Certas profissões parecem viver sob um manto de proteção privilegiada: médicos, engenheiros e advogados são constantemente valorizados graças à força e à organização das suas entidades de classe. E nisso não há nenhum problema — é natural que grupos profissionais lutem por seus direitos e reconhecimento.
O dilema começa quando essas entidades ultrapassam os limites éticos, acobertando incidentes, blindando seus afiliados em situações delicadas ou, pior ainda, cultivando preconceito contra profissionais de outras áreas. Há também uma resistência velada — ou explícita — àqueles que escolhem não se submeter a essas instituições maiores.
Um exemplo emblemático é a famosa prova da OAB. Trata-se de uma entidade poderosa, influente e extremamente rica, que exige que bacharéis em Direito façam um exame extra para exercerem a profissão. Mas aqui surge uma pergunta legítima: por que alguém que já foi aprovado por uma universidade reconhecida pelo MEC precisa passar por mais uma prova? Não seria mais útil investir na atualização prática de todos os advogados do país? Ou essa exigência serve, no fim das contas, como uma fonte de receita para a própria OAB?
Vale lembrar que médicos e engenheiros lidam diariamente com situações que podem colocar vidas em risco — e, ainda assim, não precisam de exames adicionais para atuar após a graduação. A classe médica, por exemplo, não realiza provas como a da OAB, mas tampouco vemos mobilizações expressivas para melhorar as condições de trabalho desses profissionais. É como se criassem política onde deveria haver prática.
O que se dizer então dos sindicatos, que vira e mexe são denunciados por mau uso do dinheiro arrecadado de seus afiliados ou do corporativismo médico quando algum membro é denunciado em algum escândalo ou crime?
A confiança nas entidades de classe deveria nascer da ética, da transparência e do compromisso com o bem coletivo — e não apenas da manutenção de privilégios ou da blindagem de seus membros. Quando o corporativismo supera a responsabilidade social, enfraquece-se não só a credibilidade das instituições, mas também a confiança da população nos profissionais que delas fazem parte.
A reflexão que fica é simples e urgente: até que ponto essas estruturas estão defendendo a qualidade do serviço prestado à sociedade, e até que ponto estão apenas defendendo seus próprios interesses?
Enquanto não houver um debate amplo e honesto sobre as finalidades dessas exigências e dos mecanismos de controle ético, continuaremos assistindo à manutenção de sistemas que muitas vezes mais protegem o poder do que promovem a justiça.
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