quinta-feira, novembro 20, 2025

Tenho saudade de tudo

 Tenho saudade da casa,

uma nostalgia profunda

e uma reflexão serena

sobre como poderia ter sido com você.

Tenho saudade em silêncio, 

Nas inquietudes da vida.

Mas nunca vou saber 

Da vida com você.

Saudade da segurança da sua voz,

Da decisão do teu amar,

Do incentivo, 

e do carinho do teu cuidar.

Tenho saudade de te amar!



Saudade das noites quentes,

Dos nossos corpos ardentes.

Tenho saudade de tudo

E não me arrependo de nada: 

De como moldamos a vida,

De como seguimos em frente 

E de como demos um passo pra trás, 

tentando buscar no passado 

a saudade do que fomos nós.

E me pego pensando que, diante de tanta saudade, 

se foi mesmo separação...

Uma realidade diversa, uma loucura ou alucinação.

Você ainda está aqui dentro, e não tenho saudade de nada.

Revivo tudo a cada instante -

um tormento:

Ter tudo, e depois não ter nada.

Aí, guardo você no meu peito

e, dentro de cada saudade que parece ser pouca,

junto os cacos da vida.

esqueço a nossa partida,

Perco a paz e a calma.

Tenho saudade de tudo, 

Como tatuagem na alma,

Como eco que não se desfaz.

E se o tempo não permitir reencontros,

que ao menos a saudade me embale

nas memórias que ainda sabem teu nome.

terça-feira, novembro 11, 2025

O que fica de eterno em nós ...

Se Heráclito nos ensinou que tudo flui, há também uma sabedoria que nos convida a perceber o que permanece — aquilo que não se dissolve com o tempo, que não se curva às circunstâncias, que não se apaga com o esquecimento.
O permanente não é o oposto da mudança, mas o eixo silencioso que sustenta o movimento.

Enquanto o mundo gira em torno da impermanência, há uma dimensão do ser que se mantém intacta: o espírito, a consciência profunda, a essência que nos conecta ao eterno. É nessa dimensão que encontramos o que é verdadeiramente real — não o que muda, mas o que dá sentido à mudança. Rochas não são eternas, mas no meio do turbilhão das coisas, muitas vezes elas são o ponto seguro para nos apoiar, aí está a importância do eterno.


O que é o seu eterno? A fé? O que você carrega dentro de si ? Suas convicções ou suas crenças? Os conhecimentos que o levam a transcender, percebendo o sentido das coisas? O espírito?

Dentro das concepções que temos de Deus, é possível afirmar que Ele é eterno. E, se o ser humano foi criado à Sua imagem e semelhança, não seria lógico supor que também carregamos algo de eterno em nós?

Qual parte de nós perece, e qual parte segue?
A parte de Deus que habita em nós pode ser chamada de alma ou espírito — mas se pensarmos na alma como algo mais ligado à personalidade e ao corpo, então o espírito seria essa entidade imperecível, incorpórea e eterna. Essa essência não se altera com o tempo, não se desgasta com as emoções, não se perde nas ideias. É ela que nos permite pensar e sentir o eterno, mesmo em meio ao caos da existência.

A consciência do eterno nos liberta da tirania do efêmero. Quando cultivamos o espírito, não nos desesperamos com o tempo físico — serenamo-nos, como quem se ancora no centro da eternidade. E é nesse ponto que nascem as aspirações mais nobres que podemos ter:

  • A vontade de evoluir, mesmo diante das quedas.

  • A busca pelo justo, pelo belo, pelo verdadeiro — e por outros valores que não se desgastam.

  • A memória afetiva que resiste ao tempo e transforma dor em sabedoria.

  • O conhecimento transcendente, que não se consome como o metal, mas se multiplica e se eterniza dentro de nós.

O permanente não nega a mudança — ele a orienta. É como o caule que sustenta a flor, mesmo quando ela murcha. É como o céu que permanece, mesmo quando as nuvens passam.
O espírito é esse céu interior, onde podemos cultivar ações que não perecem, pensamentos que não se dissolvem, sentimentos e valores morais que não se corrompem.

Na filosofia oriental — especialmente no budismo, no taoismo e no hinduísmo — encontramos uma visão que dialoga profundamente com essa ideia de que “o permanente não nega a mudança, ele a orienta”.
O budismo ensina a impermanência (anicca), reconhecendo que tudo está em constante transformação, mas que há um campo de consciência serena — como o céu por trás das nuvens — que observa o fluxo sem se confundir com ele.

