segunda-feira, julho 08, 2024

Pelos Olhos de Alice

 Pelos olhos de Alice eu vi a pureza e a simplicidade da vida.

Na profundidade de seus olhos serenos, na sua feição séria como a que tentando repreender a todos que não compreendem a essência da vida que ela, em sua sabedoria transcendental, já tem.

Alice é recém nascida, da pureza da carne até a serenidade da alma. E no momento que a peguei nos braços tive uma certeza de estar muito próximo de Deus. Já estive outras vezes bem perto de encontrá-Lo quando apreciei todo esplendor da natureza ou num momento singelo de um suspiro, num pensamento inspirador, nas lembranças que guardo mais no coração que na cabeça. E aquele olhar de Alice fez um único segundo se transformar em momento guardado dentro da eternidade. Desses que a gente lembra quando faz uma grande conquista, ou mesmo quando se olha sorridente e pleno em frente do espelho mas que nunca estão presentes dentro de um templo.

Porque, no final das contas, haveremos de compreender que as coisas mais leves são as únicas que o vento não consegue levar. Desde aquele cheiro de casa de vó, até as tolas brincadeiras de criança que embalam nossas vidas até a velhice, é aquele suspiro de primeiro amor ou a rima boba de uma música que não nos sai da cabeça. É leve e fica preso no tempo, o carinho puro, a atitude necessária no momento certo. O cheiro de carro novo, o folear de um livro, o ecoar de uma gargalhada, um cafuné no sofá, um pé enroscado no frio, um abraço apertado na saudade, um choro de euforia ... são nos pequenos momentos banais e sutis que marcamos a nossa vida e é no conjunto desses pequenos momentos é que percebemos o que é a felicidade e que a simplicidade da vida está nos detalhes das coisas.

E estava ali diante do olhar pleno e instigante de Alice travando uma guerra mental tentando entender o que ela me dizia sem falar uma única palavra, ao mesmo tempo em que ela nada dizia, acabava por me encher de tudo o que precisava para eternizar um momento e me trazer a paz e a alegria que a vida tanto precisa.


Deus 2

 Eu vi Deus ! Sim, já o busquei em momentos plenos de sabedoria e paz, quando diante do espelho me olhei radiante de alegria depois de uma grande conquista, quando peguei nos braços meus filhos numa madrugada e meu calor calou seu choro, num momento de meditação e até dentro de um pensamento inspirador. 

Busquei Deus em meio a natureza num mergulho no meio de um cardume, num nascer do sol estonteante numa praia no Espírito Santo, numa noite de luar em Itaipava, num por do Sol no Pontal do Atalaia ... num voo de uma borboleta azul na floresta da Tijuca, no mar castigando as pedras do litoral de San Andrés. 

Esses foram os lugares onde mas perto estive de encontrar com Deus, mas nunca o encontrei dentro de um templo ou nos livros ou dogmas que teoriam sobre Ele. Só uma única vez O vi e tive certeza de que estava diante Dele. 

Era um dia de caridade num centro espírita, mas como disse acima , nunca encontrei Deus num templo e nem buscando nas religiões. Era um trabalho voluntário organizado pela minha empresa nesse centro espírita que faz um trabalho social de abrigar idosos solitários, crianças órfãs ou abandonadas e pessoas com algum tipo de deficiência. Já estávamos no meio da tarde depois de uma jornada de socialização com crianças e idosos e com o coração já completamente energizado pela manhã, partimos para o trabalho que na minha cabeça seria o mais complicado e comovente, pessoas com síndrome de Down... na verdade o mais correto era dizer crianças com Down. Em meio a uma brincadeira banal de boliche com bolas de plástico, vi um determinado menino mirando a pontaria e insistindo ...errou 1,2, 3 vezes buscava se superar, não era um momento de competição com outro jogador, ali era um diálogo mental dele com suas deficiências e num determinado momento ele jogou a bola e seu semblante mudou repentinamente, não sei ao certo de acertou um ou dois pinos, se era um lance de sorte, ou realmente o resultado do seu esforço e superação pessoal, eu só sei que no meio daquele tumulto de outras dezenas de crianças brincando, me pareceu por um instante que o tempo parou, que o silêncio se fez e que aquele instante passasse como uma eternidade na minha cabeça, entreolhei uma colega que percebeu o mesmo que eu, sorrimos e retribuímos o sorriso para aquele garoto que devia ter uns 30 e poucos anos, mas que mentalmente tinha uns 6 mas que naquele sorriso me mostrou algo que nem a natureza, nem os livros, nem os dogmas me mostraram nos meus 40 anos. Dentro daquele sorriso puro e singelo, eu vi Deus !

Não sei se pela euforia do que estávamos sentido, se pelo resultado do que estávamos fazendo, se aquele sorriso era um prêmio, um agradecimento, um amor tão forte, só sei que aquele momento ficou gravado na minha eternidade como todos os outros onde busquei e estive perto de encontrar, algo muito mais forte diferenciava esse momento dos demais que tive em minha vida. Ainda hoje quando me recordo cheio de gratidão no coração a força interna que sinto me tira o sono, me intriga a mente, me estimula o espírito.