Pelos olhos de Alice eu vi a pureza e a simplicidade da vida.
Na profundidade de seus olhos serenos, na sua feição séria como a que tentando repreender a todos que não compreendem a essência da vida que ela, em sua sabedoria transcendental, já tem.
Alice é recém nascida, da pureza da carne até a serenidade da alma. E no momento que a peguei nos braços tive uma certeza de estar muito próximo de Deus. Já estive outras vezes bem perto de encontrá-Lo quando apreciei todo esplendor da natureza ou num momento singelo de um suspiro, num pensamento inspirador, nas lembranças que guardo mais no coração que na cabeça. E aquele olhar de Alice fez um único segundo se transformar em momento guardado dentro da eternidade. Desses que a gente lembra quando faz uma grande conquista, ou mesmo quando se olha sorridente e pleno em frente do espelho mas que nunca estão presentes dentro de um templo.
Porque, no final das contas, haveremos de compreender que as coisas mais leves são as únicas que o vento não consegue levar. Desde aquele cheiro de casa de vó, até as tolas brincadeiras de criança que embalam nossas vidas até a velhice, é aquele suspiro de primeiro amor ou a rima boba de uma música que não nos sai da cabeça. É leve e fica preso no tempo, o carinho puro, a atitude necessária no momento certo. O cheiro de carro novo, o folear de um livro, o ecoar de uma gargalhada, um cafuné no sofá, um pé enroscado no frio, um abraço apertado na saudade, um choro de euforia ... são nos pequenos momentos banais e sutis que marcamos a nossa vida e é no conjunto desses pequenos momentos é que percebemos o que é a felicidade e que a simplicidade da vida está nos detalhes das coisas.
E estava ali diante do olhar pleno e instigante de Alice travando uma guerra mental tentando entender o que ela me dizia sem falar uma única palavra, ao mesmo tempo em que ela nada dizia, acabava por me encher de tudo o que precisava para eternizar um momento e me trazer a paz e a alegria que a vida tanto precisa.