorporado a reporter) e Cristina Prochaska começam entrevistas arrebatadoras. Otávio, como o Reporter Morcegão e a linda Cristina ao seu lado.

Lá pelas 4:00 atrás do Morcegão uma dançarina mais ousada tira a parte de cima do biquini. Em tempos de ditadura militar, censura, bons costumes isso não era comum nem em baile de carnaval ao vivo. Rapidamente o diretor grita pelo rádio "- Aí não ... fecha na Prochaska!! ". O insistente camera man aumenta o zoom agora na parte de baixo do biquini e novamente o diretor grita "Fecha na Prochaska!". Eis que o biquini se vai num rápido movimento da entusiasmada dançarina. Desesperado o diretor grita "Na Prochaska.... na Prochaska meu filho !". O camera, que já estava pra lá de Bagda, aumenta o zoom. A tela é tomada por partes íntimas da bela, enquanto isso a constrangida Cristina Prochaska anuncia o fim do baile, enfim a cena é enquadrada corretamente. Em meio aos créditos o momento ainda é tenso num dos maiores marcos do fim da ditadura !

quinta-feira, dezembro 02, 2010

Herança Portuguesa

Parte das belas e ricas fachadas que encontramos no centro do Rio de Janeiro nos remetem a diferentes épocas de nossa história, um Museu a céu aberto que poucos visitam ou prestam atenção. A nossa própria cultura se mistura com a rica herança lusa numa mescla de mosaicos bizantinos, organização monetária e de Estado ao estilo romano, tudo isso com temperos muçulmanos, judeus e cristão. A mescla portuguesa criou a nossa própria mescla brasileira com mais influências indígenas e africanas.
Ainda bem, imagem de viagens de circunavegação chinesas de Zheng He com os olhinhos puxados quando aportaram aqui em 1415 para nos colonizar, ao invés de bom bolinho de bacalhau, bolinhos de arroz, ao invés de uma linguagem poética um emaranhado de símbolos que demandariam muito mais anos na escola.
Com toda a valentia da empreitada chinesa, como mostram seus mapas cartográficos das américas muito antes de Colombo o que nos cabe é agradecer o convívio pacífico de árabes e portugueses quando da invasão moura na península ibérica. Foi graças a esse convívio que a técnica cartográfica árabe se juntou a técnica de navegação portuguesa. Contando com todo o financiamento e envolvimento de judeus, novos cristão eis então que surgiu a epopeia naval portuguesa que deu no litoral baiano em 1500, daí um sistema colonial que não foi dos melhores mas que deixou marcas fortes na nossa cultura e na miscigenação do nosso povo.
A herança portuguesa nos deixa laços fortes com a Europa que nunca fomos, como caminhos tortuosos de uma relação de países amigos e que já formaram um só reino e que hoje caminham juntos pelos prédios no centro do Rio ou pelos povão brasileiro nas ruas de Lisboa.