O céu contempla o turbilhão as nuvens na placidez do lago? O tempo muda tudo, mas o céu permanece. 

O taoismo expressa essa harmonia entre o mutável e o imutável através do Dao, o princípio invisível que sustenta o movimento das coisas.
Já o hinduísmo, com a noção de Atman ou Brahman, vê o espírito como o núcleo eterno da realidade — imutável e silencioso — que dá sentido à dança da vida.
Embora cada tradição tenha sua linguagem, todas convergem na mesma intuição: há uma dimensão interior — seja consciência, Dao ou espírito — que permanece, orientando as mudanças externas e permitindo cultivar pensamentos e valores que atravessam o tempo sem se corromper.

Se tudo passa, o eterno permanece como direção.
Ele não é um lugar fixo, mas um estado de consciência.
E é nesse estado que podemos afirmar o melhor de nossas vidas — como navegantes que enfrentam as ondas, mas seguem guiados pelas estrelas que não se apagam.

O mundo gira, as ondas vão e vem, as estrelas rompem o tempo, demoram mas se vão... a luz fica em meio a escuridão.

O permanente é o que nos torna humanos em nossa dimensão mais elevada.
É o que nos conecta ao divino, ao tempo profundo, à sabedoria que não envelhece.
Em meio à metamorfose ambulante, é o que nos permite ser sem deixar de evoluir.
Se o impermanente nos ensina a desapegar, o permanente nos ensina a consagrar.



domingo, novembro 09, 2025

Preste atenção ... O mundo é um moinho

 Heráclito de Éfeso com a noção de que tudo está em constante mudança, registrou pela primeira vez a constatação do devir, paradoxalmente é uma noção que ... fica! Se aproximando bastante com as filosofias orientais (a impermanência é um dos três pilares do budismo e o ciclo de samsara do hinduísmo que mostra a existência como um fluxo contínuo e o Taoísmo chinês como o Tao sendo o caminho natural do universo, fluído e em transformação), Heráclito teve a atenção de combinar Homem e Natureza, na sua frase famosa:

"Nenhum homem entra duas vezes no mesmo rio, pois nem o homem é o mesmo, nem o rio."

Essa citação expressa a ideia de que tudo flui (panta rhei, em grego), e nada permanece igual. Tanto o rio (com sua água corrente) quanto o homem (com suas experiências e pensamentos) estão em constante transformação.

Heráclito acreditava que a mudança é a essência da realidade — uma visão que influenciou profundamente a filosofia ocidental. A partir daí a arte e a ciência se apropriaram da noção da impermanência, demonstrando até com a física quântica moderna e termodinâmica que energia e matéria estão em constante movimento, que o Universo está em expansão, e nada é estático - nem o tempo, como demonstrou a teoria da relatividade de Einstein. (que coloca em cheque até o fluir do tempo).

Filósofos existencialistas começaram a abordar o lado humano disso, com Nietzsche e Sartre destacando o ser humano sempre em construção e uma identidade não fixa, sendo moldada pelas circunstâncias, escolhas e experiências. E nem precisa ser um gênio inconstante como o de Salvador Dali ou Vicent Van Gogh, basta ver os diferentes heterônimos de múltiplas identidades de Fernando Pessoa. A ideia também foi abordada pelas artes.

A Persistência da Memória - Salvador Dali


A Noite Estrelada - Vicent van Gogh transmitindo sensação de turbulência emocional e transformação interior do artista, a Lua e estrelas brilham enquanto a cidade dorme. É um cosmo vivo e eterno diante da efemeridade da vida.


“Nossa cabeça é redonda para permitir ao pensamento mudar de direção”- Francis Picabia.

Diante dessa "Metamorfose Ambulante", tudo passa... tudo muda, inclusive nossas idéias e emoções e aí podemos " dizer o contrário do que dizemos antes.... ou se hoje eu te odeio, amanhã já se apagou". O Homem como um turbilhão de ideias e sentimentos pode se proteger da ideia de que esta em constante transformação, "do que ter a velha opinião formada sobre tudo!" afinal o próprio mundo a nossa volta muda e "nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia".